A Folha e o Som

O Hokage


Eu senti suas mãos quentes encostando no meu peito e, aos poucos, as batidas do meu coração pareceram desacelerar, as lágrimas em meus olhos diminuírem, e uma sensação de paz e letargia tomou conta do meu corpo. No instante seguinte, eu não vi mais nada.



o.O.o


Capítulo 6: O Hokage


Quando abri os olhos novamente, estava no meu quarto, deitada na minha cama, ainda usando as mesmas roupas que estava usando quando treinava com a Karin. Era o meu quarto, na minha casa, de volta na Vila do Som. Aquilo significava que o sonho horrível não fora um sonho, que o Kaito e o Yiuki estavam realmente...


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Eu fechei os olhos quando aquele pensamento fez meu coração se apertar, tentando inutilmente segurar as lágrimas. Virando o rosto em direção a janela, abri os olhos mais uma vez, apenas para ver que já era um novo dia. O céu estava azul e o sol parecia brilhar lá fora, mas nada daquilo me importava; não haveria mais dias alegres dali em diante.


Eu fechei os olhos de novo, pronta para deixar que mais lágrimas escorressem por causa dos meus amigos, do meu time, do Kaito... Não sei quanto tempo fiquei chorando sozinha no meu quarto, até que decidi que não adiantaria derramar mais lágrimas, eles não voltariam. Levantei quase num estrondo e saí a procura daquele que eu considerava o responsável por tudo o que acontecera: o meu próprio pai.


Quando entrei na sala, toda a atenção foi voltada para mim. Minha mãe, tio Juugo, tio Suigetsu, e até mesmo a Karin estavam na sala, mas eu não estava em condições de pensar em como aquilo era estranho. Todos pararam de conversar no exato momento que entrei. Meu pai também estava lá, e ele foi a única pessoa em quem me fixei. Eu não sabia exatamente o que queria dizer a ele, mas assim que o vi, joguei toda a raiva e dor que sentia pelas mortes inúteis que ele era responsável:


- Você os matou.


- Amisa-chan! - era a voz da minha mãe que me chamava, mas eu continuei olhando fixo para o meu pai.


- Por quê? - continuei. - O que eles fizeram para você?


- Amisa - meu pai começou enquanto caminhava em minha direção -, você não...


- Qual o problema com você? - eu gritei, dando pequenos passos para trás enquanto ele continuava avançando. - Você não consegue ver os outros felizes? Você não consegue suportar a idéia de que alguém nesta casa não tem a mesma vida triste e sem graça que você?


Ele parou assim que ouviu aquelas palavras, mas eu continuei encarando-o, sem deixar que nenhuma lágrima caísse dos meus olhos na frente dele.


- Eu não vou permitir que você fale comigo desse jeito, Amisa! - ele respondeu, com a voz baixa e carregada de cólera. - Eles morreram tentando defender a nossa vila. Como uma shinobi do som você deveria estar preparada a fazer certos sacrifícios pelo bem da sua vila.


Eu estreitei os olhos para ele, tirando a hitaiate que ainda estava presa na minha cabeça.


- Então eu me recuso a ser uma shinobi do som! - berrei, atirando a hitaiate longe.


Com aquilo, eu realmente havia tirado meu pai do sério.


- Se você fizer isso, será uma renegada - ele respondeu, voltando a andar na minha direção.


Eu simplesmente estreitei os olhos ainda mais, desafiando-o.


- Sasuke!


Eu ouvi minha mãe gritar apavorada quando viu meu pai desembainhar a espada dele. Por um único instante senti minha vista embaçar, mas quando ela voltou ao normal, eu podia enxergar claramente os rápidos movimentos dele. Eu percebi que ele não pretendia me machucar, apenas me prender, mas graças à evolução do meu Sharingan, eu estava quase tão rápida quanto ele e consegui escapar. Talvez nossos movimentos fossem rápidos demais para que os outros pudessem percebê-los sem o auxílio do doujutsu da família, e ninguém conseguiu me parar quando me desvencilhei do meu pai e saí correndo de casa.


Eu corri o quanto pude até sair da vila, alheia a movimentação dos demais ninjas do som, apenas concentrada em fugir, esquecer daquele mundo centrado em missões, riscos e sacrifícios. A impressão que tinha da minha vila natal era que suas ruas estavam cobertas de sangue e sofrimento, e eu só queria me livrar daquilo o mais rápido possível. Eu não conseguia parar de correr. Eu fugia das imagens do corpo do Kaito praticamente irreconhecível, dos olhos tristes do Yiuki me pedindo desculpas por algo que jamais seria culpa dele. Eu corria para tentar acalmar a dor que sentia no coração, para tentar esquecer o meu time, para não ser esmagada pela culpa pelas mortes deles que começava a me invadir.


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Depois de três dias e três noites viajando sozinha e sem nenhuma provisão, eu avistei os primeiros indícios de que estava entrando no País do Fogo. Inconscientemente, meu corpo parecia ter me guiado até o lar dos meus avós, das pessoas que me receberam com tanto amor e carinho na única vez que havia deixado a minha casa. Uma pequena faísca de esperança brilhou em meu coração com a idéia de voltar a Konoha, e eu consegui reunir os restos das minhas forças para continuar, até sucumbir nos portões que guardavam a Vila Oculta da Folha.

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- Naruto-sama - um dos guardiões dos portões entrou apressado no escritório -, uma garota chegou quase desmaiando à vila. Ela suplicou por uma reunião com o Hokage.


- Uma garota? - o Hokage repetiu, levantando seus olhos tristes da pilha de papéis que estava analisando.


- Si- sim... Ela está muito debilitada, mas disse que precisava vê-lo. - Aproximando-se mais da mesa do Hokage, ele completou com a voz mais baixa: - Ela diz ser parente dos Haruno, de Konoha.


O Hokage empalideceu, arregalando os olhos e segurando a respiração. Ele pareceu ponderar por alguns longos minutos, até que respondeu num suspiro:


- Deixe-a entrar - ordenou.


O ninja assentiu com a cabeça e voltou-se para a porta do escritório, dando permissão para o segundo guardião entrar, praticamente me carregando apoiada no corpo dele.


Assim que entrei no escritório do Hokage, reconheci imediatamente o menino de cabelos loiros que sempre via na foto dos meus pais. Ele não era mais um garotinho, mas ainda tinha as mesmas feições, embora os brilhantes olhos azuis pareciam tristes e cansados.


O esforço para percorrer o pequeno caminho entre os portões de Konoha e o escritório do Hokage, entretanto, pareceu exaurir o resto das minhas forças, e eu simplesmente deixei meu corpo escorregar para o chão, sem conseguir mais me manter em pé.


- Me desculpe - sussurrei -, mas há três dias que deixei a Vila do Som, e não parei um minuto para descansar até chegar aqui.


Com os olhos fechados, eu ouvi os ruídos que indicavam que ele havia se levantado de sua mesa e caminhado até mim. Ele se abaixou e levantou meu rosto delicadamente, com sua mão sob meu queixo. Eu abri os olhos para descobrir o Hokage me encarado com olhos apreensivos, afastando meu cabelo para trás para que meu rosto ficasse mais evidente. Nós nos encaramos por algum tempo; eu um pouco assustada com a maneira como aqueles olhos tão azuis pareciam tão curiosos comigo, e ele... talvez ele estivesse surpreso com a volta de um passado tão distante.


- Você disse a eles que tem parentes em Konoha - ele afirmou. - Os Haruno?


Eu apenas assenti com a cabeça, com os olhos quase tão arregalados quanto os dele. O Hokage soltou mais um suspiro.


- É um longo caminho do Som até aqui - ele insinuou.


- Por favor - eu supliquei -, eu não posso voltar. Eu... eu...


- Você precisa descansar - ele me cortou. - Vou pedir para que a levem até o Hospital de Konoha. Quando você estiver em condições, nós conversaremos novamente.


Eu apenas assenti com a cabeça, cansada. Deixei que os dois ninjas da folha que me receberam me levassem até o hospital, onde finalmente pude deixar que todo o cansaço dos últimos dias tomasse conta do meu corpo. Quando acordei, descobri que estive dormindo por dois dias, mas que logo poderia deixar o hospital, deveria apenas esperar a visita do Hokage, que exigiu ser avisado assim que eu acordasse.


Sentei apoiando as costas na cabeceira da cama e descobri que minhas roupas foram trocadas por uma simples camisola do hospital. Olhei em volta e me vi sozinha num quarto de enfermaria, num lugar estranho, sem nenhum conhecido a não ser pelos meus avós, que eu ainda não sabia se haviam sido avisados da minha chegada. De repente, pensei na minha mãe e meus irmãos, e no quanto sentiria a falta deles. Eu havia perdido o Kaito e o Yiuki para sempre, mas lamentava que, com a minha fuga, também perdia todos os laços que havia criado na minha infância.


Deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto mais uma vez com aquele pensamento, olhando tristemente para a janela, observando os pássaros que voavam alegremente pelo céu azul de Konoha. Uma voz igualmente alegre me despertou alguns minutos depois, e eu esfreguei os olhos rapidamente com as costas da mão para tentar esconder o choro.


- Amisa-chan! Você finalmente acordou! - Ino entrou no quarto, sorrindo.


Assim que se aproximou mais da minha cama, ela deve ter percebido meus olhos vermelhos e as bochechas úmidas, e sua expressão mudou completamente.


- Você estava chorando? - ela perguntou. Pegando na minha mão, ela me considerou seriamente e depois continuou: - O Hokage apenas nos disse que você chegou nos portões de Konoha exaurida. O que aconteceu?


Eu a encarei, mordendo os lábios, mas não respondi.


- Humf! - ela bufou, cruzando os braços. - Você pode não falar nada para mim, mas terá que se explicar com o Hokage.


- Sinto muito, Ino-san - finalmente resolvi responder -, mas é um assunto que só posso discutir com o Hokage. Entretanto, você poderia avisar os meus avós que estou aqui? Eu gostaria muito de vê-los novamente.


Ino demorou um pouco para responder, entretanto, quando ela abriu a boca, foi interrompida pela chegada do Hokage. Eu senti um frio na barriga quando o vi entrar no quarto, temendo por um breve momento que não seria bem recebida numa outra vila, mas o sorriso dele logo me tranqüilizou.


- Amisa Uchiha - ele disse assim que me viu. - Felizmente a Ino-san pode me ajudar a elucidar muitas coisas sobre nossa misteriosa viajante enquanto você ainda estava inconsciente.


Eu baixei os olhos, sem saber o que responder.


- Você sabe que, sendo uma kunoichi do som, sua presença em Konoha é proibida sem uma autorização prévia do Hokage? - ele continuou.


- Eu sei - respondi ainda com a cabeça baixa. - Mas eu não tinha outro lugar para ir - me expliquei, levantando olhos suplicantes para ele.


Com um simples olhar do Hokage, Ino saiu do quarto, deixando-nos a sós. Ele puxou uma cadeira para o lado da minha cama e sentou, considerando-me seriamente. Ele ainda deu um longo suspiro antes de falar novamente:


- Então... Você vai explicar por que está aqui? Por que me disse que não pode voltar?


Eu mordi os lábios enquanto o analisava. Ele tinha uma expressão reconfortante e um sorriso encorajador, tirando toda a minha apreensão inicial ao vê-lo; embora os olhos azuis tivessem sempre aquele brilho triste. Não pude deixar de comparar os Kages da Folha e do Som, ninguém poderia dizer que duas pessoas tão diferentes pudessem ter sido tão amigos um dia.


- Eu não sou mais uma kunoichi do som - respondi, sentindo-me segura em confiar minha história àquele homem. - Eu vim para Konoha porque... Eu sei que normalmente eu não deveria estar aqui, mas eu ainda tenho parentes aqui. Não importa o que o meu pai diga, eu ainda tenho laços com Konoha.


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- O seu pai... - ele disse com um meio sorriso. - Você quer dizer... o Otokage? - perguntou, irônico.


Eu senti meu rosto corar, e meus olhos encaram o chão. Com o meu silêncio, ele continuou:


- Isso torna sua situação aqui ainda mais complicada. O Otokage pode acusar a Vila da Folha de ter seqüestrado sua filha e mantê-la presa em Konoha.


- Humf! Meu pai provavelmente já esqueceu que tem uma filha - respondi.


Ele continuou me olhando com um sorriso que não consegui decifrar, até que finalmente disse, mais para si mesmo que para mim:


- Aquele teme... provavelmente continua o mesmo cabeça-dura de sempre.


Eu me virei com os olhos arregalados para o Hokage; era a primeira vez que via alguém falar do meu pai daquele jeito. Dei um sorriso tímido, que logo se fechou quando entendi que minha presença em Konoha era um problema.


- Você pode confiar em mim - ele afirmou, voltando a me encarar com um sorriso discreto. - Conte-me por que você deixou sua vila e eu verei como consertar isso.


Alguma coisa nele fazia meu coração se aquietar, e pela primeira vez senti confiança para contar o que tinha acontecido. Não com todos os detalhes, mas o principal para que ele entendesse que eu não poderia mais voltar para casa. Quando terminei, ele estava fitando o chão, sério, e eu ainda aproveitei o silêncio dele para suplicar mais uma vez:


- Por favor, eu sei que não é comum ninjas freqüentarem outras vilas, mas meus avós ainda vivem aqui. De certa forma, eu também sou de Konoha...


- Amisa-chan - ele me interrompeu, levantando os olhos do chão para me encarar -, eu lamento muito, mas seus avós já faleceram.


Eu demorei alguns segundos para assimilar aquela informação. Não era justo! Não depois de tudo que havia perdido, depois de tudo que havia renunciado...


- O quê? Como? - perguntei, angustiada. - Como eles...? E por que ninguém nos avisou?


As lágrimas começaram a voltar em outra enxurrada, como eu já estava começando a ficar acostumada depois de tantas notícias desastrosas. Aquilo tinha sido a gota d\\\'água, e eu sentia que não conseguiria mais suportar tudo sozinha. Eu precisava de um ponto firme, de alguém para me segurar, e não pensei duas vezes antes de me jogar nos braços daquela pessoa que me parecia tão familiar, mesmo sem nunca tê-lo visto antes.


Pego de surpresa, ele fechou os braços vagarosamente nas minhas costas, num abraço consolador. Eu deixei que minhas lágrimas encharcassem os ombros dele, mas ele esperou pacientemente até que eu me acalmasse e, levantando-se da cadeira, me ajeitou novamente recostada na cabeceira da cama onde estava.


- Como? - eu perguntei assim que ele voltou a se sentar. - Como aconteceu?


- Foi há uns dois anos, eu acho - ele respondeu com a voz tranqüila, mas segurando a minha mão nas mãos dele. - Seu avô adoeceu de repente, nem a vovó-Tsunade conseguiu ajudá-lo. Alguns dias depois, sua avó faleceu também. Eu nem tive tempo de avisar a sua mãe, acabei tendo que escrever uma carta só, para avisar das duas mortes.


- Mas... - franzi o cenho, confusa - minha mãe nunca falou... Ela nem sequer veio para Konoha? Mesmo sabendo da morte dos próprios pais?


Ele apenas levantou os ombros e balançou a cabeça, sem saber o que dizer.


- Eu não duvidaria se essa carta jamais tenha chegado às mãos da minha mãe - disse, pensando até que ponto meu pai poderia ser tão obstinado a nos obrigar a cortar laços com Konoha.


O Hokage permaneceu em silêncio por alguns minutos, até que finalmente falou:


- Amisa-chan, se você realmente acha que não deve voltar para o Som, eu tentarei convencer os anciãos que você não traz nenhum risco à nossa vila. A Ino-san já disse que você pode ficar na casa dela e do Sai até sua situação se definir.


Era o meu primeiro sorriso em dias. Eu arregalei os olhos e abri a boca para agradecê-lo, mas ele me interrompeu antes que eu pudesse dizer alguma coisa:


- Entretanto, eu gostaria de te levar a um lugar antes de você tomar sua decisão.


- Mas eu já tomei minha decisão - respondi, fechando o sorriso. - Eu não vou voltar.


Ele me respondeu com um suspiro, e então falou:


- Você receberá alta logo após o almoço. Encontre-me no meu escritório.


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- Por que você me trouxe aqui? - perguntei, receosa, assim que paramos em frente aos portões do Distrito Uchiha.


- Você sabe que lugar é esse? - o Hokage respondeu, fazendo outra pergunta.


- Eu já estive aqui com meus avós, mas nunca entrei - respondi. - Dizem que esse lugar é amaldiçoado.


Ele deixou que um pequeno sorriso escapasse do seu rosto.


- Também diziam que eu era um perigo para a vila, mas o Sasuke nunca ligou para isso - ele respondeu.


Eu virei para ele, encarando-o em dúvida, mas ele simplesmente começou a andar, entrando no distrito. Eu permaneci parada, uma sensação estranha no meu estômago com a idéia de entrar num lugar tão desolado.


Quando percebeu que eu não o acompanhava, o Hokage virou-se para mim e, sorrindo e acenado para trás, disse:


- O Distrito Uchiha não é nada mais que um bairro abandonado.


Ainda incerta, dei um pequeno passo para frente. O lugar era horrível; casas abandonadas caindo aos pedaços, mato crescendo por todos os lados, várias pedras nas calçadas soltas atrapalhando o caminhar. Quando cheguei ao lado do Hokage, ele sorriu e nós continuamos andando juntos, o braço dele me conduzindo pelos ombros.


Nós caminhamos até o que parecia ser o centro do lugar, onde havia uma casa principal que provavelmente fora habitada pelo chefe do clã. Embora tudo parecesse muito abandonado e desolado, eu não podia deixar de me admirar com o tamanho do lugar, tinha quase o mesmo tamanho de toda a Vila do Som. Mas então eu lembrei de como ficara admirada com o tamanho da Vila da Folha quando era mais nova, e as lembranças daquela viagem resgataram um fato até então esquecido.


- Uma vez - eu quebrei o silêncio enquanto andávamos -, o meu pai disse que tudo isso aqui deveria ser destruído.


- Bem - o Hokage respondeu, parando à minha frente -, se você ficar em Konoha, este lugar é seu por direito. Você pode fazer o que quiser com ele.


Eu olhei em volta. Aquele lugar ainda parecia horrível para mim, mas estava claro que um dia aquele bairro fora enorme e grandioso.


- Eu não entendo. Se o meu pai pertencia a um clã tão importante de Konoha, por que ele partiu? Por que ele se recusa a voltar?


Os olhos do Hokage pareceram escurecer ainda mais em seu brilho triste, e ele fechou o sorriso imediatamente.


- Talvez ele não goste das lembranças que tem deste lugar - ele respondeu, evitando me encarar.


- Lembranças? - perguntei, franzindo a testa.


Ele levantou os olhos para mim, sondando minha reação. Quando percebeu que eu realmente não tinha a menor idéia do que ele estava falando, perguntou:


- Você não sabe o que aconteceu aqui, não é? Por que dizem que esse lugar é amaldiçoado.


Eu simplesmente balancei a cabeça. Ele foi até um banco próximo e sinalizou para que eu sentasse ao lado dele. Foi a primeira vez que ouvi a verdadeira história sobre a morte da família do meu pai, e finalmente entendi por que aquele lugar me dava arrepios. Apenas imaginar o horror que todo aquele cenário presenciara deixava meu estômago embrulhado, e se antes eu tinha receio de estar ali apenas por causa da aparência desolada do bairro, depois de conhecer sua verdadeira história, eu queria fugir dali o mais rápido possível.


- Desculpe - eu disse para o Hokage, já me levantando -, mas eu tenho que sair daqui.


Eu saí apressada, como se aquele lugar me pressionasse. A simples idéia de um garotinho encontrando não apenas seus pais, mas todos os membros do seu clã, impiedosamente assassinados, pelas mãos do próprio irmão... Aquilo era um pesadelo cruel demais para qualquer pessoa suportar, eu não estava em condições de não me emocionar com uma história tão sombria e logo senti mais lágrimas se formando nos meus olhos.


Meu coração só se acalmou quando a paisagem pareceu mudar das casas abandonadas para um campo aberto. Eu diminuí o passo e percebi um lago logo à frente, o sol refletido na superfície da água parecia que aliviava minha angústia. Pouco tempo depois, ouvi alguns passos atrás de mim.


- Agora você tem uma idéia de como o seu pai se sente em relação à Konoha.


Era o Hokage. E sim, depois de conhecer sua história, eu realmente podia entender a relutância do meu pai em voltar para sua vila, pelo menos em parte. E sim, aquilo também me fazia entender a aura sombria que sempre parecia estar em volta dele. O que eu não entendia, era como aquele homem que jamais me vira antes podia me conhecer tão bem a ponto de saber o que fazer para tentar me convencer a voltar para casa.


- Talvez ele tenha nos deixado pelo mesmo motivo que você fugiu da sua vila - a voz dele continuou, agora mais perto de mim. - Mas nós dois sabemos que fugir não adiantou nada para o Sasuke, não é mesmo?


Era nisso que ele queria chegar. Que eu estava fugindo... Que eu estava fugindo como o meu pai um dia fugira dali. E que se eu fizesse isso, me tornaria igual a pessoa que eu mais odiava naquele momento.


- Não adianta - respondi. - Você não vai me convencer a...


- Eu não estou tentando convencê-la de nada, Amisa-chan - ele me cortou, saindo de trás de mim para parar na minha frente. - Mas acho que você devia se orgulhar de ter pertencido a um time tão unido a ponto de arriscar a própria vida para salvar um companheiro.


- Humf! - respondi, secando as lágrimas e encarando o lago. - Se o meu pai não tivesse mandado o Kaito para uma missão suicida, ele e o Yiuki ainda estariam vivos.


Parado do meu lado, também encarando o lago, eu ouvi ele dar uma risadinha e, depois, comentar:


- Eu não podia esperar nada diferente de um time treinado pelo Sasuke. - Virando-se para mim, continuou: - Entretanto, mesmo sendo um teme, o Sasuke que eu conheci jamais faria o que você diz que ele fez.


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Eu virei bruscamente para encará-lo também, franzindo a testa.


- Por que você está fazendo isso? Depois de tudo o que o meu pai fez, por que você ainda o defende?


Ele apenas sorriu com aqueles olhos tristes.


- O Sasuke foi meu primeiro, e talvez o único, amigo. Ele foi a primeira pessoa que me reconheceu como algo mais que um Jinchuuriki, foi o primeiro que me fez entender como os laços que construímos são importantes.


- E mesmo assim - continuei -, ele jamais se importou em voltar para vê-lo novamente. É isso que você chama amizade?


Os olhos azuis ficaram ainda mais sombrios.


- O Sasuke tem as razões dele, eu acho.


Eu fiquei sem palavras. Apesar de nunca testemunhar a amizade entre aquele homem e o meu pai, sabia que aquilo tinha ferido seus sentimentos. A expressão de tristeza dele dizia claramente que ele também não entendia completamente as razões do meu pai.


- Eu sei que são situações diferentes - ele recomeçou, depois de uns instantes em silêncio -, mas se você está mesmo decidida a não voltar para casa, significa jamais voltará para a vila que seus amigos morreram para defender. Você acha que eles ficariam felizes com isso?


Eu estreitei os olhos. Como ele conseguia fazer aquilo?


- Eu... eu não sei - respondi, minha indignação de repente se transformando em dúvida. Eu não gostaria de ver meus amigos sofrendo como o Hokage parecia sofrer com a ausência dos meus pais. - Eu não sei se suportaria passar todos os dias pelos mesmos lugares que nós freqüentávamos e não sentir a falta deles.


- Você vai continuar sentindo a falta deles, mesmo se nunca mais voltar ao Som. Acredite - ele disse, sério.


Eu voltei meus olhos novamente para o horizonte, o sol começava a baixar, deixando um reflexo dourado na superfície da água.


- É verdade o que dizem? - perguntei, ainda olhando para frente.


- Sobre o quê?


- Sobre o tempo. É verdade que ele faz a gente esquecer? Que faz essa dor diminuir?


Eu senti a mão dele sob meu rosto, me fazendo virar para encará-lo. Quando nossos olhos se encontraram, não era o Hokage que eu encarava, mas um menino que parecia tão magoado e aflito quanto eu.


- Eu sinto muito - ele disse, quase num sussurro, balançando a cabeça.


Eu lutei para que meus olhos não se enchessem de lágrimas mais uma vez, vendo aquela figura que parecia tão confiante de si, agora tão desamparada. Senti a mão dele subindo pelo meu rosto, e o inclinei na direção dela, aceitando o carinho com os olhos fechados. Foi uma sensação estranha, mas era uma sensação boa. Meu coração começou a bater mais forte, e eu me senti estranhamente serena, como se o toque dele fosse capaz de me fazer esquecer toda a minha ansiedade.


Abri os olhos para ainda encontrar aqueles olhos azuis sobre mim. Por um breve momento, senti uma urgência estranha de me aproximar dele, de devolver aquele carinho que ele parecia precisar tanto quanto eu. Inconscientemente, senti que umedecia meus lábios, mas parei subitamente, uma batida do meu coração falhou assim que percebi o que estava prestes a fazer.


- Eu... er... - balbuciei, ainda assustada. - Está ficando tarde, eu gostaria de sair daqui.


Ele apenas assentiu com a cabeça, e nós nos dirigimos para fora do Distrito Uchiha, o Hoakge falando sem parar alguma coisa sobre a Ino e o marido dela. Eu deixava as palavras entrarem e saírem pelos meus ouvidos, sem coragem de falar mais nada. Não sabia se ele tinha notado que eu estivera a ponto de beijá-lo num momento de fraqueza. Quando chegamos na casa da Ino, nos despedimos formalmente, e eu ainda fiquei observando ele se afastar antes de entrar.



Continua...



N.A.: Desculpem a demora em atualizar. Eu tava postando com regularidade antes porque os caps já estavam prontos com antecedência. Agora estou ficando com menos tempo para escrever e os caps também estão ficando mais longos. O próximo cap também será longo, mas a boa notícia é que já tem umas 1000 palavras escritas! XD


E tem alguns agradecimentos especiais: primeiro a Mye-chan, sempre pronta a responder algumas duvidazinhas - tanto nesse quanto no cap quanto no anterior. Eu esqueci de agradecer antes, então agora o "obrigada" é em dobro!


Também "brigadinha" a Lila - que mesmo dizendo que não gosta de SasuSaku, sempre acompanha as minhas fics!


E por último, mas não menos importante, muito obrigada a Miateixeira - é graças a ela que o Sasuke está do jeito que está. Porque se ela deixasse eu ter uma recaída, ele já estava tão fofo que seria totalmente OOC!


E muito obrigada pelas reviews! Vocês até que foram muito bonzinhos com o Sasuke, e ele agradece e promete se explicar no futuro! XD


DICA: Reviews deixam a autora animada a continuar escrevendo... :P