By The Way

First Sight


Era sexta-feira, a última de junho, o tão esperado último dia de aula. Depois de hoje, os alunos que estavam sofrendo com o calor intenso de Miami estariam livres da escola quente e infernal durante dois longos meses.

Esse era o único pensamento de Percy naquele momento. Era hora do intervalo, ele estava sentado em um dos bancos do pátio terminando o trabalho do Mike, o de Marshall estava depositado em cima do seu, já finalizado. Mike Chase era um cara loiro, olho castanho, magro, já tinha 18 anos, mas havia repetido a última série do colegial. Ele juntamente com seu melhor amigo Marshall - um cara de pele morena, olhos pretos, tipo atlético – botavam medo em todo mundo na escola, até os guardas da região já haviam desistido de tentar controlar aqueles dois. Percy era o pupilo dos dois desde que os desafiou dizendo que não faria o trabalho de história deles nem que fosse ameaçado de morte; eles gostaram da ousadia do rapaz. No começo, Percy foi resistente, não queria se juntar a eles, não queria ser um deles... Mas ele tinha apenas 12 anos. Logo em seguida, seu pai Kevin Jackson, foi preso por um assassinato que não cometeu, e lá estavam Mike e Marshall pra dar a Percy o que ele não precisava: um ombro pra chorar e uma solução rápida pra aliviar a dor.

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Poucos meses depois Percy vendeu sua TV pra poder sustentar o vício pela heroína e pelo cigarro. Sua desculpa para o uso contínuo de drogas é que ele não agüenta chegar em casa e ouvir o choro constante da mãe,

-”É agonizante chegar cansado da escola e ter que a ouvir chorar por causa do meu pai e das minhas notas” – dissera ele a Mike certa vez.

Há muito Percy havia parado de pensar nos sentimentos de sua mãe. Ele mal ficava em casa, saia de casa pra ir à escola e só voltava tarde da noite, geralmente drogado ou bêbado, todos os dias, aumentando o sofrimento contínuo de Sally.

Logo após seu segundo ano com a dupla, Percy recebera um convite muito esperado pelo garoto de cabelos pretos e olhos verdes, magro e, atualmente, rebelde sem causa, ele fora convidado para ir a uma briga de gangues. Mike e Marshall iam a essas brigas uma vez por mês, ela se dava com gangues de outros bairros disputando por armas em uma briga sangrenta. Na ocasião, Percy ganhou de Marshall um punhal prateado com punho em madeira de seringueira, segundo Marshall, o manteve vivo em sua primeira briga. Mike deu a Percy um revólver calibre 22 com apenas três balas.

-Seja rápido, certeiro e esperto, Percy. Todo mundo aqui não presta, todo mundo atrás dos portões daquele galpão merece morrer. É pra isso que estamos aqui. Sua vida está em jogo, mate ou morra. – dissera Mike com as mãos no ombro do garoto que sustentava seu olhar com muita avidez. Ele estava ansioso, se sentia pronto, queria aquilo.

Queria até a hora que ele se encontrou correndo de caras pelo menos três vezes maiores que ele próprio. Ao perceber que Mike e Marshall não estavam mais ao seu lado, o garoto se escondeu atrás de umas caixas enormes, mas foi achado por um cara do bairro vizinho. Percy levou a melhor, mas foi por pouco. Quando chegou em casa, com um corte profundo perto do olho esquerdo e um mais profundo ainda na perna, sem contar as várias escoriações pelo corpo, ele decidiu que nunca mataria ninguém em uma tentativa moralista de não ser morto.

-E aí, Perseu, terminou irmãozinho? – Perguntou Mike se jogando no banco ao lado do garoto, arrancando-o bruscamente de seus devaneios com o verão que viria.

-Terminei sim! – ele disse entregando o trabalho ao amigo.

No final, Percy se tornara o que não queria antes de tudo isso: um otário subjugado, drogado e fora de controle.

Percy agora cursava o segundo ano do colegial, nesse momento ele teve certeza que ano que vem o cursaria de novo. Não compareceu a uma aula sequer o ano inteiro. Passava todos os dias na sala de Mike, afinal, alguém precisava fazer as lições dele, já que Marshall tinha a namorada pra fazer pra ele.

-Ah cara, é por isso que eu te amo! – Mike disse sorrindo.

-Para de ser falso. – Percy rebateu com um sorriso, fazendo o amigo sorrir enquanto se levantava do banco dizendo que iria procurar a professora de história pra entregar seu trabalho.

Percy se perdeu em pesar ao lembrar-se do seu boletim. Apesar de tudo, ele não queria prolongar seu tempo na escola. Ele soltou um longo suspiro e não percebeu quando uma garota de cabelos pretos e olhos azuis se sentou ao seu lado. Era Ashley, uma garota da sala de Percy que ele só conhecia de vista.

-Oi – ela disse após respirar fundo.

-Oi – Ele respondeu sorrindo.

-hã... pensei que você iria querer seu boletim. – ela disse abrindo a mochila, as bochechas levemente coradas.

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-Pra quê? Já sei que não passei mesmo. – ele disse fingindo na se importar, mas mesmo assim pegou a folha que a garota entregou.

-Tem certeza? – ela perguntou sorrindo.

Ele olhou suas notas e se assustou ao ver algumas notas azuis em equilíbrio com as vermelhas. “Aprovado” dizia uma nota em negrito no canto direito da folha.

-Como isso? – ele perguntou muito assustado. – Eu nem sequer entrei na sala esse ano! E nem me lembro de ter ido ameaçar os professores com um revólver!

-Você pode não ter entrado na sala, mas isso não significa que você deixou de fazer os trabalhos que os professores pediram. – ela disse com um sorriso maroto.

-Como assim?

-Pra todos os professores e pra diretoria e pra secretaria de educação eu te avisava sobre os trabalhos, você fazia e eu entregava em seu nome. Só peço desculpas por alguns que eram seminários e eu não pude fazer.

-Ashley, você fez meus trabalhos o ano inteiro? – ele perguntou abobado agora.

-É... – ela disse encabulada.

-Por quê? Nós nunca nem nos falamos. – ele argumentou.

-Eu sei que não... talvez se você tivesse aparecido na sala um dia sequer, nós talvez teríamos conversado...

-Não sei nem o que dizer.

-Só diga que vamos nos ver esse verão.

-Todos os dias se você quiser! – ele disse sorrindo.

-Perfeito. – ela disse enquanto anotava seu endereço em uma folha cor-de-rosa e passava ao moreno.

-Bom, até mais então, Percy. – Ashley disse se levantando e colocando a mochila de volta nas costas.

-Até Ashley. – Percy disse se levantando também.

A menina deu um passo a frente, mas recuou e pregou um beijo na bochecha de Percy o fazendo sorrir de novo.

Percy estava se sentindo eufórico, aquilo parecia um milagre, ele não estava nem conseguindo pensar direito. O garoto ainda sorria abobado com Mike e Marshall se juntaram a ele naquele banco.

-Que horas é pra ir na sua casa hoje? – Marshall ia dizendo.

-Não vai rolar.

-Porque não? – Percy perguntou voltando a realidade.

-Não falei pra vocês que minha irmã vai vir passar o verão comigo?

-Não, você não disse nem que tinha irmã! – Percy rebateu.

-Pois é, ela pediu pra passar o verão aqui, eu não posso negar isso pra ela. Eu gosto da guria.

Mike morava com o pai, mas o Sr. Chase podia ser considerado um pai ausente uma vez que passava mais tempo nos bares da cidade do que dentro de casa.

-Ela parece com você? – Marshall perguntou acendendo um cigarro.

-Só na cor do cabelo, por quê? –Mike disse.

-Então tem uma chance da garota ser bonita! – Marshall devolveu arrancando gargalhadas de Percy.

-Calem a boca – Mike disse sério.

-Vai, nos conte sobre a garota. – Percy pediu segurando o riso.

-Annabeth tem cabelos como meus, olho cinza, pele clara. Ela é da idade do Percy.

-Então ela é neném. – Marshall disse.

-Hoje você tá cheio das gracinhas né? – Percy rebateu trancando o maxilar.

Os mais velhos riram por alguns minutos, até Percy decidir parar com aquilo.

-Que horas a guria chega? – ele perguntou sem realmente se importar.

-Lá pras quatro, eu acho. Ela disse que ia me ligar quando o ônibus estivesse perto do terminal. – Mike disse acendendo um cigarro.

Percy voltou pra casa e passou a tarde toda vendo televisão e pensando na sorte que ele teve por Ashley ter feito seus trabalhos o ano todo. Já era final de tarde quando Mike ligou.

-Percy preciso de você aqui cara, a Annabeth está atrasando meu lado! – Mike implorou e Percy logo entendeu que a garota não o deixava usar drogas.

-Já vou. – ele disse e desligou o celular. – Mãe to saindo, não me espera.

-Onde você vai? – Sally gritou, mas o filho não se deu ao trabalho de responder.

Enquanto caminhava até a casa de Mike na quadra seguinte, Percy teve que sorrir da atitude de Annabeth. Mike era do tipo que espancava as pessoas caso você não o deixasse fazer o que ele quer, mas com essa garota a coisa devia ser diferente já que ele escolheu a Percy e não a Marshall para resolver a situação. Mike estava na frente de casa andando de um lado pro outro, uma expressão alucinada no rosto que fez Percy se perguntar se a abstinência de drogas o deixava assim também.

-Percy ainda bem que você chegou! Vai lá em cima e tira ela de cima de mim cara! – Mike pediu quase se jogando aos pés de Percy.

-Calma cara! Vamos entrar, vem. – Percy disse pegando o amigo pelo braço.

Percy ficou de boca aberta ao entrar na casa do amigo. Ele, em quatro anos de amizade, nunca havia visto a casa de Mike limpa e arrumada. A garota já tinha feito muita diferença em apenas três horas de estadia.

Mike saiu correndo e se trancou no quarto enquanto Percy ainda estava na sala esperando pela garota, não demorou muito ela passou correndo sem nem notar a presença de Percy e começou a bater na porta do quarto do irmão decidida a deixá-lo pelo menos um dia sem heroína.

-Mike, saia já daí! – ela gritou sem obter resposta.

-Deixa ele. – Percy disse sobressaltando a garota.

-Quem é você? – ela disse se virando pra Percy.

O garoto ficou estático por um minuto, surpreso com a beleza da garota de voz doce apesar de assustada.

-Vai me dizer seu nome ou você vai ficar aí me olhando?

-Hã, meu nome é Percy e se eu fosse você, deixava o Mike em paz. Você tem que agradecer que ele ainda não te deu umas porradas sabia? – ele disse de um fôlego.

A garota semicerrou os olhos avaliando o garoto. Quem ele pensa que é pra dar conselhos a ela?

- Meu irmão bate em mulheres?

-Não se eu estiver por perto, mas elas nunca abusam da paciência dele. – Percy disse com um sorrisinho.

-Porque você veio ajudar ele? Ah, eu devia saber, você é um drogado também, não é?

-Que diferença isso faz?

-Você tem mãe? – ela perguntou encarando o os olhos verdes.

-Tenho.

-Você avisa pra ela aonde vai? Você obedece ao horário que ela te manda entrar?

-Não e não. – ele respondeu sorrindo.

- Pare de sorrir. Você é só mais um idiota, hipócrita e nojento, sabia?

- Prazer em te conhecer também, Annabeth.

- E quem te falou que é um prazer te conhecer? – ela respondeu arrogante.

- Sempre é um prazer me conhecer. – ele disse ficando um passo mais perto da garota.

- Nem se atreva – ela disse com um sorriso atrevido.

- Já vi que você tem preconceito com drogados não é?

- Sim, eu tenho. Porque ao contrário do que o mundo pensa, vocês não são coitados coisa nenhuma, são é um bando de safados que não tem um pingo de amor pela mãe ou pai! – ela disse cuspindo tudo que sempre quis dizer ao irmão.

Percy continuou apenas fitando a garota.

-Percy, você ama sua mãe? – ela perguntou mais calma.

- Amo.

- Você já pensou no quanto ela sofre quando você sai de casa sem avisar? Ainda mais porque ela não sabe nem se você vai voltar. Ela vê você se afundando e você nem deve a deixar chegar perto pra te ajudar. Você já parou pra pensar que o mundo não gira em torno do seu umbigo?

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Percy agora olhava a garota, indignado. Quem ela pensava que era pra falar aquelas coisas pra ele?

-Hey! Eu não preciso de lição de moral OK? – Ele disse cortando Annabeth que começaria outra frase.

-Tudo bem, não sou ninguém pra te dá-las afinal, só quero que você saiba uma coisa: Você não faz idéia do quanto é ruim não ter mãe. – E sem esperar uma resposta, ela deu as costas e foi em direção a cozinha.

Percy se sentiu mal por um momento e foi atrás da garota.

- Annabeth?

Ele a encontrou sentada em uma das cadeiras de madeira da cozinha, a cabeça apoiada nas mãos, chorando. Isso fez seu estômago afundar. Ele ajoelhou ao lado da garota e colocou uma mão em seu joelho, ela levantou o rosto.

- Fui muito ignorante com você?

Ela negou com a cabeça.

- Que aconteceu então? – ele insistiu.

- Deixa pra lá. – Ela disse e saiu da cozinha deixando Percy intrigado.

Ele bateu na porta do quarto do Mike, mas nenhum sinal. Decidiu ir embora. Quando chegou em casa sua mãe já havia saído pra trabalhar. Sally trabalha de garçonete em um restaurante beira de estrada no período da noite. Percy pegou a garrafa de vinho que estava na geladeira e voltou a sentar na frente da televisão, remoendo o que havia acontecido com Annabeth, mas pouco tempo depois já planejava em ver Ashley pela manhã.