Learning To Breathe - Switchfoot

Meu celular despertou no horário habitual me fazendo acordar rapidamente e desligá-lo antes que Bill acordasse também. Sentei-me na cama, tampando a boca instintivamente para evitar que os líquidos rotineiros saíssem pela mesma. Porém, para meu espanto, não havia nenhum 'mar revolto' dentro do meu estômago. Tirei a mão da boca e fui voltando a deitar lentamente. Virei-me para o lado para poder contemplar melhor a perfeição que se encontrava a minha frente. Sem que eu percebesse já estava sorrindo, sentindo perfeitamente cada batida do meu coração.

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A pulsação em minha cabeça me fez lembrar o porquê de o meu celular estar programado para me acordar a esta hora. Beijei o pescoço de marfim do meu namorado algumas vezes e bem a contragosto me levantei da cama.

Fui ao banheiro, lavei meu rosto e fiz um bochecho com enxaguante bucal. Atravessei o quarto novamente, fechei as cortinas para que a claridade do sol não o acordasse e fui até a porta, abrindo-a e olhando cuidadosamente dos dois lados do corredor. Sem sombras ou barulhos de nenhum dos lados. Ótimo, eu estava segura.

Desci as escadas e fui até a cozinha, vendo Benjamin espremendo laranjas na ilha no centro da cozinha de paredes alaranjadas, e a cozinheira lavando a louça embaixo da janela.

- Bom dia. – disse bocejando e sentei de frente para Benjamin, no banco alto colado ao balcão. Passava atentamente os dedos na borda do balcão alternando minha expressão de alegria a desespero conforme o meu estado de espírito. Ele olhou para mim rindo e balançando a cabeça negativamente. – O que eu posso fazer se o que está me matando é o que me faz viver? – fitei Benji, interrogando-o seriamente. Ele olhou para mim pelo canto do olho, semicerrando as pálpebras. – Acordei inspirada. – expliquei-me.

- Percebe-se. – olhou-me novamente como se dissesse “medo de você” e voltou a espremer as laranjas naquele aparelho barulhento.

A cozinheira veio e me entregou um copo de água e os três comprimidos que eu tinha de tomar. – A senhorita vai querer o quê de café da manhã? Bolo de chocolate, pão de queijo, lasanha... – ela sorriu mostrando os dentes já um pouco amarelados, mas perfeitamente alinhados enquanto mencionava os meus pedidos anteriores.

Apenas a menção que ela fez destas coisas fez meu estômago embrulhar. – Acho que só o suco do Benji, obrigada. – disse e engoli os três comprimidos de uma vez só, sorvendo todo o líquido do copo e fiz uma careta pelo gosto amargo que o analgésico havia deixado em minha boca.

- O que foi? – Bill perguntou sentando-se ao meu lado e olhando interrogativamente para a minha careta.

Peguei o vidrinho do remédio e sacudi na frente dele. – As drogas. – dei um selinho nele – Por que você acordou tão cedo?

- Por que... – olhou para mim com os olhos meio arregalados e o cenho franzido, olhando de relance para o meu irmão. – Por que eu dormi cedo ontem.

- É bom mesmo. – Benjamin se meteu na conversa. Olhou com cara de assassino para o Bill e logo depois riu da cara de assustado que ele fez. Colocou o copo de suco na minha frente, eu peguei e sem muita vontade comecei a beber.

- Onde estão as pessoas dessa casa? – perguntei enquanto forçava o suco a descer pela minha garganta e agarrava a mão de Bill por baixo do balcão.

- Os que dizem que trabalham já saíram. – deu a volta e se sentou ao lado de Bill, trazendo consigo o sanduíche que a cozinheira preparara. – O pai está se arrumando, e o Christopher...

- Dormindo. – completei sem precisar nem pensar sobre isso.

- Falando em pai. – Sir William entrou na cozinha, já de paletó e gravata e colocou a pasta sobre o balcão para arrumar uns documentos. Nós ficamos o fitando, esperando que ele concluísse, mas nada.

- Falando em pai... – Benji incentivou.

- Não sei. – ele nos olhou e tirou alguns documentos da pasta, observando-os atentamente.

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- Problemas demais no trabalho? – perguntei e ele suspirou, afirmando com a cabeça. – Bem feito, quem mandou me demitir?

- Eu não lhe demiti. Apenas dei uma licença por motivos médicos.

- Licença esta que eu não queria. – resmunguei e voltei meu olhar para Bill que já estava comendo um sanduíche igual ao do meu irmão. Que bonitinho, eles estavam compartilhando o café da manhã.

- Ah, – meu pai disse alto, levantando um dedo. – não se esqueça que você tem quimioterapia hoje. – revirei os olhos e me debrucei sobre o balcão como uma criança mimada. – Tenho que vir lhe buscar na hora do almoço?

- Não, - Bill falou, fazendo-nos olhar para ele. – eu levo ela.

- Ótimo. – ele respondeu enquanto pegava a pasta em uma mão e uma xícara de café na outra, virando o líquido quente todo de uma vez na boca. – E se necessário, obrigue-a a almoçar.

- Pode deixar. – respondeu sorrindo e beliscando minha bochecha enquanto meu pai saía.

- EU NÃO ESTOU INVÁLIDA. – reclamei alto para que o meu progenitor também me ouvisse. – TENHO TODAS AS CONDIÇÕES PARA FAZER AS COISAS SOZINHA!

Levantei minha cabeça e vi os dois homens que restaram na cozinha conversando sobre algo que não entendi. Apoiei minha cabeça no punho e fiquei observando-os.

- Que foi? – os dois perguntaram em uníssono quando me viram reparando na conversa deles.

- Nada. – disse sorrindo e me levantei. – Eu vou tomar banho.

Entrei no chuveiro sentindo uma paz que a muito eu não sentia. Era tão bom poder ter todos eles ali, e bem. Isto me fazia esquecer de qualquer dor ou problema. Eu sentia como se minha vida tivesse sido devolvida a mim, plena novamente.

Olá, bom dia, como você vai?

O que faz seu Sol nascente tão novo?

Eu poderia usar de um novo começo também,

Todos os meus arrependimentos não são nada novos.

Então este é o jeito que eu digo que preciso de ti

Este é o jeito

Este é o jeito que eu estou aprendendo a respirar

Aprendendo a engatinhar

Estou descobrindo que você e só você pode acabar com a minha queda.

Estou vivendo novamente, animado e vivo.

Estou morrendo pra respirar nesses céus abundantes

Olá, bom dia, como você esteve?

Ontem fez minha cabeça começar a pensar

Eu nunca, nunca pensei que

Eu cairia desse jeito

Nunca soube que eu poderia me ferir tão gravemente

Estou aprendendo a respirar

Aprendendo a engatinhar

Eu descobri que você e só você pode acabar com a minha queda

Estou vivendo novamente, animado e vivo

Estou morrendo pra respirar nesses céus abundantes

Nesses céus abundantes

Esse é o jeito que eu digo que eu preciso de você

Esse é o jeito que eu digo que te amo

Esse é o jeito que eu digo que sou teu

Esse é o jeito

Learning To Breathe - Switchfoot

- Vamos, o último giro. – disse vendo pela parede de espelho todas as garotinhas de três a cinco anos darem giros atrapalhados em um pé só. – Muito bem. – bati palmas, sorrindo para elas. – Agora, quem quer ganhar uma estrelinha?

Todas elas correram, pegaram os cartões com as mães e trouxeram até mim. Menos Sabine, que foi até onde Bill estava sentado e ficou falando um monte e puxando o cabelo dele. Ele ficou me olhando desconfortável enquanto a mãe da menina chamava a atenção dela e pedia desculpas a ele.

- Sabine, você não quer uma estrela hoje? – a pequena, ao ouvir isso veio correndo com o seu cartão até mim. – Eu vou te dar duas, - colei os dois adesivos no cartão dela, já repleto de estrelas e corações – por que você foi muito bem hoje. – Ela fez sinal com a mão para que eu chegasse mais perto.

- Ele é teu namorado? – falou com a mão em conchinha no meu ouvido e apontando com o polegar para Bill.

- Sim, mas é segredo. – os olhos dela brilharam, não sei por que crianças gostam tanto de saber segredos.

- Ele é bonito. – mordeu a mão, girando de um lado para o outro.

- É né. Por que você não vai lá e dá um abraço bem grande nele? – ela saiu correndo e se agarrou ao pescoço de Bill, fazendo-o ficar com uma cara de assustado.

- Sabine, venha cá, agora! – a mãe dela chamou e ela foi correndo. – Desculpa. – ela disse sem graça novamente a Bill enquanto saía.

Ele levantou, alisando a roupa com as mãos e vindo em minha direção. – Crianças são tão estranhas.

- Ela disse que você é bonito. – imitei a carinha que ela fez quando disse isso.

- Ela sabe das coisas... – sorriu convencido.

Troquei a sapatilha de meia ponta pelo tênis e vesti meu casaco. – Vamos?

- Para onde agora?

- Comer. – revirei os olhos e peguei minha mochila, mas Bill a tomou da minha mão.

- Nem me lembro quando foi a última vez que eu almocei na hora do almoço. – eu abracei sua cintura e ele colocou o braço em volta do meu ombro enquanto saíamos do prédio onde eu dava as aulas do baby class. – Por que vocês vieram para cá afinal?

- Por causa do hospital. Quando o médico disse: “o melhor lugar para este tipo de tratamento é o Hospital Universitário de San Francisco” meu pai catou nossas coisas e veio para cá. E você o que está fazendo aqui?

- Eu vim te ver, ué.

- Eu sei. Aqui, neste país. Não San Francisco.

- Nós vamos gravar o disco em Los Angeles. – saímos do prédio e assim que Bill chegou à rua olhou atentamente para todos os lados.

- Vai começar com a paranóia de novo?

- Não... – disse voltando a caminhar, na direção do restaurante que antes eu havia lhe indicado. – Até por que eu não me importo mais. Por que você acha que eu os deixei descobrirem quem você era? Para poder me livrar deles e viver em paz.

- E você conseguiu?

Ele riu olhando para baixo. – Um pouco.

Entramos no restaurante e nos sentamos em uma mesa um pouco mais afastada. A garçonete apareceu para anotar os pedidos e ficou reparando em cada detalhe de Bill sem nem ao menos disfarçar. Normalmente isso não me irritaria, mas anormalmente eu já estava completamente irritada. Pigarreei e ela olhou para mim sorrindo. Olhei com os olhos cerrados para ela e ela voltou a olhar para Bill, que olhava espantado para mim, estranhando a reação que eu nunca havia tido. Mas na verdade se divertindo às minhas custas. – Eu vou querer um milk-shake de chocolate. – falei rispidamente, finalmente fazendo ela parar de olhar para ele.

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- Milk-shake? – Bill perguntou arqueando a sobrancelha direita. – Você realmente acha que este vai ser o seu almoço?

- Sim, eu não tenho vontade comer outra coisa.

- Não importa se você tem vontade ou não. Você tem que se alimentar direito. – disse sério e pegou o cardápio para escolher o que me obrigaria a comer.

- Mais um, mais um... eu mereço. – me debrucei sobre a mesa observando a garçonete que continuava petrificada comendo Bill com os olhos.

- Você pode ir, quando nós escolhermos você volta. – pela cara que ela fez, a minha expressão não foi das mais amigáveis. Assim que ela saiu, me recostei na cadeira, suspirando. Ele ficou olhando para mim e sorrindo, se sentindo super importante. – Que foi?

- Não sabia que você era ciumenta.

- Eu, com ciúme? ‘Tá se achando demais hein, Kaulitz. – ele fez sinal para que ela voltasse, e dessa vez ela nem sequer tencionou olhar para ele.

- Eu quero essa massa com molho de quatro queijos e uma porção de purê de batata com frango grelhado. – ela anotou e rapidamente saiu.

- Vai matar um frango para eu comer?

- Você nunca se importou com isso, e agora que precisa disso vai se importar?

- Eu continuo pensando do mesmo jeito, mas você pediu.

- Okay. Finja que não ouviu isso, mas... – se aproximou de mim e disse baixinho. – Tudo bem algumas galinhas morrerem para você viver.

- Isso foi lindo, mas, da próxima vez acha uma coisa melhor para me comparar do que uma galinha. –ele gargalhou alto, me fazendo rir também. A garçonete então trouxe os pedidos e ficou olhando cobiçosa para nós dois rindo, e saiu pesarosa.

- Viu o que você fez com ela? Coitadinha...

- Fica quieto, Kaulitz. – dei um tapinha na testa dele enquanto ele se deliciava com toda esta situação, e principalmente com a minha reação. E nem eu sei o que estava acontecendo comigo, eu, de maneira nenhuma costumava ser assim. Mas aquela guria estava realmente me dando nos nervos. Voltei-me para minha comida e tentei comer aquilo o mais rápido possível para acabar com o sofrimento de uma vez.

Comi e empurrei o prato para frente, esticando minhas costas e respirando lentamente. – Boa menina, vai ganhar um prêmio por ter comido tudo.

- Se eu colocar tudo para fora ainda vale? – falei colocando uma mão na boca e outra sobre o estômago.

- Não... – ele me olhou preocupado – Você está bem?

- Estou. – mentira, daqui a pouco eu vou vomitar tudo em cima da mesa. Me recompus e coloquei as mãos em cima da mesa, tentando não ficar com a expressão de quem está com náusea.

- Você vai dar aula amanhã? – fiz que não com a cabeça. – Vai trabalhar? – Negativo. – Vai fazer quimioterapia? – Não de novo. – Você pode viajar? – balancei-a afirmativamente. – Então por que você não vem comigo?

- Eu já estava pensando nisso, mas...

- Mas o quê?

- Mas eu vou amanhã. Acredite, eu não sou uma companhia muito agradável depois da quimioterapia. A única coisa que eu posso fazer é dormir.

- Isso dói? – Bill perguntou, olhando com uma cara de dor para mim e voltando a olhar para o soro que estava acima de mim.

- Não, só... parece queimar. – o líquido corria em minhas veias quentes, me fazendo sentir certo desconforto, mas a presença de Bill, segurando minhas mãos, fazia tudo parecer mais fácil. E apesar de estar com todo o vômito preso na garganta não tinha coragem de colocá-lo para fora nas vistas dele. Seria maldade demais. Se ele já estava se sentindo mal de me ver apenas tomando soro imagina se eu começasse a vomitar ali mesmo?

- Já está acabando. – ele sorriu e acariciou o meu antebraço. Eu tive vontade de agarrar ele ali, naquele instante.

- Foi tudo bem hoje? – a enfermeira morena e baixinha perguntou ao vir tirar a agulha das minhas veias.

- Sim, normal.

- Acho que foi até melhor, não é? – ela olhou para o recipiente na mesinha ao lado da cama onde eu vomitava, todas às vezes.

Levantei-me da cama, sentindo a tontura habitual e se Bill não estivesse com os braços ao meu redor eu teria caído. – Cuidado, puppe.

Ele me levou até o carro praticamente carregada nos braços.

- Eu acho que o volante foi feito para ser segurado com as duas mãos. – disse, já que ele não soltou a minha mão desde que entramos no carro.

- Eu não preciso das duas. – deu um sorriso convencido, olhando para mim e piscando.

- Olhar para frente também seria bom.

- Eu também não preciso olhar para frente.

- Ah tá. – foi desacelerando e parou o carro em frente a minha casa, sem tirar os olhos de mim.

- Não disse? – desceu sorrindo do carro.

Olhei para o carro torto, e a mais de meio metro da calçada. – Claro, muito bem estacionado, Bill. Quer que eu te dê umas aulas de baliza?

- Como eu iria aprender alguma coisa olhando para você? – me abraçou pela cintura sorrindo largamente. – Hein?

Não me segurei mais e o beijei, com toda a vontade que eu estava há muito tempo. – É bom te ter de volta.