PDV KARINA

Estava saindo da balada com minhas melhores amigas Thabata e Juliana. Olhando no relógio percebi que eram quatro da manhã. Estava realmente tarde e nós precisávamos ir embora.

A rua tinha poucas pessoas que deveriam ter acordado para ir trabalhar. Fomos rindo e conversando até chegarmos a um beco escuro e estreito pelo qual devíamos passar pra chegar à minha casa.

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Peguei um jornal na porta de uma casa cuja manchete era:\"DESAPARECIMENTOS E MORTES:VÍTIMAS SÃO ENCONTRADAS SEM NENHUMA GOTA DE SANGUE NO CORPO\"

- Vocês viram isso? O que será que está acontecendo?

Olhei pra elas e percebi que seus olhos estavam vermelhos, seus cabelos pegavam fogo e elas eram mais brancas do que giz. Seu corpo tinha uma mistura horrenda de bode e cobre:

- Meu Deus, o que vocês são?

Thabata sorriu pra mim de um jeito medonho e eu saí correndo, jogando o jornal no chão. Mas, não era rápida o suficiente pra aquelas coisas. Algo se chocou contra mim e eu caí no chão.

Juliana segurava meus braços enquanto Thabata se aproximava:

- O que vocês querem? Eu não tenho nada. O que vocês são? - eu gritei.

- Somos empousai e queremos o seu sangue. - disse Thabata.

- O quê? Já ouvi falar disso, são como vampiras. - eu estava desesperada e tentava me levantar, mas Juliana não deixava. Thabata pegou o jornal do chão.

- Leu a manchete com atenção Karina? - ela ergueu o jornal e a ficha caiu.

- São vocês não são? Estão matando pessoas pra se alimentar do sangue delas, não é? E eu sou a próxima. - o pânico crescia dentro de mim.

Thabata se ajoelhou e sussurou com a boca em meu ouvido:

- Você é esperta. Seria um ótimo aperitivo, mas... - ela se endireitou e falou alto - Estamos formando um exército e Perséfone decidiu que seus esforços serão necessários.

- Perséfone? Ela não é a deusa da primavera na mitologia grega? - eu estava fazendo de tudo pra ganhar tempo.

- Acertou de novo e adivinhe: os deuses existem e tem filhos com mortais. E agora nós, empousai estamos preparando uma batalha contra eles. É uma longa história, te explico na sua nova vida. - suas presas cresceram e as de Juliana também.

- NÃO. NÃO, POR FAVOR NÃO. - eu me debatia mas Juliana não queria me soltar.

- Calma, Karina. Você não vai morrer. Só vai doer um pouqinho - disse Thabata.

- É Kaah, é como morrer e ressucitar, o veneno é terrível, mas calma. Passa logo e você vai querer sangue. - disse Juliana pela primeira vez.

- NÃO, NÃO, NÃO. ME DEIXEM IR. SOCORRO. - eu queria me soltar, mas Thabata me deu um murro no estômago me fazendo bater a cabeça e ficar desnorteada. Doía muito e o pior ainda estava por vir.

- Você vai ser ótima pra gente. Pena que não podemos matá-la.

As duas se aproximaram do meu pescoço, uma de cada lado e eu vía lampejos de seus rostos. Hora humanos, hora monstros. Esses lampejos vinham de segundo em segundo e meu estômago doía.

- NÃO, NÃO, NÃO. AAAAHHHH. - eu soltei meu maior grito - PAREM, PAREM, PAREM.

Thabata colocou a mão em meu pescoço e apertou minhas cordas vocais me impedindo de gritar.

Mas, o pânico só crescia e o momento que eu adiava chegou. As duas cravaram os dentes em meu pescoço.

De repente foi como se tivessem tacado fogo em meu pescoço inteiro misturado com absinto e veneno. E depois senti meu sangue sendo chupado por elas. Meu pescoço queimava e eu só gritava, gritava e gritava.

Elas se afastaram e lamberam os lábios sujos de sangue.

A dor lancinante passou para as minhas veias e logo para o corpo todo. Eu tremia no chão e gritava. Eu queria me livrar daquele fogo. Eu queria ajuda. Aquele fogo me queimava por inteiro e minha cabeça parecia que ia explodir.

Thabata e Juliana riam. Gargalhavam com o meu sofrimento. Eu me debatia e me contorcia e com certeza gritava, berrava. Se não fosse pela dor, a risada delas me arrepiaria, mas eu não conseguia pensar em nada além da dor.

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Thabata mordeu o dedão da mão e ele começou a sangrar. Juliana fez o mesmo e elas pingaram o sangue em minha boca aberta. Eu não queria, mas fui forçada a engolir e tão repentina quanto surgira, a dor passou.

Thabata e Juliana sorriam e eu arquejava, respirava forte e pesadamente. Quando ví que era seguro me sentei sentindo o coração disparado. Olhei pra meu corpo.

Eu tinha unhas enormes, uma perna de bode e a outra de cobre. E de repente senti minha garganta queimar. Instintivamente coloquei a mão nela. Juliana reparou:

- É a sede de sangue, Karina. Você precisa dele. Toma, beba isso por hora.

Ela tirou um cantil do bolso e só agora percebi que estavam em suas formas humanas.

- Como posso me transformar em humana? - perguntei.

- É só pensar na forma que quer. Pode se transformar no que quiser. Criança, adolescentes, adulta, idosa, homem, mulher, tudo. Beba. - ela me entregou o cantil.

Sem pensar duas vezes levei o cantil à boca e senti o gosto de sangue. Bebi toda a bebida, porque era disso que dependia minha vida. O sangue acabou, mas eu continuava insatisfeita.

- Eu quero mais. - disse.

- Vá com calma Karina. Iremos conseguir mais, mas se acalme. - disse Thabata.

- Eu quero mais - repeti olhando o chão.

- Controle-se Karina. - disse Juliana.

- EU QUERO MAIS. - gritei olhando para elas.

Thabata se levantou.

- Muito bem. Já temos uma líder Juliana. Venha Karina. Vamos caçar. Essa é a melhor hora para boas presas.

Eu e Juliana nos levantamos e eu retomei minha aparência anterior. Podia sentir o cheiro de sangue por perto e isso me excitou para querer bebê-lo. Eu precisava de sangue. Agora.

Saímos do beco e fomos caçar. Essa era minha noite de adaptação a minha vida nova.

Quando foi as seis da manhã o sol começou a surgir e essa foi a deixa para irmos embora. Estávamos em um beco sem saída e tínhamos matado três garotos lamentavelmente lindos. Atraímos eles é claro, com nossa beleza e entre beijos aconteceu a morte.

A polícia provavelmente encontraria o corpo, mas precisávamos ir. Nos transformamos em empousa e voamos por cima das casas e prédios da cidade. Eu estava satisfeita.

Pra onde vamos? - perguntei.

Para o Mundo Inferior. Perséfone precisa te conhecer e você precisa saber a razão de ser uma empousa. - disse Thabata.

E com isso segui meu rumo.

Há algum tempo atrás nunca me passou pela cabeça matar, nem mesmo para sobreviver. Mas, nessa vida nova, matar estava sendo praseroso.