O Humano

Capítulo 52- Continuada


- Tem certeza que você quer ir? – Perguntei nervoso.

- Já é a décima vez que você me pergunta isso Ian! Sim, eu quero ir!

- Mas Peg... Você não precisa ir, damos conta de tudo...

- Ah Ian, eu já me sinto inútil de não conseguir nada... Por favor... Me deixa ir! Vou me sentir melhor!

- Não é a questão de deixar, eu poderia deixar você fazer Cooper na estrada, já disso isso uma vez, mas eu tenho medo de você se machucar...

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- Isso eu também tenho Ian... Tenho medo por você! Mas olha, vai dar tudo certo! Vamos voltar sã e salvos!

- Tudo bem Peregrina, o que você não me pede que eu não faço?

Era uma pergunta retórica, ela sorriu e me abraçou. Também sorri, era um bobo mesmo, por mais que não quisesse isso, por ela... Eu não tinha opção, não com Peg me pedindo desse jeito...

- Então vamos recolher nossas coisas! Já que você quer por que quer isso... – Levantei do colchão e fui abrindo meu baú de roupas. - Pelo menos não é mais por causa do Jared! – Resmunguei.

- Não, não é. – Exclamou se levantando para me ajudar. – É por causa de todos, principalmente por sua causa, e por Jamie.

- Sempre altruísta! – Eu ri.

Continuamos arrumando as nossas coisas, não tinha muito a fazer, Peg não tinha muitas roupas, precisava de novas. Eu tinha algumas, poucas, mas que serviam bem, quase todas escuras para não aparentar sujeira e encardido.

Essa era a primeira incursão de Peg com esse corpo novo, eu estava suando de tanto nervoso. Morria de medo de perdê-la, nem consigo imaginar como foi ruim aquela época que pensei que ela iria embora...

Resolvi fazer uma piada para quebrar o nervoso.

- Você já acha o Jared feio?

- O que? – Ela arregalou os olhos, sem compreender.

- É isso mesmo. – Continuou sem entender. – Lembra que eu disse que um dia você ia gostar de mim? E que falaria que o Jared é feio, que nem você acredita que um dia o amou?

- Pois bem! – Sorriu com a lembrança. – Agora realmente eu acho o Jared feio... Agora estou com você e nunca fui tão feliz!

- Ah Peg... – Me aproximei para beijá-la. – Eu te amo tanto...

- Eu também te...

- Hey Peg! Hey Ian! – Jamie gritava do lado de fora, interrompendo totalmente nossa declaração de amor. – Posso entrar?

- Pode sim Jamie! – Dei uma risadinha e separei um pouco nossa aproximação recente.

Jamie abriu a porta e deu de cara com nós dois.

- Não estou atrapalhando nada, não é? – Ele nos olhou com malícia.

- Não Jamie... Você sabe que nunca me atrapalha... – Peg disse e eu não contive meu riso. – Ian! – Ela me repreendeu.

- Ok, eu sei que vocês estavam... Hum, bem ocupados... – Ele ergueu uma sobrancelha e eu ri. – Mas mandaram-me chamá-los.

- Ok Jamie, estamos indo... Só nos deixe terminar o que estávamos fazendo...

Peg me deu um cutucão, Jamie revirou os olhos e saiu.

Eu olhei para Peg, ela também me olhava. Puxei seus braços e a apoiei nos meus ombros, deixando-a a altura para que pudesse beijá-la. Ela colocou seus braços em torno ao meu pescoço e se agarrou ao meus cabelos.

Puxei seu quadril para mais perto de mim, nos deixando juntos um com o outro. Nossos lábios se tocaram, formando uma verdadeira explosão de vulcão, com fogo, tudo muito urgente e apressado.

- Temos que ir Ian... Eles estão nos esperando... – Peg disse com os lábios ainda grudados aos meus.

- Tem razão, vamos.

Desci ela do meu colo e dei a mão para ela. Com a outra mão, peguei a sacola que usaríamos para levar nossas poucas coisas para a viagem. Olhei meu quarto uma vez, para ver se não esquecíamos de nada, e saímos pela porta, rumo a incursão.

Antes de tomarmos a decisão se Peg iria ou não, procuramos várias alternativas para achar outra pessoa que pudesse nos ajudar. Fui um dos que brigou até o fim para que ela ficasse em casa e não fosse, mesmo que eu tivesse que ir sozinho.

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Pensamos em Sunny, mas ela ainda não era confiável, não como Peg pelo menos. Não tinha como comparar as duas, é claro, mas Sunny era novata, tínhamos um pouco de medo de ela nos entregar, e além de tudo, Peg era Peg...

Por fim decidimos levar Peg, por mais que eu não quisesse, e não quero, tivemos que escolhê-la. A incursão de hoje seria pequena, não era tão necessário levar um batalhão, não com Peg para nos acompanhar.

Jared e Mel iam juntos, é claro, esses eram dois que jamais se separavam. Brandt e Aaron estavam loucos para ir também, agora eles confiavam, e muito, na Peg. Eu ia acompanhar Peg, num total de seis humanos, o suficiente.

Chegamos no escuro do túnel para a saída, eu hesitei um pouco, ainda querendo que Peg desistisse e voltasse atrás. Mas é claro que ela não ia querer fazer isso, ficava cada hora mais excitada com a idéia de conhecer lugares novos. a medida que chegávamos perto da saída, ela enlouquecia.

Vimos os outros, Jamie tinha razão, eles estavam nos esperando já fazia um bom tempo. Podíamos ver que alguns estavam se equilibrando em uma perna só para aliviar o peso da outra, atitude de quem esperou muito.

- Até que enfim! – Aaron resmungou. – Pensei que vocês tivessem desistido!

- Desculpe Aaron, nós atrasamos um pouco. – Murmurei.

- Vamos então. – Jared coordenou.

Olhei para os lados, notei que o depósito estava bem vazio, não tinha mais nenhuma caixa. Até os remédios de Doc estavam se esgotando, realmente precisávamos fazer essa incursão, logo.

Fomos saindo um por um pela abertura de saída, Peg dava pulinhos ainda excitada. Logo estávamos no quente do deserto, a areia já vinha nas nossas faces e incomodava.

Começamos a por as coisas que íamos precisar por esses dias na van e no caminhão de mudanças. Peg não agüentava levar muitas coisas, a maioria era eu que levava, mas isso só fazia com que ela não parasse quieta nenhum segundo.

- Hey Peg, deixa eu segurar sua mão, desse jeito que está pulando, não vai para na superfície do planeta mais! – Ri enquanto ela pulava.

Logo após esse momento lindo de amor e de felicidade algo ocorreu, escutei um barulho incomum, vindo de um lugar bem próximo a nós, próximo demais para fugir. Um arrepio percorreu minha espinha, mas eu sabia que já era tarde demais...

Era uma armadilha, uma ótima armadilha.

Nós devíamos ter prestado atenção, antes de sairmos, tínhamos que olhar os arredores, tínhamos que ver se não tinha ninguém a espera, alguém nos observando e esperando o momento certo para dar o bote.

Meu coração acelerou, não ia adiantar nada disso. Por mais que fossemos cuidadosos, bem mais do que já éramos, não teria como prever isso, eles tinham armado uma ótima armadilha.

Tudo estava perdido.

Os feixes de luz vieram diretamente para onde estávamos, não deu nem tempo de pensar em alguma forma de fugir, ou pelo menos tentar evacuar o resto da caverna. Mesmo que morrêssemos agora, mesmo que eles nos possuíssem e me separassem de Peg, pelo menos os outros teriam uma chance.

Todos nós congelamos, eu tive uma última reação de sobrevivência antes de tudo. Peguei a doce mão de Peg e a puxei com toda a força, até demais do que precisava, para trás das minhas costas. Mesmo que algo acontecesse comigo, não deixaria, jamais, de tentar ajudá-la.

Os primeiros a serem vistos foram Jared e Melanie, o casal que estava feliz por superar dificuldades e estar juntos, agora seriam novamente separados.

A noite estava escura e sombria, mesmo assim, dava para ver perfeitamente cada silhueta de Buscador na nossa frente. A lua iluminava o contorno deles, não dava para ver os seus rostos, mas eu já podia imaginar o brilho nos olhos deles.

O mesmo brilho que nos olhos de Peg expressavam amor e confiança.

Eram oito Buscadores contra seis humanos, se não bastasse o menor número, eles também estavam armados. Como todo o Buscador, cada um deles usava uma arma, prontos para matar.

Cada arma era apontada para um de nós, uma delas estava apontada para o centro de meu peito, mortalmente. Naquele momento eu fiquei feliz de ter Peg nas minhas costas, pelo menos ela poderia ter uma vida sem mim.

Tudo o que passamos juntos, tantos dias de amor... Tanto que esperei para tê-la, tanto que sofri para isso, e agora que estávamos juntos, que nos amávamos... Agora tudo estava acabado, eles tinham nos pegado, e não havia meio para resolver isso.

Não devia ter permitido que Peg viesse, como fui burro! Sabia que não era uma boa coisa, sabia que ela corria riscos... Se pelo menos estivesse sozinho, eu morreria e ela poderia ter uma chance... Por mais que ela sofresse com nossa morte.

Senti a pílula de veneno no meu bolso, eu teria que usá-la.

- Todo mundo parado, e todos calmos. – O líder dos Buscadores gritou.

- Espera, calma aí, nada de engolir nada! Minha nossa, clama! Espera, olha! – Outro Buscador gritou quando viu que estávamos prontos para nos matar.

O homem que estava no centro pegou uma lanterna e virou para o seu próprio rosto. Naquele momento, meu coração voltou a bater, eles eram humanos... Eu nem podia acreditar no que estava vendo.

O homem tinha um rosto moreno, cabelo escuro com marcas da idade e os olhos... Os olhos eram castanhos escuros, apenas essa cor, sem nenhum tom prateado que nessa situação era um problema.

- Viu? – Ele disse em sinal de paz. - Okay, agora, não atire em nós e nós não atiraremos em vocês. Certo? – Colocou a arma no chão para mostrar que não ia fazer nada. - Pessoal, vamos. – Ele acenou para os outros colocarem as armas no chão. - Nós encontramos seu esconderijo aqui, esperto, tivemos sorte em encontrá-lo, e decidimos ficar por aqui e nos apresentarmos. Não é todo dia que se acha outra célula de rebeldes. – Deu uma risada. - Olha para a cara de vocês! O que? Vocês não achavam que eram os únicos resistindo? – Riu novamente.

Sim, achávamos isso. Eu não tinha palavras para isso, era tudo muito estranho... Continuamos sem movimentar nenhum músculo.

- Acho que eles estão em choque, Nate. – Outro homem disse.

- Quase os matamos de susto! – Uma mulher disse. - O que você esperava?

Eles esperavam alguma reação nossa, mas continuávamos sem fazer nada. Aquilo era novo para nós, mostrava que ainda existia esperança, por mais que ela fosse pequena, mas existia!

Jared foi o primeiro a tomar uma atitude.

- Quem são vocês?

O homem que parecia ser o líder, cujo nome parecia ser Nate, riu novamente antes de falar.

- Eu sou Nate, prazer, apesar de achar que você ainda não está sentindo o mesmo. Esse é Rob, Evan, Blake, Tom, Kim e Rachel aqui comigo.

Ele apontou para as pessoas que estavam atrás dele, mas o mais estranho de tudo foi que ele se esqueceu de um deles. Esse outro parecia querer se esconder, ficava meio nas sombras.

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Ele era ruivo, como Sharon e Gladys, a ex mulher de Walt. Ele era o mais alto do grupo, e isso chamava atenção, por mais que ele parecia tentar se esconder a cada momento.

Outro fato que destacava nesse homem, era que ele não possuía nenhuma arma, isso era bem estranho, era uma questão de sobrevivência, ele precisava de uma arma. Notei que ele me encarava, mas eu duvidava que era eu, com certeza era Peg escondida nas minhas costas.

Isso era um problema grave, Peg era uma alma. Deveria ser por isso que ele olhava tanto para meu lado, certamente notou isso antes que os outros e estava observando as atitudes de Peg. Tentei me colocar mais na frente dela para protegê-la.

- Mas há vinte e dois de nós no total. – Nate continuou.

Nate estendeu a mão como um gesto de paz para que Jared o cumprimentasse. Ele respirou fundo, depois deu um passo a frente para cumprimentar. Isso significava que estava tudo bem, respiramos fundo e relaxamos.

- Eu sou Jared. – Ele apertou a mão dele e sorriu. - Essa é Melanie, Aaron, Brandt, Ian e Peg. Há trinta e sete de nós no total.

Tremi quando Jared falou o nome de Peg, isso me preocupou muito, eles podiam entender mal o que Peg fazia e tentar contra ela. Rapidamente e imperceptivelmente eu mudei a posição dela, para que ela ficasse totalmente invisível ali atrás.

Ela entendeu meu recado, e não hesitou em ficar quieta e paralisada. Ela deveria saber tanto como eu que ainda corria perigo, e muito perigo.

- Uau. Essa é a primeira vez que somos superados nesse fator. – Nate se surpreendeu e arregalou os olhos.

Agora eu que arregalei os olhos, já estava surpreso ao saber que a esperança estava mais perto que imaginávamos... Mas quando me dei conta do que ele disse, que existiam outros, meu coração bateu irregular. Muitos humanos ainda resistiam.

- Você encontrou outros? – Jared perguntou, impressionado.

- Há três células separadas de nós que conhecemos. Onze com Gail, sete com Russel e oito com Max. Nós mantemos o contato. – Cada palavra que ele dizia eu me surpreendia mais. - A pequena Ellen estava com Gail, mas decidiu fazer companhia com meu amigo Evan aqui. Carlos ficou com a Cindy que estava com Russel. E, claro, todo mundo precisa de Cal de vez em quando... – Parou de falar, como se tivesse revelado algo que não podia.

Os olhos de Nate pararam no ruivo encarado, era o que eu mais temia. Não sabia se tinha medo por causa da vida de Peg, ou se tinha ciúmes.

- Bom, melhor esclarecer isso logo. – O homem que estava do lado de Nate falou.

Nate nos olhou para nós analisando.

- Okay, Rob está certo. Vamos resolver isso. – Parou e respirou fundo. - Tipo, todo mundo fica calmo e nos ouça. Com calma, por favor. Isso incomoda as pessoas às vezes.

- Todas às vezes. – Rob murmurou.

Isso estava bem estranho, o que eles estavam escondendo? Que mistério.

- O que é? – Jared perguntou.

Nate respirou alto, depois gesticulou para o homem ruivo que olhava muito para Peg. Ele deu um passo a frente, sorrindo timidamente.

- Esse aqui é o Cal. Ele está com a gente, então não percam a cabeça. Ele é meu melhor amigo, salvou minha vida centenas de vezes. Ele é da família, e nós não aceitamos gentilmente quando alguém tenta matar ele.

Matar ele? Mas por que iríamos querer matá-lo? Ele era como os outros, não era? Uma mulher pegou sua arma e a apontou para o chão.

- Não, tá tudo bem, Nate. Vê? – O ruivo falou. -Eles têm um também. – Ele apontou para Peg e eu fiquei tenso, meu corpo enrijeceu. - Parece que eu não fui o único a me aculturar.

Foi ai que percebi a tamanha preocupação de todos, era por causa que eles tinham uma alma em companhia. Certamente isso causaria muita agitação se fosse outra resistência, mas como nós já estávamos acostumados com Peg, era normal.

Cal sorriu para Peg, eu quase pulei em cima dele de ciúmes. Ele veio na sua direção, com a mão estendida em cumprimento, ele era muito abusado.

Peg, educada como sempre, se afastou de mim para cumprimentá-lo. Eu olhei para ela dando um aviso com os olhos, mas ela ignorou, se sentia a vontade com a outra alma.

- Queima Flores Vivas. – Cal se apresentou.

- Peregrina. – Peg respondeu.

- É...extraordinário te conhecer, Peregrina. – Cal disse isso e mais uma pontada de ciúmes me atingiu. - E eu achava que era o único.

- Nem chegou perto de ser. – Peg respondeu lembrando de Sunny. - Talvez não fossemos nem um pouco raros como pensávamos.

- É mesmo? – Cal levantou a sobrancelha intrigado. - Bem, então talvez haja esperança para esse planeta afinal de contas.

- É um mundo estranho. – Peg murmurou.

- O mais esquisito de todos. – Cal concordou.

Fim!!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.