A Bela e a Fera

Capítulo 21 - Liily faz uma descoberta


Um breve som, algo como um soluço, ou um engasgo foi ouvido a pouca distância. Imediatamente Dominic soube que estavam sendo observados e se afastou abruptamente da mulher em seus braços. O olhar preocupado se deparou com a figura da irmã mais nova. Lilly estava parada no limiar da porta, com as mãos a encobrir os lábios, olhos arregalados e expressão atônita. Como quem não acredita no que vê.

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Mabel não compreendeu o motivo do afastamento e se ressentiu mais do que deveria ao perceber a face masculina longe da sua. Dominic encarava a porta de maneira firme, mostrando preocupação. Ainda perdida, ela seguiu a mesma direção e viu o que o marquês via. Lilly Deeping a encará-los embasbacada.

— Lilly! – ele falou sem liberar Mabel do abraço.

De repente a garota começou a saltitar e sorrir como uma boba diante deles.

— O que deu em você? – Dominic perguntou apertando o cenho, indicando a Mabel que não gostara daquela interrupção. Menos ainda do comportamento da irmã. – Pare com isso antes que atraia a atenção de todos que estão naquela maldita sala!

Era uma ordem. O tom de voz, o modo de falar, tudo indicava isso. Entretanto, a garota parecia não ter compreendido e continuava a se agitar e sorrir como uma boba. Apesar de já praticamente ter idade para casar, algumas vezes Lilly se comportava como uma criança e essas atitudes geralmente irritavam o irmão mais velho.

— Lilly! – o marquês insistiu vendo a garota saltar na direção deles liberando gritinhos animados e batendo palmas.

Ignorando a irritação estampada no rosto de Dominic, Lilly se dirigiu para a “futura cunhada”:

— Mabel! Estou tão feliz! Você vai se casar com Dominic?

Casar com Dominic?

Mabel repetiu a pergunta mentalmente e ergueu o rosto para observar o marquês que naquele momento também a encarava, a espera da resposta. Mesmo que ele tivesse pedido à irmã que se mantivesse calma, Lilly acabara por fazer algo que ele mesmo desejava, mas sabia que não deveria, realizar.

Perdida naqueles olhos inquisidores Mabel estava perdida.

— Na... não sei... – foi a resposta indecisa que os irmão ouviram.

— Mas vocês estavam se beijando! – Lilly insistiu – Nunca soube de outra garota a qual Dominic tenha beijado.

Pelo comentário da garota sir Deeping percebeu o quão distante e fora do mundo familiar esteve nos últimos anos. Ele beijara muitas mulheres, se deitara com outras tantas, e sua irmã jamais soube de qualquer uma dessas. Nem mesmo através de fofocas. Coisa muito comum entre os membros da sociedade local.

— Lilly... – Dominic começou em tom mais ameno, ainda mantendo as mãos na cintura de Mabel – A senhorita Nagle e eu estamos nos conhecendo... espero – os olhos azuis se detiveram sobre os de Mabel - que no futuro ela possa aceitar meu pedido, mas tudo será a seu tempo.

Lilly voltou a sorrir antes de dar um novo salto de felicidade. Toda a vida, durante muito tempo, tanto ela quanto Sophie pensavam que seria muito melhor se casarem antes que Dominic tivesse encontrado uma esposa. Pois, dado o temperamento do irmão, a distância com a qual vinha se mantendo desde que saíra da universidade, provavelmente acabaria por se casar com uma daquelas garotas esnobes das quais as irmãs Deeping queriam distância. E desta forma a vida delas se transformaria em um pedacinho do inferno. Cunhadas podem ser o calo de uma irmã solteira.

— Será maravilhoso! – a menina concordou – Ah! Mabel! Por favor, aceite ser nossa irmã. Sei que Sophie ficará tão feliz quanto eu! E mamãe? – Lilly arregalou os olhos ao mencionar a mãe – Ela já sabe não é? Anda tão estranha ultimamente, sempre perguntando por vocês, se os vimos, se vocês conversaram, se estiveram juntos em algum lugar... nunca imaginei que pudesse ser isso... mas estou tão feliz... ela também deve estar.

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Dominic revirou os olhos já cansando daquela cena patética que se desenrolava diante dele. Se antes Mabel estava insegura quanto a possibilidade de aceitar que se conhecessem melhor, agora, com aquela “pressão” da ala feminina dos Deeping, seria o ponto final de qualquer boa vontade por parte da senhorita Nagle.

Entretanto, se o marquês pudesse ler pensamentos, saberia que Mabel se sentia mais tranquila diante daquela clara demonstração de afeto. Para quem viveu toda a vida sozinha, sem irmãos ou irmãs, fazer parte de um grupo familiar onde se é tão bem aceita com certeza é uma benção.

Mais um ponto a favor de Dominic ela pensou vendo o olhar preocupado dele se dirigir para a porta da sala. E ela sabia porque.

A animação de Lilly era quase contagiante, mas aquela história não poderia ser espalhada aos quatro cantos. Eles precisavam de alguma tranquilidade para permanecer, pelo menos até o final daquele passeio no dia seguinte, em harmonia, sem intromissão de terceiros. Quando retornassem para casa, e Dominic tornasse sua corte aberta com visitas regulares, então, nada mais haveria que guardar ou esconder, entretanto naquele momento assim deveria ser.

A voz profunda, séria e determinada do marquês explicou justamente isso à irmã mais nova. Lilly foi incumbida de guardar segredo por dois ou três dias. Coisa que se a mais jovem das senhoritas Deeping faria com prazer, pois jamais teria a intenção de perturbar a vida de duas das pessoas que mais gostava na vida. Nem de alertar seres indesejados que pudessem provocar uma ruptura na relação do casal.

Quando Lilly, sua animação, perguntas, sorrisos e agitação se foram, Mabel e Dominic puderam perceber que mesmo que tentassem, o entendimento deles não passaria despercebido por muito tempo. Então, ele sugeriu de forma tranquila que eles retornassem para a sala. Que passassem algum tempo juntos ainda naquela noite. Mabel considerou a ideia exemplar e com prazer aceitou o braço que o marquês lhe ofereceu para conduzi-la de volta a sala de jogos.

Nenhuma outra pessoa, dupla ou casal atraiu tanto a atenção dos presentes quanto aquele. No momento em que eles ingressaram pela porta larga, e se dirigiram para o local onde Sophie e Philip estavam apenas uma pessoa compreendeu claramente o que aquilo significava. Frances. A marquesa suspirou satisfeita vendo a nuvem que pairava sobre seu filho desaparecer. Bem como a forma tranquila com a qual Mabel se portava, olhava e sorria para ele. Apenas a garota não percebia como se sentia, mas, quem já sentiu, viveu e teve o prazer de dividir a vida com um grande amor sabe como identificar outro.

— Sir Deeping resolveu aparecer... – a senhorita Brander comentou sacudindo o leque diante do rosto e sem perceber que falava com a mãe dele continuou a crítica: - E em trajes inapropriados!

A marquesa não se dignou a encarar a moça. Apenas fez um breve e conclusivo comentário:

— Ah! Sim! Meu filho herdou o espírito prático do pai que sempre preferiu sentir-se bem consigo mesmo a agradar os outros. – e oferecendo um sorriso aberto pediu licença para se reunir a outro grupo.

Sentar-se próximo a Sophie e Philip foi a estratégia perfeita. Parecia que os casais se comunicariam, porém não foi desta forma que as coisas aconteceram. A senhorita Deeping e seu parceiro estavam atentos um ao outro, liberando Mabel para conversar abertamente com o marquês. E dando a Dominic a chance de oferecer e receber atenção exclusiva da senhorita Nagle.

— Esta sala está muito quieta e sem vida. – Dominc comentou olhando em volta e se deparando com os olhos de Elliot direto em si. O primo ainda mantinha a tipoia sobre o braço o que provocou um olhar de desaprovação por parte do marquês. – Acreditei que nestes últimos dias os convidados de mamãe estariam eufóricos com a proximidade do fim das atividades. Tentando aproveitar ao máximo as chances de estar perto de alguém interessante.

— Acho que quem desejava se aproximar já se aproximou. Quem poderia se afastar se afastou. – Mabel explicou sem desviar os olhos do rosto de Dominc, mas sua alusão era clara a si mesma e também a Sophie. – Todos estão tranquilos em aproveitar estes momentos.

— A senhorita deve ter razão. – ele continuou se acomodando para uma melhor visão do rosto dela. – Deve ser por isso que todos nos olham...

Mabel sentiu as bochechas queimarem.

— Devem considerar que o senhor está fazendo um favor à marquesa ao me acompanhar. Ela é sempre muito severa quanto a manter jovens sozinhas nas reuniões.

Ele tinha certeza que a fama da mãe em sempre realizar reuniões com número par de participantes era de conhecimento de todos.

— Quem me conhece sabe que a pressão de Frances jamais me colocou em uma situação que não estivesse disposto a cumprir. Se estou aqui, todos devem saber que é pela senhorita.

A mão dele tocou de leve na ponta dos dedos dela que descansavam sobre a almofada provocando uma breve vibração e um sorriso involuntário. Os olhos azuis, os lábios estreitos, e ela lembrou do beijo, do calor do corpo dele, das mãos grandes em suas costas e o corpo todo se arrepiou. Uma sensação estranha aquela, o que será que queria dizer? Será que estava se apaixonando pelo marquês? Era certo que aquelas emoções nunca foram tão intensas quando se tratava do antigo noivo. Mas, para homens diferentes, Mabel supunha que deveriam existir emoções diferentes.

— Isso a incomoda?

Ele ainda estava inseguro. Ela pensou culpada.

— Não! – e logo remendou – Está se referindo ao fato de pensarem que está aqui por minha causa?

— Sim... também. – ele voltou a tocar os dedos dela com os seus e Mabel pode compreender melhor a pergunta.

— Nada que venha do senhor me perturba negativamente sir Deeping... creio que definitivamente estou livre dos temores que me perturbavam.

— É muito bom ouvir isso.

Ela mudou de posição, encobrindo definitivamente a mão com a ponta da almofada, permitindo que o marquês pudesse tocá-la sem receio.

*************

A manhã do último dia tinha um quê de nostalgia. Uma felicidade misturada com saudade. Mabel acordou cedo, pulou da cama e já estava pronta quando a outra também acordou. Assim que abriu os olhos a garota tratou de matar a curiosidade que o sono tão habilmente sufocara na noite anterior.

— Sir Deeping está lhe cortejando Mabel?

Um longo e inesperado arrepio percorreu as costas da jovem ao ouvir o nome do marquês junto a palavra cortejar. Ela sabia em que em poucos dias todos saberiam do fato. Não havia como esconder. Mas será que estava preparada para começar a lidar com as perguntas que seriam feitas?

Aquele era o momento para tentar descobrir?

— Ele tem sido muito gentil. – explicou sem explicar.

A outra sentou-se na cama, enrolando os joelhos com os braços sorrindo amigavelmente.

— Sempre tive a certeza de que ele nunca cortejaria alguém. Parecia o tipo de nobre que fica solteiro a vida toda. Não é dado a festas. Parece não gostar do convívio social. Geralmente é desagradável e mal humorado... você reparou que a testa dele está sempre tensa?

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Mabel encarou a garota enquanto revisava a imagem de Dominic na memória. Talvez a outra tivesse razão.

— Mas quando ele está com você parece outra pessoa. – os olhos dela se fixaram no rosto da colega de quarto – Deve ter se apaixonado... – ainda comentou antes de suspirar romanticamente – Ele já se declarou? – perguntou arregalando os olhos.

Sim. Mabel pensou, ele não fora especifico em dizer: eu a amo. Apenas indicara o fato com o comportamento, com os... beijos. E contou aquilo que representava a verdade.

— Nenhuma declaração saiu dos lábios dele.

— Ah! Mas ele vai! Certamente que vai! – outro suspiro e a garota voltou a se jogar no travesseiro antes de concluir a conversa – Estes dias foram realmente especiais não é Mabel?

— Sim... realmente foram.

Quem diria que tudo se daria como se deu? Que ela descobriria estar errada quanto ao homem que acreditava amar. E que aquele do qual jamais pensara se aproximar se transformara numa real possibilidade de felicidade.

**************

Após o café da manhã as pessoas saíram para caminhar pelo jardim, aproveitando o ar fresco e suave da manhã. Dominic que aproveitava esses horários para cavalgar, naquela manhã abandonou o hábito para passar mais tempo ao lado de Mabel. Entretanto a pessoa que encontrou no caminho antes de topar com a senhorita Nagle, não lhe trouxe sorrisos aos lábios.

— Bom dia!

A voz de Elliot vinha de suas costas, calmo Dominic se voltou e encarou o primo.

— Bom dia! Como tem passado? – perguntou indicando o braço escondido sob a tipoia.

— Estou melhorando. .

Melhorando? Certamente que o machucado deveria estar praticamente curado. Depois de todos aqueles dias, já que nem pontos levara.

— Fico satisfeito em saber.

E já se preparava para seguir seu caminho quando Elliot tocou no nome de Mabel. Voltando a acusar o primo de deslealdade. Eles estavam sozinhos na ante sala, Dominic não perderia a chance de esclarecer um pouco mais a situação:

— Quando nos falamos. Quando você me acusou de enganá-lo, a senhorita Nagle e eu éramos apenas conhecidos. Porém, muitas coisas mudaram desde então e – em um passo o marquês ficou diante do primo – já não posso dizer a mesma coisa agora. Neste momento.

Um ar vitorioso se estampou nos traços bonitos.

— Está admitindo que estava apaixonado por ela? Que tentou conquista-la mesmo sabendo que nós mantínhamos um compromisso em segredo?

Elliot não perdia a chance de inverter as palavras que ouvia.

— Estou realmente apaixonado por ela. Mas não tentei qualquer aproximação depois que tomei conhecimento do compromisso que os unia. Porém, neste momento, a senhorita Nagle é uma mulher livre. Pode aceitar a corte de quem quer que seja. Inclusive a minha.

Sir Chowes não esperava que o primo fosse tão sincero e direto e balbuciou:

— Tia Frances...

Quanto a esse ponto do assunto Dominic se sentia ainda mais tranquilo para oferecer respostas:

— Mamãe está inteirada do meu interesse e não se opõe. – estava cansado de oferecer explicações a quem não merecia e seus olhos identificaram alguém que lhe agradava bem mais ter por perto, Mabel. Era a hora de dar um ponto final àquela conversa - Acredito que com essas informações podemos dar por esclarecidas qualquer pendência sobre meu desejo de tornar Mabel minha esposa.

Enquanto Dominic se afastava, Elliot ponderava, imaginando quando poderia conversar com Mabel e tomar satisfações da moça quanto ao comportamento dela em relação ao marquês. Mesmo que sua mãe considerasse depreciativo ir em busca de explicações, sir Chowes não conseguia aceitar o fato de que a ex noiva estava prestes a se tornar a nova marquesa.