Mais uma quinta-feira ensolarada de aulas. A nossa garota, cujo nome ainda não foi mencionado, acabara de voltar para a sala de aula após uma rápida ida ao banheiro e se deparou com a sua carteira vazia. Nada de mochila, livros, nada que indicasse que ela sequer havia sentado ali nos dois primeiros tempos. A sala de aula estava cheia de garotas conversando em grupinhos espalhados, mas ela não conseguia desconfiar de que uma daquelas “damas” em desenvolvimento teria feito uma coisa dessas.

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– Miyako – chamou, e a representante da sala virou-se para ela. – Você viu o meu material?

A representante ajeitou os óculos sobre o nariz fino do rosto aristocrata.

– Talvez não tenha percebido, mas tenho coisas mais importantes para fazer do que vigiar a vida dos outros. E você já parece ser grandinha o suficiente para cuidar de suas próprias coisas.

E virou-se de volta para suas outras três amigas, sendo previsível que sua próxima frase seria “dá pra acreditar nessa garota?”, iniciando a sessão alfinetadas.

A nossa garota, que a partir de agora vamos chamar de Protagonista Feminina para não confundir, deu a língua para as costas da representante, sem se importar com o gesto infantil sendo visto pelo resto das senpais.

Procurou pela sala pelo seu material até ter certeza de que não estava escondido em canto algum dali e saiu para buscar pela escola, sem se importar se corria o risco de perder a aula de francês, afinal, o que ela poderia fazer lá sem nem mesmo um caderno?

Passou direto pela janela do andar, mas captou algo com sua visão periférica, e voltou para olhar melhor. Todo o seu corpo foi tomado por um formigamento estranho, e a garota correu até o pátio o mais rápido que pôde, para se assegurar de que o que estava vendo não era uma miragem causada pela distância.

Era realmente o que parecia ser. Boiando no lago artificial em volta do chafariz estavam os seus livros, mochila, estojo, fichário, tudo. E havia algo enrolado em volta do bumbum petrificado da estátua de anjo que cuspia água, algo que, olhando melhor, ela identificou ser o seu trabalho de biologia.

Olhando ao redor, perdida, ela encontrou ele. Um dos gêmeos Hitachiin. Escorado em uma pilastra com pose de superior, o ruivo a espreitava com seus olhos de gato estampando um prazer sublime. Ele estava se deliciando com seu atual desespero.

O que fazer numa situação dessas?

A protagonista feminina olhou novamente para seu material encharcado, para o ruivo com um sorriso cruel nos lábios, e fez o que ninguém esperasse que faria, mas, ainda assim, o mais óbvio a se fazer. Sem nem mesmo tirar os sapatos ou levantar a saia do uniforme, entrou no chafariz, dirigiu-se ao seu material e pacientemente foi o juntando, folha por folha. Algumas folhas se desmanchavam em suas mãos, algumas já haviam se despedaçado pela água, mas apenas continuou, pegando uma por uma. E Hikaru permaneceu nas sombras, olhando cada movimento seu, aproveitando os frutos de sua vingança. Depois de algum tempo, o inspetor daquela ala do prédio surgiu correndo de dentro do colégio a chamando, afobado. Mas nem ele parecia saber o seu nome.

– Senhorita! Senhorita! Não... não são permitidas brincadeiras no chafariz!

– E pro acaso pareço estar brincando, gorducho? – Ela resmungou, sem desviar a atenção do seu trabalho.

– Mas você não pode ficar aí dentro!

– Não sabe que deve ficar calado quando uma mulher está ocupada? – E lançou-lhe um olhar raivoso.

O coordenador de rosto redondo afastou-se, assustado com a ferocidade da garota. As meninas daquele colégio costumam ser muito polidas e educadas, de modo que ele não estava acostumado a esse tipo de coisa, e não tinha calças o suficiente para confrontá-la, então voltou para a escola atrás de alguém que pudesse resolver o problema.

Hikaru já quase gargalhava, sem perceber que o motivo de sua diversão mudara do sofrimento alheio para a forma que aquela garota tratava o inspetor. Quando finalmente se acalmou, percebeu que o inspetor havia sumido, provavelmente voltado para o prédio da escola, e aquela garota, tão pequena e magricela, estava parada, olhando-o diretamente. Houve uma tensão que cobriu toda a duração da troca de olhares entre os dois, o que para Hikaru não era justo, já que ele havia sido pego desprevenido e ela podia programar o seu melhor olhar de falsa apatia acusadora.

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– Vai precisar de mais que isso pra me derrubar, ruivo.

Hikaru apenas abriu um sorriso ameaçador em resposta, e sumiu dentro do corredor escuro. A protagonista feminina puxou as mangas do uniforme, murmurando em total decepção consigo mesma.

– E pensar que eu fui querer logo um babaca como esse...