Encontros e despedidas

Um dia quase normal


Parecia que a vida voltava ao normal naquela segunda-feira em Campos. Já passava um pouco das 8 da manhã e Violeta ainda não tinha chegado. Eugênio assinava documentos após ter repassado todo o jornal e visitado a produção do turno da manhã. Saía para pegar um café, mas ao abrir a porta deu de cara com Violeta, pronta pra entrar em seu escritório. Surpresa com a sincronia ela levou um susto quando a porta se abriu bruscamente.

— Violeta?

— Ah, oi Eugênio!

— O que está fazendo aí?

Apressadamente ela entrou na sala dele.

— Eu preciso falar com você. É urgente! É... sobre o baile.

— Eu também não paro de pensar no baile, você estava tão linda....

Ele a abraça e quando vai beijá-la é interrompido. Violeta se desvencilhando dos braços dele:

— É... Eugênio, calma! Espera! Não é nada disso!

— Violeta, não estou entendendo, meu amor! Eu não aguento de saudades, só penso em ter você novamente nos meus braços, te beijar de novo...

— Eugênio, você precisa saber de uma coisa!

— O que foi que aconteceu? Não vai me dizer que o Matias...

— Não! Não tem nada a ver com o Matias... você precisa saber que quando eu cheguei em casa, depois do baile, eu fui flagrada!

Conseguindo finalmente acalmá-lo das suas investidas em tentar lhe roubar um beijo, continuou:

— Quando eu cheguei em casa no dia seguinte pela manhã, a Heloísa e a Dorinha também estavam chegando em casa. A Heloísa sabe sobre nós dois e não me preocupa. O problema é a Dorinha! E, como se não bastasse, ainda por cima tomamos um sabão da Manuela e quase apanhamos como quando eu e a Heloísa éramos crianças!

Eugênio não conteve a risada com a história, mas recebendo um olhar reprovador de Violeta, foi logo se corrigindo, mas a emenda saiu pior que o soneto:

— Nossa, mas a Dorinha estava chegando de manhã em casa? Essa sua filha hein Violeta, tem que ficar de olho nela!

— Ai Eugênio como você tonto! Eu confio na minha filha, esse não é o problema! O problema é que eu falei pra todo mundo que não ia ao baile e cheguei em casa, na manhã do dia seguinte, com roupa de baile!

— Linda, por sinal!

— Eugênio! Quer fazer o favor de prestar atenção no que eu estou falando!

— Perdoa Violeta, mas só de lembrar você com aquele vestido vermelho do baile eu não consigo me concentrar em mais em nada!

— Pois então, se esforce! Presta atenção! Eu contei uma história esfarrapada dizendo que depois que elas saíram eu fiquei triste em casa e decidi ir ao baile, mas que não consegui chegar de charrete e fiquei presa no meio do caminho dormindo ao relento.

Eugênio começa a rir novamente deixando Violeta mais irritada.

— Desculpa Violeta, mas que história mais mal contada!

— Pois é, mas foi a única que me ocorreu! Agora esse é o problemão que eu tenho! A Dorinha não é burra! Se ela resolver investigar vai descobrir que eu fui ao baile. Pior, vai descobrir de nós dois! Eu estou morrendo de medo, Eugênio!

— Calma Violeta, ela não vai descobrir. Rafael prometeu que não vai contar sobre nós, dona Iara também não. Heloísa, Julinha, Constantino também não contariam!

— Tá vendo, Eugênio! É contar com a discrição de muita gente! Mesmo sabendo que eles não contariam nada para a Isadora, eu não posso mais correr o risco dela descobrir... ela nunca me perdoaria! Por isso, eu só vejo uma saída...

Ao ouvir aquelas palavras, Eugênio ficou apavorado com medo das próximas palavras de Violeta. Lembrava-se bem da última vez e seu corpo todo gelou. Rapidamente a envolveu nos braços e suplicou:

— Violeta, por favor, eu não aguento mais ficar longe de você, por favor não faz isso com a gente...

— Eu vou contar para a Dorinha!

Ele mal podia acreditar! Jurava que tinha ouvido errado.

— Você vai o quê?

— Eu vou contar pra Dorinha sobre nós dois. Eu não quero mais mentir para a minha filha, ela é a única pessoa que me importa.

Ela finalmente assumiria o romance deles. Eugênio sabia que ela continuaria casada, e isso não mudaria, mas assumir para Dorinha o amor deles era um passo importante que davam em direção ao amor.

— Ah, Violeta...

E ela o beijou interrompendo a declaração de amor que ele faria depois do gesto dela. Depois do longo beijo ela completou:

— Eu também não suporto a ideia de perder você de novo, por isso preciso tomar coragem e contar para Dorinha.

— Eu posso estar com você nesse momento Violeta? Não sei, eu posso conversar com a Dorinha também, e falar para ela o quanto eu te amo. Eu tenho certeza que ela vai entender.

— Não, meu amor! Essa é uma conversa que eu preciso ter a sós com a minha filha. Eu ainda não sei qual será a reação dela, mas vou te confessar que estou com medo.

Eugênio abraça Violeta mais forte.

— Não precisa ter medo, meu amor. Eu estou com você, sempre! Aconteça o que tiver que acontecer, eu estarei ao seu lado!

— Eu sei! E é esse amor que me dá forças para contar pra minha filha a verdade! Eu não tenho como abandonar o Matias, você já sabe disso, mas não quero mais mentir pra Dorinha. Ela precisa saber que meu casamento não existe mais, e que... – ela olha para ele apaixonadamente – e que meu coração bate perdidamente de amor por você!

— Ah, Violeta, eu te amo tanto! E, você me encanta a cada dia mais com a sua coragem, meu amor! Eu sei que essa é uma decisão muito difícil, mas não posso deixar de te dizer que estou muito feliz, pois dessa vez, por mais difícil que seja, prefere enfrenta-la a romper comigo...

Apaixonada, ela não deixou Eugênio terminar de falar e o beijou novamente.

— É... eu ainda não sei exatamente como vou fazer, mas conversarei com a Dorinha, e vai ser hoje!

— Hoje? Tem certeza?

— É claro que eu tenho certeza, Eugênio! O quanto antes eu falar com ela, mais cedo eu me livro dessa culpa de estar mentindo pra Isadora.

— Está certo! Mas então me diga, como eu posso te apoiar nesse momento, meu amor? Eu sei que você precisa falar com a Dorinha a sós, que essa será uma conversa entre mãe e filha, mas eu não vou conseguir ficar de braços cruzados enquanto você enfrenta essa difícil missão.

Violeta sorri.

— Você é um grande companheiro, Eugênio, mas não há nada que você possa fazer nesse momento. Só me aguarde... eu darei notícias.

Disse isso enquanto ia saindo, mas antes de abrir a porta Eugênio a puxou de volta, buscando a boca dela com mais fervor. Num lampejo de ousadia, esqueceram-se que estavam no escritório, em pleno início de expediente. Ele a encostou na parede, sua mão direita já passeava pelas pernas dela embaixo da saia, enquanto a esquerda a segurava forte pela nuca. As bocas não se desgrudavam. Quando ele mordeu levemente o seu lábio inferior, Violeta sentiu o corpo todo arrepiar, mas conteve um gemido de prazer empurrando-o para longe! Tratou de afasta-lo logo ou não se conteria mais.

— Você me deixa maluca!

— Então pára de querer sempre se controlar! Vem, que eu sei que você também quer!

Ele tentou busca-la com as mãos novamente, mas ela conseguiu desviar.

— É claro que eu quero! Mas, aqui não!

Ele continuou a encarando com desejo.

— Eu vou embora porque o expediente precisa começar! – O olhar dele continuou fixamente nela, enfeitiçado, sem palavras, só a admirando – Tchau, Eugênio! E trata de limpar essa boca, tá todo borrado!

Ela saiu batendo a porta fazendo Eugênio acordar do transe que ela lhe colocara. Nada mais que normal, pois acontecia toda vez que ele tinha a chance de tê-la em seus braços.

Violeta, apressadamente, foi correndo para a sua sala, de cabeça baixa, antes que alguém pudesse perceber que ela também estava com o rosto todo vermelho. Ao chegar no seu escritório foi logo devolvendo a camisa impecavelmente por dentro da saia (apesar de um pouco amarrotada agora). Também pegou um lenço para limpar o rosto e começou a retocar o batom. Respirou fundo ao pensar – “Jeito bom de começar o dia” – não segurou o largo sorriso que trouxe mais luz àquele dia normal de início de expediente. Respirou fundo novamente – “Bom, agora é pensar em como falar com a Dorinha”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.