Rio junto com Peeta, que está deitado do outro lado do tapete felpudo que colocamos na sala, é final de julho e chove muito forte, então hoje ele não abriu a padaria. Estamos brincando com Butter, jogando de um lado para o outro uma bola de linha. É muito engraçado ver a gatinha pular de um lado para o outro, completamente entretida.

A lareira crepita serena, nessa tarde atipicamente fria de verão.

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— Como não percebe que a gente está tirando onda com ela? — dou de ombros, sorrindo. — Não gostou dos pães de mel?

Pergunta, sinalizando um prato ao meu lado. Só mordi um.

— Eu gostei muito, pode ficar tranquilo. Só estou enjoada, estou assim há um tempo, desculpa — respondo, jogando a bola para ele. Butter dá um salto enorme, pousando em seu braço, e parece machucar. Acho ainda mais engraçado, porque nem com um bicho ele consegue ser ruim. — Acho que estou assim desde o aniversário do Angelo, há três semanas. Me fez realmente mal aquelas coisas que John preparou.

— Quer chá? Você não almoçou direito também — oferece, abraçando a gata, que ronrona alegre com o aperto que ele dá enquanto ele a abraça feito um bebezinho e depois a coloca no chão. Sorrio sincera para a cena. Claramente é ele quem ela prefere, o que não me ofende. Por mim, teria ficado rodeando a casa até morrer. Mas realmente me sinto melhor que ela esteja aqui.

— Acho que sim — respondo, me pondo de pé, mas caindo logo em seguida, por minhas pernas falhares e minha visão embaçar. Foi tão repentino que até eu ri, sem entender. Butter vem em minha direção, passando o rabo longo pelo meu braço, mas parte para comer meus pães de mel. Peeta parece perceber algo que eu não, me ajudando a ficar de pé. — Acho melhor não.

Me encara, segurando carinhosamente meus braços.

— Katniss, desde quando você está se sentindo mal assim?

Suspiro, balançando a cabeça em negativa, dando de ombros. Então é como um estalo. Fico boquiaberta, tentando absorver a informação. Peeta sorri.

— Eu não tenho tanta certeza, não estou contando as semanas nem nada, pode só ser um mal-estar. Anteontem eu passei mal na floresta — conto, sentindo minha boca seca. — Não crie expectativas.

Assente, não se abalando.

— Não estou criando. Vou buscar um teste. Delly tem experiência e disse que compraria para a gente não se expor.

Eu quem assinto, rápido, tentando não transparecer minha ansiedade. Peeta apenas faz uma ligação, e logo parte, me deixando no sofá. Bato os pés no chão. Mordo as unhas. Choro. Choro muito, fico me sentindo muito insegura, porque depois de ter desejado tanto, me parece uma notícia muito estranha para se aceitar assim, tão de repente.

Nada resolve. O trajeto de quinze minutos da casa de Delly até a farmácia parece durar uma eternidade, então resolvo olhar o calendário.

Há três semanas eu não menstruo, e acredito que já deveria ter. Fico em choque. Meu ciclo é irregular, mas não tem motivo nenhum para todo o mal-estar que tenho apresentado, principalmente porque nós dois até paramos de falar sobre isso, nos relacionamos de forma íntima quando queremos, quando estamos nos sentindo confortáveis para isso. Além disso, nunca me atrasei mais do que cinco dias. Não posso acreditar no que está acontecendo.

Tomo um susto quando ele volta, com o rosto vermelho da forte chuva que tomou, além de estar totalmente encharcado, e rio com isso. Um riso nervoso e sem graça ao mesmo tempo.

— Ela disse para você fazer dois para ter mais certeza — explica, me dando a bolsa plástica preta. Dentro, um bilhete dobrado.

“Vai ficar tudo bem

— Delly”.

É simples, mas de alguma forma me faz bem ler isso. Deixo Peeta para trás e vou ao banheiro para fazer conforme as instruções. Abro a porta depois que termino e o resultado não sai, levando para a sala. Lavei as mãos quatro vezes e mesmo assim não deu o tempo. Parece que todos os relógios deram problema e resolveram passar mais devagar.

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— Quanto tempo?

— Cinco minutos — respondo, tentando controlar a respiração. — Cinco minutos...

Acho que esperamos uns vinte pela eternidade até um de nós ter a coragem de olhar. Trocamos olhares, ansiosos, preocupados, com muita expectativa, e medo, ao mesmo tempo.

— Você olha — mando, deslizando os dois testes pelo tapete para ele, que está ao meu lado. O resultado está virado para o chão, assim não vemos o que diz.

— Por que eu?

— Você quem deu a ideia! Você quem pediu um filho todos esses anos, Peeta! — exclamo, sem fôlego, ainda que não esteja fazendo nenhum esforço.

Ri, e eu também, olhando um para o outro. 15 anos de um relacionamento sério, e nos comunicamos dessa forma.

— Ok.

Responde, pegando os testes. Olho ao mesmo tempo, sentindo meu coração parar de bater por um instante ao encarar os dois riscos. Antes de ver, Peeta e eu olhamos o que apareceria se fosse positivo. Exatamente o que estamos vendo. As duas cores mais fortes que já vi na vida confirmando.

Não consigo falar, e nem ele. É um choro intenso, com sorrisos sinceros, e não consigo nos ver pelo espelho como dois adultos, mas como dois adolescentes de novo. Me escondo no seu ombro, rindo, depois de me sentar em seu colo. Consigo sentir borboletas no meu estômago, não respiro direito, tomada por medo e euforia ao mesmo tempo. Acho que terei que me acostumar com isso.

Finalmente, é real... é real. Nós vamos ter um bebê.