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Capítulo único


Eventualmente, Trish ou Mary apareciam na Devil May Cry depois que Dante foi abandonado pelo irmão mais velho.

Haviam descoberto dois novos tipos de demônios: os de ébano e os de marfim. Os de marfim proviam magias realmente cruéis, como Dante costumava dizer, e os de ébano desfaziam essas magias com igual perspicácia.

O que não era bem verdade.

Ambas raças eram nêmeses e só conjuravam e desfaziam maldições uma da outra, embora o mestiço insistisse em sua explicação.

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Tornara-se uma mulher por um tempo e acabara se apaixonando pela pessoa errada, que o abandonou quando voltou a sua condição masculina e tudo por causa da ultrajante existência dessas raças que ele desconhecia anteriormente.

-Dante- ouviu a voz de Trish e esgueirou-se até o batente, com as mãos ocupadas com uma caixa de pizza.

Ele, Dante, era um meio-demônio e filho do grande Sparda das lendas, tendo uma beleza peculiar por sua condição não humana.

Tinha cabelos branco-prateados e pele ebúrnea, com olhos de um azul límpido; possuía o corpo com todos os músculos meticulosamente definidos, como se ele não vivesse sedentariamente e alimentado somente por pizza e sundae de morango.

-Hey, Trish- cumprimentou e ofereceu-lhe pizza com um gesto com a cabeça, sentando-se em sua cadeira e pondo os pés em cima da mesa. –Hm... Olá, Lady.

Eventualmente, uma das duas aparecia para confortar-lhe, mas era extremamente raro vê-las aparecerem juntas como naquela manhã.

-Espero que essa sua cara não seja porque minha presença é desagradável- Mary, usualmente chamada de Lady, cruzou os braços e franziu o cenho, desconfiada.

Tinha cabelos curtos, repicados e negros, pele bem clara e tinha heterocromia; um de seus olhos era verde e o outro era inexplicavelmente vermelho.

-Imagine- ele entoou, dando de ombros, e a mulher não soube identificar se haveria alguma ironia em sua voz.

-Pizza de novo no café-da-manhã... –Trish comentou, pegando uma fatia.

Era alta, curvilínea e de pele bronzeada, com roupas de couro que ressaltavam suas curvas. Tinha olhos azuis e longos cabelos louros, trazendo-lhe a imagem de sua mãe.

-Velhos hábitos não mudam- o homem mordeu um pedaço da pizza e recostou-se no encosto da cadeira. –À que devo a visita de ambas? Nenhum serviço, espero...

-Ora... Então não podemos vir aqui somente porque estamos igualmente entediadas? Só queremos a companhia de um amigo de vez em quando- Trish sorriu afavelmente.

-Tão doce e tão cínica- zombou- Você pode enganar quantos homens quiser, Trish, mas não creio que um dia eu vá cair nessa.

-Trish está preocupada, Dante- Mary retrucou, sentando-se no sofá e cruzando as pernas. –Você nunca mais foi o mesmo desde que seu irmãozinho idiota foi embora.

-É- a loira concordou a contragosto. –E você nem me passou o número do seu irmãozinho selvagem.

-Acredite: eu te passaria se desse linha no inferno- retrucou, amargo. Odiava quando elas traziam à tona aquele assunto. Havia enterrado isso por dois anos e levaria para o túmulo se ninguém se intrometesse.

-Hm... Vamos fazer de conta que esteja dando linha no inferno e que você consiga falar com o seu irmão- Trish sorriu, sentando-se em cima da mesa do mestiço. –O que você diria para ele nesse exato momento?

-... –Dante estreitou os olhos, como se dissesse que aquilo era uma idiotice, mas o sorriso incentivador da mulher demônio não se atenuaria até que ele entrasse em seu jogo. –Diria a ele que tem uma loira que quer o telefone dele e que eu terei o prazer de empalá-lo se ele decidir voltar.

-Já é um começo- ela comentou, procurando ser positiva.

-Você está muito amargo, Dante- Mary deu de ombros- Não tem sido você mesmo desde o que houve entre você e o Vergil...

-Vamos repetir o que houve com você e veremos sua reação, Lady- retrucou, obviamente ofendido. –Hora nenhuma eu questionei seus motivos sobre o que houve entre você e seu pai na torre Temen-ni-gru. Que tal respeitar os meus motivos?

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-Só quero que volte a ser você mesmo- ela encolheu os ombros.

-Vocês dois poderiam parar de discutir- Trish pediu, mordendo a fatia de pizza que pegou e arqueando as sobrancelhas com uma pergunta que surgiu em sua mente. –O que teria acontecido se não fosse você naquele dia, Dante...?

-Como assim?- o mestiço e a humana indagaram.

-E se tivesse sido o Vergil quem tivesse virado mulher?- sugeriu.

Houve um momento de silêncio entre os três, cada um imaginando a situação à sua maneira. Por fim, Mary rompeu com um suspiro:

-Não dá- disse- Acho que minha cabeça vai pifar se eu tentar imaginar mais.

-O que quer insinuar, Lady?- Dante estreitou os olhos ameaçadoramente para a humana, então esta sorriu-lhe maliciosamente e igualmente incisiva.

-Que seu irmão é másculo demais para que eu consiga imaginá-lo com uma garota- zombou, maldosa- Ao passo que imaginar você se torna ridiculamente fácil, porque acabou desistindo do seu orgulho masculino quando virou uma mulher.

-Espero que você tenha um seguro de vida se escolher não retirar o que disse- Dante sorriu, estreitando os olhos perigosamente.

-Eu tenho um seguro de vida, sim, obrigada- a morena assentiu, sem se intimidar.

-Vocês dois não conseguem deixar de brigar por um segundo?- Trish interveio- É só um exercício e é para ser divertido. Provavelmente seria engraçado para qualquer outra pessoa imaginar-se como sexo oposto.

-Sim... A Lady seria como o pai dela, suponho- Dante comentou, maldoso, e levou um soco que o derrubou da cadeira.

-Assim como você ficou uma versão mais anoréxica da sua mãe- a morena retrucou.

-Alguém anotou a placa do caminhão?- o mestiço coçou a cabeça.

-Talvez... –a loira começou e os dois pararam para olhá-la, no que ela cruzou os braços e fitou um ponto qualquer na sala. -... E se você tivesse engravidado enquanto era uma garota?

-Hã...?- o homem arqueou uma sobrancelha, tentando entender o que ela estava querendo insinuar.

-Não banque o idiota, Dante... Eu vi, duas vezes na verdade, vocês dois no maior amasso. Eu du-vi-do que vocês dois não tenham ido para a cama. –Trish retrucou de forma quase acusatória- Acho que seria engraçado te ver grávida.

-O Dante... –a morena tentou conter o riso- ... Grávido. Seria épico.

-Já terminaram de zoar da minha cara com essa brincadeira inútil de “faça de conta”? Porque eu já estressei- ele deu um muxoxo e passou a mão pelos cabelos para tirá-los dos olhos.

-Eu gostei- a humana comentou.

-Poderíamos fazer de conta que havia dado certo- a mulher demônio comentou, sabendo que estava pisando em solo instável- Isto é, que tivessem ficado juntos, mesmo sendo homens.

-Qual é, Trish!- Dante franziu o cenho- Eu não sou gay!

-... –Mary cruzou os braços e pareceu imaginar. –Seria... Como dizer...?

-É... Acho que eu te entendo... –Trish concordou, parecendo imaginar a mesma coisa que a morena.

-Seria um desperdício- falaram em uníssono, no que Dante bateu na própria testa, então franziu o cenho para o chão.

Quando voltou a ser homem, havia realmente pensado que poderia continuar junto com o irmão. Naquele momento, não lhe pareceu tão condenável ou abominável. Então por que teria mudado tão subitamente?

-Parem de pensar besteira- disse, interrompendo os devaneios de ambas que pairavam no meio de um ménage. –Vocês têm razão, Vergil seria orgulhoso demais para passar pela mesma situação que eu passei e por um romance homossexual.

-Alguém parece conformado- Trish sorriu.

-Estou- concordou- Sou tão homem que posso passar por tudo que passei e ainda continuar com meu orgulho intacto.

-Orgulho intacto, é?- Mary zombou.

-Diga o que quiser- Dante deu de ombros. -Além disso, Trish... Não precisa mais do número do meu irmão agora que eu voltei a dar conta do recado.

-É... Acho que sim- ela suspirou- Uma pena que o seu irmãozinho selvagem foi embora justamente quando eu queria variar... Fazer o quê, não é? Velhos hábitos dificilmente mudam...

*****

Vergil passou a mão pelos cabelos como normalmente fazia quando estava inquieto ou irritado.

Havia parado de tentar remoer o que tinha acontecido entre ele e o irmão e decidira há muito que deveria seguir em frente. Mas eventualmente tinha aquela incômoda sensação de que havia alguém falando dele.

-Meu senhor... –ouviu e virou-se, franzindo o cenho para o escravo como se o repreendesse por interromper seus pensamentos. –Perdoe-me, mas...

-Fale depressa- retrucou- Meu tempo, diferentemente do seu, é importante.

-Ela está esperando pelo senhor- ele respondeu.

-Certo... Eu já vou. –suspirou- Diga-lhe que já vou descer para vê-la, que me espere no hall.

Alto e imponente, Vergil era exatamente igual a Dante. Diferiam-se por pequenos detalhes como os estilos da roupa e o penteado; Vergil preferia os cabelos jogados para trás de forma que não caíssem em seus olhos.

-Pensei que houvesse dito para que me esperasse no hall- sibilou para a mulher que encontrava-se sentada em sua cama, nua e coberta de sangue que, sabia, não era seu.

-Não sou uma qualquer que pode esperar sua boa vontade- ela entoou, lambendo o sangue que escorria por seus dedos.

-Hm- ele fez, tirando o sobretudo e jogando-o na poltrona. –Eu agradeceria se não sujasse minha cama com esse sangue...

-Andou pensando na mocinha em quem estava apaixonado no mundo dos humanos, é?- a mulher zombou, se levantando- Certo... Então faça de conta que eu sou ela. Então me leve para tomar banho com você e não precisarei sujar sua cama com sangue enquanto espero...

-... –Vergil tomou-a em seus braços em silêncio e a levou, como lhe foi sugerido. Mas não podia imaginá-la como a “mocinha por quem havia se apaixonado”. Eram situações completamente diferentes, que pediam medidas diferentes.

Embora não precisasse fazer de conta que aquela dali, que estava em seus braços naquele momento, o agradava profundamente. Porque ela agradava. E muito.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.