A Buscadora

Capítulo 2- Enganada


Onde estou?
- Curandeira, como está a nova alma? – Alguém pergunta.
- Ela irá se adaptar bem, sua mãe era muito corajosa, ela terá as mesmas características.
- Sinto quando alguém se entrega a maternidade, ainda mais nesse planeta!
- Fique tranqüila, ela vai ser forte! Como eu disse a mãe dela era bem corajosa... Não existem muitas almas como ela que migram para vários planetas.
- Quantos planetas ela visitou?
- Foram quatro, mas parece que já foi suficiente, ela não suportou viver aqui.
- E parece que virou mãe... Conheci uma história de uma alma ainda mais corajosa que essa... Ela se chamava Peregrina, mas morreu nesse mundo...
- Parece que aqui não é um bom lugar... Muitos problemas...
- E se a hospedeira resistir? O que vamos fazer Flor azul?
- Não vai, ela se rendeu Buscadora. – Flor azul a tranqüiliza.
- Bom, vou indo, espero que essa alma se de bem.
Que alma?
- Vai sim, Coral gostará desse hospedeiro.
- Assim espero! – Há um sorriso na voz. – Achei interessante você dar a ela o mesmo nome que a sua mãe tinha... Coral, a corajosa Coral.
Quem é Coral? Onde estou? Eu não fui pega pelos Buscadores?
Sim, eu fui, me lembro perfeitamente de tudo... Eu me rendi, eles não fizeram mal para mim, não me machucaram nem nada. Posso até dizer que foram gentis comigo, apenas colocaram algo para eu cheirar.
Mas algo estava estranho, muito estranho, totalmente incomum. Já deveriam ter colocado uma alma dentro de mim... Por que estou assim? Ainda sou humana? Normalmente eles não esperavam nada, agiam o mais rápido possível.
Foi muito tempo observando essas almas, me adaptei a elas. Desde minha tenra idade elas vieram dominar o mundo, se não fosse meus pais me ajudarem, eu não estaria aqui... se é que ainda estou aqui.
Vejo minhas condições, não estou mais com fome, muito menos cansada. Não sinto mais dores, estou perfeitamente bem, será que eles erraram na dose de calmante? Eles ainda não me cortaram, não fizeram nada?
O que eu faria agora? Daria tempo de correr? Provavelmente não, deve ter muitos ali fora. Eu gritaria? Avisaria eles? Eu não queria ser cortada acordada, muita dor para mim, eu não queria isso!
Eu tinha que achar um jeito! Eu não era fraca assim... bem eu sempre fui fraca, mas eu não podia me render, não de novo, podia?
Mas quem era Coral? De quem eles estavam falando? Eles iam colocar uma alma chamada Coral em mim? Era isso?
Eu precisava avisar que estava acordada, era para o meu bem! Quem sabe assim eu não conseguia uma morte mais razoável? Se isso é possível é claro, eu duvidava.
No fundo de meu coração, por mais que eles tiraram tudo da minha vida, minha família, amigos... por mais que eles tiraram a minha vida, eu não conseguia ter raiva deles... eles eram bons demais...
Abri meus olhos.
A primeira coisa que vi foi um reflexo prata na parede acima de mim, isso era bem estranho. Tudo estava muito iluminado, era um hospital eu tinha certeza disso. Levantei um pouco a cabeça para olhar a cara de espanto do curandeiro.
Já podia imaginar o que ele faria ao ver que a humana tinha acordado antes do tempo. Os primeiros segundos ele ficaria espantado, depois correria com algum remédio que me levasse a inconsciência.
Eu estava enganada.
Ela sorria para mim, quando me viu, sua expressão mudou, ficou mais feliz. Era para ela estar espantada comigo, afinal, eu era uma humana solta! E estava acordada!
- Bem vinda Coral!
Esbugalhei meus olhos, quem era essa tal de Coral que todos falavam?
- Oh! Desculpe minha querida, você acaba de nascer... te dei esse nome... você gosta? Era o antigo nome de sua mãe como Morcego...
Eu não acabei de nascer, ela estava louca? Meu nome não era Coral, do que essa mulher estava falando? Meu nome era Marina!
- Você gosta? – Ela insistiu.
- S-sim! – Gaguejei, e tentei sorrir.
- Você deve estar estranhando seu novo corpo... isso é normal para todos.
- É? – Tentei sorrir novamente, mas o medo me dominava.
- Você não escuta mais alguém ai com você, não é mesmo? – Ela disse preocupada, vindo para perto de mim.
- Não, estou apenas eu aqui... Isso não é errado?
- Claro que não! Você é uma alma, precisa ter um corpo livre só para você.
Eu era uma alma? Como assim? Eu não era alma! Isso era bem estranho, eu era humana... mas parecia que ela estava me considerando uma alma!
Sem querer, coloquei uma de minhas mãos no meu pescoço, certificar que ele estava liso como sempre, sem nenhum cicatriz.
Mas não estava.
- Ficou bom, não foi? – A Curandeira falou satisfeita.
- Sim, ficou ótimo. – Disse desolada.
Isso era bem estranho, eu tinha uma cicatriz, uma cicatriz que não existia antes...
- Quero olhar seus olhos Coral, posso?
Essa era a chance dela perceber seu erro. Eu não sabia como ela podia ter cortado meu pescoço e não ter colocado nada ali dentro, foi muita desatenção da parte dela.
- Pode. – Respirei fundo.
Ela pegou uma pequena luz que estava em cima de uma bancada ali perto. Veio perto de mim com ela, sempre sorrindo. Ligou a lanterna e apontou o feixe de luz para meus olhos, para meus olhos verdes.
E algo aconteceu.

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