Apenas para Lembrar

Capítulo 5 - Gatos


Os sonhos sempre variavam, mas o cenário era sempre o mesmo – o quarto iluminado fracamente apenas pela lua minguante no céu escuro e melancólico lá fora – e o Ulquiorra pálido e com a máscara de ossos fazendo-a chorar por motivos que a própria desconhecia. Orihime contara a Tatsuki, estava realmente assustada, então a amiga ofereceu sua casa aquela noite, para que a ruiva tivesse uma noite de paz e se precisasse de alguém Tatsuki certamente estaria lá, como sempre esteve.

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Seguiram para a casa da morena, passando uma noite de amigas agradável, regada a pipocas, filmes e doces, dormiram na sala, porém, a casa e o conforto amigo não foram suficientes. Orihime acordou no meio da noite, ofegante, suada, aquele homem a havia ofendido de alguma forma em seu sonho e ela revidara com um tapa certeiro no rosto pálido e completamente inexpressivo que assim se manteve. Sentou no futon, agarrando o travesseiro e colocando-o entre o corpo e as pernas. Olhou a janela, a lua estava lá, como em seus sonhos – minguante e melancólica – jogando sua luz pela janela. Tão bonita, tão... Sozinha.

– Orihime-chan? – Tatsuki olhou, sonolenta. – São os sonhos?

– Talvez eu tenha sido muito estúpida em tentar desabafar com Ulquiorra, ele sempre fora distante... – A ruiva falava só.

– Desabafar... Com o vizinho?

– Ele é tão sozinho, tão triste... Eu disse a ele que ele não precisava ser sozinho, porque eu sei como é ser sozinha e que eu cansei! – Ela olhou para a janela. – Mas ele se manteve distante, e inabalado como... Aquela lua ali.

– O que?

– Ele é como a lua Tatsuki-chan... Ela sempre fica ali, sozinha e tão longe!

– Então o faça brilhar.

– O que?

– A lua, mesmo tão longínqua e sozinha não brilha sozinha, lembra? – A morena virou-se na cama. – Ela precisa da luz do sol para brilhar, então, o tire dessa fase fraca e “minguante”. Se você o vê como a lua sabe que ele não pode estar sozinha ou será incapaz de brilhar, entende? Seja o sol dele.

– Tatsuki...

~*~

Ulquiorra passou a ultima semana irritado, nenhum filme o animava, livros não o acalmavam e nem mesmo no trabalho tinha sossego.

– Infelizmente não posso ficar com ele. – Uma senhora parava no balcão da pet shop conversando com a atendente de nome ‘Mariko’ – Descobri que meu filho tem alergia a gatos, sinto muito.

– Tudo bem, daremos um jeito, senhora. – Mariko segurava o pequeno gato nos braços. – Pobrezinho de você gatinho, não posso leva-lo para casa e nem cuidar de você...

Ulquiorra observava Mariko conversar com o animal de pelo branco e olhos verdes gigantescos. O bichinho o encarou desafiador, Ulquiorra se aproximou de Mariko e como se não tivesse consciência pegou o animal nos braços acariciando-o atrás das orelhas, logo o felino ronronava em seguida o rapaz parou, deixando que o gatinho subisse em sua cabeça pelo resto do dia.

– Vai ficar com ele Schiffer? – Mariko perguntou.

– Se não pode ficar com ele, eu fico. – Ele saia da loja ainda com o gato na cabeça.

Chegou ao apartamento e deixou o bichano adaptar-se, vendo-o xeretar com as patinhas cada móvel da casa até amaciar uma almofada no sofá e por ali ficar. Ulquiorra poderia observar o animal e o hábito curioso por horas se não fosse pela campainha.

Abriu a porta, Orihime. Ela havia sumido depois das grosserias que ele havia dito naquela noite, já humano o suficiente para entender raiva e mágoa. Na verdade, a ausência da ruiva lhe causava um mal tremendo, precisava dela, por menos que fosse. A presença dela lhe bastava e ele sentia por não tê-la, mesmo que fosse mínima a que ele tinha, antes de fechar a porta na cara dela. Sentiu um misto de desagrado e alívio ao ver a ruiva parada em frente a sua porta. Mas não a mandaria embora, não desta vez.

– O que você quer mulher?

– Pedir desculpas. – Ela o encarou recebendo de volta o mesmo silencio perturbador que apenas ele saberia fazer. – Eu não devia ter me metido na sua vida e não deveria te obrigar a ouvir sobre a minha. Eu... Eu sou apenas uma vizinha, mas estava tão frágil e fraca que achei que poderia ter uma ajuda naquele dia. Só vim pedir desculpas por perturbar então e...

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– Entre, mulher.

– Ulquiorra... – Ela entrou confusa olhando diretamente para o sofá onde o gatinho se instalara. – Você tem um gato?

– Não é óbvio?

– Ah... Desculpe. – Ela se aproximou passando a mão no bicho que se manteve imóvel. – Qual o nome dele?

– Nome?

– É... Bem, se você tem um animal precisa chamá-lo , não é?

– Dê um nome a ele então.

A ruiva encarou Ulquiorra confusa, ele apenas deu de ombros indo até a cozinha. Orihime virou o olhar para o gato branco que abriu os olhos mostrando o verde forte, um olhar vazio e sério, a fez rir. Era engraçado como realmente alguns animais poderiam parecer-se com os donos.

– Tsuki.

– O quê? – Ulquiorra voltava com dois copos cheirando a chá.

– O nome dele, Tsuki. – Ela olhou para Ulquiorra sorrindo abertamente.

– Ótimo. – Ele entrou um copo a ela.

– Obrigada. – Ela se sentou no sofá tendo Tsuki logo se aninhando em seu colo. – Tenho filmes novos, quer pegar algum?

– Quer ver algum filme aqui, mulher? – Schiffer perguntou

– Você...

– Quer ou não?

– Pode ser... – Ela levantou rápido. – Vou buscar!

Orihime voltou, com ela seus velho e filmes de amor. Ulquiorra apenas arrumara a sala puxando o sofá cama, convidando a ruiva a deitar-se, enquanto ele colocava o DVD e seguia para o lugar ao lado dela. O filme iria correndo e aos poucos soluços baixos e contidos vinham de Inoue, ela chorava e muito. Não de emoção ou pelas cenas de beijo, apenas por lembrar-se do casal apaixonado que ela havia sonhado em ser com Ichigo e perdera as esperanças quando o viu com a morena baixinha. Ulquiorra apenas observou um brilho da marca das lágrimas ser iluminado pela luz azulada da televisão, esta que ele desligou imediatamente, deixando o ambiente completamente escuro, ao notar o quanto a fazia sofrer. Irritava vê-la sorrir, mas odiava mais ainda a vê-la chorar, ainda mais se o motivo era aquele que o havia matado.

A ruiva, sem pensar, apenas se jogou nos braços do rapaz que não pensou duas vezes antes de envolvê-la num abraço tímido que com o conforto foi se tornando forte e acalentador. Ele podia senti-la, tão perto como nunca, quente, macia, cheirosa. Ela por sua vez sentia todo o estranho conforto que as postas dos dedos frios dele poderiam dar ao acariciar os cabelos. Ulquiorra desfrutava daquele momento de soluços e lágrimas, era tê-la tão perto de si e senti-la sua como nunca havia sido e ele pode sentir pela primeira vez o tal “coração” aquecer.

– Sou fraca... Ulquiorra, me des... – Ela foi silenciada por um dedo.

– Apenas descanse, mulher. – Ele disse aninhando-a em seus braços. – Ter um coração não significa ser fraca. – Ele mal podia acreditar nas palavras que saíram de sua boca.

Dormiram, ali, naquele sofá. Juntos. Estariam sozinhos se não fosse o pequeno inconveniente de Tsuki e uma bela gata preta de grandes olhos amarelos que os observavam da janela.