Vínculo

Capítulo Único


Internamente, bem no seu íntimo, um devaneio traiçoeiro feito erva daninha se finca e um de seus medos se repete:

Izuku é o cãozinho de Kacchan.

Agora, que tipo de cãozinho? Pois bem, nem ele mesmo, apesar de tantos anos de observação minuciosa e análises, sabe direito.

O que ele sabe, muito bem, porém, é que Kacchan é... tudo que Izuku deseja e tudo que ele despreza. Se o pedissem para resumir o que Kacchan é para Izuku, ele diria, provavelmente, sua visão de vitória, grandeza, realização, e, principalmente, seu maior rival.

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Mas se o pedissem para explicar a totalidade do universo que existe entre os dois, Izuku não tem certeza se conseguiria fazê-lo. E se conseguisse, nada garante que alguém distante desse universo compreenderia sua explicação e todo vínculo entre eles, carregado de contradições, histórias, brigas e má comunicação.

Afinal, como compreender um relacionamento no qual Kacchan é um dos participantes? Como compreender a contradição em si que é Kacchan?

(Como se Izuku por si só não fosse um tanto peculiar.)

Bakugou Katsuki é brilhante. Um aluno prodígio, intuitivamente bom em qualquer coisa que decide fazer.

Bakugou Katsuki é radiante, como o sol, como o fogo, quente. E como o fogo, quando se chega muito perto, quando se brinca ou o provoca, você se queima.

Bakugou Katsuki é ofuscante, intimidador, um babaca feito de puro ego inflado.

E Izuku é um tolo. Izuku é um tolo pois ele sabe, ele presenciou diretamente as piores características de Kacchan e é ainda foco de suas investidas carregadas de raiva mas ainda assim, ainda assim, todo dia, ele volta, como um puro masoquista.

(Izuku não é um tolo a ponto de achar que Kacchan magicamente vai mudar de um dia pro outro e ser uma pessoa melhor ou talvez reconhecer Izuku como algo além de um depósito de inseguranças. Mas Izuku é um tolo otimista que acredita no ego e na determinação de Kacchan de ser o melhor dos melhores, o melhor de si mesmo.)

No final do dia, Izuku sempre volta para Kacchan, apesar da humilhação e das inúmeras rejeições. Apesar de sempre se queimar. E Kacchan sempre reage, empurrando-o de novo. Ou deixando-o se aproximar só para queimá-lo mais ainda.

Ironicamente, Izuku pode ser um desprezível inútil para Kacchan. Mas é um inútil que ganhou espaço nas frustrações de Kacchan, o inútil que a pura presença já causava uma grande reação de Kacchan. Izuku é o desprezível que era tão desprezível a ponto de ter que ser lembrado constantemente de sua desprezibilidade e, Kacchan como é, se encarregou dessa responsabilidade, como se tivesse-a colocado em sua agenda pessoal e tudo mais. Talvez ele deva se sentir lisonjeado até.

E talvez, então, nas suas obsessões, Kacchan e Izuku não sejam tão diferentes assim.

Pois, talvez, então, Kacchan volte para Izuku do mesmo modo que Izuku volta para Kacchan, do mesmo modo que o sol se põe todo dia e renasce no outro. Talvez ele saiba, inconscientemente, que ele e Izuku são inseparáveis, que ambos se orbitam e sempre se orbitarão, em constante atrito um com o outro.

(Ah, seria agridoce e reconfortante.)

Os mil talvez e as mil possibilidades de um vínculo tão atado embrulha o estômago de Izuku com uma quente satisfação, com o sentimento único de controle. Izuku conhece Kacchan bem o suficiente para provocá-lo, atiçá-lo. Ele sabe o que falar, o que fazer ou não fazer. E também sabe fazer com que Kacchan ache que ele tem controle sobre Izuku.

Talvez Izuku seja de fato o cãozinho, inseparável, de Kacchan. E, levando em conta o relacionamento deles, Izuku sabe que se de fato for o cãozinho de Kacchan, Kacchan é o seu cãozinho. E se toda a defesa velada com agressividade de Kacchan indica algo, alguma parte de Kacchan está ciente disso também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.