This Is My Gang!

Capítulo 153


Capítulo 153 - O Ataque da Peruca Cafeinada

Wilson parecia bastante satisfeito com o roteiro escrito por Karina. E, se a ideia dele de produzir o filme trash mais trash que um grupo de pré-adolescentes poderia criar, o roteiro parecia já caminhar por esse caminho.

- Nossa, tá tão bom assim? - perguntou Demi, ao ver a reação positiva de Wilson.

- Na verdade está péssimo - respondeu Karina - Mas a intenção era essa.

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- Sim. Está perfeito. É esse tipo de bizarrice que estou pensando! - falou Wilson, ainda sem conseguir tirar sua cara de satisfação - Daniel! Você precisa ver isso!

Não, na verdade eu não preciso. Mas como ele iria me forçar a ver de qualquer jeito, achei que seria melhor sofrer essa tortura logo. Karina era uma escritora de talento evidente e isso significa que ela era capaz de desenvolver qualquer história. E quem consegue fazer algo bom, automaticamente consegue fazer algo ruim...e se a intenção era ser ruim, parecia que ela atingiu a intenção. De qualquer maneira, eu já estava pronto para ler coisas estranhas e bizarras. Peguei a página das mãos de Wilson com uma certa dor no coração e respirei fundo.

- O roteiro só tem uma página? - perguntou Jorjão, após terminar de mastigar seus amendoins da manhã.

- É só uma versão resumida - falou Karina - Tenho a versão completa gravada no computador lá em casa.

- E você fez tudo isso de ontem para hoje? - perguntei.

- Não tinha nada para fazer. Já havia terminado meu último livro - falou ela, arrumando os óculos.

- Bom...vejamos - falei, engolindo seco e tomando coragem para ser banhado pelas águas do esquisito. Acompanhe as linhas abaixo e leia, junto comigo, o roteiro que seria transformado em película:

Título: O Ataque da Peruca Cafeinada (título provisório)

1992. Um grupo de cientistas havia acabado de desenvolver uma nova fórmula de shampoo capaz de induzir crescimento de cabelo, prometendo, assim, a cura da calvície. No entanto, em um certo dia, quando o produto começou a ser fabricado, um dos trabalhadores da fábrica acabou derramando, acidentalmente, um pouco de café em um dos frascos. O erro não foi percebido, mas a fórmula do shampoo acabou causando uma reação química inesperada que causaria uma terrível ameaça: assim que esse frasco foi comprado por um senhor calvo de boas intenções e usado na esperança de ganhar mais um pouco de cabelo, a reação fez crescer um estranho monstro em sua cabeça...era uma criatura viva, feita de cabelo e altamente perigosa...para a produção de café. O monstro sai da cabeça do homem e procura pelo café em sua cozinha, tornando-se maior. Insaciável, ela sai pela cidade, à procura de mais café.

A ameaça havia começado. Em meio a isso, um jovem empreendedor abriu uma nova cafeteria na cidade e conheceu uma meiga estudante de química, interessada em fazer um trabalho de conclusão de curso sobre os efeitos do café. Interessado na moça, o jovem passa a conversar mais com ela e a convida para a inauguração de sua cafeteria, que ocorreria naquela noite. Tudo combinado, ele está cheio de esperanças, quando, ao entrar tranquilamente no banheiro, se assusta ao ver um homem misterioso ali dentro. Esse homem diz ter vindo do futuro e sua máquina do tempo o trouxe diretamente ao banheiro da cafeteria. O jovem ficou assustado, mas o homem diz estar em uma missão importante: impedir a grande tragédia que abalaria sua cafeteria naquela noite, justamente no dia do encontro. Ela seria atacada por um monte de cabelo gigante viciado em cafeína! E mais: aquele monstro acabaria com todo o café do mundo se não fosse impedido logo.

A princípio, o rapaz não acredita muito, mas o homem pede que ele ligue a TV. Assustado, o garoto vê um monte de cabelo gigante saindo pela cidade em busca de café, assustando toda a população. Em pouco tempo, ele chegaria na cidade e instintivamente seria atraído pela cafeteria.

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Preocupado com seu negócio, o garoto pergunta o que pode fazer. O viajante do tempo diz que ele deve usar leite de baleia. De acordo com estudos feito no futuro, uma amostra de cabelo capturada do monstro que havia se tornado absurdamente gigantesco, era fraca à leite de baleia misturado com água doce. Sabendo disso, o viajante do tempo trouxe uma quantidade dessa munição para atacar a terrível ameaça. O rapaz queria defender seu estabelecimento, mas tinha dúvidas se era capaz de lutar com um monstro tão terrível. Foi quando recebeu uma ligação da garota que conhecera. Ela disse que um monstro terrível havia entrado em seu bairro e estava invadindo as casas para roubar café. Nessa mesma hora, o monstro de cabelo invade a casa dela, roubando o seu café. Em meio a confusão, a garota é atingida pelo monstro e acaba fazendo com que uma lata de tinta caia em seu cabelo, arruinando a possibilidade de um encontro naquela noite.

Com seu encontro arruinado, o jovem só podia pensar em vingança. Diante disso, ele dissipa todas as suas dúvidas e se prepara para enfrentar a criatura. Ele e seu novo amigo do futuro gritam juntos "Pelo café!" e preparam-se para lutar com o monstro. A criatura de cabelo não podia ser detida. As balas da polícia eram inúteis. Sua chegada á cafeteria da cidade seria inevitável. Assim que ele chega, eles já começam a atirar, mas o monstro tinha grandes reflexos e se desviava dos tiros. Mais do que isso, ele lançava bolas de cabelo na direção de suas vítimas. Não tinha jeito. Eles precisavam se aproximar mais.

O rapaz aceita a missão e, no grande clímax do filme, chega perto do monstro. Ele é agarrado pelo monte de cabelo, mas consegue usar sua arma de dentro dele e atirar por dentro. O monstro começa a se contorcer e finalmente é derrotado. A ameaça do cabelo devorador de café havia sido destruída e o viajante do tempo fica satisfeito com a missão cumprida. A mocinha ouve as boas notícias, se apaixona pelo rapaz e tudo termina bem.

Fim

Não tinha palavras para descrever esse roteiro. Se o objetivo era fazer o pior filme de todos os tempos, então estávamos no caminho certo. Passei o roteiro para Demi e Jorjão. Ele achou legal (principalmente por ter um viajante do tempo), já Demi apenas riu.

- Hahaha. Ficou estranho, mas dependendo de como gravarmos pode ficar engraçado - disse ela.

- E aí, Daniel? O que achou? - perguntou Wilson - Não dá pra fazer uma coisa irada!

- Um monstro de cabelo louco por café? - perguntei - Isso é muito bizarro!

- Eu sei - falou Wilson - E essa é a intenção. Karina, você é um gênio.

- A situação é absurda por si só - comentou Karina - Mas se fizermos isso com uma produção de baixo custo e atuar como se os personagens estivessem levando a situação bizarra a sério, teremos um comédia de humor sério.

- Humor sério? - perguntei. Ok, isso era um paradoxo. Explique melhor.

- Nosso filme quer ser bom por ser ruim. Um jeito de fazer isso é tentar ser engraçado, sendo sério. A comédia permite qualquer tipo de absurdo.

- Se exagerarmos a cena, fazendo mesmo como se os personagens estiverem com medo e tal...o efeito fica ainda melhor - disse Demi (como ela já fez teatro, era fácil para ela entender dessas coisas).

- E como vamos criar um monstro de cabelo? - perguntei - Temos que pensar em como isso vai virar filme, né?

- Não é problema - disse Wilson - O vizinho de uma tia minha trabalha numa loja de perucas. Posso pedir que ele nos empreste algumas, juntamos todas e criarmos o monstro. Em troca, colocamos o nome da loja dele nos créditos do filme.

- Um de nós pode ser o monstro - falou Jorjão - Acho que esse papel é fácil pra mim...apesar de eu não gostar tanto assim de café.

- Vamos ter que gastar bastante com café, não? - falei.

- Nem tanto. Café não é muito difícil de arranjar - falou Wilson - Além disso, podemos reaproveitar tudo que apareça mais de uma vez no filme.

- E quanto ao cenário? - perguntei - Como vamos cria-lo?

- Essa é a melhor parte - continuou Wilson - Basta criarmos um cenário totalmente artificial e trash. Algo bem malfeito mesmo, de propósito! Lembre-se: queremos criar um filme trash que fique na memória das pessoas.

- Papelão é um material de baixo custo - falou Karina - Na minha casa tem alguns desses.

- Mas podemos ver isso depois - disse Wilson - A primeira coisa é ver o roteiro completo. Você pode mandar da versão completa pra mim por e-mail, Karina?

- Claro - respondeu ela.

- Com isso já posso criar as falas, as cenas, o jeito de cada um agir e determinar quem fará qual papel - falou Wilson.

- Err... - chamei Karina de canto - Você disse que os mocinhos ficam juntos no final, não disse? Quer dizer que eles se beijam no final?

- O mais plausível é que sim - respondeu ela.

Olhei para Demi e meu coração bateu mais forte na mesma hora. Talvez...aquela baboseira toda não fosse tão inútil no fim das contas. Se a Demi for a mocinha (que é o mais provável), eu tinha que pegar o papel de mocinho. Sim, essa podia ser a minha chance...uma chance que não podia perder. Tá legal. Que venha "O Ataque da Peruca Cafeinada"