Os dois gêmeos esperavam sentados na janela da sua sala de aula vazia, como sempre. Hikaru e Kaoru, os gêmeos mais famosos da escola, ou mesmo de todo o Japão. Com a cabeça encostada no vidro, Kaoru dirigiu o olhar do pátio para o irmão à sua frente, não muito entusiasmado.

– Ela chegou.

Hikaru olhou para o corredor onde a figura de uniforme o esperava e em seguida conferiu o seu relógio de pulso.

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– Está atrasada.

– Como se tivesse o direito de desperdiçar nosso tempo.

– Acho que deveríamos ser um pouco mais cruéis por isso.

– Deveríamos fazê-la chorar.

– Elas já fazem isso de qualquer forma.

XxX

– Hikaru-kun?

A menina chamou, esperançosa, mas o menino que estava vindo em sua direção fez um aceno negativo com a cabeça, interpretando o irmão.

– Eu sou o Kaoru. O Hikaru não pode vir. – Falou o gêmeo com total apatia, enquanto dava uma curta analisada na garota da vez. Era magra e pequena como todas as outras garotas da sala, além de ter mesmas bochechas coradas com as quais as meninas sempre ficavam ao falar com um deles. Tinha cabelos negros e precisava urgentemente visitar o cabeleireiro, aquela franja estava quase lhe cobrindo completamente os olhos. Nada muito atrativo. Era um alvo muito fácil.

– Sabe, eu também li sua carta... – Mostrou o envelope cor-de-rosa com corações rabiscados e a menina arregalou os olhos, seu rosto adquirindo um tom mais profundo de vermelho. – Na verdade, você confundiu a minha mesa com a mesa dele.

– Eu... confundi... – Falou para si mesma, como se tentasse entender como pudera cometer um erro tão estúpido.

– Mas... – Hikaru segurou o rosto corado da menina, voltando-o para cima, e abriu um de seus melhores sorrisos. – Eu não serviria para você? Sendo sincero, sempre a achei muito bonita. E parece que Hikaru já gosta de outra garota. – Deslizou os dedos até o queixo da garota, fazendo-a prender a respiração. - O que me diz, hm?

A boca entreaberta e sem ar não parecia estar em condições de conseguir proferir qualquer palavra, por isso mesmo as suas saíram gaguejadas, e em um quase sussurro.

– Você... você não leu.

– Hm?

Ela apontou timidamente para baixo, sem mexer muito a mão considerando a pequena distância entre o rosto dos dois, e falou novamente, dessa vez um pouco mais decidida.

– Você disse que também havia lido, mas o envelope ainda está lacrado. Você não leu.

O ruivo levou alguns segundos até entender do que ela estava falando. Voltou à sua posição ereta, olhando para o envelope cor-de-rosa em sua mão que havia roubado a atenção dela em seu lugar, teria falhado em sua sedução?

Geez, você está mesmo falando disso?

– Então Hikaru-kun também não leu.

Hikaru revirou os olhos, estava aborrecido pela possibilidade de não ter conseguido seduzir uma garota que parecia tão boba e frágil, e ainda mais por essa qualquer estar tentando se passar por dona razão. Essas garotas fúteis não têm o mínimo direito de falar daquela forma acusadora com ele. Ninguém tem. Precisava descontar todo seu mau humor na infeliz, imediatamente.

– Se quer realmente saber, eu sou Hikaru, e pretendia faze-la sair correndo aos prantos, já que essa é a unica forma que você tem para me satisfazer. E tenho certeza de que você iria fazer isso, porque só essa semana já vi dezenas de garotas bobinhas e tapadas exatamente como você, e todas fizeram o mesmo. Não valem nada. Você não vale nada. Não sei seu nome, não me interesso em saber. Nenhum de nós dois se importa com isso. Você é só mais uma garota idiota, atirada e inconveniente que veio tomar nosso tempo. E ainda assim, como pôde achar que estava à nossa altura? O fato de eu não saber o seu nome significa que a sua família não é importante o suficiente. Seu cabelo é uma porcaria e seus peitos, inexistentes. Há dezenas de garotas melhores que você nesse colégio. É ridículo que tenha feito o seu próprio envelope, e ainda fez um péssimo trabalho, aposto o que quiser que um cavalo com três patas decepadas faria algo melhor. Você é patética.

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Pronunciou a última frase com um sorriso provocador nos lábios. Esperava ansiosamente pela satisfação de vê-la desmoronar ali, na sua frente. Já era uma surpresa que ainda estivesse ali, considerando todo o veneno colocado em cada palavra. Sua cabeça estava baixa, dessa vez a franja escura havia sumido com seus olhos. Levou uma mão ao rosto, Hikaru já quase podia sentir o cheiro da torrente de lágrimas que viriam. Por isso não era de se espantar que ele quase enfiasse a cara no chão em completo espanto quando a garota "frágil" à sua frente levantou o rosto novamente dando um suspiro cansado e mostrou não estar consolando a si mesma, e sim apenas massageando as têmporas.

– Caramba, se não queria, era só devolver.

Esticou a mão para ele, como que pedindo o envelope de volta. Vendo que o ruivo não se mexeu, ela mesma tomou de suas mãos.

–Não precisava ser tão dramático. Sério.

E com isso, deu-lhe as costas.

Hikaru ficou parado, atônito. Não havia sequer resquícios da menina que há pouco tempo o olhava com as maçãs do rosto coradas e os olhos chorosos. Seu cérebro não conseguia entender o que diabos havia de errado com aquela garota. E mais, alguém já havia se atrevido a fazer isso antes? Alguém já havia o confrontado antes? Alguém já se atreveu a ignorar suas melhores habilidades assim? Isso não pode ser possível.

Ouviu o irmão aproximar-se às suas costas perguntando o que havia acontecido. Isso talvez fosse um pouco difícil de explicar, já que nem ele próprio entendera.

XxX

– Então, a tábua deu um fora em você, hm? - Kaoru provocou, rindo.

– Isso é injustiça, aquela garota não é um ser humano normal - Hikaru se defendeu, nervoso, mas isso só fez o irmão rir mais.

Os dois estavam dentro do carro a caminho de casa, e desenvolviam uma cena rara que nunca havia acontecido antes. Um irmão provocar o outro. Os dois nunca haviam experimentado a sensação de terem sentimentos diferentes sobre alguma coisa, e nunca imaginaram que passariam por isso com o assunto causador sendo uma garota. Muito menos ainda aquele pau de virar tripa cabeludo.

Kaoru foi controlando o riso, antes que o irmão ficasse realmente aborrecido, e sugeriu.

– Imagino que uma vingança já tenha passado pela sua mente.

– Ela já está preparada desde o momento em que a infeliz desviou o olhar do meu.

– Sabe... Não é o fim do mundo você não ter conseguido seduzir uma garota, Hikaru.

O mais velho lhe lançou um olhar furioso, e Kaoru teve de comprimir os lábios para não voltar a gargalhar.

– Tudo bem, esqueça o que eu disse, é o fim do mundo sim. Vamos leva-la à forca. É só que... Entende, não é muito a cara do nome Hitachiin fazer vinganças.

– Não precisa encarar como uma vingança se não quiser. Vamos somente fazer o que fazemos de melhor.