A estrada até aqui

Crescer simplesmente acontece


Para minha surpresa, havia um mapa no carro com marcações ao longo da estrada.

Bastou uma pesquisa para descobrir ao que se referiam. Coisas de turista, grande parte envolvendo a natureza.

De repente, aquela viagem pareceu interessante. Jamais imaginara que Sasuke gostava de coisas do tipo. Perguntei-me se por acaso tinha vergonha de compartilhar sobre ou se era uma jornada que preferia segui solo mesmo; se seu colega de viagem (será que já não se conheciam?) toparia aquela aventura ou se meu irmão estava apenas seguindo caminho para casa evitar ouvir sermão. Orgulhoso como é, não me surpreenderia.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Optei por seguir a trilha. Não como perseguidor ou irmão obcecado, mas como um universitário exausto que parecia ter ganhado um itinerário atrativo. Passava tanto tempo estudando ou dentro da faculdade que sequer lembrava da última vez que simplesmente me sentei numa praça para pegar sol e não fazer mais nada.

Realizei algumas paradas e deixei-me encantar por experiências que possivelmente nunca viveria. Realmente havia muita beleza em tudo aquilo, uma aura tranquila e otimista a cada parada.

Um templo do século XVII, uma fazenda de apicultura, uma bela moça que fez meu coração bater mais rápido e...

Ia tudo bem até Sasuke parar de responder minhas mensagens. Não é como se conversássemos toda hora, no entanto ficou um dia inteiro sem dar sinal de vida. Difícil não se preocupar, ainda mais quando se está escondendo algo do radar materno.

Quando ligou, meu irmão manteve a postura altiva, disse que teve um imprevisto com o celular e emendou num discurso de como era necessário desconectar-se da escravidão tecnológica, sobre ser autêntico e despediu-se logo depois.

Sasuke definitivamente queria causar um ataque cardíaco na mamãe e, pior ainda, estava me tornando cúmplice de seu plano cheio de furos. Sequer tinha respondido à pergunta de quem era seu companheiro de viagem. Não é como se fosse investigar sua vida inteira, mas pesquisar se tinha antecedentes criminais era compreensível, não seria tão absurdo assim. Existem muitos malucos na estrada.

Inevitavelmente, pensei em minha mãe. Como ela se sentiu quando precisei mudar de cidade por causa da universidade? Sabia que tinha ficado preocupada e cheia de saudades, mas eu sempre ligava ao anoitecer para garantir que estava bem.

Como se para colaborar com o clima de reflexão sobre a vida, o cenário bonito e todos os acontecimentos, tocou uma canção daquelas que te fazem sentir como numa cena de filme.

É... O tempo passa.

Eu cresci. Sasuke cresceu. Estava na hora de meu irmão investir em planos para sua vida que não me incluíam.

Não é como se eu sentisse que precisava estar grudado nele todo segundo. Longe disso! Nunca fui do irmão intrometido e excessivamente protetor, eu acho. Na verdade, sempre tentei ser um eixo de equilíbrio e trazer suavidade aos lados de minha mãe, que acabou ficando superprotetora após a viuvez, e Sasuke, para que não se sentisse sufocado com esse amor. Bom, era difícil não querer protegê-lo. Talvez fosse reflexo pós-traumático que peguei de minha mãe.

Ser o irmão mais velho é difícil. Nunca estamos prontos para ver nossas crianças crescerem. É quase como ser pai, todavia com menos responsabilidades. É um dever moral que assinamos com aqueles que amamos sem pedir nada em troca. Simplesmente queremos protegê-los da crueldade do mundo, evitar que passem por situações desagradáveis às quais já vivenciamos... Por vezes, esquecemos que eles precisam aprender a lutar as próprias batalhas.

É, preciso voltar para a terapia.