Ad Redemptio

Não Nos Deixe Cair em Tentação


— Ministro Frollo, encontramos a bruxa! — O Sol já havia se posto há bastante tempo quando recebeu a notícia.

— Ótimo. Dê-me a chave da cela dela, irei vê-la imediatamente.

— Ela não está presa, senhor.

— O que!? — Outra pontada de raiva lhe escapa entre os dentes, e precisou segurar firmemente as mãos em frente ao corpo para conter o impulso de agredir o capitão da guarda. — Posso saber o por quê, senhor capitão?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ela pediu santuário em Notre Dame, vossa excelência.

— É claro que pediu… — Frollo murmurou, revirando os olhos. Sempre pediam. — Eu assumo daqui. Está dispensado por hoje.

Frollo passou a mão nervosamente na cabeça, colocando para trás os fios de cabelo que insistiam em cair sobre seu rosto. Vestiu sua túnica, que a esta altura já estava seca, selou Bola de Neve¹ e seguiu para Notre Dame. Entrou na catedral com passos firmes e apressados, aproximando-se dos pedintes que circulavam o altar como moscas.

— Onde está a cigana que chamam de "Madame Gothel"?

Os mendigos se entreolharam, confusos e assustados.

— Eu não irei repetir. Respondam, ou-

— Procurando por mim? — A voz da bruxa parecia possuir melodia mesmo quando não estava cantando.

De trás de uma pilastra ela surge, mantendo-se semi oculta pelas sombras da catedral. O ministro se aproximou, deixando os infelizes no altar, adentrando a escuridão onde Gothel o esperava. Ela recostou-se em uma parede e colocou os braços para trás; mesmo no escuro, sua presença provocou em Frollo os mesmos tremores que provocou às claras. Abriu a boca para falar, mas seus olhos involuntariamente correram o corpo da mulher, observando os quadris largos e a marca dos seios através do tecido de sua camisola branca².

— Quanta falta de decência na casa do Senhor! — O juiz virou o rosto abruptamente. — Vista-se, mulher!

— Vou me vestir assim que minhas roupas secarem. — Ela apontou para o banco onde havia estendido seu vestido — Aquela tempestade não perdoou ninguém! Acredita que o vento quase levou minha cesta? Tive que correr atrás dela pelas ruas, foi horrível… Sorte a minha que pessoas bondosas me ajudaram a reaver meus pertences antes que eles se espalhassem por aí!

— Eu não poderia estar menos interessado nas desventuras de uma cigana. — Cuspiu a última palavra com desprezo.

Pela visão periférica Frollo sabia que ela gesticulava amplamente, mas não se atrevia a olhar e correr o risco de sua mente divagar para pensamentos torpe envolvendo a bruxa seminua.

— Vim levá-la sob custódia por bruxaria e sacrilégio.

— Hum? Vossa excelência poderia falar sem murmurar? Eu detesto murmúrios, não consigo entender nada!

— Como ousa me responder!? — A força da raiva o fez voltar seus olhos à Gothel. — Acaso sabe com quem está falando!?

— Mas é claro que sei. O senhor é o ministro da justiça… Juiz Claude Frollo.

De repente, seu nome pareceu muito mais bonito; ouví-lo saindo dos lábios da cigana fez um arrepio correr por sua espinha. Se perguntou que tipo de feitiço poderoso ela o havia lançado para atingí-lo dessa forma. Sentia borboletas em seu estômago e um rubor ameaçava subir novamente à sua face… Engoliu em seco. Precisava se manter firme.

— Vou relevar a insolência desta vez, mas fale mais alguma gracinha e adicionará desacato à sua lista de acusações.

— O que estou tentando entender, vossa excelência, é que acusações seriam essas.

Ela deu um passo à frente, em direção ao juiz. O instinto de Frollo quase o fez dar um passo para trás, mas se conteve. Não deixaria que a bruxa o intimidasse.

— Bruxaria e sacrilégio! — Sua voz saiu alguns tons mais altos do que planejou, mas servia bem ao intuito.

— Bruxaria? Ora meu senhor, aquela apresentação não foi nada além de um pouco de prestidigitação…

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela seguiu explicando sua técnica de engodo, mas tudo em que ele conseguia prestar atenção era na maneira fluida com a qual ela gesticulava, na textura suave de sua pele, nos cachos negros e volumosos que brilhavam mesmo sob tão pouca luz, no colo macio que sua camisola de seda revelava parcialmente e que desejava tanto pôr as mãos…

— Basta! — Disse, tanto para si mesmo quanto para ela. — Além de bruxa, é uma enganadora, e está profanando a casa do Senhor com sua indecência!

— Já disse que minhas roupas estão molhadas, ora essa! — A mulher levou as mãos à cintura, demarcando ainda mais a curva de seu quadril avantajado. — E além do mais, não se pode punir alguém por algo feito durante a Festa dos Tolos. Está na lei.

— Quanta petulância! Uma bruxa que acha que entende de leis! — Frollo deu um passo em direção à ela, erguendo um dedo ossudo em direção à seu rosto. — Pois EU sou a lei! E sei que é uma forasteira sem documentos que vaga pela cidade lendo mãos e vendo o futuro!

— Como ministro o senhor é um ótimo fofoqueiro, hein?

Viu um riso de escárnio se formando nos lábios de Gothel, e aquilo o enfureceu ainda mais. Estava prestes a dar-lhe voz de prisão por desacato³, mas de repente a Jezebel⁴ mudou drasticamente sua atitude; Frollo observou estupefato enquanto a mulher o abraçou, comprimindo seu corpo contra o dele.

— Oh, vossa excelência! — Sua voz tomou um tom choroso. — Se eu fosse uma bruxa, usaria meus poderes em benefício próprio ao invés de ler fortunas em troca de moedas para ter o que comer! Oh, pobre de mim! Uma bruxa certamente já teria roupas secas à esta altura!! Tenha piedade desta pobre alma desafortunada!

O cheiro de cravo e rosas vermelhas inundou suas narinas, e não pôde conter o impulso de aproximar o rosto dos cabelos dela para melhor sentir a fragrância. Seus braços envolveram a mulher como que movidos por vontade própria, enquanto os fios negros lhe faziam cócegas no nariz. Só se deu conta do que estava fazendo quando sentiu a pressão das coxas dela contra sua virilha. Segurou-a firmemente pelos ombros e a afastou abruptamente.

— Recomponha-se, mulher! — Pensamentos impuros começaram a invadir sua mente, e já estava ofegante.

Distanciamento era o que precisava, mas Gothel não parecia concordar. Ela deslizou os dedos sobre os braços de Frollo, e de repente suas mãos já não eram mais tão firmes. O juiz tentou dar um passo para trás, mas suas costas encontraram uma pilastra. Estava encurralado entre a súcubo e o concreto, e seu coração não parava de palpitar; ela deu outro passo à frente, colando novamente seus corpos um no outro.

Sentiu uma das mãos da mulher correr por sua nuca, e pôde jurar que suas pernas cederiam naquele momento. Os lábios vermelhos se aproximaram dos seus e os e cobriram novamente, trazendo de volta o rubor que havia queimado seu ser durante a Festa dos Tolos. A língua dela encontrou a sua, fazendo-o fechar os olhos para saborear o momento. Havia cedido ao feitiço da bruxa, afinal.

Passou as mãos pela cintura dela, descendo até seus quadris, puxando-a em sua direção pela base da coluna. E então desceu um pouco mais e acariciou, massageou e apertou as nádegas amplas e macias das quais não conseguia retirar os olhos mais cedo. No fundo de sua alma sabia que queria aquilo, o que só tornava tudo ainda mais pecaminoso.

***

Desde que o juiz pisou naquela igreja, Gothel sabia que que ele estava no papo. Já se aproximou devorando-a com os olhos, e suas tentativas de fingir que não eram no mínimo risíveis. Enquanto ela falava, ele se perdia, calado, a mente claramente muito longe dali… Ou melhor dizendo, muito mais perto. Ele não havia vindo até ali para discutir, ele sequer tinha o que argumentar. Ela via a força de vontade do juiz cedendo conforme suas tentativas de impor sua autoridade falhavam. Ele não poderia prendê-la enquanto estivesse no santuário, e qualquer tentativa de "cerco" falharia agora que ela tinha aliados entre os ciganos para lhe trazer o que precisasse.

Ele a olhava com fúria, mas também com algo a mais. Gothel conhecia muito bem aquele olhar. Sabia o que ele queria, e era exatamente o que ele teria. Se jogou nos braços dele, encenando um choro convincente e digno de pena.

"Pobre homem de carne fraca…" — Gothel sorriu, enfiando o rosto na túnica de Frollo.

— Recomponha-se, mulher! — Ele a afastou subitamente, mas não foi nada convincente; o corpo inclinado para frente, os olhos que encaravam sua boca com frequência, a respiração em ritmo acelerado, as mãos que tremiam e apertavam seus ombros como se quisessem mais agarrá-la do que de fato afastá-la… Uma vitória fácil.

Deslizou uma mão pelo braço do juiz até seu rosto, acariciou-lhe o pescoço e enfiou os dedos entre seu cabelo. Sentiu as mãos ossudas do homem deslizarem por suas costas enquanto o puxava para um beijo longo e intenso.

O beijo do ministro era desajeitado e tímido, quase como o de um garoto inexperiente, e ele claramente não sabia o que fazer com as mãos; ele apenas a apertava e puxava descontroladamente para si, quase como uma súplica, fazendo Gothel se perguntar se ele ainda era virgem. A julgar pela vida que levava e pelo seu histórico com mulheres, ela não duvidava de que a resposta fosse positiva… Ou talvez apenas fizesse tanto tempo que não fazia diferença.

Com a mão livre, Gothel alcançou a virilha de Frollo e mesmo por cima das várias camadas de tecido, pôde sentir sua rigidez pulsante. Sorriu maliciosamente ao ver que o homem tinha bem menos a compensar do que ela havia presumido.* Os movimentos de sua mão eram rápidos e precisos, enquanto sua língua percorria o caminho do pescoço do juiz até o lóbulo de sua orelha. Ele suspirou e ofegou sob seu toque, e Gothel estava começando a verdadeiramente se entreter com aquilo. A voz de Frollo era grave e profunda, proporcionando gemidos que ela classificaria como… Surpreendentemente bons de se ouvir.

Ele agarrou seu cabelo com força, enterrando o rosto em seu pescoço enquanto respirava profundamente. Ele era puro instinto, e possuía uma força surpreendente para um homem tão magro. Gothel ouviu o ar escapar dos pulmões do juiz todo de uma vez com um derradeiro gemido, as pernas trêmulas apoiando-se na parece para não cederem, e a umidade pegajosa que atravessava o tecido e atingia sua mão.

Ela inclinou-se para o banco onde havia estendido as roupas molhadas, apanhou o chapéu do ministro e o ajustou na cabeça do pobre homem que jazia exasperado contra a enorme pilastra, encarando-a com um misto de fascínio e horror.

— Não esqueça seu chapéu, vossa excelência. — Ela disse, com um sorriso malicioso nos lábios.

Ele não respondeu. Não disse sequer uma única palavra. Apenas afastou abruptamente a mão de Gothel, derrubando o próprio chapéu ao chão; afastou-se dela como se tivesse visto o próprio diabo, tropeçando em direção à porta da catedral.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Oh, será que foi algo que eu disse? — Com uma gargalhada, recolheu suas roupas há muito já secas e as vestiu. Vestiu também o chapéu de Frollo, chegando à conclusão de que este lhe servia muito bem. Com essa nova fase de seu plano concluída, só lhe restava fazer-lhe uma visita… Ele já era seu, e em breve a pedra filosofal também seria.