Irresistível Presença

Capítulo XIII - Vitamina de Frutas


Capítulo XIII

- Bella?...Bella?...Pelo amor de Deus, responda! – ouvia uma voz que parecia ser de Alice, mas não tinha certeza porque o som estava muito distante e um tanto distorcido.

Tentei abrir os olhos, mas minhas pálpebras pesavam demais, o que tornava impossível realizar este simples ato. O que tinha acontecido? Procurei em minha memória por alguma resposta e comecei a ter alguns lampejos: um barulho que vinha da curva da escada; eu querendo ver o que era e depois algo se chocando contra o meu peito. Meu Deus! Eu havia caído da escada! Será que tinha morrido?

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Um pânico começou a me invadir quando os sons externos se intensificaram. Parecia que eu estava emergindo de um mergulho, mas continuava às escuras, muda e cega, apenas escutando as pessoas muito afoitas implorando para que eu me manifestasse. Eu bem que tentava, fazia uma força fora do normal para conseguir qualquer reação do meu corpo; mas nada conseguia.

Reconheci as vozes de Rosalie e Alice, que pareciam extremamente agitadas e não paravam de falar em “ambulância”. Apavorei-me mais ainda com a idéia de que o veículo seria pra mim. Pelo menos não era um carro funeral.

Consegui por fim balbuciar algo e movimentar os dedos das minhas mãos, sentindo que a direita estava sobre minha barriga e a outra no chão - com a palma voltada para cima - ao lado da minha cabeça, que por sinal parecia que ia explodir a qualquer momento.

- Ela está voltando! – Alice comunicou ao ver minha reação.

Minha lombar doía horrores e apercebi-me deitada com as costas no chão e as pernas levemente dobradas, caídas para o lado esquerdo; totalmente desconfortável. Em uma reação reflexa, tentei melhorar aquela postura incômoda e fui brecada por Rosalie, enquanto pestaneja antes de abrir os olhos completamente.

- Shhh...quietinha! – ela segurou delicadamente minhas pernas, evitando que eu me movimentasse. Gemi frustrada, afinal estava muito ruim me manter daquele jeito, toda torcida como estava.

- Calma, Bella...Shane já foi chamar uma ambulância, até lá continue assim! – Alice disse e eu consegui, para meu total alívio, ver nitidamente os rostos das minhas amigas. Elas estavam ajoelhadas, Rose em minhas pernas e Alice com as mãos na altura dos meus ombros e muito apreensivas. Quem era Shane?

Percebi também a presença de mais duas pessoas por perto, e logo vi que se tratava do casal que morava no primeiro andar. Será que tinha sido o grito daquela mulher que eu escutara enquanto caía?

- Meu pé está doendo. – informei baixo demais, dificilmente alguém me ouviria. – Meu pé! – repeti num tom mais alto, sentindo uma dor infernal se instalar no meu pé direito. Tentei mais uma vez me levantar para analisar a situação do local dolorido, mas fui novamente freada por minhas amigas.

- Espera Bella... – Rose disse, retirando meu sapato cuidadosamente, porém, não consegui reprimir um gemido de dor. – Desculpe! Mas seu pé está inchando, não podia deixar que continuasse com o sapato.

- O que aconteceu? – perguntei procurando novamente os olhos de Rose.

- Não se lembra de nada? – Alice devia estar achando que depois de uma pancada na cabeça eu perdera a memória. Meu pai amado. Ela precisava parar de assistir novela mexicana. Tive vontade de rir, mas a dor me fez mudar de idéia.

- Sei que caí da escada, Alice – meu sussurro foi quase inaudível, porque falar também doía, embora já me sentisse viva outra vez. – É que só me lembro de um barulho e depois... – respirei um pouco tentando relaxar os músculos que protestavam contra a minha insistência em querer falar. – Depois senti um impacto...mas não vi nada!

- Foi um acidente com Shane, nosso novo vizinho. Mas depois a gente fala sobre isso, tenta ficar quietinha agora, tudo bem? – Alice explicou me deixando mais curiosa.

- Shane? Novo vizinho?

Nessa hora uma voz masculina surgiu no topo da escada, onde eu não conseguia ver, pelo fato do meu rosto estar virado pro sentido contrário:

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- A ambulância está vindo! – a voz informou afoita - Ah, ela acordou! – seu tom era de preocupação e de alívio, e ao que tudo indicava aquele só podia ser o tal do novo vizinho.

- Sim, Shane. – Rose respondeu à ele e às minhas suspeitas - Ela acordou e parece bem lúcida, né Bellinha?

- Estou sim, não se preocupem. Na verdade acho tudo isso um exagero, tenho certeza que já posso me levantar. – não queria entrar em uma ambulância.

- De maneira alguma. – me repreendeu Shane, entrando pela primeira vez em meu campo de visão. Alto, olhos azuis, loiro, com os cabelos presos em um rabo de cavalo mal feito, e devia ter os seus trinta e poucos anos. – Sua queda foi feia! Não pode zanzar por aí como se nada tivesse acontecido!

Eu que não discutiria. Não estava em condições de ganhar nem de Alice, que era a menor de todos, imagina se eu cogitaria enfrentar Rose ou o enorme do Shane? Suspirei rendida.

- Desculpe-me, linda. Eu simplesmente não a vi na escada. – Shane se justificou pelo incidente, alisando meus cabelos. Estranhei tanta intimidade, mas obviamente ele estava se sentindo péssimo de tanta culpa.

- O que aconteceu? Que barulho foi aquele? – insisti em saber.

- Eu estava descendo com uma escada de alumínio, que usei para a minha mudança, mas na curva da escadaria ela bateu na parede e eu me desequilibrei deixando-a cair. E nessa, trombei em você.

- Ah! – ergui as sobrancelhas.

Alice me acompanhou na ambulância e Rose disse que não tardaria a chegar no hospital. Provavelmente correria mais do que Edward pelo trânsito e só em pensar nele meu estômago revirou, já sentia tanto a sua falta.

- Ai meu Deus! – minha amiga disse a caminho do hospital. - Fiquei tão maluca que acabei me esquecendo de avisar Jasper sobre o ocorrido.

- Aonde ele está?

- Foi jogar beisebol com Emmett e um pessoal da empresa. – ela passou as mãos nervosamente pelos cabelos – Caramba! Esqueci minha bolsa em casa. Estou sem meu celular.

- Falando nisso...minhas coisas ficaram lá, esparramadas no chão. – falei me dando conta de que, além da bolsa eu subia também com a pequena mala de mão que usara na viagem antes da queda na escada.

- Rose deve ter guardado.

Depois que um médico me avaliou clinicamente tive que passar por alguns exames, literalmente da cabeça aos pés. Desde Tomografia de Crânio até radiografia do tornozelo. Quando saí do último aparelho, fui levada a um quarto, no qual deveria aguardar pelo médico para saber os meus resultados. Eu não via a hora de sair daquele lugar.

- Só agora consegui falar no celular de Jasper – Rose avisou enquanto os enfermeiros me transferiam da maca para o leito do quarto. – Ele e Emmett já estão vindo.

Torci o nariz.

- Pra que isso, Rose? Não precisava preocupá-los; até porque daqui a pouco estaremos em casa.

- Bater a cabeça matou os teus neurônios? – Alice brincou bufando – Se fosse o contrário eu acabaria com Jasper se não me comunicasse na hora.

- É que você é exagerada. - apontei, tentando me distrair da dor que se alastrava por todo o meu corpo. Parecia que eu tinha sido atropelada. – Mas o teu namorado é mais sensato.

- Sensato? Vamos ver o que ele vai dizer a respeito disso quando chegar! – fechei a cara sabendo que ouviria repreensões de Jasper. Alice e Rose riram adivinhando o que eu pensava.

- Fique tranquila! – Alice acariciou meu braço – Não vou contar nada...por enquanto. – completou quando viu um inicio de sorriso grato em meus lábios. Bufei e elas riram baixinho.

- Estão alegrinhas, né? Aposto que é porque não terão mais que pensar na minha missa de sétimo dia.

- Credo. Nem diga isso! – Rose deu três batidinhas na cabeceira da cama, que nem era de madeira – Estamos aliviadas, isso sim! Você não pode imaginar o meu desespero quando te vi desmaiada naquele chão. – arregalou os olhos como se sentisse um frio percorrer sua espinha. Alice fez o sinal da cruz.

- Quando ouvimos os barulhos e os gritos já imaginávamos que pudesse ser algo com você. – Alice comentou e Rose concordou.

- Por quê? Por causa da sua bola de cristal? – indaguei e as duas reviraram os olhos.

- Bella! – a adivinha do grupo chamou minha atenção – Não sabe que se um raio tiver que cair na cabeça de alguém, esse alguém será você?

- Credo! – agora foi a minha vez de repetir a fala e as batidinhas de Rose, na cabeceira da cama; mas meu corpo doeu quando tentei o movimento.

Uma batida de verdade soou na porta e quando a mesma se abriu fiquei surpresa ao ver Shane adentrando com quatro copos nas mãos.

- Que bom que já está no quarto! O médico disse alguma coisa? – perguntou com naturalidade enquanto entregava os copos para minhas amigas.

- Ainda não. – respondeu Rose pegando o seu. – Você se lembrou que o meu era com chocolate? – esperou com ar de expectativa e suspirou feliz quando Shane assentiu. As duas já pareciam tão camaradas do sujeito.

- Linda, o teu não é café. – me mostrou um copo de plástico com um líquido vermelho – Trouxe suco de melancia. Alice disse que gosta. Mas só poderá tomar depois que o médico liberar.

- Por que acham que não poderia tomar um simples suco? – afinal eu estava com sede.

- Não achamos! – Alice deu de ombros – Mas não somos médicos para ter certeza, portanto, vamos aguardar! – concluiu bebericando seu café.

DoutorWorthington não demorou a chegar com o meu diagnóstico: ruptura de um ligamento do tornozelo.

- Pela queda poderia ter sido pior, Isabella. – ele disse, em pé, ao lado da minha cama – E teve sorte por não fraturar o tornozelo. Se isso tivesse acontecido, provavelmente precisaríamos fazer uma cirurgia para remover os fragmentos ósseos da região. – ergh, meu estomago embrulhou só em imaginar o que o médico dizia - Mas como isso não aconteceu, você irá apenas usar durante duas semanas uma bota de estabilização, podendo retirá-la apenas para o banho. Entendeu? – assenti. – E não poderá colocar o pé no chão de maneira alguma. Recomendo o uso de muletas.

- Tudo bem.

- Agora a enfermeira vai te aplicar alguns medicamentos e amanhã você poderá ir para casa.

- O quê? – quase levantei da cama, mas logo senti a dor pelo gesto intempestivo. Gemi.

- Você perdeu a consciência devido a pancada na cabeça, Isabella, e por isso precisa ficar em observação por doze horas.

- Mas que horas são? – questionei.

O Dr. Worthington riu e analisou seu relógio de pulso.

- 17:30h, mas já adianto que amanhã não sairá antes das 08:00h – choraminguei baixinho.

- Ela poderá ir à faculdade Dr.? – Alice perguntou, me fazendo revirar os olhos. Até parece que eu mataria aula por duas semanas.

- Bom, aconselho a ficar de repouso nos três primeiros dias, afinal, você pode não ter sofrido outras consequências mais graves internamente, Isabella, mas seu corpo está machucado e precisa descansar. Depois disso poderá voltar à sua rotina, desde que não coloque o pé no chão como havia dito.

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- Doutor? Só mais uma dúvida... – ele se virou, já na porta, quando o chamei.

- Sim?

- Posso beber um suco?

- Pode, claro! - piscou e se foi.

Rose me ajudou com o suco e depois de beber um pouco daquele líquido que ainda estava gelado, resolvi sanar a minha curiosidade.

- Quando se mudou, Shane?

- Na sexta-feira. Você estava viajando, por isso não nos vimos antes. – Alice pelo jeito já havia passado nossa ficha completa.

- Alugou o apartamento da Sra. Scott? – esse ficava de frente para o meu e de Alice.

- Exatamente.

Com mais um pouco de conversa fiquei sabendo que Shane era fotógrafo, que sempre trabalhara como free lancer, mas que agora tinha sido contratado para uma nova revista que em pouco tempo chegaria ao mercado.

- Mesmo? Que tipo de revista? – perguntei curiosa e vi Rose e Alice se entreolharem divertidamente.

- Revista masculina. – corei ao me dar conta que ele fotografava mulheres nuas. Não sei por que tive aquela reação, mas era estranho saber que estava sob o olhar de um homem que via os mais belos corpos femininos todos os dias.

Pouco depois a enfermeira entrou no quarto com uma agulha que dava medo só de olhar. Ela era uma senhora simpática e pareceu notar o meu “receio”.

- Não se preocupe, querida! Esse medicamento lhe ajudará a dormir sem dor.

Aos poucos fui me rendendo ao sono até que deixei minhas pálpebras se fecharem por completo, abandonando Alice, Rose e Shane no quarto.

Acordei com o meu pé latejando e o meu corpo pesado, parecia que eu tinha levado uma surra. Gemi de dor me remexendo um pouco, tentando aliviar o meu desconforto; mas senti mãos grandes e suaves em meus braços.

- Não pode, Bella! – escancarei os olhos enquanto Edward carinhosamente afagava com seus polegares a minha pele – Quanto mais você se movimentar mais dor irá sentir! Não quero que sinta dor, meu amor! – beijou minha testa com zelo.

- Edward? – queria perguntar tantas coisas, mas estava emocionada demais em vê-lo, não conseguia formular nada coerente. Ainda mais quando ele beijou com o maior cuidado do mundo todo o meu rosto, percorrendo seus lábios delicados de minha testa até meu queixo; da ponta do meu nariz até minha orelha. E por fim, roçou levemente os lábios nos meus.

- Fiquei apavorado quando soube o que havia acontecido. – me fitou de frente, ainda bem próximo ao meu rosto. – Fiquei louco, Bella! Louco. – confessou com olhos brilhantes e aflitos.

O observei preocupada e levei uma mão até sua face, me controlando muito para ignorar a dor do movimento.

- Não aconteceu nada demais. – tentei sorrir em meio ao meu sussurro.

Ele fechou os olhos e meneou a cabeça negativamente, para logo me encarar e dizer com voz de dor:

- Nunca vou me perdoar por isso.

- O que? – indaguei confusa. – Edward?

- Se eu tivesse subido com você até a porta do seu apartamento, tenho certeza de que nada disso teria acontecido.

- Que absurdo! – exclamei - Você não pode se culpar por eu ser um desastre ambulante. – brinquei, mas ele não sorriu. – Edward? – implorei com os olhos para que ele parasse de pensar bobagens e ele captou meu pedido silencioso. Lançou-me um sorrisinho fraco e voltou a beijar meu rosto. – Que horas são?

Edward olhou seu relógio:

- 21:30h.

- Nossa! Dormi muito!

- E vai dormir mais ainda, por que vou chamar a enfermeira para lhe dar mais remédio, agora mesmo.

- Não! – quase gritei e não deu tempo de reprimir o gemido de dor pela reação desmedida.

- Não faça isso, Bella! – Edward me censurou angustiado – É para o seu bem.

- Claro, claro! Mas antes...– precisava fazê-lo esquecer dos remédios, afinal, no hospital eles vinham acompanhados por agulhas. – Tem mais alguém aqui? – eu não tinha visto Jasper e Emmett, mas Rose havia dito que eles estavam a caminho antes de me entregar ao sono.

- Não. Na verdade não faz muito tempo que foram embora, estavam todos muito preocupados. – me fitou sério e pensativo, mas logo esboçou um sorriso e continuou - Alice queria ficar até amanhã, mas consegui me livrar daquela baixinha... – ri da forma como ele se referiu à ela - Disse que sou extremamente possessivo e que queria você só pra mim a noite toda.

- O que? Você não está insinuando que vai passar a noite aqui, está? – meu tom e minha expressão diziam claramente que eu não ficaria feliz com aquilo.

- Não estou insinuando. Estou informando.

- Mas Edward...você vai trabalhar amanhã. Precisa dormir bem.

- Só vou dormir bem se você estiver sob os meus cuidados.

- Mas eu estou em um hospital! – o recordei - Tem um monte de enfermeira para cuidar de mim. Pode ir sossegado.

- Eu disse sob os meus cuidados. – me notificou pausadamente – E por falar em “meus cuidados” e em “enfermeira”... – apertou a campainha da enfermagem, me fazendo fechar a cara. – Hora de dormir.

No outro dia, após ouvir mais uma vez todas as orientações médicas, recebi a minha alta. Não sem antes marcar o meu retorno com o Dr. Worthington para dali duas semanas.

Edward pagou a conta do hospital, e me deixou falando sozinha enquanto eu protestava, dizendo que não aceitaria.

- Vou buscar a cadeira de rodas – avisou saindo para o corredor. Droga!

Ele me ajudou a sentar na cadeira com esmero e a empurrou até seu Volvo que se encontrava no estacionamento do hospital.

- Você ficou com a minha receita médica? – me lembrei já à caminho de casa.

- Fiquei. – respondeu dirigindo.

- Certo...não precisa parar em nenhuma farmácia, agora. Quando chegar em casa eu peço por telefone. Você só não pode se esquecer de me entrega-la, caso contrário eles levam os remédios de volta.

- Já comprei!

- O que? – não bastava ter pago o hospital?

- Isso mesmo o que ouviu. Comprei esta manhã, numa farmácia perto do hospital, enquanto a enfermeira te ajudava na higiene pessoal.

- Edward! – o repreendi indignada – Não quero parecer mal agradecida, mas isso não faz sentido. Você não pode sair pagando minhas contas e menos ainda assumir a responsabilidade pelos meus remédios.

Tudo bem que nesse último ano de faculdade eu vivia apenas com a mesada que meus pais depositavam em minha conta, pois não sobrava tempo para empregos fixos, mas mesmo assim nunca fui de esbanjar, portanto, ainda tinha algumas economias.

Edward parou o carro no sinal vermelho e me encarou com um semblante desolado, bem no fundo dos meus olhos.

- Por favor, Bella. Não me impeça de fazer a única coisa que posso. – pediu como se eu é quem estivesse fazendo um favor a ele, e não o contrário. – Esse dinheiro não é nada pra mim, acredite; e será menos ainda se eu não puder usá-lo com você nessa hora tão delicada.

Falando daquele jeito ele me fazia sentir culpada. Como se eu fosse uma bruxa tirando um doce da boca de uma criança. Suspirei me rendendo à sua chantagem emocional e Edward abriu um sorriso satisfeito, exatamente como uma criança que tem as mãos cheias de chocolate.

- Aproveitando que está receptiva... – continuou com o sorriso – Saiba que já comprei a bota que terá que usar e as muletas. – trinquei os dentes, mas não protestei.

- Obrigada. – agradeci resignada.

Voltou a colocar o carro em movimento quando o sinal abriu.

Quando chegamos em meu prédio, Edward apertou o interfone para que Alice destravasse a porta da frente, antes de me tirar do carro. Ele me levou no colo até o segundo andar sem ofegar. Eu poderia muito bem subir com um pé só, claro que com sua ajuda também, mas Edward não me permitiu com a justificativa de que pulando eu sentiria mais dor.

Minha amiga já nos aguardava na porta e assim que aparecemos na escada ela foi logo sugerindo:

- Leve-a para o quarto!

- Vou buscar suas coisas no carro. – ele disse depois de me colocar na cama, se referindo aos meus remédios, bota e muletas.

- Precisa de ajuda? – Alice se ofereceu sem nem mesmo saber do que se tratava.

- Não. Acho melhor você ficar aqui com ela. – me apontou com um gesto de sobrancelhas.

- Até parece. Alice não poderá ser minha babá o dia todo. Nem precisa. – Edward me olhou com impaciência e preferiu não dizer nada.

- Como está a dor? – minha amiga questionou depois que Edward havia saído.

- Melhor. Estou sob efeito dos analgésicos.

- Que bom. – me olhou com uma cara de quem ia aprontar. – Precisamos conversar. – e eu precisava fazê-la ficar calada antes que Edward voltasse e escutasse suas asneiras. Na certa ela queria tecer seus comentários sobre ele.

- Não Alice, preste atenção, você não pode faltar da faculdade, ok? – falei baixo, na tentativa de desviá-la de seu assunto, porém com medo de ser pega no flagra por Edward nesse que eu mesma iniciava.

- Por que não? – por sua expressão confusa, percebi que consegui o que queria.

- Por que não podemos faltar as duas. Quem vai me explicar a matéria perdida depois? – Alice meditou antes de responder.

- Mas você não pode ficar aqui sozinha.

- Alice! Com esses remédios eu durmo a maior parte do tempo. Confie em mim. Só vou me levantar para ir ao banheiro e prometo não tomar banho enquanto você não estiver em casa para me ajudar. Edward já até comprou minhas muletas.

Escutamos um barulho e era o próprio chegando com toda a parafernália que havia comprado para mim.

- Vamos colocá-la? – levantou a bota.

- É que primeiro gostaria de tomar um banho e trocar de roupa.

- Posso ajudá-la com isso.

- Não. – corei, vendo minha amiga, por debaixo dos meus cílios, sorrindo com o meu embaraço.

- Qual o problema? – ele perguntou descrente – Aposto que Alice está cansada de saber que o nosso namoro não se resume em apenas mão na mão.

- Eu sei, mas é que... – epa. O que ele disse? Eu escutei a palavra “namoro”?

Mirei os olhos de Edward que continuava atento ao meu comentário. Ele estava normal demais; não podia ter dito aquilo.

Dei uma olhada para Alice de soslaio, e esta sim, parecia não ter perdido a parte que me deixou confusa. Seu sorriso confiante me fez ter coragem para perguntar:

- O que disse? – pestanejei algumas vezes enquanto Alice saia de fininho do quarto.

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- Que sua amiga não ficará assustada se eu te ajudar com o banho.

- Ah! – entendi, claro. Desviei meu olhar para seu peito, me dando conta de que mais uma vez havia sido idiota, me deixando levar por uma falsa esperança. Meu coração ficava fraco todas as vezes que Edward me dava um chá de realidade; mas era tudo culpa minha, que fantasiava com algo que ele nunca prometera.

- Isso é aceitável entre namorados, não é?

Parei de respirar. Eu não estava tendo alucinações. Sua voz de veludo agora tinha sido muito clara.

Voltei a fita-lo, sem levantar o rosto, e meus olhos estavam embaçados. Ah não! Eu não podia chorar. Senti minha boca tremer e mordi o lábio, impedindo que mais essa reação nervosa se manifestasse. Meu coração estava audível. Queria conseguir dizer alguma coisa, mas se abrisse a boca seria para chorar.

Edward parecia enxergar a minha alma, tamanha intensidade de seu olhar. Voltei a respirar, sentindo meus músculos se esticarem além do que eu aguentava sem dor. Gemi e ele se preocupou.

- O que foi?

- Nada. – não podia deixar o assunto passar e continuar confusa. Por isso tomei coragem – Edward? – fechei os olhos e senti seus dedos percorrerem meu rosto até pararem na minha boca.

- Bella? – olhei novamente para ele, que fitava ora meus lábios, ora meus olhos. – Você quer? – espremeu os olhos – Namorar? Comigo? – ele não sabia nem como fazer a pergunta. Sorri diante a sua falta de jeito e aquilo o fez suspirar e sorrir também. Parecia aliviado, como se temesse um “não”.

- Quero. Quero muito! – eu estava no paraíso.

Edward me abraçou carinhosamente e com cuidado excepcional.

- Não posso ficar sem você. – sua voz em meu ouvido afagava minha alma. – Pelo menos enquanto ainda estiver por aqui podemos ter um relacionamento normal, como todos os namorados. Certo? – assenti.

Notar que Edward iniciava um relacionamento comigo já pensando no término não me abalaria, afinal, sentia que seu amor por mim era verdadeiro. Aquilo era apenas mais um resquício do seu medo de amar. Mas se ele teve coragem de dar um passo, nada pequeno, para o namoro, tinha certeza de que até a conclusão do meu curso, muitas coisas ainda podiam mudar.

Depois que ele foi embora, derrotado por não tê-lo deixado me dar o banho, Alice entrou no quarto com um sorriso de orelha a orelha que eu duvidava ser maior do que o meu.

- O teu namorado pediu para que eu cuidasse de você! – suspirou com as mãozinhas cruzadas no queixo.

- Alice...não estou acreditando! Sem contar que ele me pegou de surpresa.

- Eu bem que tentei te contar, mas você me cortou.

- Você já sabia? – arregalei os olhos – Como?

Ela se sentou na cama se preparando para me dar os mínimos detalhes:

- Então... – começou – Ele chegou no hospital parecendo um louco, coitado, completamente desesperado por notícias suas. Sinceramente, Bella, quando ele te viu dormindo naquela cama de hospital, foi a cena mais linda que já presenciei em toda a minha vida. Olha! – me mostrou um braço querendo dizer que estava arrepiada – A forma como ele te olhava...não existe uma palavra que eu possa usar para descrever como foi...mas foi tudo: amor, tristeza, preocupação, incapacidade, dor. Quando viu o seu pé, horroroso de inchado e preto de tão roxo, parecia que estavam arrancando o seu coração. Então ficou te fazendo alguns carinhos e depois me bombardeou de perguntas sobre o incidente.

- Alice? Tem certeza que eu não morri? Por que honestamente estou me sentindo no céu. – ela riu pensando que fosse brincadeira, mas eu realmente cogitava essa idéia.

- Edward não saiu de perto de você desde que chegou no hospital. – riu como se lembrasse de alguma piada. – Bella, você perdeu a cara do Jasper; seu irmãozinho ficou chocado e depois me confessou que nunca mais vai duvidar do meu poder de vidente.

- Certo. Mas onde entra a história do “namoro” nisso tudo?

- Ah! Essa foi a melhor parte. – se empolgou se ajeitando na cama com pulinhos - Tente imaginar o que eu digo: estávamos no quarto, eu, Rose e Shane. Jasper e Emmett ainda não estavam lá.

- Edward chegou primeiro? – me preocupei com a certeza de que ele correra risco de sofrer um acidente no trânsito. Apesar de que não sabia se ele morava perto ou não do hospital, afinal, não fazia idéia de onde ficava a casa do meu namorado.

- Sim. Emmett e Jazz estavam muito longe. Mas continuando...logo de cara percebi que ele não ficou muito satisfeito em ver Shane no teu quarto, mas disfarçou bem. Também pudera, o homem é um gato, né? Confesso que até Jasper ficou irritado quando o viu aqui no corredor pela primeira vez. – realmente Shane era muito bonito, mas estava longe de ser a perfeição que era Edward. Pelo menos pra mim não existia comparação. - Enfim, Edward ficou lá todo contido e tenho certeza de que se controlou muito para não bater em Shane quando soube que ele foi o motivo da sua queda na escada.

- Que absurdo! Não foi culpa do Shane; eu é que parecia um zumbi subindo aquela escadaria.

- Não importa. – deu de ombros não querendo prolongar aquele meu comentário - Então Edward continuou lá, firme e forte, ignorando a presença do nosso vizinho, mas só até Shane dizer que fazia questão de cobrir todos os gastos que você tivesse pelo acidente. – respirou fazendo suspense – Menina! O homem matava com os olhos, mas Shane não estava nem ligando para o mau-humor de Edward. E foi aí que Edward disse, com uma voz que deu até medo de tão suave que era: “Agradeço Shane, mas não permito que nenhum homem pague coisa alguma para a minha namorada” – Alice imitou a voz de Edward. – Bella, juro que ali tinha uma mensagem de “fique longe dela”. Rose e eu nos divertimos vendo a cena.

- Ai, Alice. – hesitei entre a alegria pronta para explodir e a preocupação - Será que Shane ficou chateado? Sei lá, Edward não precisava ter sido grosso!

- Que nada! Já disse. Shane nem deu bola para o teu namorado e ainda me prometeu que depois passava aqui pra te ver.

- Mas falando nisso, você e Rose parecem bem amiguinhas do nosso novo vizinho. – me lembrei.

- Ele é super simpático e muito fácil de fazer amizade. Os rapazes estão um pouco enciumados agora por que não o conhecem direito, mas depois vão ver que Shane é muito mais do que um rostinho bonito. – piscou me fazendo rir. – É sério. Ele não fez nenhuma gracinha comigo ou com Rose.

- Certo, mas agora você pode me ajudar? Preciso tomar um banho.

Alice saiu para a faculdade logo depois de colocar meus remédios na cabeceira da minha cama, junto com um copo d’água e uma lista com os horários anotados, exatamente como Edward a havia instruído. Recordei-me de como tinha sido difícil convence-lo a ir trabalhar; se pudesse provavelmente teria me levado junto para ficar de olho em mim o tempo todo.

Nunca gostei dessa coisa de receber cuidados, mas era reconfortante saber que Edward se preocupava comigo. Exageradamente não podia negar. Mas mesmo assim era bom. E com esses pensamentos não demorou muito para que eu dormisse novamente.

Acordei morrendo de vontade de ir ao banheiro. Peguei minhas muletas e fui sentindo a bota pesada calçada no meu pé. Era incrível como meu corpo todo doía absurdamente depois que passava o efeito do medicamento, será que não melhoraria nunca? Bom, o médico me alertara de que seria assim durante os primeiros dias.

Depois de tomar um remédio escutei uma batidinha na porta. Era Shane, com um copo enorme nas mãos.

- Oi linda. Tenho certeza que não comeu nada ainda. Fiz uma vitamina de frutas para você. – falou me oferecendo o copo, mas não tinha como eu pegar devido às muletas que ocupavam minhas duas mãos.

- Obrigada Shane, você adivinhou meus pensamentos. Estou com fome, mas não de comida, entende? – ele assentiu mostrando o copo – Entra.

Sentei-me no sofá com as pernas esticadas no assento e Shane ficou na poltrona da frente enquanto eu bebia a saborosa vitamina.

- Está uma delícia, muito obrigada! – elogiei.

- Imaginei que estivesse sozinha, afinal hoje é segunda-feira e Alice deve ter ido à faculdade, não é isso? - concordei com a cabeça - Duvidei que fosse procurar algo para comer. – sorri diante tanta certeza. – Precisa se alimentar, linda.

- Mas e você? Não trabalha hoje?

- Não! Estou de folga até quinta-feira. Por isso aproveitei para fazer a mudança nessa época.

Conversamos mais um pouco e logo Shane foi embora dizendo que eu podia gritar se precisasse de ajuda. Alice tinha razão, ele era uma pessoa muito fácil de fazer amizade, além de ser super discreto e na dele.

Depois de retornar à cama, olhei meu celular para ver que horas eram e sorri quando o visor mostrou uma mensagem de Edward:

“Não quero ligar para não correr o risco de acordá-la, mas me retorne assim que ler a mensagem!”

Fiquei lendo aquela mensagem me lembrando das vezes em que quis mandar uma parecida na época do nosso “relacionamento diferente”, e cheguei à conclusão de que talvez aquele meu acidente tivesse sido a ajuda que tanto pedi aos céus um pouco antes de subir arruinada àquelas escadas no dia anterior. Claro que sim. Se não fosse pela tragédia, Edward ainda estaria distante; mas o desespero o fez quebrar um pedaço do muro que envolvia seu coração. Suspirei confiante, antes de apertar a tecla send do meu celular, pois agora sabia que os anjos também estavam a nosso favor.

- Bella! – ele atendeu antes do segundo toque, e parecia estar maravilhado além de aliviado. – Acordou agora, amor?

- Na verdade acordei há um tempinho, uns quarenta minutos mais ou menos, mas só agora vi a sua mensagem.

- Como está se sentindo?

- Bem.

- Tomou o analgésico?

- Tomei. Fique tranquilo – ri – Eu sou a principal interessada nesses remédios, pode apostar! – ele riu baixinho.

- Está com fome?

- Na verdade não. Acabei de tomar uma vitamina de frutas. – e ela tinha me deixado bem satisfeita.

- Mesmo? – Edward parecia preocupado agora. – Você ficou em pé na cozinha fazendo vitamina?

- Não, não. Foi meu vizinho quem trouxe. Ele imaginou que eu estivesse sozinha e quebrada demais para fazer algo para comer. – ri da minha piadinha, mas Edward permaneceu calado do outro lado da linha. Só então me lembrei do que Alice havia me contado: ele não tinha se simpatizado com Shane – Edward? – chamei depois de algum tempo, pois até pensei que a ligação tivesse caído.

- Hã? – ele estava pensativo?

- O que houve? – perguntei com naturalidade e escutei um suspiro pesado.

- Esse teu vizinho não tem mais o que fazer não?

- Não é isso. É que ele está de folga, parece que até quinta-feira, ou sexta, não me recordo. Por que está bravo? Ele só quis ser gentil! – não ignorei seu tom ríspido e se Edward falasse mal de Shane eu diria que não tinha motivos para se preocupar.

Silêncio reinou mais uma vez.

- Edward? – quase chorei no telefone não gostando daquela distância. Queria ver o que se passava em seus olhos.

Por fim ele disse com uma voz doce, porém, autoritária:

- Dentro de uma hora estarei aí para arrumar as tuas coisas. Vou te levar para minha casa e você ficará por lá, sob os meus cuidados, até enquanto não puder colocar os dois pés no chão.