Kyte batia o pé impacientemente, eles estavam demorando demais. E por um acaso, Luki havia sumido também.

A situação era tal: Luka e Gackpo discutindo sobre qual nota cai melhor em tal parte da música, ele comendo sorvete sem parar encolhido no sofá e mais nada.

Kuro e Rin não voltaram, Len e Mikuo deviam estar “conversando” e Luki se escondeu de novo pela casa procurando provas para incriminar Gackpo de ser um galinha mulherengo.

Mas, Kyte mal imaginava que o rosado tinha entrado no quarto do azulado para bisbilhotar algumas coisas.

O rapaz andou um pouco, olhou em cima da mesa de cabeceira, vendo uma foto da família num parque.

_Hm... Eles cuidaram muito bem do Len e da Rin. –Luki segurando a fotografia.

Andou mais um pouco, dando a volta pela cama. Da janela aberta, ele conseguia ver os fundos da mansão. Havia roseiras de todas as cores ao pé da construção e isso meio que o agradou.

Mas seu objetivo ali era outro. Levantou o olhar para cima de um guarda roupa, vendo uma caixa grande ali.

Curioso, voltou na porta do quarto e deu uma espiada para ver se todos estavam distraídos o suficiente. Correu para perto do móvel e puxou a caixa com esforço. Luki imaginava que Kyte devia ter alguma coisa de Meiko guardado consigo, porque Gackpo casualmente o contou que Kyte nunca teve mágoa das namoradas, então nunca rasgou fotos, nem se livrou das coisas que o lembrava delas.

_ “O que será que tem tanto nessa caixa pra estar tão pesada?!” –Luki abrindo a tampa.

Seus olhos se arregalaram. Devia ter mais de kilos em papel ali, fotos, cartas, tinha até fitas de vídeo, cds, mensagens, cartões de natal, de ano novo, tudo.

Remexeu, procurando o nome da mulher de seus sonhos.

_Meiko, Meiko... –sussurrava tentando localizar algo.

Puxou uma carta, estava com o nome dela Sakine Meiko. Luki suspirou, era algo impossível, mas ele se sentia mais perto dela dessa forma.

Sakine Meito era o irmão mais novo da “bêbada louca”, mas eles nem se falavam direito. Era “bom dia” e “boa noite”, Luki via sempre essa cena.

Mas Meito se tornou um de seus amigos no colégio, tanto porque estudavam na mesma sala, mas acima de tudo, como ele poderia namorar a irmã de seu amigo? Bem, não é tão ruim, mas deve ser esquisito se ela tiver 25 anos.

A carta era do dia em que Meiko se separou de Kyte. Ela que deu o fora nele pelo que estava escrito. Luki se deteve em uma linha:

_ “Eu não posso ficar com você porque existe outra pessoa...”.

Luki fechou os olhos bem forte. Isso queria dizer que ela estava apaixonada por alguém, mas não está com ela, porque ele praticamente morava na casa da Sakine, ela estava sozinha, bebendo como se o mundo não existisse.

Tinha sido assim por cinco meses. Ela estava magra e parou de trabalhar... Os pais deles estão surtando e somente Luki conseguia acalmá-la e fazê-la voltar a razão por algum tempo.

Luki guardou as coisas. O que queria saber já estava resolvido, e sinceramente, não sabia o que fazer agora.

Fechou o quarto e continuou andando naquele andar. Viu as costas de Len apoiado na porta do banheiro, olhando para dentro.

Chegou perto e colocou a boa perto da orelha do loirinho.

_Bu!

_AHH! LUKI-KUN! –Len colocando a mão no peito depois de um pulo.

Mikuo dentro do banheiro escovando os dentes, riu da cena. E Luki retribuiu, conhecia Mikuo de tempos já também.

_Len, eu queria conversar com você depois, é sobre uma curiosidade minha. –Luki.

Len assentiu sorrindo e voltou ao esverdeado.

_Você não foi tomar chá? A Luka-san está preocupada com você. E O Kyte-san parece estar bravo. –Mikuo comentou saindo do cômodo.

Luki deu de ombros e olhou uma vidraça no fim do corredor. Estava chovendo fraquinho.

_Maa, vou voltar pra casa todo ensopado. –Luki indo em direção as escadas.

_Luki-kun, você já vai?! –Len.

Luki negou com a cabeça, mas continuou descendo. Saltou o último degrau chamando a atenção dos adultos na sala.

_Nii-chan! Que coisa, não pode ficar andando pela casa dos outros assim! –Luka se levantando.

_Eu estava olhando as roseiras. –Luki.

_Ah, você viu? Gostou de qual? –Gackpo.

_Todas, mas eu gosto da cor de rosa mesmo. –Luki se sentando ao lado de Kyte.

O azulado estava no terceiro pote de sorvete, esse último de flocos. Os garotos desceram as escadas e foram se sentar ao lado do rosada, mas Len antes parou em frente ao azulado.

_Kyte-nii! Pare de comer sorvete assim! Vai fazer mal! – Len tirando o pote dele e levando para a cozinha.

_L-Len! Me devolva! –Kyte se levantando e indo atrás do loiro.

Mikuo riu, assim como Luka, mas o rosado sabia onde aquilo estava dando. Mas seria melhor os dois se resolverem por si próprios.

_Len-kun, não posso ficar sem ele, me devolva.

Len colocou na geladeira e pisou firme no chão. Ele não podia deixar acontecer o que houve no inverno passado, quando Kyte ficou doente seriamente.

_Nii-san, você tem que equilibrar. –Len.

Kyte sentou-se numa cadeira apoiando-se na mesa e encarou o rostinho do loiro. Len estava de cabelo solto ainda, ele adorava.

_Len, porque veio mais cedo? A Rin sabe que você já está aqui? –Kyte.

Len fez uma expressão apavorada. Ele tinha se esquecido, é mesmo!

_Len... Eu peço pro Gack buscar ela, daí ele aproveita e dá uma carona pro Mikuo, pra Luka e pro Luki. Ok? Mas eu quero saber o que aconteceu, você está diferente.

Len abaixou um pouco a cabeça. Ele estava vestindo uma calça comprida e uma camiseta azul escura, o que era estranho, ele gostava de roupas curtas ou os vestidos.

_Onii-san estava certo. Eu não consigo entender meus sentimentos ainda... –Len se sentando ao lado do azulado.

_Que?

_Eu vou assinar o contrato com o Tonio-san. Eu vou viajar e mostrar o meu talento. –Len sorrindo de leve.

_Len! Tem certeza! Nós não vamos poder te ver direito, e se acontecer algo? –Kyte se exaltando.

_Roro Yumma me convenceu, Kyte-san. –Len olhando o mais velho com convicção.

_R-R-Roro? Ah... entendi. –Kyte.

O mais velho estava com o coração acelerado. Len ia aceitar mesmo, mas ele só tinha 14 anos!

_Kyte-nii? Se eu fizer sucesso, eu prometo, eu vou ficar no máximo dois anos e volto. –Len juntando as mãos.

_Mas porque? –Kyte.

_Uma vez você me disse que Idols são a “sensação do momento” e acredito que a mesma coisa vai acontecer comigo. Eu vou ser essa sensação e depois eu sumo. –Len sorrindo.

_Mas você é bom demais, talvez você não consiga, Len-kun.

Len tocou os dedos na mão do rapaz. Ele iria sentir saudade, muita.

_Isso vai me deixar pensar. Kyte-nii, a música representa meus sentimentos não é? –Len.

Kyte não resistiu ao olhar mais lindo do planeta. Len era a pessoa mais dócil que ele conhecia, talentosa, e infelizmente a quem ele amava com todas as forças.

_Eu vou te apoiar. Mas espero que você se esforce, viu? –Kyte.

Len abriu um sorriso largo e abraçou o azulado exageradamente. Ele precisava encarar Rin e Kuro e contar tudo, e iria ser ainda nesse dia.

Kyte foi falar com Gackpo, mas o loiro continuou na cozinha divagando sobre seus próximos dias. Quem veio fazer companhia foi Luki.

_Ei, posso falar?

Len assentiu. O rosado se pôs mais confortável e começou.

_Seu irmão e você são bem apegados né? –Luki.

_Muito. Mesmo que não tenhamos nada de “irmãos”. –Len sorrindo fraco.

_Éum amor pra lá de fraternal pelo que vejo. –Luki.

_Como assim?

Luki sorriu de canto, ele ia botar fogo na vida do azulado, ele precisava disso.

_Ah, ele é tão amoroso com você. Ele faria tudo por você, sabe Len?

_Claro, eu faria também.

_Verdade? –Luki semicerrando os olhos.

Len desconfiou das próprias palavras e negou.

_Eu adoro o Kyte-nii, mas às vezes ele é superprotetor demais.

_Isso é porque ele quer ficar com você.

_Ficar comigo?

_É, sozinho, só vocês dois. Entende? –Luki.

O ar ficou pesado de repente, e Len não entendeu o porquê de Luki estar falando de Kyte assim, pois pelo que sabia, Luki não gostava muito de Kyte e Gackpo.

_Eu não sei de nada. Mas eu vou assinar um contrato de emprego com o Tonio-san. –Len.

Luki pareceu engasgar.

_QUE! Você não pode, Len! Ele é um salafráfrio, vai te fazer assinar um contrato, te manter trabalhando feito um animal e depois ainda te chuta roubando quase todo seu dinheiro. –Luki.

_Eu não estou indo por causa do dinheiro. Eu só tenho 14 anos... –Len.

_Ah. Se você não se importa, o que eu posso fazer?

_Você... Não pode ir comigo Luki-kun? Você é o mais inteligente da sua sala, pode me ajudar, e você também tem contato com as empresas musicais por causa da Luka-san. –Len.

_Q-Quer que eu vá com você? –Luki se assustando.

_Não posso pedir pra ninguém, porque todos tem muita coisa pra se preocupar. Mas você não vai muito as aulas e é um gênio. Por favor, você não pode ir comigo? –Len.

_B-Bem, você teria que convencer o Tonio. –Luki suando.

Nisso, a figura de Gackpo entrou na cozinha, estava sério.

_Bem, Luki, não vai voltar pra casa? Já estou saindo. –Gackpo mostrando as chaves.

_Ah, claro. Len-kun, desculpe. Eu vou falar com minha irmã e depois nos resolvemos ok? Te vejo na escola amanhã? –Luki.

Len assentiu, acenando.

O rosado deixou a cozinha e Gackpo dirigiu um olhar para Len.

_Tem certeza, Len? –Gackpo.

Len demorou a raciocinar, mas entendeu que Gackpo estava sabendo da ida dele. O loiro assentiu com o olhar fixo.

_Tudo bem. Já já eu volto, fique de olho no Kyte pra mim? –Gackpo com um sorrisinho.

Len sorriu de volta.

Ficou sozinho ali, mas se levantou e foi em busca do azulado. Ele estava no quarto dos gêmeos, olhando a mesma foto que tinha em seu quarto.

_Kyte-nii? –Len.

O rapaz andou até o loiro e afagou a cabeça. Era o máximo que podia fazer.

_Kyte-nii, você podia contar uma história cantada hoje. –Len puxando-o até a cama.

O azulado avermelhou. Ele tinha mania de contar histórias cantando, e fazia anos que não fazia isso.

Riu um pouco, sentando-se na cama e aconchegando o corpo do loiro ao seu. Ele lembrava de quando colocava os gêmeos junto ao corpo e cantava pra eles, seja em noites quentes, ou de nevascas.

Len puxou uma coberta e colocou o rosto no peito de Kyte, olhando para cima, esperando.

Kyte ajeitou o travesseiro em suas costas. Ele tinha deixado as luzes apagadas quando entrou e acendeu o abajur, então estava meio escuro e frio.

A chuva batia na janela. Kyte respirou e soltou a voz grave, mas suave. Len dormiu no fim da música.

Até lá, Kyte já não queria mais deixar Len ir para o mundo da fama. O que ele devia fazer?

Continua