“Os demônios devem dormir, ou eles nos devorarão;

devem ser mergulhados no sono, ou nós pereceremos!”

— Edgar Allan Poe

O exercito negro emergia do lago sangrento como se fosse almas emergindo do próprio purgatório, a armadura negra coberta por musco e ostra batia contra as águas escuras do lago criando correntezas densas seguindo até a borda de areia. O senhor das almas carregava em suas mãos o cajado que pertenceu ao próprio demônio original, o primeiro do submundo. Aquilo o dava o poder necessário para guiar aquelas almas amaldiçoadas por terras e continentes.

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Seus olhos, de um amarelo esverdeado, encaravam ao longe enquanto a cada passo que dava para fora da água suas vestes iam tomando forma. A vegetação densa que crescia ao longo do rio começava a se entranhar aos seus pés, subindo pelas pernas desnudas como se fossem trepadeiras e formando uma proteção ao longo do seu tronco, ele era a própria personificação da vegetação densa, ele era o pior da flora do mundo, ele era a própria floresta viva.

[...]

O brasão do leque estava pintado nas vestes imaculadas do futuro rei, assim como as botas pretas, sempre bem engraxadas, ao lado da cama. Foram ambas as peças colocadas bem alinhadas para ele usar assim que saísse do banho, esse era um ritual de anos de servidão.

O olhar desfocado do Uchiha encarava as vestes de uma forma estranha, quase apreensivo ou mesmo desejoso. A pele branca por vezes se arrepiava ao sentir o gosto adocicado ainda em sua garganta, suas narinas se abriam ao puxar na memória aquele cheiro, era quase como se ela estivesse ali, em sua frente, como se fosse um pequeno servo esperando para ser abatido, tão vulnerável ao seu toque quanto as suas presas… E mais um arrepio percorreu a espinha do monstro! Era como se seu corpo quisesse sujar toda a alma daquela pobre garota de uma única vez, como se seu monstro interior quisesse tomar o corpo dela - o sangue dela - como seu.

— Meu lorde? - Uma das empregadas soou da porta, dando uma pequena reverência. - O senhor não gostou das vestes que preparamos?

A mente dele estava ainda nublada de pensamentos, nada fora daquela nuvem que ele se encontrava era ouvido, uma bolha de sangue ligava suas memórias ao gosto dela. Nada além da memória do que aconteceu, nada além do que ele almejava agora, com tanto afinco, com tanto gosto… Tudo que ele conseguia pensar era realmente nisso, no gosto que ela tinha. E como se fosse pecado, tão profano como a perjura da igreja, tão profano quanto a cova dos seus antepassados, a tentação que aquele sangue doce transmitia fez seu consciente lembrar da falecida mãe e de como seu pai sucumbiu à falta de consciência. E como o sucessor do rei não poderia não pensar que aquele, possivelmente poderia ter sido o mesmo gosto que ele sentiu?! Será que eram as mesmas sensações, o mesmo desejo?

Sucunbir aos seus pensamentos mais primitivos era algo que ele não queria nunca, matar pelo propósito errado, era demasiadamente doloroso para quem já perdeu o amor de alguém por isso.

— Meu lorde, o senhor está bem? - Perguntou mais uma vez.

Mas sua voz era tão vaga, tão longe que o lorde não sabia se tinha realmente mais alguém presente naquele quarto ou se eram sussurros de espíritos naquelas paredes de pedra. Seu sopro quente queimava seus lábios carnudos, os deixando avermelhados com a fumaça ardida que saia de sua garganta. Os dedos estavam duros ao ponto de não conseguir dobrar a toxicidade daquele sangue no seu organismo alterava todo seu raciocínio, tingia de vermelho todos os seus pensamentos e arrancava rugidos ferozes de cada celular do seu corpo.

— Saia… Saia - Continuou praguejando, suas voz era falha como se estivesse morrendo de sede, o que era verdade. - Chame Naruto!

O agonizar do seu corpo se tornou forte ao ponto do homem se inclinar para frente e quase cair ajoelhado quando a empregada saiu do quarto o deixando sozinho, o cintilar de sinos zumbiam no seu ouvido aguçado e o faziam tremer de incômodo, de raiva… O lorde se arrastou a passos desajustados de volta aquela cama macia que ele estivera deitado e ao cair sobre os lençóis de seda, se arrependeu amargamente quando o cheiro se intensificou. Suas presas cresceram dentro da sua boca, seus dedos, antes duros, começaram a dar espasmos de tremedeira. Em um único rosnado seu corpo se contraiu para frente e ele gritou, gritou a plenos pulmões…

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Ele a queria!

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