Snowfall

Snowfall | day 10 cozy winter


— Vai nevar. — Shouto sorriu para o céu.

A informação deixou Katsuki desgostoso, pois odiava dias frios. E nevar significava que a temperatura cairia ainda mais, indisposto para vivenciar aquela desagradavél experiência de congelamento. Exagero? Talvez.

Desde pequeno, ele nunca gostou do inverno, o corpo sempre foi sensível às baixas temperaturas; tão intenso e íntegro de sua fisiologia que reverberava como deficiência na peculiaridade.

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Sem calor, sem explosões!

— Como você pode estar feliz com isso, pavê? — Ele enterrou o rosto no cachecol e forçou as mãos no fundo dos bolsos. — Foda-se o frio! Foda-se o inverno!

— Podemos pegar algo quente para beber no caminho, vai ajudá-lo a se aquecer. — Os olhos ímpares caíram sobre a imagem de Bakugou, que surpreendeu-se ao observar o olhar impassível sobre si, que aos poucos tornava-se macio, quase ingênuo. Desde quando era fácil ler as suaves mudanças no rosto de Todoroki? Talvez a consciência sobre o garoto fosse mais irritante do que qualquer frio, nenhum gelo o deixava tão estático e rendido quanto aquele garoto.

— Desde quando fazemos estúpidas paradas antes de voltar para a U.A.? — A voz saiu abafada por causa da lã em torno do queixo.

— No verão você desviava do caminho só para comprar picolés, creio que não seja um problema desviarmos para comprar chocolate quente. — Shouto começou a mexer na bolsa transpassada e retirou uma niqueleira para verificar se possuía iens suficientes para a máquina de bebidas.

Katsuki olhou incrédulo, imaginando que a idade mental do colega era de, — no mínimo —, oitenta anos com aquela estúpida bolsinha de moedas. Outro detalhe que descobria, outra informação que guardaria no baú de sentimentos que não deveriam pertencer a linha de pensamentos do loiro. Ele iria zoar, falar qualquer maldito palavrão, mas desistiu quando o primeiro floco caiu sobre a bochecha.

O bicolor virou-se para observar os pequenos flocos que dançavam no ar como pétalas de cerejeira, deixando o lado albino para Katsuki.

Os cabelos platinados e a pele alva se fundiram com a paisagem de tons acinzentados, como se o mundo perdesse toda a saturação na troca de segundos. O olhar cinza sustentava o único brilho da paisagem leitosa, impossibilitando que as sombras pudessem manchar a imagem etérea, como se nenhuma cor fosse necessária no mundo para haver beleza.

Os dedos de Bakugou formigaram dentro do casaco, numa estúpida necessidade de pegar o celular e registrar aquele momento, pois nenhuma palavra poderia descrever a maravilha de ver Todoroki imerso naquele cenário desbotado.

Com certeza, aquele era o pior campo de batalhas para o jovem herói, não havia como lutar contra aquela criatura feita de dualidades, edificada de cristas e fogo; e que no sopro mais divino, drenava a potência da musculatura e superaquecia o meio do peito, inflamando o coração que se debatia como um pássaro em chamas. Os olhos que dançavam de cinza para azul estavam cada vez mais próximos, e as pernas congelavam mais e mais no asfalto, Katsuki não conseguia se mexer, correr para um lugar seguro, a fera invernal já estava a sua frente, levando-o para longe, para perto, para qualquer lugar fora da órbita daquele planeta.

— Bakugou. — Shouto ergueu a mão direita na frente dos olhos rubis, esperando que os flocos cobrisse a palma. — Quando eu era criança esperava a neve derreter na minha mão apenas para congelar de novo. — E assim que o gelo tornou-se pequenas gotas ele o fez, transformando-os nos cristais mais bonitos que Katsuki já viu na vida.

— Você é tão idiota. — Ele quase chorou aquela informação, porque era pura mentira. O fragmento em formato de estrela era perfeito, cristalino e simétrico, compactuando com o dono daquela habilidade de fazer a mais simples gota de água tornar-se a escultura mais elegante de todas.

Estúpido ou não, Katsuki espelhou a ação e ergueu a própia palma no ar, apenas para observrar os flocos desparecerem na pele. Talvez ele não quisesse o gelo, talvez apenas desejasse a outra mão quente sobre a sua, aquecendo-o como brasas de uma lareira. O transformando numa bela estátua, lapidando-o da forma mais prazerosa possível, com suas mãos hábeis e delicadas.

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— Você está congelado. — E como se o bicolor pudesse ler pensamentos, ele colocou a mão esquerda sobre a dele. Os dedos quentes deslizaram pelas pontas e o contato foi subindo lento pelas hastes dos dedos, pelos volumes ásperos das digitais até tocar o meio curvo. Bakugou perdeu tudo naquele movimento, ardendo dos pés a cabeça. — Eu posso ajudar.

— A gente pode explodir se eu suar apenas uma gota dos meus poderes, Todoroki! — Como reflexo, os tendões repuxaram os dedos, envolvendo com uma absurda gentileza a mão ligeiramente maior do que a dele.

Os dois ficaram perdidos no espaço e tempo de suas presenças, até mesmo os sons abafados da cidade haviam desaparecido dentro daquela frágil bolha de cristal. Os tons vermelhos da íris de Katsuki incendiaram o espaço entre eles, compensando a frieza das de Shouto. Os opostos chocando-se como ligações atômicas, o magnetismo atraindo os corpos para o contato, para que pudessem descobrir as ligações que deixou lenta as conexões cerebrais.

— Não vamos explodir. — O bicolor falou profundo, buscando um pouco de oxigênio para os pulmões. O loiro só acreditou que ele falou algo porque o ar condensou em fumaça entre eles, e só assim observou que estavam próximos, muito perto um do outro.

Por mais que as pernas estivessem paralisadas pela sobrecarga de emoções, Katsuki quebrou o espaço entre eles e os lábios se chocaram como ondas violentas em alto mar. Ele fechou os olhos e segurou o pulso do outro, colando mais os corpos, satisfeito com o calor que crescia mais e mais entre eles.

Os lábios deslizaram sobre os macios, beijando os cantos, sugando o alto do cupido, selando com quase inaudíveis estalos a pressão entre eles. A língua cruzou as fronteiras, sendo bem recebida pelo toque sutil na extremidade, apenas para apreciar o gosto daquele novo sabor. A ascensão continuou com a dança corpórea, até que não houve mais vácuo entre eles.

A experiência era como sorver uma deliciosa bala de caramelo, que girava em ângulos satisfatórios, e a única consequência daquela doçura era extravagância por mais, implorando para que o doce nunca acabasse em suas bocas.

Katsuki agarrou com urgência as madeixas vermelhas e brancas, devoto de corpo e alma para Shouto. Na dureza do inverno, aquela era a única sensação que apreciava, onde o gelo e fogo poderiam coexistir na atmosfera explosiva de seus braços.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.