A Elfa Escarlate

A pedra cheirosa e o mata leão


— Já está pronta para me contar essa fofoca? – Perguntou ela com um ar irritado enquanto encarava Gildar. Suspirei. Com tudo que estava acontecendo acabei não lhe explicando sobre aquela ceninha.

— Não foi nada demais. Ele estava de guarda um dia e eu precisava entrar. Consegui negociar com ele prometendo que faríamos ciúmes na Stella em troca de eu entrar sem acionar a guarda.

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— Ah , de fato, com certeza deu certo. Ela passou a te mandar olhares mortais desde então. – Olhei com o canto de olho na direção da Stella e realmente Ava estava certa. Talvez por isso Gil queira se aproximar de mim, para fazer mais ciúmes. – Até Will ficou incomodado. - Continuou ela.

— Claro, estávamos no meio da aula dele, eu entendo. Fiquei morrendo de vergonha, mas que escolha eu tinha? Dei minha palavra. - Respondi me encolhendo de vergonha.

— É... Foi uma cena bem quente mesmo. – Disse rindo da minha cara. Acertei um soco no seu braço. – Quase tive um aneurisma na hora

— Anda logo, vamos acabar com isso de uma vez. Não estou com saco hoje.

— Você nunca está com saco. É a pessoa mais mal humorada que eu conheço Luna. – Ela revirou os olhos.

— Não posso discutir com isso. – Ela estava certa afinal.

A última vez que fiquei de bom humor foi por ter comido cogumelos suspeitos. Me esforcei para ignorar a dor de cabeça e me concentrar no exercício de forma que a aula passasse o mais rápido possível. Não queria nem lembrar que ainda ia ter que aguentar a detenção e Will enchendo o meu saco por duas horas inteiras. Pelo menos o exercício era interessante apesar de difícil. Bati tanto na corda que senti minha cabeça latejar de ódio. Will fez parecer tão fácil. Pelo menos Ava também não foi muito bem e agradeci por poder ficar descansando um pouco. Todo aquele esforço de ressaca me deixava nauseada.

E isso foi apenas o começo da aula. Tive que segurar o enjoo com todas as forças enquanto Will nos colocava para pular sem parar de formas diferentes. Cada vez que ele falava mais rápido eu tinha vontade de socar aquela cara bonita. Eu tinha que admitir, mesmo a contra gosto, que era interessante o ar de poder e autoridade que ele passava. Em alguns momentos eu me sentia mesmo na guarda imperial. Aposto que ele devia ser um bom líder. Também foi reconfortante ver ele pegar no pé das ninfas que não queriam suar. Eu já estava morrendo na aula, imagina como eu me sairia na detenção.

— Boa sorte com o professor gostosão. – Ava piscou para mim com um sorriso maldoso e foi em direção a saída, corri em direção ao banheiro antes que Will pusesse suas garras em mim. Joguei uma água no rosto, respirei um pouco e depois de prolongar o inevitável voltei para o centro que já estava vazio. Will me esperava de braços cruzados.

— Como está a ressaca? – Meu queixo caiu. Será que eu ainda estava fedendo a bebida? Talvez tenha sido por conta do meu baixo desempenho.

— Como você sabe que eu bebi ontem? – Fiquei sem entender.

— Eu encontrei você ontem, não lembra? – Ai que merda, não lembro de nada. O que será que eu aprontei dessa vez? Devo ter xingado até a quinta geração da sua família. Fechei os olhos com força querendo fugir dali. Com certeza tinha mais detenção pela frente. Cobri o rosto com as mãos antes de responder.

— Não, não lembro. – Queria muito perguntar o que eu falei para ele e como foi que isso aconteceu, mas fiquei com medo da resposta. Ele deu um sorriso presunçoso.

— Bem, você estava muito bêbada, então nada surpreendente. – Aquele ar de superioridade dele era tão irritante. Minha mente tentava freneticamente lembrar qualquer coisa depois que eu comecei a beber no Ronneys. Será que eu escalei o muro e ele me pegou no flagra? Talvez na volta para o dormitório. Quando será que essa humilhação toda vai passar...

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— Eu... Fiz algo errado? – Não conseguia nem encará-lo.

— Você se declarou para mim, ficou dizendo o quanto eu era gato e gostoso. Acho que está mais para inapropriado. – Meu queixo caiu. Ele estava brincando certo?

— Até parece! Eu nunca diria isso – Ele levantou uma sobrancelha como sempre fazia.

— Tem certeza? – Vacilei um pouco e hesitei. Eu não tinha memória afinal. Ele começou a gargalhar abertamente da minha cara. Com certeza ele estava tirando onda. Eu sei que ele realmente é muito bonito, mas eu não falaria isso assim na cara dele jamais. Certo? – Vamos começar nosso treino. Hoje vamos treinar imobilização, isso é importante principalmente quando você precisa lutar contra alguém que tem mais força que você. Nossos corpos têm pontos fracos, se usarmos a física a nosso favor, podemos dominar alguém mesmo que nossa força seja inferior. Primeiro você vai me atacar e vou demonstrar. Depois vamos fazer o passo a passo. Ok?

— Ok.

— Nossos objetivos são agarrar, empurrar, reter e imobilizar através do domínio corporal. Vamos começar.

Eu pensei seriamente que seria uma ótima oportunidade de ir com tudo e causar algum dano. Claro que eu só fui jogada no chão um monte de vezes e tive todo o ar jogado para fora dos meus pulmões. Além de ser retorcida de um monte de formas diferentes que eu nem sabia que era possível. Eu pensei que ele seriamente quebraria meu braço umas sete vezes antes mesmo de eu ter a chance de aprender qualquer coisa. Ele ia explicando o que estava fazendo e o fundamento por trás. Mas era um pouco difícil de acompanhar enquanto eu buscava o ar.

Ele devia estar se divertindo muito com isso. Will parecia uma jibóia me agarrando o que me deixava um pouco nervosa devo confessar. Era impossível sair e até mesmo me mexer. Você poderia pensar que seria divertido passar meia hora se agarrando com um cara que tem um tanquinho, mas eu garanto que não foi nada agradável. Em alguns momentos foi um pouco constrangedor. Não estou acostumada a certas posições e nem a ter um cara tão agarrado a mim. Quando levantei podia sentir meu rosto esquentando. Uma parte do meu cérebro ainda ficava tentando lembrar o que tinha acontecido na noite passada, mas tudo parecia meio confuso.

— Acho que você captou a ideia. Agora vou te mostrar como fazer o mesmo. Vamos ver se você tem potencial – Disse batendo as mãos. Foi como se ele tivesse ativado um botão na minha cabeça. Como um sino tocando ou um alarme. Um flash de memória voltou a minha mente. Eu estava numa trilha segurando sua camisa. “Porque você tem potencial” Will dizia. Eu encontrei com ele fora do instituto? Tentei lembrar mais. Quanto mais eu tentava menos as coisas faziam sentido. Lembrava vagamente algo sobre gostar de me ter por perto, mas com certeza eu estava viajando. – Vou simular um ataque, vamos devagar.

Era muito bom poder me vingar dele e prendê-lo em poses constrangedoras. Fiquei tentada a quebrar seu braço algumas vezes. Deu pra ver que ele se desesperou um pouco quando pediu que eu o soltasse e eu só o apertei mais forte. Não consegui conter uma gargalhada de prazer. Para minha surpresa ele se retorceu e usou o peso do corpo para inverter a posição e me prendeu assumindo o controle novamente. Senti seus músculos repuxados contra as minhas costas. Parecia que uma pedra estava me abraçando. Uma pedra quente e cheirosa. Quer dizer, irritante.

- Alguém está sendo maldosa. – Não consegui esconder o sorriso pela minha maldade e dei uma leve gargalhada. Tentei me mexer ou retomar o controle sem sucesso. Ele se aproximou do meu ouvido, podia sentir sua respiração fazendo cócegas no meu pescoço. – Eu também posso ser muito mau. Mantenha isso em mente. – Seus lábios roçaram nas minhas orelhas. Meu coração acelerou como um louco. Senti um arrepio na coluna e um senso de urgência em sair dali. Era como se eu tivesse levado um choque. Ele parecia realmente uma cobra que quanto mais eu me mexia apertava mais forte.

— Me deixa sair. – Pedi angustiada.

— Ou o que? – Sério ele estava pedindo para ser mordido de novo. Se eu tivesse como, com certeza teria mordido sem dó.

Ele apertou mais ainda o seu abraço e comecei a sentir falta de ar. Será que ele ia mesmo me matar ali tão aleatoriamente? Tossi um pouco e senti seu aperto se afrouxar e ele me soltar. Meu corpo parecia estar pegando fogo, acho que ele apertou forte demais. Era tão frustrante me sentir impotente em relação a alguém. Suas habilidades eram muito superiores às minhas. Odiava me sentir assim. Sentei e coloquei as mãos no pescoço tentando recuperar o fôlego. Will colocou sua mão no meu ombro.

— Não fique frustrada, você foi muito bem. O começo é difícil. – Disse sentando ao meu lado e passando o braço ao meu redor. Me irrita a proximidade dele, mesmo que eu saiba que ele está tentando me incentivar. Levantei de supetão e fui beber uma água para tentar esfriar a cabeça. Quando voltei percebi que ele me observava um pouco desconfortável. – Certo, vou só te passar mais alguns fundamentos teóricos sobre combate e também sobre como se manter invisível para evitar o combate. Ah e guarde isso. - Disse me entregando uma poção. - É para a ressaca. - Fiquei encarando a poção por alguns segundos sem saber ao certo o que responder.

Will puxou o quadro branco de rodinhas lentamente até a minha frente. Pelo menos eu poderia descansar calada. Tenho certeza de que ele adorava ouvir o som da própria voz. De cara minha mente aproveitou o descanso e viajou até Yuri novamente. De vez em quando ela voava de volta à noite anterior tentando conseguir mais informações enquanto lhe encarava.

Eu podia jurar que ele falou que gostava de mim logo após aquele flash de memória. Com certeza deve ser um delírio da bebida. Espera, porque o silêncio repentino? Will me encarava irritado. Ele suspirou frustrado sem dizer nada. Me senti um pouco mal por ter me distraído. Ele pousou o pincel na lousa.

— Vamos encerrar por hoje. – Eu não conseguia entender esse cara. Não conseguia gostar dele também. Respeitava suas habilidades, é verdade. Odiava todo o resto. Levantei rapidamente antes que ele mudasse de ideia e fui em reação à saída. Apenas escutei murmurar algo e andei ainda mais rápido. Vai que ele muda de ideia.

— Certo estou indo então carrasco, digo, professor - isso arrancou um leve sorriso da cara dele que balançou a cabeça. Não era bem o efeito que eu queria, mas tudo bem. Ainda era melhor que mais detenção. Meu estômago roncava de fome. Na verdade, acredito que o único motivo que me impediu de vomitar durante a aula foi não ter nada no estômago. Só não ui correndo para a cantina porque sinceramente eu não tinha mais forças.