Lover.

afterglow. - Louis e Ethan.


— Não estou entendendo por que você está fazendo tanto caso disso. - Ele perscrutou minha face em busca de respostas enquanto franzia o cenho.

A verdade era que nem eu sabia. Nós éramos amigos, há mais tempo do que eu me lembrava ou gostaria e eu só sentia uma necessidade enorme de protegê-lo e guardá-lo a sete chaves como se ele fosse o rei de algum lugar. Como se ele fosse a pessoa mais importante da terra.

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E ele era, para mim.

— Você está saindo com ele de novo? - Perguntei, batendo o pé direito no chão e sustentando um tom de voz enojado.

— O que você tem a ver com isso? - Me perguntou, cruzando os braços e me fitando no fundo dos olhos. Aqueles olhos azuis índigo me desarmavam, assim como seus cabelos escuros com leves nuances acobreadas que só era possível ver à luz do dia.

Mas o que me destruiu mais foram suas palavras e, de fato: o que eu tinha a ver com aquilo?

— Ok. - Murmurei amuado e encolhi os ombros. - Eu só me preocupo com você.

— É só isso? Preocupação? - Sua voz me desafiava e me incitava a dizer do que aquilo se tratava.

— É difícil de acreditar que alguém que não te trata como lixo se preocupa com você, Ethan? - Mal reconheci minha voz que soava aguda demais enquanto eu debochava com uma risada de escárnio. Murmurei mais para mim mesmo: - Je ne sais pas pourquoi je m'embête.

— Achei que você reservasse suas frases em francês para brigas com suas irmãs. - Me encarou irritado, naquele momento parecia odiar meu francês.

— Às vezes sai quando estou tenso. - Me sentei, envergonhado. - E enfim, não vou mais te aborrecer.

— Sabe qual é o seu problema, Louis? - Era enervante a maneira que ele pronunciava meu nome de maneira petulante quando estava bravo comigo.

— Não. - Foi a minha vez de cruzar os braços. - Por que você não me diz?

O observei andar de um lado para o outro me fuzilando com os olhos. Parecia, de alguma forma, ainda mais bonito com o corpo atlético e esguio, suas calças jeans retas nem apertadas demais e nem folgadas, um ajuste perfeito; sua camiseta de banda preta folgada e a jaqueta jeans nos ombros. Seu rosto tinha aquela tensão de quem estava para explodir, o maxilar duro, o vinco entre as sobrancelhas e os lábios apertados, numa linha rígida.

— Deixa para lá. - Ele girou os olhos e apontou para nós dois. - Talvez não esteja dando certo, isso aqui.

— Como assim? - Quis parecer despreocupado, mas qualquer um perceberia as notas de pânico na minha voz.

— Louis. - Sua voz era quase um suspiro. - Você é meu melhor amigo, é uma das pessoas que eu mais admiro no mundo. Entretanto...

— Entretanto?

— Ultimamente nós só brigamos. - Ele correu os dedos pelos cabelos e voltou a andar. - Existe uma tensão que eu não sei explicar. Você parece se irritar com tudo o que eu faço.

— Não é bem assim, Ethan. - Mas eu sabia que ele estava certo.

Nos últimos meses eu não estava conseguindo lidar com a intensidade do que sentia pelo meu colega de apartamento. Eu não sabia como fazer para acabar com aquilo e não estragar tudo, ao mesmo tempo que eu não sabia se queria acabar com aquilo.

Ethan era emocionalmente indisponível. Seus relacionamentos não duravam muito tempo, ele não compartilhava sentimentos e se livrava de casos que pareciam que iam para frente. Eu não queria ser mais um, droga, eu queria ser o único.

Eu queria todos os romances e todos os sorrisos.

— Brigar com você é como lutar boxe sem luvas. – Ele me encarou com os olhos mareados. Eu não entendia muito de analogias com esportes, mas parecia doloroso. - Desse jeito não vai sobrar nada, não vai sobrar... amizade.

— O que você quer dizer com isso? - Fechei os olhos para evitar a avalanche de emoções e o vômito de palavras.

— Não sei. - Encolheu os ombros. - Talvez seja a hora de me mudar.

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— Não precisa ser radical. - Minha voz era quase um sussurro. - Talvez eu tenha reagido exageradamente. É só que...

— Que você se preocupa comigo. - Girou os olhos novamente. - Eu acho que consigo me virar sozinho. E não, eu não estou saindo com ele de novo, aparentemente eu tenho sentimentos por outra pessoa.

Sentimentos?

Ignorei a bile que me subia e respirei fundo. Ali no fim da tarde, meu céu se acinzentou e eu me senti doente de repente. Seu rosto estava lívido e angustiado.

Parecia que eu tinha quebrado o que eu amava tanto.

— A gente pode conversar depois? - Minha voz soava embargada e eu só precisava sair dali. Precisava de um minuto para pensar. - Me desculpa por ter te magoado.

Saí da sala de estar às pressas, quase correndo em direção a escada de incêndio a fim de subir ao terraço: o único lugar com o ar o suficiente para prevenir um ataque de pânico. Um dia eu encheria aquele terraço do velho sobrado de flores e plantas... Era minha parte favorita da casa, tinha uma vista incrível de Londres, era silencioso e espaçoso. Talvez eu colocasse uma mesa para receber nossos amigos e uma churrasqueira, porque Ethan adora cozinhar ao ar livre.

Eu não queria que Ethan fosse embora. E era minha culpa e dos sentimentos que eu não sabia como lidar: estou apaixonado por Ethan. Não sei como dizer isso a ele e levar um sonoro "não". Não vou aguentar vê-lo com outra pessoa. E é uma droga, de qualquer maneira eu saio perdendo.

Era verdade que eu tinha me isolado como uma ilha e estava cada vez mais silencioso. Mas eu não tinha a intenção de machucá-lo. Eu só estava tentando descobrir como lidar com isso.

Tirei o celular do bolso.

"Hey, é tudo minha culpa. Tudo coisa da minha cabeça. Eu fui quem causou isso tudo, mas não era o que eu queria fazer. Eu não quero perder o que a gente tem."

Enviei para Ethan.

"Você entende tudo errado." Ele me respondeu e eu fiquei ali olhando para o celular, aguardando o crepúsculo. Entendo tudo errado mesmo, já que não entendi o que ele quis dizer com aquela mensagem.

"Eu tinha medo de confessar que eu tenho ciúmes de você." Tomei coragem e respondi a mensagem, sabendo que ele estava a um andar de distância e eu estava protegido com minhas lágrimas tímidas.

— Por que você tem ciúmes de mim, Louis? - Ouvi sua voz as minhas costas.

— Você está aqui. - Tentei secar meu rosto antes de virar meu torso, sentado no chão.

— Sabe quando você me magoa? - Ele me alcançou e se sentou ao meu lado, admirando os tons que o céu recentemente adquirira. O céu pintado em tons pastéis de rosa, laranja, azul e algumas nuances de lilás era a minha parte favorita do dia, a tarde em toda sua glória se despedindo para receber a noite. - Quando você presume o que eu sinto e simplesmente não diz o que você sente.

— Eu sinto muitas coisas, Ethan. - Sorri de maneira tímida e encolhi os ombros. - E na maioria das vezes é só... Confuso e complicado.

— Eu sei como é. - Ele coçou a cabeça e curvou os lábios num sorriso sem graça. - Eu não quero ir embora, eu disse aquilo porque eu estava frustrado... Com você.

— Eu também não quero que você vá embora. - O olhei nos olhos novamente, sabia que eu estava uma bagunça com a ponta do nariz vermelha e o rosto úmido. - Me diga que ficaremos bem, mesmo que eu perca a cabeça de vez em quando.

— Eu digo. - Ele fechou os olhos e mordeu o lábio como quem reprimia um pensamento.

— O que foi?

— Nada. - Ele olhou para o crepúsculo a nossa frente por momentos que pareceram horas até dizer: - Eu digo o que você quiser, se você me disser porque sente ciúmes de mim.

— Você não quer ouvir o que eu tenho a dizer. - Encolhi os ombros.

— Já disse que você me magoa quando presume o que eu sinto. - Virou-se para mim.

— O que você quer que eu diga? - Minha voz era um fiapo. - Eu não aguentaria... eu não aguentaria não ser correspondido, Ethan.

— E quem disse que você não é, Louis. - Ele me encarou até me fazer olhar para ele. - Eu amo você.

Senti meus olhos se arregalarem e meu semblante se render a perplexidade.

— E não é do jeito que a gente sempre se amou, como melhores amigos e colegas de apartamento. - Ele engoliu em seco diante do meu silêncio. - Eu amo você no sentido: eu estou apaixonado por você.

Ele respirou fundo.

— Eu penso em você o tempo inteiro. - Continuou me despejando palavras. - Eu tento não te despir mentalmente todos os dias, eu tento te agradar o tempo todo, eu só falo de você o tempo inteiro, eu te cubro quando você dorme no sofá, eu quero te abraçar toda hora que algo de bom acontece e ainda mais quando algo de ruim acontece. Eu... Eu quero te beijar toda vez que olho para sua boca bem desenhada e para esse sorriso branco e perfeito. Eu quero me aconchegar do seu lado e ver esses filmes ruins e clichês que você adora e sabe recitar as frases debaixo de um cobertor, eu quero te levar para jantar e andar de mãos dadas. Eu quero pular em cima de você e te agarrar todas as vezes que você se distrai e começa a falar em francês de maneira sensual e natural como se eu fosse entender alguma coisa... E eu só estou loucamente apaixonado por você. E eu estou assustado porque eu nunca me senti assim na vida.

— Nunca? - Meu rosto estava queimando de excitação, felicidade e com o fato de que ele tenta me despir mentalmente todos os dias.

— Nunca. - Ele examinou meu rosto e por isso eu sorri.

— O que você tem vontade de fazer quando eu sorrio? - Perguntei inocentemente.

— Encostar minha boca na sua. - Ele soltou uma sonora gargalhada de alívio.

Et quand je parle français ?— O provoquei, quase sussurrando e me inclinando em sua direção.

Finalmente Ethan se jogou em cima de mim e me beijou. Colou os lábios macios nos meus e não demorou muito para que sua língua me invadisse a boca e seus dentes mordiscassem levemente meu lábio inferior, me deixando sem fôlego enquanto rolávamos no cimento batido do terraço sob o fim do crepúsculo.

— Eu amo você, Ethan Morrison. - Sorri plenamente, coberto de felicidade com um sorriso que nunca sairia dos meus lábios. - E estou loucamente, perdidamente e completamente apaixonado por você.

Fui presenteado com o melhor e maior sorriso da pessoa mais linda do mundo e vi que tinha descoberto o que era felicidade ali no terraço, sob o crepúsculo: a hora mais bonita do dia.