Fazia muito tempo que eles não se reuniam – os dois apenas – para contar piadas um ao outro, relembrar os acontecimentos felizes... e fingir esquecer aqueles que ficaram no passado, os quais não deveriam ser mencionados. Claro, apenas no desejo dos dois, pois aquela imagem da chuva molhando os mosquetes permanecia tão vívida e quente quanto o sangue que circulava no corpo de ambos. Essa saudade deu origem ao convite inocente do inglês, que fora rapidamente aceito pela animação americana.

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“Quer beber comigo?”

O estadunidense estava ansioso pelo encontro. Sempre que Inglaterra ficava bêbado era engraçado e garantia boas risadas. Com muita rapidez arrumou-se e foi até a casa do amigo.

E agora estavam sentados nos pontos mais extremos de um mesmo sofá – muito confortável por sinal –, com uma pequena mesa de centro contendo um belíssimo jogo para chá. Arthur parecia animado, enquanto sorvia o líquido quente da xícara que segurava, mas Alfred fazia cara de desgosto. Quando o amigo o convidou para beber, pensou que ia consumir álcool e não fazer uma festinha do chá.

- Inglaterra, o que é isso? Pensei que íamos tomar algo melhor... No mínimo um refrigerante de cola – suspirou e deixou os olhos acompanharem os movimentos elegantes do inglês ao tomar chá. Com toda certeza aquele homem tinha uma certa nobreza em tudo o que fazia, muito diferente do seu jeito desleixado. – Sabe o que você precisa, Arthie? Corantes... Precisa comer conservante até passar mal.

- Não seja tolo. Isso faz mal à saúde.

- Hum... – resmungou baixo o americano, pegando a sua xícara de chá. Abafou um riso malvado e a ergueu até o alto, despejando o seu conteúdo no chão. – Isso te irrita? – o inglês não o olhou, nem elevou o tom de voz. Não queria ver o outro satisfeito por tê-lo incomodado, mas Alfred sabia que cedo ou tarde o rapaz se sentiria ofendido, e por sorte, dessa vez não demorou muito.

- Desgraçado – disse apenas, sorvendo outro gole.

- Ora, Inglaterra. Não diga coisas tão rudes... – ele se levantou e começou a vasculhar a casa. – Vamos ver se você tem algo bom por aqui.

- Quem é você para dizer que sou rude, seu infeliz? – Arthur começava a elevar o tom de voz. Não suportava a ousadia de Alfred. – Você não acha que tratar minha casa como se fosse sua não é muito mais rude? – mas o estadunidense não deu ouvidos, parecia muito entretido com um armário cheio das melhores bebidas alcoólicas.

- Fique calmo... Eu já achei o que estava procurando – Alfred voltou alegre, com uma garrafa em mãos. – Sabe, é meio entranho... Você tem a melhor bebida e mesmo assim prefere tomar chá. Mas tudo bem, pois agora vamos beber de verdade!

A xícara do europeu estava quase vazia, mas antes que percebesse estava cheia novamente, graças ao insolente americano. Não reclamou, apenas suspirou levemente e – como fazia com o chá – levantou o braço elegantemente e tomou um gole, fazendo uma leve careta. Alfred sorriu e repetiu em sua xícara o que fez com a do inglês. Agora, na visão do americano, estavam bebendo de verdade.

Não demorou muito tempo até que Alfred conseguisse o que queria: um inglês corado e totalmente bêbado. Estava tão satisfeito por tê-lo que nem percebeu que logo estaria bêbado também. Seguiu tomando a sua bebida, provocando o outro rapaz.

- Você é um maldito – bufou Inglaterra enquanto enchia mais um pouco sua xícara. – Olha só a bagunça que você fez no meu chão! Idiota... Mesmo depois de tudo o que eu fiz pra te criar você continua sendo mal educado.

- Ah, é? – Alfred segurou o riso, mesmo não tendo motivos para tal ato. Gostava de ver o inglês fora de si. – Por que sou maldito? – tentou provocá-lo mais.

- Ora, o que você quer dizer com isso? Não está claro? – ele colocou a xícara quase vazia sobre o sofá, mas como a superfície não era plana, ela tombou. – Eu te criei, dei todo o amor que poderia te dar, eu lhe dei presentes, roupas... Eu dei a você uma ótima vida. Mas, oh, não. Você tinha que querer sua liberdade também. Por quê? Eu não era bom o suficiente pra ficar com você? Eu estava te tratando tão mal assim? Você... não me amava?

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O europeu soluçou. Alfred não estava mais sorrindo.

- Sabe de uma coisa? – Arthur continuou. – Você é muito insolente. Sempre achando que pode resolver tudo e fazer tudo o que quiser... “Eu sou um herói, herói, haha”. Humpf. Você não é um herói, porque se fosse, me salvaria. Como todo herói faz.

- Salvar...? – o americano queria que o outro falasse mais, mesmo sendo estas palavras tão cruéis. – Salvar... Como?

- Traria minha colônia de volta... Minha amada colônia de volta, desgraçado!

Um silêncio incômodo pairou sobre o lugar. Enquanto Arthur tentava afogar todo aquele sentimento bebendo ainda mais, Alfred sentia-se um monstro. Afinal, um herói não poderia causar dor para outra pessoa, não é mesmo?

- E você ainda... ficou maior que eu... – disse Arthur, quebrando o silêncio – Insolente! Como você ousa ser maior e mais forte que eu? – e fitou o chão. Não queria que o Americano o perturbasse mais.

Alfred, por sua vez, demorou muito a perceber que o Inglês chorava.

- Inglaterra... – e travou por aí. Sentiu-se um grande lixo por tê-lo feito chorar.

- América... Por que você me deixou?

- Não... Não se preocupe, Inglaterra. Eu vou continuar sempre ao seu lado... Agora venha – Alfred o levantou, entrelaçando os braços e logo em seguida segurando-o pela cintura, para que ficasse firme no chão.

- Você... vai estar sempre ao meu lado?

- Vou.

- E se eu cair, você vai me levantar?

- Eu te levanto, quando quiser.

- E se nos tornarmos inimigos?

- Não vamos. Eu já disse que sempre estarei ao seu lado... em todos os sentidos.

- Mas... E se algo acontecer? E se eu ficar sozinho?

- Como você é irritante... – disse, apenas, pois não sabia como responder essa pergunta.

E quando parou pra pensar, só agora fora perceber o quanto tinha abalado Inglaterra com sua independência. Sentiu-se um monstro, mas mesmo assim não sentia-se totalmente errado.

Suspirou. Não sabia mais o que pensar ou falar, não sabia mais o que era certo ou errado. Só tinha uma certeza: De tudo o que fora até agora, não passara nem perto de ter sido um herói.

- ‘Pra onde vamos?

- Aproveitar o resto da noite.

O estadunidense tinha traçado uma meta: Cuidaria de Arthur, mesmo se precisasse dar o próprio sangue. Iria vê-lo feliz mais uma vez, como no tempo quando era criança e ambos sorriam com freqüência.

E dessa vez seria o herói. Um verdadeiro herói.

- Afinal, eu sou o seu herói, não? – e disse isso num sussurro tão baixo que, segundos depois, não sabia mais se tinha falado ou apenas pensado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.