–Não fique brava com a senhorita Myers. Eu meio que invadi a sala mesmo.

–Eu duvido seriamente disso, mas que seja. Eu não vou ficar brava com Cora de qualquer jeito. Só não a deixe saber disso.

Steve percebeu tão logo as portas se fecharam que Toni pretendia ignorá-lo o máximo possível. Ela parecia estar com um humor daqueles e ele tinha a impressão de que a culpa era dele. Será que realmente tinha interrompido algo entre ela e o doutor Banner?

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Steve estivera temendo o reencontro com Toni por um ano agora. Logo depois da batalha em Nova York ele tirou "férias" e foi redescobrir os Estados Unidos. Precisava de um tempo para aceitar que as coisas tinham mudado e o mundo já não era mais o lugar que ele lembrava.

Fazia pouco mais de uma semana que estava na estrada quando viu no noticiário que Toni Stark tinha doado dinheiro (muito dinheiro) para a reconstrução de Nova York, tanto de sua conta pessoal, quanto de sua empresa. Além disso, a bilionária estava organizando um baile de caridade para arrecadar mais fundos, que ia contar com a participação de alguns Vingadores.

Steve, que estava num restaurante à beira da estrada, pegou o telefone na hora e ligou para Natasha e perguntou se devia voltar para comparecer ao baile.

As palavras de Natasha foram exatamente "não se atreva". A ruiva explicou que ele precisava desse tempo, que Steve tinha que deixar o passado ir e aceitar as coisas que não podiam ser mudadas. Tinha que se dar um tempo de luto.

O Capitão aceitou aquilo com um nó na garganta, porque sabia que era verdade.

Na semana seguinte a festa não se falava de mais nada. Steve sabia que não devia, mas acabou comprando uma revista que tinha as fotos. Aparentemente muitas celebridades que ele não conhecia e figuras importantes apareceram, mas 3 senadores do estado de Nova York se negaram a comparecer porque não apoiavam os Vingadores. Houve um protesto contra o grupo também, mas esse foi pacífico.

Daí vieram as fotos.

Natasha estava usando um vestido azul safira com uma fenda até o meio da sua coxa esquerda, seu braço passado pelo de Clint, que usava um terno cinza escuro. Pepper estava absolutamente estonteante nas fotos, usando um vestido branco que a fazia parecer uma daquelas divas dos anos 20. O homem que estava com ela usava um uniforme militar e Steve leu embaixo da foto que aquele era o Coronel James Rhodes, que era aparentemente amigo de Toni.

E por falar em Toni...

Uau.

Toni não era o tipo de mulher que tinha uma beleza clássica. Não, o rosto dela era forte, o porte era altivo, era o tipo de mulher que tinha uma aura só dela. Mas vendo aquelas fotos...

Ela estava usando um vestido vermelho (porque a cor não o surpreendia?) longo, com um decote discreto na frente, apenas o suficiente para mostrar o reator e a curva do seio. Porém na foto seguinte (uma dela subindo escadas) dava pra ver o quão enganoso aquele vestido era. As costas dele eram totalmente abertas, com nada, além de pele, para atrapalhar a vista. E que pele.

As fotos seguintes mostravam Toni no braço de Bruce e Steve perguntou-se, não pela primeira vez, se eles estavam juntos. Os dois certamente pareciam próximos e as revistas estavam especulando a mesma coisa, especialmente porque desde o fim de seu relacionamento com Pepper, Toni vinha comparecendo sozinha a eventos.

Steve sentia-se incomodado com a ideia de Toni estar com Bruce. Também se sentia ridículo por estar incomodado. Não havia por que.

Tentou colocar isso tudo para trás e continuou sua viagem. Cruzou o país por quatro meses e depois disso tomou uma decisão muito séria: comprou uma passagem e foi para a Inglaterra.

Precisava ver Peggy e precisava por um fim a tudo isso. (1)

Durante o tempo que ficara acordado, antes da batalha de Nova York, terapeutas tentaram convencê-lo a falar com Peggy, como uma forma de fechar essa parte da vida dele. Mas como poderia "fechar" coisa alguma? Essa parte dele não ia ser esquecida só porque dormiu 70 anos. Era ridículo pensar que seria fácil assim!

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Recusou-se por um bom tempo a pensar na possibilidade de falar com Peggy. Daí percebeu que estava sendo injusto com ela também. Peggy tinha o direito de saber o que acontecera, que ele estava ali, que ainda pensava nela.

O asilo para veteranos onde ela estava era pacífico, bem cuidado. A enfermeira disse que a senhorita Carter estava no estágio inicial de Alzheimer e às vezes "esquecia" em que tempo estava.

Já no tempo de Steve falava-se de Alzheimer, mas muito pouco. Ele sabia pouco a respeito da doença, além de ser algo que afetava os mais velhos e que causava perda de memória. Sentiu um solavanco no estômago. Mas, para o choque dele, e da enfermeira, Peggy lembrava-se dele. Em termos. Era como tinham falado, ela o tratava como se não tivesse passado um dia, como se ambos ainda estivessem na base, esperando para atacar a Hydra.

De certa forma isso era ainda pior. Vê-la com aquele rosto tão enrugado, as linhas profundas de alguém que tinha vivido plenamente cada minuto que teve, porém com uma memória que não chegava nem na metade desta história.

Ele acabou estendendo sua estadia em Londres e a visitou todos os dias. No sexto ele a encontrou totalmente lúcida.

Se possível, foi ainda pior.

Peggy chorou de emoção ao vê-lo. Eles conversaram por horas, até ela começar a ficar cansada e se confundir nas falas e ideias.

Três dias depois ela morreu dormindo.

Foi a primeira vez desde que acordara que Steve chorou. Realmente chorou.

Agora ele estava aqui. E recusava-se a ficar nesse silêncio ridículo. As portas do elevador abriram e Toni começou a sair.

– Vamos, por esse lado. Então... Os andares de cima...

–Toni. – Steve bloqueou a passagem dela, deixando os dois ainda dentro do elevador, embora as portas estivessem abertas - Eu só queria dizer que é bom ver que você está... Bem. Melhor. – corrigiu-se ao ver a sobrancelha dela arqueada - Bom, você sabe. Eu ouvi sobre o que aconteceu no Natal, a cirurgia e tudo e... Bom, você parece bem. Seu cabelo está bom. Você parece... Bem.

Meu Deus! Ele não conseguiria soar mais com um adolescente inseguro se realmente tentasse! E a cara de Toni deixava bem claro que ela também não estava lá muito impressionada. (Talvez não devesse ter comentado do cabelo, mas realmente estava bom, mais curto!)

–Eu me sinto... Bem. – ela falou, e Steve percebeu que a hesitação dela na palavra era diferente da dele - Obrigada.

Ela começou a sair do elevador de novo e Steve entrou no caminho dela de novo. As portas ainda não tinham se fechado, então ele estava deduzindo que iam ficar abertas o quanto fosse necessário. Se bem que se elas se fechassem seria mais fácil ter essa conversa, porque ele tinha impressão de que Toni adoraria fugir.

– Eu ouvi sobre o que aconteceu. – ele continuou - Sobre tudo o que aconteceu. Eu estava numa missão em um lugar sobre o qual eu não posso falar quando eu ouvi que você tinha morrido porque bombardearam sua casa em Malibu. (2) – o nó na garganta que ele sentiu ao ouvir essa notícia não tinha explicação lógica - Eu ouvi tudo e implorei ao Fury pra me deixar vir e descobrir o que estava acontecendo, mas ele não deixou. Me disse para ficar lá e terminar minha missão. E depois disso você não falava comigo. – sabia que estava soando frustrado e não ligava, porque era como realmente se sentia - Eu não sei o que eu fiz. Eu sei que te irrito, embora não saiba exatamente porque, mas eu realmente queria ver como você estava. E você não estava atendendo o telefone, então... – ele suspirou cansado, perdendo totalmente as forças - Como você está?

Toni parou e pareceu sinceramente refletir sobre a resposta por um minuto, como se tivesse a intenção de dizer a verdade. Talvez exatamente por isso o fato de ela mentir deixasse Steve tão desapontado.

–Eu estou bem, Steve. Bem. Não se preocupe comigo.

Até o sorriso dela era fraco e Steve sentia que, em grande parte, isso fosse cansaço. Mas a morena não deu tempo para ele refletir sobre isso. Ela já estava falando e se movendo.

–Essa é a área comunal. – Toni começou a explicar, mostrando a sala – Todo mundo tem acesso. E todo mundo seria eu, o Bruce, a Pepper, a Cora e agora você. Tem uma cozinha toda equipada, sala de cinema, mesa de bilhar. É meio que um lugar pra gente socializar.

–Natasha e Clint ainda não mudaram? – ele perguntou confuso. Natasha tinha encorajado tanto a mudança dele para a Torre que estivera achando que ela também estava lá.

–Ainda não. – Toni falou – Mas eu acho que agora que você está aqui é questão de tempo até ela e o pardal virem.

–Senhorita Myers mora aqui? – ele perguntou por curiosidade.

–Não. Ela diz que já me aguenta demais durante o trabalho e quer passar as poucas horas de folga que tem longe de mim. – Toni contou com um sorriso que deixava meio óbvio que gostava da atitude de Cora - Acima de nós tem os dez andares de laboratórios e o meu apartamento. – ela continuou – O seu é no andar logo abaixo desse, que por acaso é o mesmo andar da Pepper. – esse fato não parecia deixar Toni feliz, Steve só não tinha certeza do porque – Logo abaixo fica o andar que seria do super casal de espiões e embaixo é o do Bruce com o Thor, se ele um dia resolver voltar pra nossa pequena bola azul.

–O Bruce não mora com você? – Steve soltou antes que conseguisse se segurar.

Toni olhou para ele como o achasse retardado.

–Por que ele moraria? – então saiu andando antes que Steve pudesse responder qualquer coisa – Vem, deixa eu te mostrar nossa academia e alguns outros andares. Você já foi apresentado ao Jarvis? – ela perguntou de repente.

–A voz inglesa que sai da sua parede? – Steve perguntou.

–Eu prefiro o termo "inteligência artificial que controla a vida de todos vocês", Capitão Rogers. – dita voz inglesa anunciou de repente – Mas voz inglesa serve também.

–O Jarvis é a inteligência artificial mais sensível que eu conheço. – Toni revirou os olhos – Mas vocês dois não estão errados, ele tem sotaque britânico, soa das paredes e realmente controla tudo por aqui. Se você precisar de alguma coisa, fazer pesquisa, baixar músicas ilegalmente ou procurar vídeo pornô na web ele pode fazer pra você.

Steve optou por ignorá-la.

–O que me lembra... – Toni falou entrando no elevador que esperava por eles – Nós temos mais um coquetel beneficente nesse fim de semana. Nat e Clint não vão, mas eu, o Bruce e a Pepper estaremos lá, fazendo vez. Você vai?

Steve estava surpreso pelo convite. Principalmente porque era a primeira vez que ouvia sobre isso.

–Certo. Eu vou. – ele falou – Mas eu não sei se tenho roupa para isso.

–Fala com a Cora. – Toni falou dando de ombros, depois de selecionar um andar – Eu tenho certeza que ela te arruma alguma coisa. Ela é irritantemente eficiente. Eu passei três meses tentando arrumar uma desculpa para demiti-la até desistir. Pelo menos ela fica ótima de terninhos de escritório e eu posso ficar olhando quando ela abaixa.

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Steve achou melhor ignorar isso também. Na maior parte do tempo não sabia se Toni falava as coisas a sério ou não, então achava melhor deixar pra lá.

Porém ia resolver isso. Ele e Toni, juntamente com o resto dos Vingadores, eram um time e tinham que se entender, mesmo que não exatamente se gostassem. E embora soubesse qual era seu problema com Toni (ela não respeitava as regras, não sabia trabalhar em equipe e era arrogante demais), não sabia qual era o problema dela com ele. Se os dois fossem se resolver tinham que colocar tudo em ordem.

Uma voz no fundo de sua consciência dizia que, se um dia perguntasse para Toni o que ela tinha contra ele, não ia gostar da resposta.