Capítulo 12

— O que aconteceu com você? – Chester grunhe e joga os braços em volta do meu pescoço. – Por que demorou tanto?

— Longa história. – Responde e a olho, em busca de qualquer ferimento. Nada. Ainda bem. – Pegou?

Ela sorri e abre sua bolsa, puxando para fora um grande pedaço de tecido azul, com a imagem de uma coroa e um leão.

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— Está pronta para pegar a segunda? – Ela pergunta sorridente.

— Estou ansiando por isto.

E nós duas começamos a caminhar.

Chester tagarela sobre as coisas e criaturas estranhas que encontrou, mas afirmou que nenhuma delas tinha lhe feito nenhum mal, e disse que algumas até mesmo reconheceram as Deusas que a tinham abençoado.

Eu a ouvia em silêncio, ignorando o latejar não apenas entre minhas pernas, mas em todo meu corpo. Não podia negar que Noah era bom. Muito bom.

— Você acha que vamos demorar a chegar no topo? – Chester pergunta.

— Algumas horas. – Respondo e pego o cantil de água que ela me oferecia. – A floresta é muito grande.

— Acha que alguém já chegou?

Mordo meu lábio nervosamente.

— Se os outros se encontraram com as coisas que encontrei, acho que não. – Digo e ela me olha com curiosidade.

— O que encontrou?

Chester era muito inocente apesar de ser uma guerreira. Ela não entenderia o que tinha acontecido entre mim e Noah, possivelmente surtaria e sairia contando para todos assim que tivesse a oportunidade. Não por ser uma má pessoa, claro, mas sim por achar que tudo é fácil e diferente.

O fato de ter encontrado Damae no caminho daria uma história longa e que só me traria dor de cabeça.

Então simplesmente conto sobre os Espíritos da Dúvida. Chester pareceu horrorizada quando contei sobre o acordo, e eu a entendia, também sentia aquele horror sobre mim mesma. E quase agradeci aos Deuses por ela não me perguntar como eu havia conseguido fazer o acordo.

Naquele momento, eles já deveriam estar de volta a floresta, só torcia para que eles não tivessem feito muito estrago. Criaturinhas maléficas...

— Estou com fome, podemos parar? – Chester pergunta.

— Acho que também estou com fome, e você, Gale?

Olho para os dois brutamontes que saem detrás de duas enormes árvores e tento não blasfemar, olhando por um momento, para o céu.

É pedir demais um pouco de paz enquanto caminhamos para fora deste inferno?

Porque aquela floresta parecia exatamente isto: O inferno.

Apesar de ser bonita e ‘’encantadora’’, nada poderia tirar aquele ar mórbido que pairava por todo lugar. Era como se estivéssemos invadindo uma cidade fantasma. E apesar de ter vindo com Noah enquanto treinávamos, a floresta parecia calma e completamente tranquila, diferente de agora.

— Posso pensar em algo que gostaria de comer. – Gale fala e Kai solta uma risada horrível.

— Talvez a bunda de Kai, o que acha? – Falo e dou um passo à frente.

O rosto de Kai fica vermelho e ele me enfrenta, apenas para ser parado por Gale.

— Não vamos quebrar as regras. – Gale fala e eu arqueio uma sobrancelha para ele. – Mas não vamos deixar vocês passar.

Eu olho para Chester e ela olha para mim, então nós duas começamos a rir.

— Escute aqui seu merda, saia da nossa frente se não quiser ter este dedinho mindinho entre suas pernas virando carvão! – Chester fala e ergue a mão que já brilhava com fogo vivo.

— Vocês são as primeiras que nos alcançam, o primeiro lugar é nosso. – Kai rosna quase em meu rosto apesar de Gale ainda segurar seu braço. – Cadelas malditas!

— Repita! – Eu chio colocando minha adaga em seu pescoço.

— Merda! – Gale murmura e eu sorrio. O grandão então não era tudo o que tentava parecer... – Abaixe isto, Alishia.

— Você tem que me ensinar estes truques. – Chester fala. – Nem mesmo vi você a pegando.

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— Pense bem antes de me ameaçar seu inútil, posso não poder te matar hoje por respeita a minha companheira, mas nada vai me impedir de cortar sua garganta enquanto dorme. – Falo entredentes encarando aqueles olhos negros de Kai.

Calor vivo e puro emanava dele, não era como o fogo de Chester apesar. Era ruim.

— Quer brincar, cadela? – Ele pergunta com os olhos brilhando com ira. Aperto mais a adaga e sangue começa a escorrer por seu pescoço.

— Parem vocês dois! – Chester fala e coloca a mão em meu ombro. – Temos que ir, Alishia.

Bufo e puxo a adaga lentamente – lento o suficiente para fazer mais um pequeno corte na pele de Kai.

— Você vai pagar por isto. – Ele ameaça e coloca a mão contra o corte.

— Estou esperando pela cobrança. – Sorrio e seguro a mão de Chester, nos transpassando. – Estava guardando minha energia para quando estivéssemos mais perto do topo, que inconveniente aqueles dois são.

— Eu já disse como eu odeio transpassar? – Ela murmura se dobrando para frente.

— Ajuda se eu disser que teremos que caminhar só por mais no máximo uma hora? – Digo analisando aonde tínhamos parado.

Chester rapidamente se levanta e olha também, um sorriso lento e vitorioso abrindo em seu rosto.

— Vamos! – Ela agarra minha mão e recomeçamos a nossa caminhada.

Trinta minutos depois, o sol já estava aparecendo novamente. Chester tinha um olhar tão feliz em seu rosto que nem mesmo podia evitar de sorrir.

— Consegue ver? – Ela pergunta quase saltando.

— Sim, eu consigo. – Respondo sorrindo olhando para o palácio que já parecia estar perto.

— Você pode transpassar novamente? – Ela questiona e eu a olho chocada. – Eu sei, mas poderíamos chegar mais rápido.

— E se nós desclassificarem por isso? Melhor não arriscarmos. – Falo e ela exala, mas concordando.

— Como vamos ficar depois da prova? – Ela pergunta enrolando uma mecha de seu cabelo vermelho nos dedos.

— Bem, eu a considero uma amiga agora, tudo bem para você?

— Ótimo, eu realmente não estava com intenção de deixar você me abandonar. – Ela diz seriamente e sei que ela está sendo sincera.

Naquele momento minha consciência pesa por ter omitido sobre as coisas que tinha acontecido. Ela é minha dupla e deveria haver confiança entre nós.

— Eu sei o que aconteceu, não se remoa. – Chester murmura e eu a encaro, chocada. – Você não é a única que guarda segredos, não é de conhecimento geral que alguns Níberianos abençoados por Aine e Aineera possuem um pouco do dom da visão.

— Chester...

— Alishia, eu a entendo, teria guardado isto para mim também, não foi sua culpa o que aconteceu e eu nunca a julgaria. Jamais. – Chester pega minha mão e quase choro de alivio por ela não estar brava comigo. Já tinha perdido amigos o suficiente na minha vida. – Quando estava procurando pela bandeira, eu a vi na caverna com o Grão Senhor, não vi muito apesar, então não se assuste. Por isso perguntei o que tinha acontecido com você, mas entendo porque não me contou.

— Eu iria contar. – Falo e ela meneia a cabeça para mim. – Depois da prova, eu iria.

— Ainda quero saber, adoro detalhes, eles são essenciais. – Eu faço uma careta e ela ri. – Estou falando sério!

— Tudo bem, você merece alguns detalhes.

— Todos.

Reviro os olhos e nós duas nos calamos quando começamos a ouvir o alvoroço de vozes não muito longe.

— Conseguimos. – Ela diz emocionada.

— Sim, conseguimos. – Murmuro com um sorriso idiota.

Entrelaço meus dedos nos dela e nós duas correremos, e quando eu avisto o Rei, o Príncipe, a corte, muitos soldados e Noah, eu seguro para não desabar.

Mas havia também mais duas pessoas, além da realeza. Dois competidores.

Não erámos as primeiras.

Ansel e Griel foram a primeira dupla a chegar.

— Não. – Eu sussurro para Chester vendo lágrimas começarem a cair no seu rosto. – Não chore. Chegamos em segundo lugar.

— Eu sei, mas...

— Sem mais nenhum ‘’mas’’, vá até lá e pegue a segunda bandeira. Você merece está vitória. – A interrompo e passo os dedos por debaixo de seus olhos. – Cabeça erguida, garota, nós conseguimos.

Chester me olha e eu lhe dou um sorriso trêmulo, sentindo a intensidade daqueles lindos olhos. Ela me abraça e quando se afasta eu assinto para ela.

Parada à poucos passos de distância, de todos que nos observavam, eu a assisto caminhar até o Rei.

Minha dupla, minha mais nova amiga, faz uma reverência, e com as mãos tremulas, pega a segunda bandeira que ele oferecia. Chester a ergue e olha para mim com um sorriso radiante, então a balança no ar.

— Chegue até mim, Alishia Xadae. – O Rei pede com a voz alta.

Ignoro tanto Noah, quanto Phillip, que me acompanhavam com o olhar. Tinha medo de que se eu os olhasse, ficasse evidente o que havia acontecido e o pior, que ficasse evidente o que eu sentia em relação aos dois.

Era errado e proibido. Não aconteceria novamente.

— Majestade. – Faço uma leve reverência e o olho.

— Como está se sentindo? – O Rei pergunta, e o Capitão Durand logo atrás me fuzila com o olhar.

— Me sinto como uma merda, majestade. – Respondo e ele solta uma risada.

— Pelo menos conseguiu o segundo lugar, o esforço valeu a pena, certo? – Ele questiona e eu imediatamente controlo meus pensamentos.

— Ficaria satisfeita até com o terceiro lugar. – Respondo e era verdade.

— Claro que sim, é tão humilde. – Ouço Ansel murmurar.

— Algum comentário a fazer, senhorita Brint? – Phillip a questiona e eu trinco meus dentes.

— Não, Alteza. – Ansel responde rapidamente.

O Rei ainda me olhava com certo interesse, só esperava que minha roupa tivesse no lugar, se as fitas estivessem abertas mesmo que por pouco, ele poderia muito bem ver a outra marca.

— Podem voltar para o palácio, ambas as duplas. – O Rei fala sem desviar os olhos dos meus. – Teremos uma pequena comemoração na sala de dança, e pelo o que ouvi, a terceira dupla está chegando, então não demoraremos a encerrar a primeira prova. Estejam lá dentro de duas horas.

Estas palavras sim eram músicas para meus ouvidos.

— O Grão-Fenwick Noah e o Príncipe, transpassaram com vocês novamente. – Ele continua e eu engulo em seco.

— Claro, majestade. Obrigado. – Falo forçando um sorriso.

— Estão dispensados. – Fala por fim.

Olho entre os guardas e vejo Daemon me olhando com curiosidade, eu me permito acenar com a cabeça para ele, que retribui com um sorriso pequeno.

— Você cheira a sexo. – Ansel sussurra para mim quando paro ao seu lado.

— Pelo menos não cheiro a lixo, como você. – Retruco e ela apenas sorri, como se aquelas alfinetadas apenas a motivasse.

— Quem serão os primeiros? – Príncipe Phillip pergunta, parando com Noah em nossa frente.

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— As duas. – Ansel fala e Griel geme, parecendo torturando. – Elas merecem serem as primeiras desta vez.

— Cuidado. – Eu rosno, percebendo que Chester estava a dois passos de avançar sobre ela.

— Apesar do cheiro, você ainda continua quente com está roupa. – Ansel fala me olhando com diversão e sem pensar vou para cima dela, apenas para ser segurada por duas mãos forças que me puxam pela cintura.

— Eu tomaria cuidado, senhorita Brint, todos estão exaustos e tensos, mas não se esqueça aonde está e na frente de quem está. – Noah fala e eu me remexo, o fazendo me soltar.

— Perdão, alteza. – Ansel pede com a voz doce, mas era claro como a luz do dia que ela não estava arrependida.

Ela sequer parecia se importar.

— Vamos. – O Príncipe que apenas assistia fala, ignorando Ansel.

— Eu levo minha campeã. – Noah fala a Phillip e vejo seu maxilar se apertar.

— Como quiser, Grão Senhor. – Ele concorda e oferece a mão a Chester, que me olhava com solidariedade.

Me viro para Noah, o encarando pelo primeira depois do que aconteceu com na caverna, e eu sabia que o olhar que ele me lançava significava que nós falaríamos sobre aquilo, está era a minha única opção.

Maldição!

Noah não disse nada quando me deixa em meu quarto e em seguida desaparece novamente.

Eu sabia que ele voltaria, porém não esperaria por ele.

Estava cansada e precisava de um banho. A roupa grudou ainda mais em meu corpo por causa de todo suor daquele misero dia, e tenho dificuldade em tira-la. Depois de muito xingar e amaldiçoar, eu consigo e apenas a jogo no chão do quarto, indo direto para o banheiro.

Erin que me perdoasse pela minha falta de consideração ao seu cansaço, eu tentaria me lembrar de arrumar o quarto antes de sair para poupa-la de um pouco de trabalho.

Fico na banheira por alguns bons minutos – algo que fazia muito desde que cheguei ao palácio, já que uma banheira era um luxo que nunca tinha tido antes.

Eu amarro o robe fino de seda, me sentando em frente a penteadeira, eu pego a escova para tentar desembaraçar meus cabelos que estavam mais selvagens que o normal.

— Alishia

Ergo minha cabeça, mas não me viro para olha-lo, apenas o encaro do espelho.

Noah estava escorado contra a porta, com os braços musculosos cruzados contra o peito, apesar de malditamente belo com aqueles cabelos despenteados, ele parecia assustador com o rosto impassível.

Permaneço indiferente enquanto o olho e começo a mover a escova pelas pontas do meu cabelo.

— Noah

— Temos que conversar sobre o que aconteceu. – Ele fala, também sem se alterar.

— Não, não temos. Você sabe muito bem que não tínhamos muitas opções. – Digo já exausta com aquele assunto. – Tenho plena consciência de como funciona as coisas para os Grãos-Fenwicks e pelos Deuses, Noah, eu espero que você esqueça que isto aconteceu ou apenas leve como algo comum e simples, como qualquer caso que já tenha tido e que não vai acontecer novamente.

— Alishia...

— Noah, não se esqueça que vim para a capital por um motivo, e não é um dos simples. – O interrompo, tentando ignorar meu corpo traiçoeiro que só de sentir a presença do maldito ficava quente como o próprio inferno. – Não quero me envolver com ninguém, tenho outras prioridades.

— Eu também não. – Ele afirma e eu o olho, confusa, e Noah simplesmente me lança um sorriso debochado. – O que queria dizer é que o que aconteceu deve ficar entre nós, mas você já pareceu entender isto.

Eu trinco meus dentes. Bastardo.

— Apesar de você foder bem, concordo que devemos continuar como antes. – Eu forço um sorriso. - Você melhora meu treinamento e eu ganho tempo para descobrir o que preciso e o torneio, fácil e prático.

O sorriso de Noah fica maior e malicioso. Ele se afasta da porta - com os olhos em mim -, caminhando com a precisão de um maldito predador.

— Querida, acha que eu te fodi? – Ele questiona e aperto a escova. Os nós dos meus dedos ficando brancos. – Acredite, se algum dia eu fosse tê-la novamente, você entenderia que aquilo não foi nada. Nada comparado com o que sou capaz de fazer, nada comparado como posso faze-la sentir.

Engulo em seco e ele percebe o movimento, e eu quero estapear o rosto do desgraçado até que ele perca o sentido.

— Vista o vestido verde, é mais apropriado para a comemoração de hoje à noite. – Com uma rapidez mais do que impressionante, Noah chega até mim e desliza um dedo suavemente por minha bochecha, em seguida desaparece.

Seguro o impulso de socar o espelho.

Maldito, presunçoso Grão-Fenwick!