Somebody To Love

Canadá? Sério?


Cheguei da escola e joguei a bolsa no sofá. Eu tentava ao máximo adiar aquela conversa, mas parecia que quando o tempo tinha que se arrastar, ele voava. Não queria que fosse verdade, queria que Anna estivesse enganada.

- Liz? – chamou Helena da cozinha. Minha mãe não devia estar em casa, pra variar.

- É, sou eu. – fui até a cozinha e encontrei a senhora olhando algo no fogão. Helena era minha empregada, babá, cozinheira, enfim, ela era tudo. Desde que eu era pequena ela morava com a gente, porque minha mãe era sempre ocupada, e meu pai morrera quando eu tinha oito anos. Sim, foi difícil. Muito difícil. Mas eu me recuperei e o mundo tomou seu novo rumo, mas a minha vida nunca mais foi a mesma sem aquele homem que me ninava quando eu tinha medo. Eu também nunca mais fui a mesma. A ferida que ele deixou pode ter cicatrizado, mas não havia sumido, e nunca sumiria.

- Estou preparando o almoço, seu preferido! – olhei dentro do forno. Lasanha a bolonhesa. – Vá lá pra cima e tome um banho rápido enquanto o almoço não fica pronto.

Obedeci e subi. Depois de tomar banho e trocar de roupa desci novamente e me sentei à mesa. Eu sempre tratava Helena bem, e mesmo ela sendo uma empregada a fiz se sentar comigo. Ela até tentou recusar, mas fiz minha carinha de pidona e ela obedeceu. Enquanto comíamos eu decidi dar uma cutucada no assunto.

- Helena, você sabe alguma coisa sobre a gente se mudar? – ela estava comendo, e engasgou quando terminei de falar. Quando se recuperou, em vez de me responder, me fez outra pergunta.

- Como você ficou sabendo?

- Então você admite que é verdade? – era um joguinho idiota, eu sei, mas eu estava quase conseguindo minha resposta.

- Ah, droga. Eu e a minha boca. Sua mãe me despede se fica sabendo que eu lhe contei, portanto faça sigilo. Mas é verdade sim. – suspirei

- E porque minha mãe ainda não me contou nada?

- Ela não tinha certeza, Liz. Você tem que entender que sua mãe não queria que você tomasse qualquer decisão antes de ter uma certeza.

- Era só ter me dito isso, não precisava omitir.

- É, mas não fique brava com a sua mãe, ela não fez por mal. – sorriu docemente para mim – Não quer nem saber pra onde vai se mudar?

- Onde?

- Canadá.

- Canadá? Sério?

- É.

- Que cidade? – questionei

- Não sei direito, acho que é Atlanta. Dizem que lá é muito bonito.

- Nunca ouvi falar. Mas e os meus amigos, Helena?

- Você fará outros, você é uma garota incrível, vai fazer amizades fácil.

Suspirei e disse pra ela que tinha lição de casa pra poder subir, mas quando cheguei no meu quarto logo disquei o número de minha prima.

- Alô?

- Anna, sou eu. – disse rapidamente

- Ah, oi Liz. Tudo bom?

- Aham. Falei com a Helena. – saí pela janela e me sentei no telhado, como fazia sempre que queria ter alguma verdadeira privacidade.

- Sério? E ai?

- É verdade. Sabe pra onde vamos nos mudar?

- Na verdade não, meus pais me contaram que vamos nos mudar, mas quando perguntei pra onde eles tiveram uma ‘emergência’ no trabalho – dava até pra imagina-la fazendo aspas com os dedos. – Mas diz aí, pra onde?

- Canadá.

- Nossa, pra que lugar de lá?

- Uma cidade chamada Atlanta. Helena disse que é bem bonito lá. Teus pais te disseram quando? Ela não me disse nada sobre isso.

- Me disseram que dentro de duas semanas, pra dar tempo de encaixotar tudo, sabe?

- Aham.

- O que está achando dessa mudança? – ela perguntou depois de alguns segundos em silêncio.

- Ah, nem sei. Nova York é uma cidade maravilhosa, eu adoro morar aqui, mas Canadá é uma coisa tão nova, e eu amo coisas novas. Então eu me perco aqui. – respirei fundo, nem eu entendi essa minha ultima frase – Desculpe, eu não sei o que eu acho. E você?

- Ah, até estou achando bom. Eu me enjôo tão facilmente das coisas, e Nova York estava ficando chata. – deu uma pausa e depois riu, é impossível NY ser chata – Estou brincando, claro que não gostei. Mas tenho que ir, vou fazer o que? Espernear? Não vai adiantar nada.

- É verdade.

- Liz, quer ir até o parque, pra gente se despedir de lá?

- Pode ser, te encontro lá daqui a vinte minutos.

- Tudo bem, tchau.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.