Reviver

Discordância


Alfred entrou no quarto de Damian com uma bandeja, sabia que o rapazinho estaria faminto quando acordasse. Fez questão de não deixar vestígios na mansão do que havia acontecido e, se não fosse pelo pijama diferente e uma tala no lugar do gesso, poderia estar seguro de que nenhum dos “detetives” da sala descobririam.

Jason estava encostado ao lado da porta, encarando o chão. Bruce e Dick, também em seus trajes civis, estavam um em cada lado da cama, revezavam o olhar entre Damian, o teto e qualquer outro ponto.

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Ninguém queria falar sobre o que aconteceu.

— Cavalheiros, acredito que é melhor decidirem agora o que vão fazer depois. — O mordomo começou — Não podemos continuar negligenciando essa pobre criança, precisamos estabelecer rotinas e turnos para que ele fique sempre sob os cuidados de alguém.

Adolescente, Alfred — Dick o corrigiu, se sentando ao lado da cama.

— Se eu estivesse aqui ao menos dessa vez... — Bruce começou a se culpar.

— Eu posso ficar aqui por uns dias e...

— E fazer ele ter outra crise?

— Eu já pedi desculpas, cacete! — Jason olhou irritado para Dick — Eu sou bom em lidar com crianças, até...

— Perdão? — Foi a vez de Alfred o interromper.

— Eu cuido bem do Bizarro, é quase a mesma coisa!

— Se cuidar de crianças fosse fácil assim... — Bruce murmurou e se sentou na beirada da cama — Não posso continuar colocando Gothan acima de tudo, mas se Batman não continuar, hora ou outra Damian vai acabar sofrendo as consequências do mesmo jeito.

— Então continue salvando Gothan e deixe o resto do mundo para a Liga da Justiça, Patrão Bruce.

— Falando em resto do mundo, não foi só o Robin quem sumiu, Damian também. Ele vai acabar perguntando sobre a escola, amigos, ou alguém vai perguntar dele — Dick comentou.

— Como se alguém fosse realmente sentir falta dele como Damian... — Jason retrucou.

— O jovem Jonathan pergunta constantemente por ele, talvez uma visita pudesse fazer bem... — Alfred disse enquanto afofava a almofada com a perna fraturada da criança. Seguindo os padrões daquela família, usar algo ajustável como uma tala só serviria para ser retirada na primeira oportunidade. Entretanto, Damian estava se mostrando alguém extremamente obediente e merecedor de uma chance, apesar do pouco tempo dessa “nova convivência”.

Antes que mais alguém falasse algo, o rapazinho murmurou um som de dor. Todos olharam para ele ansiosos para que o garoto acordasse e dissesse ao menos que “estava bem”, mas isso não aconteceu.

— Barbara, Estelar e os outros dos Jovens Titãns também perguntam por ele... — Dick retomou a conversa de antes.

— Também me perguntaram sobre o pirralho...

— Continuem mentindo e falando que ele está desacordado. Tudo o que ele menos precisa agora é de vários “desconhecidos” falando sobre a outra vida dele. — Bruce se levantou da cama, ficar apenas esperando por algum sinal era angustiante — Essa foi a segunda crise, não sabemos se é algo passageiro ou não. Quanto menos estresse Damian tiver, melhor.

— Eu ainda acho que seria mais responsável levar ele para exames mais aprofundados, Patrão Bruce, mesmo que o coloque na mira da mídia...

— Ei, ei! — Jason interrompeu os dois mais velhos — Como assim se é algo passageiro ou não? Está falando que mesmo se ele voltar ao normal, ele pode continuar tendo esses ataques de pinscher!? — Ele passou as mãos pelo rosto, não estava conseguindo acreditar em algo como aquilo.

— Ei... — Richard se aproximou, colocando uma das mãos no ombro dele — Sei que é quase loucura olhar as coisas desse jeito, mas o Damian tem motivos de sobra pra sofrer de Estresse pós Traumático e coisas do tipo...

— Não tem não!

— A verdade é que todos aqui têm, mas preferimos usar um uniforme e sair para enfrentar isso pela noite — Bruce começou. Ele encarava a janela, não tinha coragem de olhar para os filhos — Isso é culpa minha, porque eu dei a vocês a mesma vida que eu escolhi levar...

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— A culpa até pode ser um pouco sua por eu ter morrido daquela vez, mas nem fodendo que eu iria preferir levar uma vida de garotinho engomado do papai do que quebrar a cara de idiotas com um pé de cabra! — Todd afastou a mão de Dick.

— Talvez Damian prefira agora, é isso o que precisamos aceitar.

— Ele não prefere nada! — Jason estava em absoluta negação. Aceitar que Damian não estava fingindo já era uma situação surreal, aceitar que ele de alguma maneira quis tudo isso estava fora de questão. — Por que ele iria querer isso!?

— Porque ele precisa! — Bruce acertou um soco contra a parede — Porque ele não teve infância; não tem uma vida fora da máscara de Robin; porque eu prefiro levar crianças em situações arriscadas para me ajudar a combater o crime do que cuidar delas como deveria; porque eu sou um péssimo pai!

— Cavalheiros, se querem continuar com essa discussão, peço que saiam daqui! — Alfred encarava os dois denunciando o quão irritado e até mesmo desapontado ele estava — Os motivos para o Mestre Damian estar nessa situação são vastos, desde traumas mal curados a até mesmo uma simples pancada na cabeça. Se querem escolher a causa quase saindo aos tapas para ver quem tem a razão, saiam! — ele reforçou — Porque o que essa criança precisa agora é de cuidados.

Todos ficaram em silêncio.

Jason se jogou em uma das poltronas do quarto e cruzou os braços, impaciente; Bruce voltou a olhar pela janela, se culpando por não saber administrar suas duas vidas; Dick se sentou na beirada da cama novamente, mexendo no celular; Alfred, confiante de que a discussão não recomeçaria, foi buscar quadros novos para colocar no lugar dos quebrados – eles caíram quando o Wayne acertou a parede.