Constatação

Verdades.


O mundo parou quando eu percebi. Olhei ao redor por um minuto só para ter certeza de que a câmera lenta não era coisa da minha cabeça. Não era. Quer dizer, era. Ah vai saber também.

Então foi por isso que eles me deixaram. Foi para isso que eu desperdicei lágrimas de ódio e tristeza, quando na verdade... Era uma coisa totalmente diferente.

Ergui-me só para ter certeza de que ainda estava viva. Estava. E agora, na frente de toda uma turma que me olhava meio confusa.

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- Está tudo bem? - o professor estranho e com uma empolgação sobrenatural parecia mais estranho ainda com ar de preocupado.

Não disse nada. Eu não ia dizer nada, estava confusa demais para que pudesse ao menos entender o motivo de estar fazendo o que estava fazendo. Saí da sala, todos ainda olhavam abismados para mim. Do corredor ainda pude ouvir o sensei dizer:

- Será que foi algo que eu disse?

Claro, acompanhado de risos.

Segui reto e com o mesmo passo e feição para meu destino. Não via o caminho, não via as pessoas, apenas ouvia de vez em quando uma exclamação ou outra de ultraje por passar por elas sem ao menos pedir licença.

Que falta de educação a minha. Que falta de educação de toda Konoha comigo. Tentava não me encher com o sentimento de raiva que estava começando a surgir. Era difícil, mas era fácil. Ah, vai entender também.

Entrei em casa, abri a porta, minha tia me disse alguma coisa que eu nem me dei ao trabalho de ouvir. Era confuso demais lidar com tudo aquilo dentro de mim, quanto mais o que vem da boca dela.

Entrei em meu quarto, até acho que fiz um barulhão. Abri a porta do armário.

Respirei fundo. Como, raios, eu ia encontrar o que queria no meio daquela bagunça?

Fui à luta. Rapidamente, retirei todas aquelas roupas para fora no intuito de encontrar a peça que eu queria. Sabia que estava bem no fundo, eu não a usava nunca. Ou pelo menos quase. Mas eles mereciam isso. E eu tinha o dever de a por.

A encontrei. Fui direto ao chuveiro, liguei, deixei a água cair em meu rosto e em minhas roupas. Adoro fazer isso, me faz pensar. Não, me AJUDA a pensar. E eu, que sempre fui uma garota de ações, tinha muito pensamento na mente. E todos pediam por um papel mais importante.

Abaixei a cabeça, ela rodava e nela toda minha vida passou. Pelo menos as partes que interessavam naquele contexto. Ódio, dor, medo, rejeição. Todos me mentindo uma verdade. Todos... Cúmplices de meu desamor por eles.

Meus próprios pais.

Lágrimas se misturaram a água do chuveiro. Sabia que esse momento ia chegar. Deixei-me cair e ficar lá, com as mãos em frente ao rosto, fingindo que ninguém via. Mas talvez, eles estivessem vendo. Eu sempre tive essa dúvida.

Desliguei o chuveiro, tirei a roupa molhada, me sequei e coloquei a roupa que havia separado. Claro, automaticamente.

Olhei-me no espelho ao terminar de por a roupa. Como eu ficava estranha de negro. Não era nem de longe uma cor que combinava com meus longos cabelos loiros. Olhei-me de outros ângulos... Talvez com meus olhos combinassem. Saí da frente do espelho para não ter que pensar mais nisso.

Sentei na minha cama, olhei por um segundo todas aquelas roupas no chão e pensei. O que estou prestes a fazer? Uma espécie de marco, ritual do qual fui obrigada - até agora - a cumprir? O que estou fazendo?

Aquilo que me parece mais certo.

Porque algumas verdades simplesmente não mudam, como por exemplo, eu amar minha tia por ela ter me criado. Mas outras... Elas podem se distorcer e virar uma mentira. Não é uma coisa da qual eu goste de fazer, afinal... Eu nunca volto atrás em minha palavra. Nem nas promessas que faço a mim mesma. Quer dizer, principalmente nessas.

Mas agora, nesse momento em que faço meu corpo se erguer, estou mudando de opinião. Por este motivo, eu tenho que fazer algo que marque. E, por este motivo, eu vou seguir com este plano. Idiota, mas plano.

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Estava pondo meu pé para fora quando me dei conta que esquecia algo. Voltei imediatamente, desviando dos obstáculos no chão, dessa vez sabendo onde estava o que queria encontrar.

Achei-o, segurei-o e fugi daquele quarto. Desci as escadas correndo e sem muita coordenação, minha tia não estava mais lá. Ainda bem.

Lá fora, olhei para os lados, senti o vento. O vento. Eu sempre o entendi tão bem... Fechei os olhos e nesse momento soube que não poderia parar até chegar onde queria. O vento me guiava até lá. Ele me lembrava o caminho que não precisava ser lembrado, ele estava comigo. Eu corria, e ele ia ao meu ritmo, ele estava ali. Sorri, eu não estava sozinha. No fundo, sempre soubera disso.

Parei para recuperar o ar em frente a um grande portão negro. Olhei-o, lembranças de que já estive ali, várias vezes, não saíam de minha mente. Abri o portão, observei como era mais cheio de que eu gostaria aquele lugar.

O cemitério de Konoha.

Não era muito agradável, mas dava paz. E o vento continuava comigo, eu estava bem.

Avistei os túmulos que queria. Meus passos continuavam os mesmos, mas a sensação de que tudo parou voltou. E demorou uma eternidade para chegar até lá.

Mas por fim, cheguei. E estaquei. E Fiquei lá. Sem pensamento, quase sem respirar.

Deixei que meus joelhos fraquejassem, eles iam entender. Senti-me de novo chorar. Sorri dessa vez, toquei aquelas letras. Sorri mais ainda.

- Eu sei que pareço muito patética vindo aqui dessa maneira falar com vocês - minha voz saíra estranha até mesmo para mim - mas, hoje, eu percebi. Sabe, eu recebo meu título de gennin amanhã, uma honra é claro. Mas, do que adianta se tornar um ninja se não se entende o que é ser um...? Até este momento eu não tinha entendido. Eu não havia compreendido porque vocês foram capazes de me deixar, talvez eu não fosse o bastante. Eu não entendia, nunca entendi. Até agora.

Abaixei a cabeça, toquei mais forte as letras no túmulo, como se quisesse agarrá-las. As lágrimas, bem, estas agora desciam aos montes, encharcando minha visão e tudo o mais.

- Acho que nunca disse isso para vocês, mas... Eu os amo. Amo por tudo o que fizeram por mim e por esta vila. Amo pelo exemplo que deixaram, amo por terem me abandonado, mas terem seguido aquilo que acreditavam.

Chorei. Acho que por uns bons cinco minutos, eu apenas chorei.

- Queria algum dia ter a certeza de que vocês me ouviram e que essas palavras não foram para lápides.

Ergui-me. Olhei para o objeto que havia pegado antes de vir. Uma faixa preta com o símbolo de Konoha em metálico no meio. A posicionei em minha testa e ia amarrar, mas uma mão não me deixou.

- Amanhã você terá esse direito, até lá, exercite sua paciência.

Suspirei. Porque eu não notei o chakra dela?

- Nee-chan...

- Acalme-se - ela se aproximou - essa bandana é usada?

- É do meu... - engoli em seco - otou-san.

Ela se calou. Olhei pra ela. Olhando para o nada, com os longos e ondulados cabelos rosados ao vento, Sakura parecia até um anjo. Agora notei que ela carregava um buquê cheio de flores.

- Visita mensal aos seus ancestrais... Devia ter imaginado.

- Sabe, - ela começou como se não tivesse me ouvido - toda vez que falo com algumas destas lápides, se tem vento, é porque me ouvem.

- Como tem certeza disso?

Ela me olhou sorrindo.

- Você não tem, Kushina?

Abri a boca para dizer não, mas a voz não saiu. O vento me calou. Tentei pegá-lo com as mãos, mas não adiantou. Ele só dava para ser sentido. Sorri.

- Que droga, por que você sempre tem razão? - retruquei brincalhona.

- Eu não tenho. Seu coração tem. E ele que deve ter te guiado até aqui.

Fiquei em silêncio um momento. Mais um ponto para Uchiha Sakura.

- O que você sente? - ela me perguntou.

Respirei fundo. O que eu sentia?

- Um pouco de dor misturada com sentimento de culpa e medo. Rejeição, idiotice e falta de vergonha na cara também. E... - era estranho dizer aquilo - felicidade. É tudo muito confuso, eu não tenho um norte nem sul. Estou totalmente perdida. - suspirei - Como se chama isso?

- Adolescência. - ela me afirmou com simplicidade.

Ok, não era a resposta que eu esperava. Não respondia minhas dúvidas e não acalmava minha alma. Mas era uma verdade. Eu tinha que admitir.

- Vamos - ela encostou a mão em meu ombro - faça suas orações e suas promessas. Foi pra isso que veio.

Ela se afastou, deixando-me duas flores nas mãos.

Olhei mais uma vez para meus pais.

- Quero ser pelo menos metade dos ninjas que vocês foram.

Olhei uma última vez para a bandana que no dia seguinte seria, oficialmente, minha. É, dava para esperar, Uzumaki Kushina.

Li uma última vez o epitáfio de meus pais. As mesmas palavras que Rock Lee-sensei falou logo antes e que me fez mudar de foco. Sorri. Coloquei uma flor em cada túmulo.

Saí do cemitério. Fechei os olhos, abri os braços. Definitivamente, eu me dava bem com o vento.

Aqui jazem Uzumaki Naruto e Hinata.

Que nenhum shinobi deixe de amar. Esse é nosso jeito ninja de ser.

- Você será uma ninja muito melhor do que fomos, Kushina.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.