A Different Dawn Treader

Quadros, definitivamente, não se parecem com frangos


Adria estava perdida.

Após sair da sala onde o mapa ainda repousava, se viu em meio a um emaranhado de portas e corredores. Ela sabia que não conhecia aquela casa e que ela era realmente grande, mas não achou que se perderia ali. Era ridículo. Anvard era, sem sombra de dúvidas, bem maior que aquela mansão (era um castelo!) e a garota nunca havia sentido dificuldades em se localizar lá dentro por maior que fosse.

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Vou morrer aqui dentro sozinha, sem comida e com uma dor nas costas terrível, pensou enquanto se sentava numa espécie de banco acolchoado. Pensava que devia ter dormido de mau jeito ou algo do tipo. Culpa do Edmundo, é claro.

— Certo — murmurou. — O pior de tudo é estar sem comida.

Havia um quadro ali, ela notou; um quadro que se parecia muito com um frango. Um frango gordo e com uma aparência muito boa.

— Adria? — ela ouviu uma voz conhecida a chamando.

— Caspian! — sorriu e correu até a figura confusa que se encontrava no início do corredor.

— Ahn... oi?

— É tão bom te ver! Eu achei que iria morrer aqui — a garota tagarelou. — Há uma quantidade exagerada de corredores e portas nesse lugar, você não acha? E, olhe, aquele quadro não parece um frango?

Caspian olhou para o quadro por alguns segundos e ele não parecia nada com um frango.

— É... O que você está fazendo aqui?

— Eu me perdi. — Adria explicou. — Parece ridículo ao pensar que eu conheço todo Cair Paravel e Anvard, eu sei, mas foi o que aconteceu. Eu pensei que morreria de fome.

— Se perdeu, é? — Caspian se esforçou para não rir, mas foi impossível.

— Não tem a mínima graça — Adria cruzou os braços, emburrada.

— Ah, tem — Caspian balançou a cabeça em positivo. — Pelo menos se considerarmos que você só está a um corredor de distância de onde estávamos.

— O quê? Mas... Ah, eu não acredito!

A garota o empurrou e saiu em disparada apenas para constatar que Caspian havia dito a verdade.

— Se você contar isso para alguém eu vou ser obrigada a te jogar do navio. — Disse assim que Caspian parou ao seu lado.

XX

Edmundo havia passado demasiado tempo sem comer e ficou bastante agradecido quando Coriakin ofereceu um banquete a eles.

— Acha que eles têm bolinhos aqui? — ouviu a voz de Raisha.

Era quase impressionante que ele conseguisse distinguir a voz da garota. Não que fosse difícil, já que era um pouco mais aguda que o considerado normal, mas porque não haviam passado o que se pode chamar de muito tempo no mesmo ambiente sem que ela logo saísse irritada por algo que Adria – ou qualquer um, na verdade – dissesse.

— Não sei, mas acharia bom se tivessem.

— Eu realmente adoro bolinhos — ela parecia pensativa. — E tortas de limão.

— Tortas de limão — repetiu Edmundo enquanto balançava a cabeça.

Afinal, existe alguém que não goste de tortas de limão?, ele pensou.

— Na verdade, existe. A Adria não gosta nem um pouco — Raisha disse.

— O quê? — Edmundo olhou para a garota um pouco confuso. — Ah — acrescentou ao dar-se conta de que não tinha apenas pensado, mas sim perguntado realmente.

Nesse momento, Adria e Caspian apareceram descendo as escadas e a garota parecia muito irritada ao passo que Caspian ria.

— Oi — Adria disse ao se aproximar dos demais. — Vamos logo — murmurou agarrando o braço de Edmundo.

— Você está bem? — o garoto perguntou ao sentar-se ao lado de Adria em uma das grandes mesas que ali foram colocadas.

— Estou. Mas o seu amigo Caspian não vai ficar nada bem se continuar rindo.

Edmundo conteve a vontade de rir da expressão que a garota fazia.

— É? — ele perguntou divertido. — E por que ele está rindo?

Ela abriu a boca para responder mas pareceu ter se lembrado de alguma coisa e parou.

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— Você nunca vai saber.

O garoto deu de ombros, contendo a curiosidade.

— Então quer dizer que você não gosta de tortas de limão?

— O quê? — Adria franziu o cenho. — Como você sabe disso?

— Sabendo — foi só o que ele disse. — Raisha comentou — acrescentou ao se deparar com a sobrancelha erguida da garota.

— Sei.

— Mas por que você não gosta? Tortas de limão são ótimas — Edmundo disse de repente.

— Ah, porque... — ela parou. — Porque não gosto.

— Isso não é resposta — ele cruzou os braços. — Você pelo menos já provou?

— Claro... — Adria imitou o gesto do garoto. — Que não.

— Então você não sabe se não gosta.

— Não preciso provar pra saber que não irei gostar.

— Você precisa — ele pegou uma fatia de torta. — E vai.

— Sem chance.

— Abra a boca — Edmundo segurou uma colher com um pedaço na altura da boca da garota.

Adria riu.

— Não seja ridículo.

Edmundo arqueou uma sobrancelha.

— Eu já disse não! — ela exclamou baixo, mas não baixo o suficiente já que a maioria dos presentes olharam para os dois.

O garoto continuou com uma sobrancelha levantada e a colher erguida. Adria apenas o encarou e, por fim, abriu a boca.

Edmundo quis rir, mas achou que se risse ela acabaria cuspindo tudo na cara dele. Ninguém podia culpá-lo por pensar isso.

— E então? — perguntou com um sorriso brincando nos lábios.

A princípio a garota não disse nada, então revirou os olhos e desviou o olhar.

— É legal. — Disse afinal.

Edmundo finalmente riu.

— Admita que gostou.

— Não.

— Não seja boba. Admita.

— Nunca. N. U. N. C. A. Nuuuunca!

Dessa vez quem revirou os olhos foi Edmundo.

Do outro lado da mesa, Lúcia riu.

— Eles não são uma graça? — perguntou para ninguém em específico.

— Hum? Ah, claro — Raisha respondeu distraidamente.

— Sabe o que eu penso? — a menor continuou e, ao notar o balançar de cabeça negativo de Raisha, prosseguiu: — Adria seria uma rainha excelente.

— Todos pensam isso, acredite.

— Ah, tenho certeza de que sim — Lúcia inclinou a cabeça ainda observando os outros dois. — Então, quem é o irmão dela? Ou irmã, não sei.

— Irmã. Arya tem quatorze anos.

Lúcia balançou a cabeça e então parou com uma expressão confusa.

— Ela não tem irmãos ou irmãs mais velhas?

— Não. Ela é a mais velha.

— Mas então- — parou. — Ela vai ser rainha.

— Exatamente — Raisha olhou para Lúcia de soslaio e franziu o cenho.

A mais nova olhou mais uma vez para Adria e Edmundo - que ainda discutiam sobre tortas - e pôs-se a pensar.

XX

Mais tarde, enquanto se preparavam para retornar ao mar, Lúcia encontrou o irmão observando o navio.

— Ed? — chamou.

— Sim?

— Você sabia que a Adria não tem irmãos mais velhos? Nenhum irmão, nem irmã. Só uma mais nova.

Edmundo franziu o cenho. O que ela estava querendo dizer?

— Como assim?

— Ela será rainha.

— Mas...

— Ei! — os dois se viraram para ver uma Adria sorrindo e caminhando na direção deles. — Consegui tortas de limão para a viagem. — Disse ao se aproximar.

O sorriso da garota vacilou ao ver a expressão de Edmundo.

— O que foi?

— Lúcia. — O garoto olhou para a irmã num pedido silencioso para que ela os desse licença.

A mais nova deu um sorriso constrangido para Adria e se afastou rapidamente.

— E então? O que aconteceu?

— Você vai ser rainha. — Foi só o que ele disse.

— Ah.

Adria soltou o ar que, sem perceber, estava prendendo.

— Olhe...

— Por favor, não me diga que me escondeu isso pelos motivos que estou pensando — Edmundo pediu, comprimindo os lábios.

— O que você está pensando?

— Eu não sei — o garoto admitiu. — Não me importa o que seja, Adria. O que importa é que você mentiu para mim.

— Eu não menti para você!

— Não — ele concordou. — Você só não me contou a verdade.

A garota sentiu os olhos se encherem de água enquanto a visão ficava turva. E então, com um suspiro, encarou Edmundo.

— Por que isso importa tanto? Que diferença faz?

— É exatamente isso — ele murmurou. — Simplesmente não importa.

Adria abriu a boca para falar, mas não conseguiu pensar em nada que fizesse sentindo.

— Todos à bordo! — uma voz cortou o ar.

Edmundo se voltou para a praia onde os últimos tripulantes faziam fila para subir à bordo do navio e, antes de começar a caminhar, lançou um último olhar para Adria.