A Bruxa Cega.

Capítulo 2.


Dany levantou a cabeça no momento em que ouviu o mesmo barulho de carro da noite passada. Por sorte, ou talvez não, Jane estava acordada e não a deixou cair por cima de Gina. Mas era bem óbvio que Jane estaria acordada, porquê ela sempre acorda nos horários mais improváveis para alguém acordar, como naquele momento, que ainda eram apenas 07:30. Mas o que mais intrigou Dany, foi que sua mãe estava mais quieta que o normal. Jane normalmente, era explosiva, como ela, e nunca parava de falar.

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–– Quem é você e o que fez com a minha mãe? –– Dany perguntou e acabou batendo a cabeça em uma mesa cheia de coisas que Gina insistira em levar para a sala. Jane não pode socorrê-la, porquê estava mais preocupada com o “incrível Harry Potter” que tinha acabado de chegar. Dany estranhou aquilo, porquê sua mãe já tinha visto Harry no ano passado. Talvez não fosse só ela de cega por ali, afinal. Dany levantou reclamando, como sempre, e não teve o mínimo prazer de ir comprimentar Harry, pelo contrário, ela fingiu que ele nem tinha chegado.

Tinha chegado na cozinha, e estava tentando colocar água em um copo que para ela, estava limpo, quando uma mão tirou o copo de sua mão. Claro que, depois daquele movimento, Dany levantou o pé devagar atrás de si somente como precaução, porquê a sala estava muito silenciosa e ela achava que todos tinham a abandonado.

–– Sabia que Fred me contou que cuspiu aí ontem e não lavou? –– disse a voz, rindo em seguida por Dany passar a mão muitas vezes no short de nojo. –– Pensei que não falaria comigo.

–– Bem, eu não falaria mesmo, idiota com uma cicatriz no meio da testa. –– Dany disse, abaixando o pé. Não entendeu porquê estava sentindo algo formigando nas duas bochechas. –– Mas já que está aqui, não tem como não te falar oi. Então, oi.

–– Oi. –– Harry disse, percebendo que Dany estava mesmo diferente. Parecia estar mais alta, e bem mais linda. Claro que, ele não diria aquilo para ela. Agradeceu pela primeira vez que ela fosse cega, porquê com certeza iria zombar de sua cara ao vê-lo tão sem graça. –– Como foi as férias?

–– Ah, chatas. –– Dany se encostou na pia, como se pudesse ver o que a janela aberta a sua frente estava mostrando. –– Eu não fiz nada, quer dizer, eu não pude fazer nada, porquê quando se é cega, sua mãe acha que com qualquer movimento seu, você vai acabar se machucando ou morrendo de vez. E como foram as suas? –– Harry iria responder, quando todos entraram na cozinha.

–– Dany, que prazer em vê-la aqui e desse jeito! –– Fred disse, e ela ficou sem entender. Somente depois de alguns minutos, que percebeu que ainda estava de pijama e que ele era curtíssimo. Tinha certeza que naquele momento estava mais que só vermelha, por isso, colocou as duas mãos entre as pernas, tentando esconder algo.

–– Mãe... será... que... poderia... me... ajudar? –– Dany perguntou, o mais baixo que pode. Ela subiu, e vestiu a primeira roupa que Jane a entregou. Quando desceu novamente, preferiu se sentar ao lado de Rony do que de Harry. Não entendia bem também o porquê disso, já que ele era somente um “amigo”, mas preferiu esconder o que estava sentindo somente para si mesma.

O cabelo de Dany ainda tinha uma das mechas em branco, e quem olhasse de longe, diria que ela tinha apenas o pintado. Mas infelizmente, para Jane e para todas as outras pessoas que ficavam ao seu redor, pensavam. Dany tinha passado mal na maioria das férias, até mesmo Pichi não estava mais agüentando ficar perto dela vendo-a daquele jeito. Apesar de tudo, ela continuava a sorrir, como se nada estivesse acontecendo, como se... fosse uma brincadeira que tinha inventado com Fred e George, mas que somente ela era capaz de ganhar.

–– Dany, nós vamos sair. –– disse Jane. –– Será que consegue ficar sozinha sem queimar a casa?

–– Porquê não posso ir junto? –– Dany quis saber.

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–– Ok, você consegue ficar. –– Jane disse sem se importar com sua pergunta. –– Prometo trazer todos os seus materiais direitinho.

–– Não quero saber dos materiais, quero saber porquê não posso ir junto! –– Dany se levantou.

–– Depois te explico. –– Jane disse somente, saindo, e todos iam saindo junto. Dany ficara para trás, sem entender o porquê de não poder ter ido, até mesmo Gina, que ela tinha certeza que faria um escândalo quando não comprassem algo que ela quisesse, havia ido.

Dany se jogou no sofá, e ficou esperando por nada. Tinha a desvantagem, e Jane sabia muito bem disso. Nem mesmo Pichi estava na sala, e sim no quarto, dormindo. Ela pensou em subir, e o acordar, mas sabia que se fizesse isso, Pichi se assustaria e acabaria pulando nela e latiria sem parar.

Já estava tentando subir as escadas, quando começou a chover fraco. Dany amava chuva, forte ou fraca, porquê sempre que chovia, Jane ia para o seu quarto, se deitava em sua cama e ali as duas inventavam histórias que sempre tinham um “felizes para sempre”. Ela riu se lembrando de como uma vez teve a capacidade de acabar matando o casal principal em um acidente de carro, que caiu dentro de um rio. A história nunca foi realmente terminada, porquê Dany nunca achou que tivesse algo além da morte.

Encostou a cabeça no sofá, e olhou para sua própria escuridão. Se viu cansada, não somente por tudo sempre estar tão escuro, de esconder as lágrimas, e principalmente, de ser tão forte, quando estava tão fraca. Será que ninguém percebia a diferença de seus hábitos ou quando ela não brincava com Pichi? Ou será que ninguém se importava mesmo? Talvez fosse isso, a segunda opção, porquê não parecia que alguém realmente se importava. Era só responder que estava tudo “bem” e sorrir, que qualquer um acreditaria sem perguntar alguma outra coisa.

E foi com esse pensamento que ela adormeceu, com os punhos e dentes cerrados, se perguntando porquê não poderia ter nascido como outra pessoa.

[...]


Dany não sabia quantas horas tinha dormido, mas sabia que não poderia ter feito aquilo. Embora não pudesse ver, algo estava totalmente errado. Pichi latia alto demais, e balançava o rabo em seu rosto, tentando a acordar –– e realmente, deu certo. Não chovia mais, mas algo fedia exageradamente, tanto que ela fez uma cara de nojo. Sua varinha, como sempre, não estava perto de si e se fosse algo que podia bater e até mesmo matar, ela já estava pronta, com seu pé –– que uma vez usado, deixa uma marca horrível e vermelha no rosto de quem o recebe.

Do lado de fora, dois centauros esperavam que Dany se levantasse, um bem mais animado do que o outro, que queria nem ter saído de casa para aquele “encontro”.

–– Ela acordou! –– disse Firenze animado, acenando pela janela. –– Acordou!

–– Mas ela é cega, então porquê diabos está acenando se já sabe que ela não vai ver? –– questionou Agouro sem entender.

–– É pra ela escutar! –– respondeu Firenze, se virando novamente voltando a acenar e dessa vez bater na janela.

Dany estava indecisa se ia ou não abrir a porta de uma vez por todas. Escolheu ir, até porquê, Pichi estava do seu lado, o que de ruim poderia acontecer a ela? Bem, tirando o fato de que a casa onde estava, se encontrava no meio do nada e sua mãe, e muito menos outra pessoa, ouviria algum grito seu.

Avançou, ainda tremendo de medo, e abriu a porta de uma vez só. Ficou surpresa quando ganhou um abraço apertado, não de uma pessoa normal, como Jane –– até porquê sua mãe a apertava bem mais do que aquilo.

–– DANY! –– gritou Firenze quando parou de a abraçar, fazendo Pichi latir ainda mais atrás dela.

–– Oh meu Merlin, é você mesmo? –– Dany sorriu. –– O que está fazendo aqui? Como é que me achou?

–– Ele quis fazer uma surpresinha. –– respondeu Agouro, e ela abriu ainda mais o sorriso. –– Precisamos conversar.

–– Tudo bem, mas eu não garanto que minha mãe vai gostar disso se nos ver juntos. –– avisou, seguindo para fora. Teve de trancar Pichi dentro da casa, porquê ele não parava de latir e depois de cinco minutos, o latido se tornava insuportável.

Ninguém falou nada por pelo menos uma hora, até mesmo Dany estava sem assunto. Mas se aquilo continuasse do mesmo jeito, logo Jane chegaria e os mandaria embora, ela ainda não acreditava que eles pudessem ser amigos de humanos, e principalmente de sua filha. Por isso, tomava distância da floresta e sempre mandava alguém dar uma olhada nela. Bem, Dany não era o tipo de garota que obedecia a todas as regras.

–– Você sabe que, seu pai morreu por causa de uma doença, não sabe? –– começou Agouro.

–– Não... –– respondeu Dany, sentindo Firenze passar a mão em seu cabelo. –– Mas e daí?

–– “E daí” que você pode também ter essa doença. –– ele respondeu em um tom sério.

–– E daí...? –– perguntou ela novamente.

–– Não tem medo da possibilidade de morrer a qualquer segundo? –– perguntou, dessa vez, Firenze, a olhando.

–– Ah, não sei... –– confessou. –– Acho que quando eu estiver morrendo, talvez eu tenha. Mas enquanto isso não acontece, vou viver cada momento como um só.

–– Quanta sabedoria tem dentro de você, não sabia dessa sua parte filosofa. –– brincou Agouro pela primeira vez.

–– O que querem, hein? –– Dany perguntou apoiando o rosto sobre uma das mãos. –– Sei que não vieram aqui só pra me falarem isso.

–– Queremos que aprenda com a gente! –– respondeu Firenze a balançando.

–– Aprender? –– Dany estava totalmente sem entender.

–– Sim, aprender! –– ele respondeu. –– Aprender a usar arco e flecha, aprender a fazer arco e flecha para os seus companheiros, aprender a fazer remédios com plantas e muito, muito mais! O que você acha?

–– Eu até iria, mas... Bem, eu sou cega primeiramente e minha mãe nunca deixaria. –– Dany abaixou o rosto. –– Ela colocaria o mundo atrás de mim se eu fizesse isso mesmo.

–– Deixe Jane comigo. –– disse Agouro, jogando de leve um arco no colo dela. –– Foi um dos seus companheiros que fez.

–– Foi mesmo? –– Dany passou a mão pelo novo presente, o que parecia para ela, era que tinha desenhos de flores. –– EU VOU! –– disse, quase gritando, embora soubesse que não seria nada fácil esconder isso de sua mãe e amigos.

–– Petyr iria gostar que você fizesse isso. –– disse Agouro o mais baixo que pode, olhando-a tentando passar o arco sobre as costas. –– Vamos embora, Firenze, agora!

–– Mas e minha mãe? –– Dany perguntou, se levantando.

–– Já disse que cuido de Jane. –– Agouro respondeu, tentando não falar tão alto. Não era o tipo de centauro que falava duas vezes. –– Só tente treinar com esse arco, e não machuque o braço.

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–– Eu não vou “tentar”. –– começou ela, levantando uma das sombrancelhas. –– Eu vou “conseguir”! Entendeu a diferença?

–– Então tente também crescer. –– ele retrucou, chegando perto dela.

–– Eu não vou... –– Dany parou de falar. –– Tudo bem.

Os dois foram embora, se despedindo dela. Com um pouco de dificuldade, Dany voltou para dentro e se sentou no sofá, passando a mão em seu arco. Deveria ser extremamente lindo, e mais uma vez, ela não poderia ver outro presente que ganhara. O problema agora não era ela não enxergar o arco, e sim sair para a floresta sem que ninguém soubesse, e, com certeza, aquilo não seria nada fácil, porquê ela já sabia, que sua mãe nunca deixaria ela ir “aprender” com aquelas criaturas.