Eu e Joe não costumávamos ir a escola e nem voltar juntos. Não íamos porque eu sempre me atrasava, e Joe odeia chegar atrasado em qualquer lugar. Não voltávamos porque Joe tinha treino de futebol depois da aula quase todos os dias. Normalmente ficamos com outros amigos na hora do intervalo, já que moramos... quer dizer, morávamos um ao lado do outro e ficávamos praticamente o dia inteiro juntos. Mas depois que eu me mudei, passávamos todos os intervalos juntos e nos encontrávamos mais raramente ao longo do dia.

Joe parecia estranho todos os dias. Ele me chamava de Mel com mais frequencia, e eu estava ficando preocupada. Quando ouvimos o toque para o intervalo, Joe pegou a minha mão e me levou até o pequeno jardim do colégio. Naquele lugar, não era raro ver casais se beijando escondidos dos coordenadores. Ao lado havia um balanço. Eu soltei a mão dele, me sentei lá e comecei a balançar. Sempre adorei balanços!

- Mel...

- Sim, Joe?

- Você... Mel, eu...

- Eu, você...?

- Não é nada. Esquece.

Eu parei de me balançar. Ele estava na minha frente, com as mãos nos bolsos.

- Fale, por favor...

Ele não queria falar. Eu não fazia ideia do que ele queria dizer. Joe olhou para mim, depois para o chão.

- Mel... você nem hesitou em se mudar.

- Então é por isso que você está estranho esses dias?

Ele me encarou, e pela primeira vez em muito tempo, tinha uma expressão triste estampada na face.

- Consegue imaginar a dor de olhar para o seu quarto e vê-lo vazio?

- E-eu...

- Claro que não, Mel. Você... você não...

- Eu não?

- Você não entende o que eu sinto por você.

- O que?

- Esquece, tá legal? Se preferir, esqueça de mim. O que não vai ser difícil, já que você se mudou sem nem se despedir.

- Joe, não seja melodramático, eu só mudei de casa, não morri!

- Mas eu estou morrendo pra você...

- Do que você tá falando, senhor Joseph?

Ele suspirou. Olhou um pássaro que pousou perto de nós, depois encarou o chão novamente. Se virou e começou a andar para longe de mim.

- Joseph? Joe!!

Não se virou. Eu me levantei e corri até ele. Puxei sua mão, e ele parou. Mas não se virou.

- Qual o seu problema?

- Você.

Quando Joe pronunciou esta palavra, senti um punhal bem fino e afiado perfurando meu coração. O meu rosto ardeu, e meus olhos ficaram úmidos. As forças da minha mão se esvairam, e eu soltei a mão do meu melhor amigo. Ele apenas começou a andar novamente, sem olhar para trás.
Sem olhar a solitária lágrima que desceu devagar na minha face esquerda.

- O que foi isso...?

O resto do dia, ele praticamente me ignorou. Joe nunca havia feito nada parecido antes. Depois do dia em que caçamos duendes, ficamos inseparáveis. Talvez... talvez eu não estivesse dando o devido valor ao meu amigo.

Depois da aula, encontrei Inu na praça. Contei que estava triste por causa do Joe.

- Prometo que vou te animar hoje!

- O que?

- Tenho uma surpresa pra você!

Mais tarde, estávamos andando juntos com um sundae na mão.

- Pra onde estamos indo, Inu?

- Você vai ver, não seja curiosa! Olha aqui, chegamos.

- Um prédio?

- É aqui que eu moro.

Senti um embrulho no estômago. Por que ele me trouxe na sua casa? Estávamos indo rápido demais.

- Vamos?

- Joe...

- Você está branca! O que houve?

- Não... não acha que é muito cedo...

- Claro que não!

Ele pegou a minha mão e entrou no prédio. No elevador, eu fiquei muito corada, e ele olhava pra mim de forma engraçada. O elevador parou e ele novamente me puxou pela mão, pegou uma chave no bolso e abriu a porta. O apartamento era lindo! Uma decoração de muito bom gosto.

- Mãe?

"Mãe?"

Uma moça muito bonita, de traços orientais, tão baixinha quanto eu e quase aparentemente tão nova, apareceu pelo corredor. Ela segurava uma flor cor-de-rosa, veio até o Inu que se abaixou para receber um beijo.

- Meu bebê.

- Mãe! - Ele disse, fazendo uma espécie de sinal do tipo "não na frente da moça, né?". Eu sorri. E então, ela começou a falar se virando para mim.

- Esta é a sort...

- Mamãe?

A mãe do Inu parou de falar e parecia perdida, deixou a flor cair da mão. Ela me olhava como... como a minha mãe em meus sonhos. Ela chegou mais perto, tocou o meu rosto com a ponta dos dedos - que eram frios - e me encarou.

- Alice...? - Ela sussurrou.

Ela começou a chorar, e me abraçou. Eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo ali. Olhei pro Inu que parecia tão confuso quanto eu.

- Mãe, o que está fazendo? Você conhece a Melli?

Ela se soltou de mim para me olhar, enxugou as lágrimas, e se limitou a dizer:

- Você é linda, Melli.

- Obrigada.

- Parece muito com a sua mãe.

- Você conheceu a minha mãe?

- Sim... Quer ouvir como conheci sua mãe?

- Claro, eu gostaria muito.

Ela sorriu largamente.

- Sente-se que vou preparar um lanchinho pra gente. Quando meu filho disse que eu conheceria uma garota especial hoje, não imaginei que fosse superar minhas espectativas.

Eu me abaixei e peguei a linda flor cor-de-rosa do chão, a entreguei e ela agradeceu. Quando ela saiu, o Inu me chamou para sentar no sofá ao lado dele.

- Você sabia disso?

- Estou tão surpreso quanto você.

Ela não demorou a voltar com uma bandeja cheia de guloseimas. Na bandeja, um jarro de margaridas brancas e no meio delas, a flor cor-de-rosa.
Nos contou que conheceu minha mãe na praça Fantasma. Que contou-lhe toda a
sua história e que Alice havia escutado. De certa forma, ela sentia que minha mãe fazia parte da sua vida, que estavam juntas em tudo, que o destino de todas elas estava ligado.
- É como olhar para esse vaso de flores. Você vê todas essas flores, Melli, mas sabe que só aquela é diferente. Sua mãe é como essa flor diferente, com um amor diferente, como a minha mãe também foi.
- Acho que entendi.
- Eu fui ao enterro da sua mãe, e lá eu te conheci, Melli. E entendi a razão da minha mãe não ter me abortado depois do estupro e da sua mãe ter dado a vida por você... o amor sem limites, Melli. O amor de uma mãe pelo seu filho. E quando eu tive o Midori, eu pude sentir este amor.
- Nossa... isso tudo está me deixando meio assustada. Será que tudo tem a ver com o destino?
- Também nos conhecemos na Praça Fantasma, não foi?
Quando cheguei em casa e deitei na cama, não consegui dormir. Imaginei que tudo aquilo era coincidencia demais. Mas eu sabia de alguma coisa em tudo aquilo, sempre que eu via o Inu, meu coração disparava. Sempre que ouvia sua voz, eu sorria. Qual o problema de se apaixonar? Parece mais uma doença. Naquela noite, finalmente, minha mãe apareceu.

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