O almoço foi normal, não conversávamos muito, mas ao menos o clima já estava mais agradável, Effy com certeza estava se sentindo mais à vontade ali. Se ela não estava, ao menos tentava disfarçar isso, o que já era um bom sinal.

Depois que terminamos, pedi que o garçom trouxesse a conta.

— O que achou? - perguntei, curioso.

— Boa escolha de lugar - Effy respondeu, sorrindo.

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— Que bom que gostou.

Satisfeito por ela ter aprovado o lugar, assim que o garçom trouxe a conta, fui até o balcão pagar. De longe, enquanto ela conferia tudo, dei uma rápida olhada na mesa, Effy ajeitava o cabelo olhando-se através do reflexo da janela. Quando terminei, saí de lá agradecendo e voltei à mesa:

— Vamos?

— Vamos - ela disse, se levantando.

Mal saímos do restaurante, começamos a tomar o rumo de volta pra casa, quando ouvi sua voz novamente:

— Importa-se de eu fumar um pouco?

— Não, de jeito nenhum... - dei de ombros.

— Obrigada.

Logo, ela retirou um cigarro do bolso e acendeu, tragando-o lentamente enquanto caminhávamos pelas ruas.

— Está nervosa com algo? - perguntei a olhando.

— Não, por quê eu estaria? - ela me olhou, confusa.

— É que... as pessoas que fumam... costumam acender cigarros quando estão nervosas para se acalmar, não é?

— Bom, tem casos maiores. Eu já estou há um tempo nessa, então não preciso ficar nervosa, o corpo pede se ficar muito tempo sem a substância - explicou ela.

Assenti, torcendo para que ela acabasse logo o cigarro. Eu não me importava de ela estar fumando ao meu lado, mas meu importava com o cheiro desagradável.

Não demorou muito e nós chegamos no apartamento, Effy foi para seu quarto e eu fui para o meu, para dar uma descansada. Depois de um tempo, comecei a estudar um pouco o que havia aprendido naquele dia, já que a aula havia sido bastante monótona. Por um breve momento, pensei em entrar no quarto de Effy e perguntar quem eram aqueles caras que estavam aparecendo na casa e iam embora sempre que eu chegava, mas desisti, sabia que ela ia desconversar de novo.

Com esses pensamentos, acabei apagando ali mesmo, debruçado nos livros.

***

Acordei com o dia já escurecendo, cocei meus olhos e peguei meu celular. o relógio marcava 16:30 o que significava que eu havia dormido, no máximo, umas quatro horas, já que eu não sabia que horas eram quando eu dormi, mas sabia a hora quando cheguei em casa com Effy depois de almoçarmos fora.

Me espreguicei enquanto bocejava e então me levantei da cadeira, indo À cozinha. Mas, antes de ir lá, olhei no quarto de Effy, que estava com a porta entreaberta, dando para ver somente parte da cama e a cabeceira, pelo silêncio, provavelmente Effy estaria fora de casa, então me dirigi para a sala e sentei no sofá, em busca de algo para assistir e me distrair.

Enquanto procurava algo legal, ouvi um barulho ao fundo. No susto, olhei para trás e Effy entrava na sala, com metade de um cigarro na mão.

— Oi Effy, pensei que tinha saído - falei rapidamente.

— Quem me dera - ela deu de ombros sentando ao meu lado.

Continuei a brigar com o controle, já quase tendo a ideia de perguntar à Effy o que ela gostava de assistir, mas acabei encontrando algo que me deixou curioso, então deixei o controle no braço do sofá e encarei a TV.

— Quer um pouquinho? - ela me ofereceu o cigarro já quase no toco.

— Não, obrigado... Nunca me dei bem com isso - confessei, encabulado.

Ela pareceu surpresa.

— Quer dizer que você já fumou antes? - perguntou.

— Bem... Não exatamente - respondi, sem jeito e ela me olhou sem entender.

Naquele momento, vi a oportunidade perfeita. Eu não gostava de tocar naquele assunto novamente, mas se eu quisesse ter a confiança dela a ponto de ela me contar o que havia acontecido, o motivo daqueles caras estarem sempre indo ao apartamento e depois ela ficava tão abalada, confessar o meu maior segredo da vida pra ela, poderia me ajudar, quem sabe? Ela poderia me contar, já que eu estaria me abrindo para ela.

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Decidido, respirei fundo, abaixei o volume da tv e olhei para ela:

— É que... meu pai já fumava desde os quinze anos de idade. Ele era um homem bom, mas o vício em cigarros era algo que me incomodava nele. E não falo só pelo cheiro que ele exalava, mas também porque ele já parou no hospital tantas vezes, com problemas de pulmão e coração, devido ao fumo excessivo, que na última vez, ele estava tão confiante que iria sair dessa. Ele sempre dizia: "Relaxa, já superei isso várias vezes, vou superar de novo" ou "Eu não vou morrer por causa disso, se fizesse tão mal eu já tinha batido as botas" e estava confiante que, novamente, sobreviveria.

Mordi meus lábios contando, dei uma pausa, enquanto ela me encarava pacientemente.

— Mas, ele foi ficando cada vez pior, lutava, lutava, a gente apoiava, mas ele não apresentava nenhuma melhora. Por isso, quando ele ainda dava seus últimos suspiros, eu prometi à ele que nunca ia tocar nessas coisas. Eu até tinha vontade de experimentar, mas não faria isso em hipótese alguma - finalizei e então, a encarei - E bem, sentir o cheiro do seu cigarro me faz lembrar desse dia, pois o cheiro era exatamente igual.

Ela suspirou ao ouvir essa última frase.

— Mas você falou que não se importava se eu fumar na sua frente.

— Não me importo mesmo, mas é porque eu sei que, assim como meu pai, você também não começou agora. E sei que é difícil pra você parar, então, não posso fazer nada. Não posso te impedir de continuar fumando e mesmo que eu pudesse, não faria isso - respondi, decidido, fazendo ela me olhar com uma cara de surpresa.

— Não mesmo?

— Claro que não, cada um é o que é. São como são. É preciso muito mais do que isso para me fazer não querer ser seu amigo e conviver com você fumando.

Isso pareceu ter deixado ela mais tranquila, já que deu seu sorriso de canto e se aproximou de mim.

— Obrigada... - ela disse.

— De nada, só... Não tenta me forçar a fumar, ok? - pedi a olhando.

— Só se você não me proibir de fumar.

— Já disse que não vou.

— Ótimo então.

Sorri e logo ela jogou o toco fora, sorrindo também.

E então, voltamos a prestar atenção na televisão.