A Folha e o Som

A Vila da Folha


Eu estava com os olhos arregalados de surpresa e medo daquele ataque tão explosivo. A única coisa que consegui responder foi um "sim, senhor", e fui rapidamente para o meu quarto com a cabeça baixa. Eu já vira meu pai bravo daquele jeito muitas vezes antes, mas esta era a primeira vez que não sabia o motivo.


o.O.o


Capítulo 3: A Vila da Folha


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Quando deixou Konoha, minha mãe realmente achara que seria capaz de um dia convencer meu pai a voltar à sua terra natal, mas em doze anos, esse dia jamais havia chegado. Mesmo tendo sido fundada por um ninja da folha, assim como seu Segundo Otokage, a Vila do Som jamais selou qualquer aliança com Konoha, e as duas eram consideradas vilas inimigas. Desta maneira, não seria prudente que a esposa do Otokage fizesse visitas regulares a sua vila natal, ou pelo menos era isso que meu pai sempre dizia a ela e a nós, seus filhos, quando perguntávamos por que não podíamos conhecer nossos avós.


Eu, entretanto, estava protegida pela identificação que dizia que estava ali para participar do exame chuunin. Ao lado dos meus companheiros de time, fiquei admirada ao ver como as duas vilas eram tão diferentes. A Vila Oculta do Som ficava entre paredões rochosos e sem vida, enquanto a Vila Oculta da Folha estava escondida no meio de uma floresta, com uma vegetação abundante e vários lagos e rios que deixavam a paisagem ainda mais bonita. A primeira vista, foi fácil entender porque minha mãe lamentava jamais ter voltado.


A primeira alusão de que eu ainda tinha raízes naquele lugar que parecia tão estranho para mim veio assim que chegamos aos portões de Konoha. Os dois guardas examinaram atentamente as identificações de Kaito e Yiuki, mas estagnaram assim que viram meu nome no crachá.


- Amisa Uchiha? - um deles perguntou, franzindo a testa.


- Uchiha? - o outro repetiu, e os dois começaram a me olhar, curiosos.


Eu me senti intimidada, e sem nem mesmo perceber, meu Sharingan foi ativado, fazendo os dois ninjas da folha pularem para trás em seus lugares, admirados.


- Algum problema? - tio Suigetsu se intrometeu, inclinando-se na direção dos guardas e fazendo questão de mostrar que carregava uma pequena coleção de espadas em suas costas.


O shinobi que segurava minha identificação devolveu-a rapidamente para mim. Sem tirar os olhos do tio Suigetsu, ele disse podíamos passar e indicou a direção dos alojamentos para os ninjas visitantes. Algo me dizia que ninjas do som não eram bem vindos.


- Uau! - Yiuki exclamou ao meu ouvido assim que nos afastamos. - O Sasuke-sama deve ser muito respeitado aqui também. Você viu como eles te olharam assim que viram o seu nome?


Eu não respondi. Com meus olhos de volta ao normal, virei para Kaito para ver se ele também diria alguma coisa, mas ele continuou andando em silêncio na direção que nos foi indicada.


- Nós vamos detonar nesse exame! - Yiuki continuou, falando mais para si mesmo que para nós. - E eu vou ser o vencedor do torneio chuunin!


- Ah, claro - eu resmunguei. - Como se você fosse capaz de vencer o Kaito.


Yiuki olhou para mim com olhos estreitos e furiosos, mas eu só prestava a atenção em Kaito, que continuava andando silenciosamente com as mãos enfiadas nos bolsos, alheio à nossa discussão.


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Nós passamos facilmente pela primeira e a segunda fase do exame. A terceira fase, um torneio entre os finalistas, aconteceria apenas depois de um mês, e nós ficaríamos esse tempo na vila para treinar nossas habilidades até o dia do torneio.


Eu não tive uma boa impressão de Konoha na primeira semana. Primeiro foi o jeito como aqueles guardiões da vila me olharam, depois a maneira como as pessoas pareciam abatidas e tristes. Durante a abertura do exame, o Hokage nem sequer apareceu para dar as boas vindas aos ninjas das outras vilas, como se esperaria de um líder preocupado em receber apropriadamente seus visitantes.


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Mais tarde, nós descobrimos que o clima de melancolia que pairava sobre Konoha era devido à morte recente da esposa do Hokage, que também era a líder de um clã muito respeitado e importante da vila. Quando ouvi aquilo, entendi imediatamente a ausência do Hokage nos seus compromissos públicos. Certa vez, Kaito machucou-se severamente durante uma missão, e nós o levamos de volta para casa sem esperanças de que ele sobrevivesse. Foram os piores dias da minha vida, e eu sabia que se nunca mais pudesse estar ao lado dele novamente, também não queria viver. Na minha inocência, eu achava que entendia exatamente o que o Hokage estava sentindo, e passei a olhar os habitantes de Konoha com outros olhos.


Eu gostava de passear pelas ruas da vila depois dos treinos, imaginando os lugares por onde meus pais haviam passado quando eram crianças. Alguns dias depois do final da segunda fase do exame, eu parei na vitrine de uma floricultura enquanto Kaito e Yiuki voltavam para o alojamento, estava prestes a correr para alcançá-los quando uma mulher loira e de olhos azuis muito brilhantes saiu de dentro da loja.


- Ei! Você é a menina Uchiha que todos estão comentando, não é? - ela gritou para mim.


Eu a olhei por um instante, em dúvida se deveria respondê-la ou não. Kaito e Yiuki perceberam que eu estava para trás e começaram a andar na minha direção.


- Você lembra muito a Sakura - ela continuou, aproximando-se de mim. - E ouvi dizer que tem os olhos do seu pai.


- Você conhece os meus pais? - eu perguntei, deixando que um sorriso aflorasse em meu rosto.


Ela também sorriu.


- Acho que posso dizer que eu era a melhor amiga e a pior inimiga da sua mãe.


Eu olhei para aquela mulher desconhecida sem entender o que ela queria dizer, e no mesmo instante, Kaito e Yiuki chegaram ao meu lado.


- Meu nome é Ino - ela disse, olhando para nós três. - Venham, entrem aqui um pouco.


Ino acenou para a floricultura, e eu a acompanhei sem pensar duas vezes, queria saber mais sobre meus pais e a vida deles em Konoha. Kaito e Yiuki entraram junto comigo, ainda desconfiados. Ela nos fez sentar num balcão e nos ofereceu alguns bolinhos, que Yiuki se serviu sem nenhuma cerimônia, então começou a falar da minha mãe e do tempo que elas eram amigas na academia, e de como as duas brigaram por causa do meu pai.


- Mas parece que no final, a Sakura ganhou a guerra - ela concluiu, piscando um olho para mim.


Eu apenas sorri, enquanto Kaito e Yiuki estavam distraídos com a comida, sem prestarem muita atenção na nossa conversa.


- Quando a vi, não pude deixar de pensar na Sakura - ela continuou. - Apesar dos olhos escuros, você tem o mesmo rosto dela e... Posso? - ela perguntou, apontando para a minha hitaiate.


Eu levantei os ombros, sem saber o que ela pretendia fazer. Delicadamente, ela retirou o lenço que escondia os meus cabelos e sorriu.


- Venha aqui - ela ordenou, arrastando-me até a frente de um espelho.


Ela soltou meus cabelos e dobrou o lenço que eu usava ao meio, deixando-o fino como uma faixa, e então prendeu a hitaiate no alto da minha cabeça, evitando que meu cabelo caísse sobre meus olhos.


- O que você acha? Não ficou melhor? - ela perguntou, fazendo com que eu me visse no espelho. - Agora sim, você está igual à sua mãe antes dela cortar o cabelo.


- Amisa-chan! Como você está... er... bonita - eu ouvi o Yiuki exclamar do outro lado da loja.


Eu pensei que só mesmo um baka como o Yiuki para achar que eu estava mais bonita só por ter soltado o cabelo. Como se uma kunoichi de verdade pudesse se dar ao luxo de ter cabelos soltos e bem cuidados. O único motivo de eu deixá-lo comprido por baixo da hitaiate era porque eu gostava de lembrar do tempo que era mais nova e meu pai costumava brincar com eles antes de me fazer dormir.


Mas então eu vi o Kaito pelo espelho e ele estava... Será que era aquilo mesmo que eu estava vendo? Ele estava sorrindo... Sorrindo e olhando a minha imagem no espelho! Era um sorriso discreto, que eu tenho certeza que morreria assim que ele percebesse que eu o observava, mas ainda assim, era um sorriso. Eu me virei de lado no espelho, analisando meu cabelo que descia até a cintura. Será que o Kaito gostava de meninas de cabelos longos? Olhei mais uma vez de relance para a imagem dele no espelho, ele continuava sorrindo. Quem sabe eu devesse realmente ouvir a minha mãe e usar os cabelos soltos...


Ino também havia observado os olhares entre eu e o Kaito no espelho, e comentou com um sorriso cínico:


- Sim... você se parece muito com a Sakura...


Eu queria muito continuar lá, conversando com aquela mulher que dizia ser amiga da minha mãe, mas já estava tarde, e eu estava começando a lamentar ter que voltar ao alojamento, quando ela subitamente me agarrou pelo braço e exclamou:


- Eu sei de duas pessoas que vão adorar te conhecer! Vocês dois, esperem aqui - ela ordenou para Kaito e Yiuki. - Se alguém aparecer, digam que eu já volto.


Eu segui com ela pela mesma rua da floricultura até algumas casas acima, onde ela parou na frente de uma porta e deu algumas batidas. Quando a porta se abriu, uma senhora de cabelos bem brancos apareceu na minha frente, e Ino a cumprimentou:


- Olá, Sra. Haruno. Desculpe aparecer sem avisar, mas tem uma pessoa que acho que a senhora gostaria de conhecer. - Ela me colocou entre as duas e então continuou: - Amisa, esta é a sua avó.


Meu coração quase parou quando ela disse aquelas palavras, e depois parecia que ia pular do meu peito de tão acelerado. Eu arregalei os olhos e abri um sorriso, enquanto que a mulher apresentada como minha avó se abaixou no chão até ficar na minha altura. Ela não disse nada, apenas passou sua mão pelo meu rosto, como se para verificar que eu não era uma miragem, e então gritou para alguém de dentro da casa.


- Pai! Você precisa vir aqui!


Um senhor barrigudo apareceu ao lado dela logo depois, resmungando:


- O que foi, mãe? Eu já não disse que... - Ele parou de falar assim que me viu, então sussurrou: - Sa... Sakura?


- Sr. Haruno - Ino começou a falar novamente, suas mãos pousadas sobre meus ombros -, esta é Amisa Uchiha. Ela veio a Konoha para participar do exame chuunin.


- Amisa... - ele repetiu, com a mesma expressão que minha avó olhava para mim. Acho que minha aparência e o sobrenome do meu pai não deixavam dúvidas sobre quem eu era.


- Bom - Ino continuou -, eu tenho que ir, mas acho que vocês ainda têm muito que conversar, não é? Eu aviso os seus amigos que você vai se atrasar um pouco, Amisa-chan. - E piscando um olho para mim, ela voltou para a floricultura.


Meus avós me levaram para dentro da casa, me enchendo de beijos, abraços e perguntas. Eu jantei com eles e, enquanto contava sobre a Vila do Som e eles me contavam sobre a infância da minha mãe, nem vimos o tempo passar. Como ficou muito tarde para eu voltar, acabei dormindo na casa deles, no quarto que um dia fora da minha mãe.


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A primeira coisa que vi quando entrei no quarto dela foi uma foto de quando minha mãe ainda era genin. Realmente, eu pensei olhando para a foto e para o espelho, com exceção da cor dos olhos, eu estava muito parecida com a minha mãe quando tinha a mesma idade. Ela parecia tão feliz e estava tão bonita que acho que passei horas admirando aquela foto, até que percebi, sorrindo, a figura de um menino que só podia ser o meu pai. Ele estava de braços cruzados e parecia bravo, como se tivesse sido obrigado a tirar aquela foto. Parecia que meu pai sempre fora daquele jeito, pensei.


Do outro lado da minha mãe havia mais um menino, provavelmente o tal Jinchuuriki das histórias que eu ouvia quando criança. Ele também não parecia muito feliz em tirar a foto. Aliás, parecia que ele e o meu pai eram grandes inimigos. Mas os três formavam um grupo bonito juntos, com a minha mãe sorrindo e o meu pai fazendo cara de valentão, e também aquele menino loiro que, apesar da cara emburrada, ainda parecia muito simpático.


Junto com eles havia um ninja adulto, provavelmente o mestre deles, e que eu reconheci como o mesmo ninja que substituiu o Hokage nas cerimônias do exame chuunin. Eu lamentei não ter uma foto assim com o meu time, mas pensando bem, concluí tristemente que meu pai jamais apareceria numa foto com seus alunos com uma expressão tão alegre quanto a do professor deles.


Eu adormeci agarrada à foto e, depois daquela noite, passei a dormir na casa dos meus avós todas as demais noites até o dia de deixar Konoha. Eu treinava sempre com Kaito e Yiuki, sob os olhos atentos do tio Suigetsu, e depois voltava para casa e contava a eles tudo o que acontecera no dia. Nas horas de folga, eles me levavam a diversos lugares da vila e, quando passamos na entrada do abandonado Distrito Uchiha, eles não me deixaram entrar, dizendo que era um bairro amaldiçoado em Konoha. Entretanto, jamais me explicaram por que um clã que parecia ter sido tão grandioso terminou com apenas o meu pai como sobrevivente. Talvez por causa do que me falaram, ou talvez por causa da atmosfera desolada do lugar, toda vez que eu passava pela entrada daquele bairro, sentia um arrepio percorrer meu corpo, e saía dali rapidamente.


Todos estávamos muito felizes, até que o dia do torneio começou a se aproximar, pois nós sabíamos que dificilmente nos veríamos novamente depois que eu voltasse para o Som. Como meu pai já havia afirmado antes, ele não foi a Konoha, nem mesmo como representante do Som durante o torneio, mas o Hokage também ainda não havia saído do seu luto, e não houveram comemorações. Eu passei facilmente pelos dois primeiros oponentes, e só fui derrotada numa das finais, o que não impediu que me tornasse uma chuunin, assim como todos os demais ninjas do som que participaram do exame. Nós partimos imediatamente, e eu ainda lembro do pesar que senti ao me despedir dos meus avós. Embora eles estivessem felizes e orgulhosos com a minha conquista, havia uma melancolia silenciosa pairando entre nós e, pela primeira vez, eu desejei não ter que voltar para casa.


Continua...