Madelines Eyes

Capítulo 8 - Ruídos no Assoalho


Espero que não riam de mim agora, eu disse que o silêncio iria acabar e não aconteceu. Eu não tenho culpa e vocês me entenderiam se olhassem bem no fundo dos olhos de Madeline. Eram brilhantes e inocentes. Eu seria incapaz de lhe causar qualquer aborrecimento, muito menos tocar em uma ferida que parecia talvez ter cicatrizado.

Muito menos agora que eu e ela estávamos nos dando tão bem. Eu bem que não gostaria de ficar longe de suas atitudes surpreendentes. Como a daquela manhã.

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Após ela se cansar de esperar que eu falasse alguma coisa enquanto tomávamos uma xícara de café à mesa de sua cozinha, Madeline agitou-se ao ouvir um ruído estranho, o qual eu nem se quer ouvi.

Ela levantou-se repentinamente e caminhou afiando sua audição, esperando ouvir novamente tal ruído.

- O que você est...- comecei, mas, claro, fui logo interrompido.

- Shhhhhhhh!!!! - pediu ela levando seu dedo indicador à boca.

Eu me calei e inacreditávelmente imitei os passos miúdos e silenciosos de Madeline, mas minha natureza desastrada me fez tropeçar algumas vezes fazendo-a ralhar outra vez comigo.

Eu sussurrei um pedido de desculpas, e ela revirou os olhos e estão voltamos a seguir o barulho, que até então ainda não havia chegado aos meus ouvidos.

Dessa vez, foi minha vez de revirar os olhos. Eu comecei a pensar em como eu poderia ser mais bobo seguindo o ruído que Madeline ouvia e ainda caminhar como uma criança que estava prestes a aprontar alguma com a saia da moça do coral. Eu sei, parece ser algo levado, mas eu fiz isso quando era mais novo. EI! Foi sem querer. Eu era uma criança muito comportada e eu não iria fazer uma senhora sair correndo da igreja somente de calçolas.

Enfim, Madeline parou abruptamente, quase me fazendo tropeçar e cair em cima dela. Mas eu, felizmente, pude controlar meu equilíbrio e nem se quer encostei num fio de seu cabelo.

- Não está ouvindo? Parece estar vindo de baixo da casa! - disse Madeline.

- Você não acha que podem ser ratos? - perguntei a ela. E novamente ela mandou-me calar a boca.

Isso não estava sendo democrático. Por que somente ela poderia cochichar alguma coisa e eu não.

Meus pensamentos rebeldes cessaram, quando eu finalmente pude ouvir um rangido debaixo do assoalho da cozinha.

- Como poderíamos encontrá-lo? - perguntou Madeline olhando ao seu redor.

Senti um arrepio quando ela pousou seu olhar uma marreta velha pendurada na parede próxima a porta para o quintal.

- Ei. Nem pense em quebrar o piso da cozinha! Você poderá machucar o que quer que esteja aí. - disse-lhe agachando-me próximo a ela, que tentava encontrar uma forma de tirar a madeira tateando todo o assoalho.

- É claro que eu não iria. - respondeu ela ofendida - Acha que eu sou louca?

Eu, por fim, afastei uma Madeline ansiosa, para saber o que havia ali embaixo por minha conta. Apanhei um martelo e com seu gancho desparafusei um parafuso velho enferrujado com cuidado para não destruir todo o chão.

Seis parafusos depois, consegui tirar duas tábuas. Mas foram o suficiente. Finalmente descobrimos o que estava fazendo tanto barulho. Encontramos uma coelha albina mais três filhotinhos. Madeline ficara encantada.

- Mas... como vieram parar aí? - perguntou Madeline apanhando a coelha mãe nos braços e acariciando-a.

Obviamente a coelha tivera atravessado os buracos que deveriam haver pelo interior da base de madeira da casa. Imaginei o quanto de outras criaturas estariam a passar por aí. Madeline preferia fingir que não ouvia. Ela não mudaria nada na casa, nem se estivesse prestes a desmoronar.

- Ela ultrapassou os buracos (insisti) e como estava esperando seus bebês, não teve outro lugar para ir, pois não conseguiria levar os filhotes com ela.

- Então, ela não os quis abandonar? - perguntou ela. - Você é uma fofa sabia? - disse ela voltando a acariciar com mais amor a coelhinha.

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Tirei os filhotinhos com bastante cuidado para não tocá-los. Madeline insistiu que se eu os tocasse, a mãe os rejeitaria. Eu nunca ouvi falar nisso, mas ela parecia entendida, então calei-me.

- Temos que tomar cuidado, a mãe pode matar os filhotes!

- Credo, Madeline! Mãe nenhuma mata filhotes...

Madeline ficara calada mais uma vez. Ela estava muito feliz com a coelha em suas mãos.

- Acha que posso ficar com ela? - perguntou-me de repente.

- Se ninguém der por falta dela... acho que não terá problemas. - disse.

Madeline então sorriu, de forma que seus olhos ficaram graciosamente apertados.

Nos dias que se seguiram, Madeline já havia feito cesta para os filhotes, já havia arrumado um canto para a coelha no quintal cercando uma parte do gramado, com direito a casinha e dezenas de cenouras e legumes.

Claro que todos eles tinham um nome. A coelha mãe se chamava Clotíude e seus três filhotes se chamavam Lola, London e Rick. Esse último, Billy insistira para ganhar esse nome e também insistira para Madeline dar ele depois que crescesse mais. A mãe de Billy não ficara muito infeliz, ela achou divertido ver seu filho correr empolgado para visitar os coelhinhos de Madeline.

E Madeline estava tão feliz e sorridente, eu sorria junto com ela, mas certa vez, tornei a observá-la e lembrei do que a Srta. Bretshot havia me contado. Suicídio? Madeline tentara se matar?

Cada vez que a observava achava que fosse mais improvável que ela pudesse tentar fazer isso. E não era o pior. Pior mesmo era a dor que eu sentia no peito imaginando não ter Madeline em minha vida. Não havia se quer um dia que eu não conseguisse vê-la. Nem que fossem por míseros minutos.