O Humano
Capítulo 22- Enterrado
<p> <p>Ela tentou sentar, estava mole. Minhas mãos foram para a sua testa, mantendo-a abaixada. Ela se virou para tentar ver alguma coisa, tentou levantar novamente mas eu a impedi.</p> <p> </p> <p>- Calminha. – Eu disse. - Não tente levantar.</p> <p> </p> <p>- Ajuda. – Ela pediu.</p> <p> </p> <p>- Peg? – Jamie perguntou.</p> <p> </p> <p>Ele veio correndo na nossa direção.</p> <p> </p> <p>- Eles não esperarão. - Jamie me disse. - Vai acabar logo.</p> <p> </p> <p>- Me ajude a levantar. – Ela pediu.</p> <p> </p> <p>Jamie ergueu as mãos para pegá-la, eu balancei a cabeça.</p> <p> </p> <p>- Eu a pego.</p> <p> </p> <p>Passei os braços em baixo dela, com muito cuidado, tentando não fazer nenhum movimento brusco nem por a mão em lugares machucados. Eu a ergui e ela gemeu.</p> <p> </p> <p>- O que Doc me deu? – Perguntou.</p> <p> </p> <p>- Ele te deu um pouco da morfina que sobrou para que ele pudesse te examinar sem te machucar. De qualquer forma, você precisava dormir. – Respondi.</p> <p> </p> <p>- Alguém não vai precisar do remédio mais do que eu? – Ela disse reprovando.</p> <p> </p> <p>- Shhh. – Sussurrei.</p> <p> </p> <p>Ela virou a cabeça para os humanos, bem na hora que Trudy falava.</p> <p> </p> <p>- Walter sempre via o lado bom das coisas. Ele podia ver o lado brilhante de um buraco escuro. Eu sentirei falta disso.</p> <p> </p> <p>Ela deu um passo a frente, jogou um pouco de terra na cova de Walt, escutamos o barulho fraco da terra caindo. Depois ela foi pra perto de Geoffrey, cuja vez da despedida era agora. Ele deu um passo a frente.</p> <p> </p> <p>- Ele encontrará sua Gladdie agora. Ele está mais feliz onde ela está. - Geoffrey jogou a terra.</p> <p> </p> <p>Carreguei Peg para o lado direito da fila de pessoas, ela também merecia jogar um punhado de terra no buraco. Peg merecia bem mais do que fazíamos a ela.</p> <p> </p> <p>Kyle deu um passo à frente, ela tremeu a vê-lo, e eu a apertei gentilmente para protegê-la.</p> <p> </p> <p>- Walter morreu humano. - Kyle disse. - Nenhum de nós poderia pedir mais do que isso. – Jogou seu punhado de terra. </p> <p> </p> <p>Kyle foi para perto do resto do grupo, nem preciso comentar que sua atitude foi idiota.</p> <p> </p> <p>Era a vez de Jared, ele deu um passo a frente.</p> <p> </p> <p>- Walter era bom dos pés a cabeça. Ninguém se igualava a ele. - Ele jogou sua terra.</p> <p> </p> <p>Depois foi Jamie, Jared deu um tapinha no seu ombro, um conforto.</p> <p> </p> <p>- Walter era corajoso. Ele não tinha medo de morrer, ele não tinha medo de viver, e... ele não tinha medo de acreditar. Ele tomou suas próprias decisões e foram boas decisões. - Jamie jogou a terra.</p> <p> </p> <p>Ele se virou para Peg, permanecendo o olhar nela.</p> <p> </p> <p>- Sua vez. – Murmurou.</p> <p> </p> <p>Andy já estava se movendo para frente, uma pá em sua mão, ele não estava disposto a esperar eu e Peg.</p> <p> </p> <p>- Espera. - Jamie disse. – Peg e Ian não disseram nada.</p> <p> </p> <p>Houve uma falação insatisfeita por isso, eu não gostei nada disso. Peg foi a que mais teve compaixão por ele, teríamos que ter respeito. Jeb ordenou a todos.</p> <p> </p> <p>- Vamos ter respeito.</p> <p> </p> <p>- Ian, me ajuda a pegar um pouco de terra. – Peg me pediu.</p> <p> </p> <p>Agachei para ela pegar, coloquei seu peso num joelho para que eu mesmo pudesse conseguir. A ergui e comecei a caminhar para perto da cova.</p> <p> </p> <p>- Walter era o melhor e mais iluminado que um humano pode ser. – Eu disse e joguei a terra.</p> <p> </p> <p>Olhei para Peg, esperando ela falar sua despedida.</p> <p> </p> <p>- Não havia ódio em seu coração. – Ela murmurou. - A sua existência prova que estávamos errados. Não tínhamos o direito de tomar seu mundo de você Walter. Eu espero que seus contos de fadas sejam verdadeiros. Eu espero que você encontre a sua Gladdie.</p> <p> </p> <p>Ela derramou sua terra na cova, e foi isso que selou a morte dele. Andy começou a trabalhar assim que eu dei um passo para trás, Aaron veio com outra pá para ajudar.</p> <p> </p> <p>Eu virei lentamente para facilitar o trabalho deles, pessoas começaram a quebrar o silêncio. Voltei com ela para o colchonete estendido no chão, a coloquei lá. Eu e Doc nos ajoelhamos do seu lado.</p> <p> </p> <p>- Como você está se sentindo? - Doc perguntou, tocando suas costelas.</p> <p> </p> <p>Ela queria sentar, mas eu não deixei, pressionando seu ombro para baixo. </p> <p> </p> <p>- Eu estou bem, talvez eu pudesse andar...</p> <p> </p> <p>- Sem necessidade de forçar. Vamos dar a essa perna alguns dias, okay? - Doc puxou sua pálpebra e iluminou com uma lanterna, eu vi o reflexo de seus olhos.</p> <p> </p> <p>- Hmmm. Isso não ajuda muito um diagnóstico, ajuda? Como está sua cabeça? - Doc perguntou.</p> <p> </p> <p>- Um pouco tonta. Mas eu acho que é da droga que você me deu, não do ferimento. Eu não gosto delas, eu acho que prefiro a dor.</p> <p> </p> <p>Eu e Doc fizemos uma careta.</p> <p> </p> <p>- O que? – Ela perguntou.</p> <p> </p> <p>- Eu vou ter que te drogar de novo Peg, Desculpa.</p> <p> </p> <p>- Mas... por quê? Eu não estou assim tão machucada. Eu não quero... – Ela protestou.</p> <p> </p> <p>- Nós temos que te levar de volta para dentro. – Eu disse interrompendo. - Nós prometemos... que você não estaria consciente.</p> <p> </p> <p>- Tapa meus olhos novamente. – Ela questionou.</p> <p> </p> <p>Ele puxou a seringa do bolso, antes de explicar o por que da droga.</p> <p> </p> <p>- Você conhece as cavernas bem demais. - Doc murmurou. - Eles não querem te dar a chance de adivinhar...</p> <p> </p> <p>- Mas para onde eu iria? – Peg perguntou. - Se eu soubesse o caminho? Por que eu iria embora agora?</p> <p> </p> <p>- Se aplica as preocupações deles... – Respondi.</p> <p> </p> <p>Doc pegou o seu pulso, ela não tentou argumentar. Ela olhou para mim, o lado oposto da agulha. Eu não gostava de ver Peg como traidora, ela não era e nunca seria isso.</p> <p> </p> <p>- Desculpe. – Murmurei e ela caiu, desmaiada.</p> <p> </p> <p>Eu a segurei com delicadeza, fui caminhando de volta para as cavernas. Seria bem mais fácil se ela estivesse vendada, isso me incomodava, vê-la tão largada no meu colo.</p> <p> </p> <p>- Doc, parece que terei que te fazer companhia... – Escutei Kyle resmungar do outro lado.</p> <p> </p> <p>Fiquei feliz com isso, eu estava pensando onde levaria Peg, mas agora eu já tinha a resposta. Sem Kyle, Peg ficaria bem melhor no meu quarto, eu poderia cuidar dela o tempo todo.</p> <p> </p> <p>Entramos na abertura da caverna, todos estavam silenciosos, ainda lamentando por Walt. Escutei Jeb suspirar, ele tinha algo a dizer.</p> <p> </p> <p>- Não sei se essa é a hora certa de avisar, mas não podemos esperar mais. Pessoal, amanhã terá o julgamento de Kyle.</p> <p> </p> <p>Kyle resmungou alguma coisa sem sentido, todos o ignoraram e Jeb continuou.</p> <p> </p> <p>- Compareçam na sala de jogos, e lembre-se, minha casa, minhas regras.</p> <p> </p> <p>- Ok. – Alguns responderam como o costume.</p> <p> </p> <p>Então seria amanhã que Kyle seria julgado, isso era bem bom. As pessoas bem que podiam decidir querê-lo morto, era um peso a menos nas minhas costas, e principalmente por causa de Peg.</p> <p> </p> <p>- Não acredito que eu vou ser julgado por causa dessa coisa. – Kyle resmungou.</p> <p> </p> <p>- Cala a sua boca imunda Kyle! – Gritei.</p> <p> </p> <p>- Calma Ian. – Doc me acalmou. – Vamos, eu preciso ver como está Peg.</p> <p> </p> <p>Minha respiração estava acelerada de raiva, mas tentei relaxar.</p> <p> </p> <p>- Tudo bem, vamos ao hospital.</p> <p> </p> <p>Seria melhor se Doc a olhasse, Kyle deve ter dado uma baita surra com aquelas grandes mãos imundas dele. Carreguei ela até o túnel sul, e a coloquei deitada em uma das macas.</p> <p> </p> <p>Doc suspirou e começou a analisá-la aos poucos, teve uma hora que ele levantou sua camiseta, e eu olhei para o lado com respeito. Não era por que ela não estava consciente que eu ia perder o respeito por ela.</p> <p> </p> <p>- Desconfio que as costelas dela estejam quebradas.</p> <p> </p> <p>- Kyle filho de uma mãe! Como eu odeio ele!</p> <p> </p> <p>- Calma Ian, ela vai ficar boa, eu nem tenho certeza.</p> <p> </p> <p>- Como você vai ter certeza Doc? – Perguntei.</p> <p> </p> <p>- Com o tempo, se ela melhorar, se não doer mais depois de uns dias... ela estará bem.</p> <p> </p> <p>- Tomara mesmo.</p> <p> </p> <p>- Ela precisa de descanso. – Murmurou.</p> <p> </p> <p>- Vou levar ela pro meu quarto.</p> <p> </p> <p>Doc me encarou.</p> <p> </p> <p>Peguei ela no colo novamente, tomando mais cuidado ainda. Virei minhas costas e fui andando pela porta.</p> <p> </p> <p>- Ian, Ian, Ian... – Doc murmurou.</p> <p> </p> <p>- O que foi? – Resmunguei.</p> <p> </p> <p>- Você não está apaixonado?</p> <p> </p> <p>Assustei-me com essas palavras. Eu? Apaixonado? Por Peg? </p> <p> </p> <p>- Doc eu... – A voz sumiu, eu não sabia o que falar. – Vou manter isso em mente, mas...</p> <p> </p> <p>Ele não respondeu, apenas sorriu. Isso não era verdade, Peg era minha amiga. Eu não sabia o que pensar, precisava de um tempo para mim...</p> <p> </p> <p>E agora não era a hora certa, eu tinha que protegê-la antes de tudo! Algo estranho estava acontecendo dentro de mim, mas também ignorei.</p> <p> </p> <p>Por que eu queria tanto levá-la ao meu quarto? Por que tinha algo diferente dentro de mim?</p> </p>
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