If It Was Diferent...

O piquenique e a história de Trudy Willians


Eu não estava entendendo definitivamente nada. Bom, desde o dia em que tudo mudou em um solavanco, era difícil entender qualquer coisa. Mas enfim, eu nunca pensei que ia encontrar os Pevensie agora.

-Trudy! – Pedro exclamou. Abri um grande sorriso ao vê-lo e corri até lá, abraçando-o com força.

Ao perceber o que havia feito, senti minhas bochechas queimarem com a vergonha; eu havia abraçado um homem. Isso não é legal, definitivamente. Separei-me do aperto quente e gostoso do abraço de Pedro e encarei Susana.

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-Su, senti muitas saudades de você!!! – eu a abracei com força.

Bem, Susana era a minha melhor amiga e eu passei 1 ano em Nárnia sem vê-la e... espera aí, 1 ano se passou e os Pevensie nem sentiram minha falta? Nossa, fico surpresa do quanto as pessoas me amam. Ainda bem que só brigo quando tentam matar/ferir a mim ou aos meus queridos...

-Nem mesmo sentiram minha falta em todo esse tempo? – perguntei um tanto decepcionada com os dois.

-Do que está falando? – Susana perguntou erguendo uma sobrancelha e usando seu olhar de dúvida que funcionava como marca registrada. – Passaram-se apenas 2 dias desde que te vimos, Trudy...

Cerrei os olhos. Vasculhei em minhas lembranças alguém me contando que o tempo entre o meu mundo e Nárnia era diferente, mas ninguém havia dito nada. Talvez pelo fato de que os telmarinos desconheçam meu mundo.

-Ainda estamos em intervalo de aulas? – perguntei esfregando minha cabeça, que doía de maneira horrenda.

-Sim, voltamos amanhã – Susana disse. – O que andou fazendo durante esses dois dias?

Oh, como eu queria contar a eles que estava numa terra maravilhosa chamada Nárnia, aonde eu era princesa, vivia aventuras maravilhosas, tinha aulas com um velho baixinho sobre criaturas mágicas... mas eu não podia. A não ser que eu quisesse alguns dias na ala psiquiátrica de um hospital qualquer.

Em vez de contar qualquer coisa, dei de ombros:

-O mesmo de sempre... ajudando a senhora Willians com as roupas.

-Por que chama sua mãe pelo nome? – Pedro perguntou sem entender.

Como contar que Janine Willians não era minha mãe biológica? Já sei: é só NÃO contar. Minha história é muito complexa para qualquer um entender.

-Eu não sei, já me acostumei com isso. Eu vim pra cá antes da guerra começar, ao contrário de vocês. Janine é – eu tentava encontrar as palavras certas para descrever Janine, mas percebi que se fizesse isso, revelaria meu “segredo”. – esqueçam.

Pedro sorriu daquele jeito lindo que só ele conseguia e balançou uma cesta de piquenique que segurava com os dedos.

-Por que temos de voltar às aulas? – resmunguei encarando a cesta e imaginando a comida ali dentro. Meu estômago rugiu, tentado por todas as gostosuras que eu imaginava. Ah, que maravilha; logo na hora em que eu tento parecer uma garota linda e educada, meu estômago faz isso comigo.

-Nem me fale – Pedro disse, ignorando o barulho vergonhoso vindo de mim. – Pelo menos lá temos esgrima...

-Diga por si só, caro amigo. O machismo da nossa sociedade não permite a nós, mulheres, esse tipo de atividade.

-Deixe de ser ranzinza, Trudy – Pedro disse com seu tom brincalhão. – Sei que gosta de artes.

Não pude deixar de sorrir. Primeiro, pelo tom brincalhão que amolecia qualquer um. E segundo, por ele tentar me animar mesmo sabendo que a probabilidade de adiantar era nula.

-Vamos logo, estou doida para comer essas delícias que Marta preparou – eu os chamei indo para o meu canto preferido do parque.

Eles me seguiram e começamos a comer.

Flashback mode on - Narrador Observador:

O lorde Miraz tinha dois irmãos: o rei Caspian IX e Laiane II. A princesa Laiane havia se apaixonado por um plebeu do reino, e com ele casara escondida. Com isso, obteve o ódio de Miraz, mas não de seu irmão Caspian IX. Bem, Caspian construiu para ela uma simples casa na encosta do rio, onde deixou sua irmã vivendo com o marido para tentar encondê-la de Miraz.

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Deu certo por um tempo... até Laiane engravidar. A esposa de Caspian tinha um único filho – Caspian X, o primo de nossa heroína -, ao contrário da esposa de Miraz, que continuava sem engravidar.

Miraz já estava planejando o assassinato do irmão, e da esposa dele também. Quando matasse os dois, ficaria à espera de seu herdeiro homem e assim que ele viesse, Caspian X morreria também. Mas com a gravidez de Laiane, tudo ficaria mais difícil. Seria mais uma família inteira para matar, e pior: ele nem mesmo sabia aonde a irmã e seu marido plebeu estavam escondidos.

Laiane deu à luz uma bela garota com cabelos castanhos claros e os olhos num tom perfeito de cinza esverdeado. Mas ela nem teve a oportunidade de nomear a pequena garota: Miraz estava vindo em seu encontro. Com tudo isso, só teve tempo de colocar sua pequena num cesto, escrever um pequeno aviso e largar o cesto na porta do único que confiava: o futuro tutor de Caspian X.

No bilhete estavam escritas duas curtas frases: “Leve-a de volta à origem, para que Miraz nada possa fazer. Na hora certa, ela voltará”.

O velho apenas pegou o cesto e deixou-o diante da grande floresta que todos julgavam ser amaldiçoada. Olhou para o emaranhado de árvores e pediu solenemente:

-Aslan, meu verdadeiro rei, tu saberás o que fazer. Leve-a à origem.

Aslan, ao ver que o professor havia saído, pegou o cesto com a garota em sua boca, da forma delicada que só Aslan tinha, e levou-a a um outro mundo, a origem dos telmarinos. Quem achou a pequena garota por lá foi Janine Willians, no mesmo ano em que Susana Pevensie havia nascido.

Janine apaixonou-se pela garota desde que a viu, de forma que logo forjou um parto e fingiu que a pequena lhe pertencia. Seu nome agora era Trudy, Trudy Willians.

A garota estudava num internato, o mesmo em que os Pevensie viriam a estudavam. Ela conheceu Susana em uma de suas aulas, a qual tiveram que compartilhar o livro já que a garota Pevensie havia acabado de chegar à Inglaterra. Com Susana, vieram também Lucia Pevensie e Teresa. Ela conheceu Pedro quando estavam na estação de trem, voltando para suas casas, que eles não sabiam serem vizinhas.

Mas essa parte, a própria Trudy deve contar:

Eu estava conversando com Teresa e Melanie, pois Susana estava na banca lendo as manchetes dos grandes jornais de Londres e Lucia estava tentando convencer seu irmão Edmundo a brincar com ela. Mel encarava um garoto lindo, cabelos loiros do tipo que parecia gostoso de passar a mão e olhos azuis claro extremamente penetrantes.

Ele estava conversando com alguns garotos e deu uma risada, revelando seus dentes tão perfeitos quanto o restante de seu rosto.

-Quem é aquele? – pergunto interessada.

-Ele não é lindo? – Melanie pergunta o encarando. – Oh, ele é maravilhoso! E esses olhos? Deus que não permita eu ter um ataque cardíaco aqui mesmo!

Rolei os olhos enquanto tentava segurar o riso.

Quando estava prestes a dizer algo, os olhares de Teresa e Melanie ficaram abobalhados, olhando algo que estava às minhas costas.

-O que diabos estão olhando, bobas apaixonadas? – digo irônica.

Olho para trás ao não receber respostas de nenhuma das duas e me deparo com o grande e forte corpo do garoto louro. Sinto o ar se esvair dos meus pulmões e esqueço-me como respirar por alguns instantes.

-Olá – ele diz para mim com um sorriso estonteante.

Olho para o lado e percebo os olhares ciumentos de Teresa e Melanie. Engulo em seco e decido simplesmente ignorá-las. Teresa bufa e sussurra para Melanie algo como “vamos deixar os pombinhos em paz”.

-Olá – eu disse retribuindo o sorriso.

-Você sabe aonde é a plataforma 2?

Cerrei meu olho direito, ergui minha sobrancelha esquerda e uni meus lábios em uma firme linha reta; como eu sempre fazia quando desconfiava de algo.

-Bem... digamos que você tenha acabado de sair dela – indiquei a plataforma em que ele estava há alguns instantes atrás.

Ele deu uma risada e mexeu no cabelo de uma forma tímida muito fofa. Estendeu a mão para mim e se apresentou:

-Eu sou Pedro Pevensie.

Inclinei minha cabeça levemente.

-Pedro Pevensie? – perguntei. – Oh céus, o irmão de Susana! – acrescentei surpresa. – Ela fala um bocado de você! Como nunca o vi antes?

-Você é amiga de Susana?

-Oh, perdão; nem mesmo me apresentei... sou Trudy Willians, prazer em conhecê-lo.

Ele sorriu.

-Susana também fala um bocado de você – ele fala puxando assunto.

A amizade entre Trudy e os Pevensie se intensificou e logo eles eram inseparáveis. Logo as aulas começariam, Trudy e Susana tinham 15 anos – quase 16 -, Pedro tinha 17, Edmundo tinha 13 e Lucia apenas 9 anos. Os cinco haviam se encontrado pela última vez durante as férias do internato.

Trudy gostava de Pedro cada vez mais. Ela havia acabado de se encontrar com os Pevensie e agora estava voltando para casa. Mas, ouviu um estalo e olhou para trás. Tudo o que havia ali era um buraco.

Trudy se aproximou dele e se abaixou para encará-lo. Sentiu algo a empurrando e então caiu no buraco. Mas no momento em que abriu os olhos, estava sentada em um chão de tijolos, trajando um rico vestido dourado e encarando um homem que lhe parecia bastante velho.

-Já estava na hora, alteza – ele disse fazendo uma reverência. – Tenho de apresentá-la a todos como a filha da princesa Laiane.

E foi aí que soube de toda sua história e tornou-se a Princesa Trudy Wilians.

Flashback mode off.

Olhei para Susana e sorri.

-Tenho de ir para casa – falei. – Janine deve estar preocupada.

Pedro e Su se levantaram imediatamente.

-Nós te acompanhamos, Trudie – Pedro se ofereceu. Meus ouvidos há muito não ouviam alguém me chamando de Trudie... era sempre “alteza” ou “princesa Trudy”, ou no caso de Casp, simplesmente Trudy.

Sorri.

-Sinto muito, mas acho melhor não. Tenho medo do que John pode tentar fazer com Pedro – eu disse referindo-me ao meu pai adotivo.

-Ah, eu posso dar uns socos no senhor Willians – Pedro disse estalando os dedos e sorrindo.

Minha expressão ficou séria.

-Não quero você se metendo em nenhuma briga, esqueceu, Pedro Pevensie? Brigas não são necessárias a não ser que você esteja sob ameaça de morte. Vou ficar muito triste se te ver brigando com alguém.

Pedro rolou os olhos. Levantei-me também e ajeitei a barra da saia. Eu ainda teria de arrumar minhas malas para o internato... se bem que Janine já devia ter feito isso.

-Até amanhã – murmurei sorrindo. – Minhas lembranças a Lucia e Edmundo.

Virei-me e fui andando calmamente para a minha casa.