As Brumas do Sol

Prólogo - memórias de um alvorecer


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Um vento frio entrava pela fresta da porta que estava aberta, fazendo-o despertar de seu sono tranquilo. Olhou primeiro para fresta e depois para o lado, sorrindo ao ver que ela ainda estava ali. Corpo moreno e cabelo castanho; ela dormia tão tranquilamente que ele acabou sorrindo - era a primeira vez que conseguia acordar primeiro e ainda tê-la ali.

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Sem resistir, bagunçou os cabelos da moça com cuidado para que ela não acordasse – mas foi em vão. Quando interrompeu sua brincadeira, ouviu-a resmungar e começou a rir, fazendo-a acordar de uma vez para fitá-lo desconfiada com os intensos olhos verdes.

- Que cara é essa? – questionou a mulher. Ele apenas continuou a rir, fazendo-a erguer uma sobrancelha, inquieta. – OK, foi você quem pediu!

Derrubou-o, ficando montada sobre ele enquanto lhe bagunçava as madeixas loiras já naturalmente rebeldes - o que, ao invés de deixá-lo irritado, só o fazia rir ainda mais. Contagiada, ela cedeu aos risos também, finalmente o deixando em paz, mas sem sair de onde estava.

- Uhh... – ouviu-a soltar, talvez tivesse começado a sentir o vento cortante que vinha pela fresta.

Sem dizer nada, a mulher se direcionou à porta - sem pudor algum de sua nudez - e a abriu para sentir o vento gelado lhe cortar o rosto.

- Olhe, Kisuke! Está amanhecendo! – apontou-lhe o céu sob o crepúsculo matinal, fazendo-o se levantar e caminhar até ficar uns passos atrás dela.

Sorriu; na verdade não era o alvorecer o que lhe chamava mais a atenção, e sim a mulher cujos olhos estavam vidrados naquele fenômeno; a mulher que estava tão branda à sua frente.

- Já está quase na hora – ela soltou, e ele não imaginava que a frase fosse tão ambígua naquele momento. Diminuiu a distância entre eles, ficando ao lado dela.

- Isso dura tão pouco... – comentou, fazendo-a voltar a atenção para ele.

- O quê?

- O fenômeno – explicou, fazendo-a soltar uma risada curta e balançar a cabeça negativamente.

- Você nunca muda – soltou, segurando-lhe a mão alva.

- You-san, olhe! – apontou para a parte do céu que ainda mostrava as estrelas, mostrando uma estrela cadente.

Os olhos dela oscilaram ao ver outro fenômeno no mesmo dia, algo que ele certamente percebeu.

- Algum desejo? – indagou em tom gentil. Ela assentiu em uma resposta muda, sem dizer o que quer que estivesse lhe passando pela mente.

Ele sorriu em conformação; não implicaria com a falta de informação, já estava acostumado.

- E você? – devolveu-lhe a pergunta e ele meneou a cabeça, como que em dúvida se tinha um desejo ou não, fazendo-a abrir o típico “sorriso de gata”.

Sentiu então a mão dela apertar a sua, virou-se para sua musa e ela lhe surpreendeu com um beijo intenso, como se fosse o último. Abraçou-a com a mão solta enquanto correspondia ao contato, era exatamente por ela ser tão intensa que ele a amava, e era por esse motivo que precisava dela.

- Kisuke... – interrompeu o beijo para chamá-lo. – Eu preciso ir – deu alguns passos e apanhou seu quimono, vestindo-se.

No momento, ele apenas sorriu. Haviam passado a noite juntos, já devia ser complicado para ela “fugir” da mansão e visitá-lo em seu dormitório no esquadrão. Fora isso, ela era a taichou, tinha que trabalhar mais ainda do que os Shinigamis que provavelmente estariam levantando àquele horário.

- Quando...

- Não sei – respondeu, dando um sorriso triste que ele não entendeu. – Não sei – repetiu, pegando em seu rosto para dar-lhe mais um beijo rápido e sussurrar algumas palavras ao pé do ouvido, antes de deixá-lo completamente só. Usara de shunpo e ele decidiu não segui-la; apenas deu de ombros e voltou para o seu leito – apesar de tudo, seu estado de espírito ainda não estava dos melhores.

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* * *

Quando acordou, sabia que não estava nas melhores condições. Após alguns minutos sobre o futon tentando se abstrair da lembrança em forma de sonho, decidiu se levantar e dar uma volta, quiçá conseguisse tirá-la da cabeça até a manhã seguinte... Saiu do quarto sem tirar a roupa de dormir e foi à cozinha para beber um copo d’água, mas acabou encontrando sua pupila.

- Urahara? – desceu do balcão ao avistá-lo. - O que foi? – indagou preocupada, pois nunca o havia visto com aquela expressão.

- Ah... Akemi-chan? – chamou-lhe no tom habitual, fazendo-a lançar-lhe um olhar sério.

- Teve algum pesadelo? Está com insônia? – franziu o cenho ao ver que ele sorriu perante as perguntas; a expressão usual novamente em seu rosto de barba mal-feita.

- Um bom trabalhador sempre madruga, Akemi-chan! – soltou a “filosofia de mercador”, saindo da cozinha com a típica expressão de quando o leque lhe cobria o rosto. Acabou se esquecendo do copo d’água que havia ido tomar...

Lembrou-se das últimas palavras que You-san havia dito naquele dia: \"Fique bem, viu? Jamais se esqueça do quanto eu te amo, Kisuke.\"

Questionava-se sobre a veracidade daquelas palavras e o sentido dos atos daquela mulher. Pensava nela como uma mulher radiante e, ao mesmo tempo, alguém com a mente oculta por brumas. \"Não se vê nada entre as brumas.\"

Urahara Kisuke sempre foi um homem cujo pensamento ninguém conseguia deduzir; seus projetos estavam além da alçada de muitos e sua índole era vista unicamente por seus grandes atos.

Contudo ele, a incógnita, tinha alguém que nem mesmo os atos revelavam o que ela verdadeiramente era. Shihouin Youkou era a mulher que ele ainda tentava compreender; ela era o seu raio de sol perdido em suas próprias brumas.