Crime Melódico

5ª noite - Samurai corrompido


Frio. Assim seu corpo estava. E dormente. Sentia suas costas repousadas sobre o chão. Ainda estava deitado.

Mas não sabia onde.

Lentamente e com certa dificuldade, Kaito abriu os olhos. Aquela rosa ainda estava sobre seu rosto. Retirou-a, e, imediatamente, ela esvairou-se em sua mão. A vista, ainda embaçada, tomava foco aos poucos. Percebeu que estava em um local diferente. Ou não.

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Sentou-se e olhou ao seu redor. Estava... nos jardins de VOCALOID’S? Não. Havia alguma coisa... diferente. As rosas estavam esverdeadas. As folhas estavam secas. E uma lua manchada de vermelho marcava sua presença onipotente no céu.

Era e, ao mesmo tempo, não era a realidade que Kaito vivenciava.

Como poderia ter parado em local tão paradoxal?

Olhou para si mesmo. Estava vestido estranhamente. Trajava um terno cinza e branco, com uma blusa preta e um pequeno chapeu de fitas no cabelo. Era exatamente o figurino que usou em Imitation Black. De onde teria surgido aquela roupa?

Levantou-se e sentiu uma estranha sensação em seu peito. Pousou a mão sobre ele e rapidamente as imagens de poucos minutos – horas, segundos, dias? – atrás passaram em sua mente. Gakupo, Miku e uma pessoa desconhecida, que partiram sem deixar rastros.

E agora, onde ele poderia estar?

Audição. Foi o primeiro sentido que tornou-se presente e... real? em Kaito. Escutou uma melodia, vindo de certa distância. Supostamente conhecida. Estranho, não? Sempre escutara uma melodia desconhecida, mas agora... O que lhe restava? Resolveu seguí-la.

Aos primeiros passos que deu, sentiu pisar em algo maciço. Olhou para baixo e deparou-se com uma espada. Era bela. Sua base era azulada e os detalhes em prata revelavam uma arte bem peculiar. E conhecida. Kaito usara tal espada em um de seus ensaios com Gakupo.

Gakupo...

Pegou tal espada e caminhou com ela. Não sabia realmente o que lhe esperava á frente.

Quanto mais andava, mais alta a melodia ficava. Em certo momento, pôde perceber que era som de um cravo. Um pouco mais adiante, em meio a algumas árvores e arbustos, reconheceu a música. Era Alice Sacrifice. Apressou o passo, com esperança de encontrar os outros por ali.

- Pobre Alice... está perdida? – Uma voz ecoou pelo local.

Kaito reconheceu a voz. Era da mesma pessoa que havia lhe deixado aquela rosa no rosto.

- Quem está aí!? – Kaito tentou esclarecer.

- O que foi, Alice? Está com medo?

- Revele-se! – Ele parou de correr

- Ora, venha até mim, meu pobre ser perdido... – E aquela pessoa riu.

Kaito já não suportava toda aquela situação inusitada. Queria respostas. Queria descobrir quem era aquela pessoa.

Queria rever Miku.

Pôs-se a correr com mais intensidade, em frente. Livrando-se dos arbustos com a espada, abriu caminho até uma clareira.

E parou imediatamente quanto avistou Gakupo, parado.

- Ora, ora, Alice... já chegou?

Gakupo mantinha o olhar baixo, enquanto aquela pessoa, ainda de capuz e atrás do samurai debochava de Kaito. Miku estava com ele, igualmente com o foco do olhar perdido.

- Quem é você!? O que fez com Gakupo e Miku!?

- Não está sendo muito audacioso, Kaito? Deveria perceber que você não tem vantagem nenhuma aqui... – Tal pessoa abriu os braços e apontou para todos os lados.

Lá estavam eles: Rin, Len, Luka e Meiko, parados e colocados em perfeita disposição, um pouco acima do nível onde estavam Kaito, Gakupo, Miku e aquela pessoa. Parados, com o olhar sem brilho fixados em Kaito. Todos eles possuiam uma marca no rosto, juntamente com uma roupa diferente da habitual: Len e Rin estavam marcados com o símbolo de Paus. Rin trajava um vestido preto, de rendas vermelhas, com várias rosas em torno do pescoço. Já Len também vestia-se como no clipe de Imitation Black. Meiko estava com o símbolo de Ouros, e vestia-se com um longo vestido vermelho. Luka estava com o símbolo de Espadas, trajando um vestido branco e levando uma rosa ao cabelo e por fim, Miku estava marcada com o símbolo de Copas, vestindo um vestido também preto, com várias fitas esverdeadas em volta de si e de seus cabelos.

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- Pessoal...!? – Kaito espantou-se.

- “Pessoal”?! Hahaha, como você é patético, Kaito. – Era uma provocação, com certeza – Não vê que esses pobres humanos não fazem a mínima ideia de quem você seja?

- O... o quê?! O quê fez com eles, seu maldito!??!

- Eu?! Mas eu não fiz nada... – Irônico – Por que não pergunta a seu infame amigo samurai?

- Gakupo...?

Gakupo não estava mais com o sobretudo de antes e sim, vestia-se igualmente como Kaito e Len: o mesmo figurino de Imitation Black. Segurava seu fone em uma das mãos, deixando de olhar para eles para olhar para Kaito.

- Por que você tinha que se intrometer, Kaito?

- Gakupo! O que está fazendo?! O que você fez... com todo mundo?!

- Kaito... – ele virou seu olhar novamente para o fone – existem coisas que um samurai deve carregar consigo...

- ...

- Uma delas é a lealdade... – Contraiu as mãos, quebrando o fone em vários pedaços.

- Gakupo!

- E mesmo achando que estrando para o grupo de vocaloids as coisas mudariam para mim, eu não poderia deixar para trás todo meu passado. Por isso, você não precisará me perdoar... – puxou a katana que estava em sua bainha - ... pois eu irei te matar.

- Ohh... – Aquela pessoa impressionou-se – Pensei que você demoraria mais, samurai. Seu coração não gostaria de salvar seu ‘amigo’?

- Coração? – Gakupo falou, olhando para a lâmina de sua katana – ele já foi corrompido há muito tempo...

- G-Gakupo... por quê?! – Kaito sentia as mãos tremerem.

- Viu só, Kaito? Nem esse samurai, que mantém alguma consciência, te reconhece como amigo mais...

- Consciência!?

- Ah, mas é claro! Eu ainda não te falei o que acontceu a seus amigos. Antes de você morrer, eu quero que sua mente se corroa de tristeza... – Realmente, seu tom de voz era odiável.

Gakupo mantinha a katana empunhada, mas não dava um passo sequer. Aquela pessoa levantou-se e deixou Miku sentada, em algo que era, aparentemente, transparente. O olhar da jovem não tinha brilho. E era igual ao dos outros vocalois ali presentes.

- Eu me perguntava: Como vou fazer para chegar até Miku sem antes retirar todos os empecilhos que estavam no meu caminho? Claro, precisava eliminá-los. Mas achei que matar a todos não teria muita graça. Antes, precisariam sofrer. Foi quando eu encontrei esse samurai. Deva tudo a ele... – Sorriu.

(Quebra de tempo – para um passado não muito distante)

- Lukaaaaaa! – Gakupo gritava – O que eu vou gravar hoje, hein, hein?! – Irritante!

- Deixei de ser irritante, Gakupo! – Claro! – Já disse que você vai gravar Acute com Miku e comigo!

- Haha, sou foda! – Gabava-se.

- Não fique tão confiante, Gakupo. Acabaram de transferir o seu papel para o Kaito! – Meiko trazia um papel consigo.

- Pra mim?!

- Pro Blue Hair? Por quê!?

- Bom, pelo que Kiyoteru disse, estão chegando mais pedidos para que Kaito cante. Então, ele achou melhor deixar a gravação com os três.

- Ahh...

- Está fazendo sucesso, Kaito-kun! – Miku admirou-se.

- Talvez... – E ele corou, claro.

- Se você continuar tomando meu lugar, eu vou te matar, Blue Hair... – Gakupo brincava, apontando a katana para Kaito.

- Você não sabe usar essa coisa, Gakupo, então, baixe-a! – Kaito divertia-se também.

- Sei sim! – Emburrou-se.

E mesmo parecendo amigos tão próximos, Gakupo sentia algo apertando-lhe o peito, toda vez que suas músicas passavam para Kaito.

De fato, ficava feliz com o sucesso do amigo.

Mas... algo estava errado.

O que Gakupo percebeu é que, com o tempo, todas as atenções estavam voltadas para Kaito. Até certo ponto, ele acreditou que tudo corria bem. Afinal, Kaito havia recebido aquela numeração estranha, 00-01 e ele fora apenas o sexto vocaloid a ingressar no grupo. Talvez, o amigo deveria ser mais importante mesmo... principalmente devido sua relação com Miku.

Marcada... por aquela numeração!?

Ou pelo amor – mútuo? – que ele profanava?

- Gakupo! – Kaito pulou em seu pescoço.

- O que foi, Blue Hair?

- O que está fazendo aqui, sentado, sozinho!? – Choramingou.

- Pensando, só...

- Ahh, por que não vem comemorar a chegada de alguns calouros conosco?

- Não, tudo bem... eu prefiro ficar aqui.

- Gakupo...

Kaito estranhara o comportamento frio de Gakupo.

Mas não lhe restava nada, a não ser deixá-lo.

(...)

- Não virá gravar hoje?

- Não. Não tenho nada o que gravar.

- Pelo menos fique conosco.

- Tudo bem, Kaito. Aqui fora sinto-me melhor... – E continuou seus movimentos com a katana. Foi quando Kaito percebeu que Gakupo sabia lutar. E muito bem.

A verdade era que Kaito não conhecia o passado de Gakupo.

Nem um pouco.

- ... – Hesitou – Tudo bem, mas não reclame quando eu te obrigar a me ensinar a usar uma espada, ok!? Já vou avisando!

- ... – Sorriu – Claro, claro... agora, vá logo se divertir! – E empurrou-o.

- Hey!

- Não deixe a Miku te esperando, seu doente!

- O quê?! – Corou, é lógico.

- Vá logo!!!

Mas apesar de tudo, Gakupo via em Kaito sua maior compania.

Pois fora ele que tanto o acolheu quando o samurai ingressou para a equipe.

(...)

A brisa tomou certa intensidade. E ficou fria. Gakupo, com a astúcia que um samurai deve ter, rapidamente notou uma presença estranha do local. Virou-se e apontou a katana para o pescoço de alguém.

- Vá com calma, samurai. Eu apenas vim conversar com você... – Era ele.

- Quem é você?! – Gakupo fitou os olhos esverdeados daquele jovem.

- Alguém irrelevante...

- O que quer?! – A katana ainda estava em seu pescoço.

- Já disse... conversar com você, meu caro Gakupo...

- Como sabe meu nome!?

Limitou-se a sorrir.

(...)

- Meu... coração?!

- Sim,eu vejo que ele está manchado pela inveja, não é mesmo? Seus amigos fazem mais sucesso que você, e aos poucos estão te deixando de lado...

- Não é verdade!

- Admita, samurai! Eu sei que é isso que você sente! Ou não quer acreditar que eles preferem Kaito à você...!?

Como as palavras daquele jovem poderiam estar fazendo tanto mal a Gakupo? Como ele poderia saber de tanta coisa?

- Cale-se! – E moveu sua katana com a intenção de cortá-lo.

- Muito lento... – Quando percebeu, aquele jovem já estava atrás de si. – Ouça, Gakupo. Eu sei que você sofreu muito antes de vir pra cá... afinal, a vida de um samurai não é daquelas de se ter inveja...

Gakupo ficou ainda mais perturbado com aquelas palavras. Soltou a katana e olhou para baixo. Os dois ficaram em silêncio, até que o samurai escutou um barulho, algo parecendo um gatilho. Voltou seu olhar para o jovem desconhecido à sua frente e o viu portando uma arma.

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- Vê isso?! Não é uma arma muito convencional... – Sorriu, irônicamente – Um tiro, apenas... – E de súbito, já se encontrava bem perto de Gakupo, apontando a arma para seu pescoço - ...e a consciência simplesmente desaparece...

Gakupo parou. Não conseguia se mover. Apenas olhou para aquela arma, apontada para si, tão perto.

- Eu deixo você tentar... mas também quero algo em troca, claro.

- Eu não...

- Sei que a primeira consciência que você ‘roubar’ fará você sentir-se melhor... pegue...

Entregou aquela arma para Gakupo. O jovem de cabelos roxos olhou-a.

- Apenas tome a consciência daqueles chamados seus ‘amigos’. E traga Miku para mim.

- Miku?! Mas...

- O que foi?

- O que quer com ela!? – Gakupo sabia dos sentimentos que Kaito nutria pela garota.

- Ela simplesmente me pertence...

- O que...?!

- E não ouse matar Kaito. Ele vai sofrer muito ainda por tentar roubar Miku de mim... – Seu olhar ficou ainda mais sombrio – Agora vá, samurai. E cumpra o seu dever.

Afinal, a honra é o principal valor que um samurai prega, não é verdade...?

(...)

- Rin, eu vou indo. Amanhã eu tenho várias músicas a gravar! – Disse Gumi, despedindo-se de Rin.

- Claro, tudo bem, Gumi. Amanhã nos vemos!

- Hai, hai. Mata ashita!

- Mata neh! – E Rin continou a caminhar pelos jardins, de volta ao seu quarto.

Já era tarde da noite.

Escutou passos entre as folhagens do jardim. Assustou-se.

- Quem está aí!? – Virou-se e se deparou com Gakupo, parado. – Ah, é só você, Gakupo?! Não me assuste assim!

- O que aconteceria... se as pessoas fossem controladas pelas outras?

- Hã?! O que quer dizer?!

- A resposta... está no íntimo de cada um... – E Gakupo apontou a arma para Rin.

- G-Gakupo?!

Até que o grito de Rin e o barulho do tiro chegaram aos ouvidos de Kaito, pela primeira vez...

E todo esse aparente pesadelo começou...

(Quebra de tempo – de volta ao presente)

Kaito ouviu aquela história, abismado. Não poderia acreditar.

Seus amigos não o reconheciam mais... pois não possuíam mais consciência?

- Não... não posso crer que Gakupo foi capaz de fazer isso! – Kaito tentava ter esperanças. – Foi você! Você o está obrigando a fazer isso!

- Idiota! Não vê que eu não estou controlando seu ‘amigo’? Eu não atirei em Gakupo... – Aquela pessoa sorria, demasiadamente – Ele está agindo com plena CONSCIÊNCIA!

- Gakupo! Por quê?!!?

- Len...

- O quê?!

- Len foi o mais difícil... A ligação dele com a irmã era forte demais. A arma quase entrou em colapso ao tomar sua consciência. Mas confesso que senti-me melhor. Não suportava mais aquele garoto... – Gakupo segurou a katana com as duas mãos.

- Como... – Kaito ficou nervoso. Também segurou a sua espada com mais força - ... você pode dizer algo assim!? Não se lembra de tudo que nós três passamos juntos!? Gakupo, por favor!

- Nunca distraia-se... – Gakupo já estava com a katana no pescoço de Kaito - ... no meio de uma luta.

Aquela pessoa apenas afastou-se em alguns passos, sorrindo.

- Finalmente... vai começar. Veja, Miku. – E pegou no rosto da jovem, com a intenção que ela também visse a luta. – Veja seu adorado morrer...

Kaito não conseguiu mover-se...

... antes de ver seu sangue espalhar-se pelo chão.

(...)