Bruce estava repousando na ala médica do laboratório. Alfred, já cansado de alertar sobre os perigos que o estresse e sobrecarga poderiam causar ao coração dele – ainda fragilizado -, preferiu se certificar que ele ficaria em repouso deixando-o sobre os cuidados de duas pobres almas:

— Quer que eu fale com ele sobre o que combinamos? — Dick perguntou quase em um sussurro, tentando ser o mais discreto possível.

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— Não, eu lido melhor com ele — Selina respondeu igualmente baixo.

— Se precisar de ajuda... — Sorriu e saiu do laboratório, estava pronto para ajudar ela como enteado ou qualquer um em Gotham como Asa Noturna.

Ela o acompanhou com o olhar, depois encarou Bruce – sabia que ele estava acordado – e então finalmente começou a conversa:

— Você é um idiota...

— Eu sou.

— Que eu amo feito uma idiota...

— Também amo você, gata.

— Eu sei... — Selina o encarou, estava séria — E também sei que tem coisas na minha frente.

— O que...?

— Justiça, Gotham, Batman, aquele juramento tolo que você fez quando era criança... — Ela suspirou — Bruce, por mais idiota que eu ache isso... — Ela deu uma pequena pausa antes de continuar, chegando a levantar as mãos em defesa própria — Idiota às vezes, porque eu sei todo o significado! O significado é bom, mesmo que você se arrisque por isso... — Sorriu e segurou uma das mãos dele cuidadosamente — ... Eu entendo. Porque eu amo você, morcego idiota.

— Também amo você, gata idiota — Ele acabou sorrindo.

— E quem não amaria?

Ele acenou negativamente, como se fosse uma repreensão silenciosa à uma criança. Depois de alguns segundos em silêncio, ele suspirou e comentou, como quem não quer nada:

— Se quiser, já pode ir direto ao assunto...

— Ótimo! — Ela respirou fundo e segurou a mão do namorado com um pouco mais de força antes de continuar: — Seu filho não sabe que você ama ele. Talvez antes o Damian até suspeitasse disso, mas agora...

— Eu já disse que não fiz por mal.

— Não importa, Bruce. Sabe por que não importa? Porque mesmo sem fazer por mal, você sempre faz a mesma coisa: você não diz o que sente, você não sabe lidar com o que sente e você não quer sentir nada, porque tem medo de perder.

— De onde você tirou isso?

— Alfred e eu conversamos bastante ultimamente — Ela finalmente largou o namorado e se levantou — Dick, Barbara, Tim... Jason.

— ... Conversou com o Jason sobre mim? — Bruce não conseguiu esconder o sorriso bobo.

— Sobre o quanto você é infantil! — Ela cruzou os braços — Bruce, o que custa conversar com o seu filho!? Se você não explicar o que sente, Damian vai continuar achando que você está triste com ele!

— Eu não...!

— Ele não sabe que você foi o culpado!

— ... Eu fui?

— Foi!

— ... Finalmente alguém teve coragem de...

— De falar o que você tanto queria ouvir! — Selina o interrompeu — Você foi o culpado pela morte do Damian da primeira vez, do que aconteceu com ele antes e até do lustre ter caído em cima dele! — Estava irritada — E quer saber? Você também é o culpado pelo Jason ter morrido! Culpado pelo que aconteceu de ruim com o Tim, com o Dick, com o Alfred, com qualquer um!

— Mas...

— Você é o culpado por todas as coisas erradas de Gotham, morcego! É o culpado até por existirem pessoas ruins como eu! Você não precisaria de ajuda para quebrar a coluna porque tem o peso do mundo nas costas!

— Já chega, Selina!

Os dois ficaram calados, encarando um ao outro.

Ela estava irritada, inquieta, andando de um lado para o outro esperando até que as engrenagens girassem. Já ele, o maior detetive do mundo, se esforçou para ficar sentado na maca encarando-a e esperando alguma outra dica – ela não começaria uma discussão por nada.

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— Não faz sentido... — Bruce murmurou depois de alguns minutos — Você nunca me culpou por nada, o que foi tudo isso?

Ela sorriu, deixou os braços caírem ao lado do corpo e respirou aliviada. Se aproximou do morcego, o abraçou com força e o encarou – agora com doçura:

— Isso é uma tentativa desesperada de fazer você entender que ninguém culpa você por nada... — O beijou na testa — Você é o único que se culpa.

— Ainda não faz sentido.

— Faz... — Cuidadosamente, ela segurou a mão dele — Faz porque você sabe que eu nunca culpo você.

— E? — Ele entrelaçou os dedos aos dela.

— E você está ficando assim porque não sabe se o Damian culpa você ou não...

— ... Talvez seja isso.

— Morcego, sabemos que a culpa foi dele.

Impossível... — Ele apertou a mão dela instintivamente — Ele é uma criança! Ele só está assustado, não se culpando!

— Bruce, sabemos que a culpa foi dele! — Ela repetiu mais alto — Dele, não sua! Ele escolheu ir sozinho, ele escolheu o jeito mais difícil, ele cometeu erros e ele está pagando! A culpa de fazer ele chorar, esta sim é sua, mas a culpa por tudo o que aconteceu não. Ele está tendo pesadelos como consequência do que fez...

— ... Ele é só uma criança e... e eu...

— Ele é uma criança agora, morcego... — Selina disse baixo, obrigando o namorado a se deitar na maca mais uma vez — E você tem chance de ser o pai dele de um jeito diferente. Ficar se culpando só está te fazendo mal... — Sorriu, acariciando cuidadosamente o rosto dele com a mão livre — Esquece essa culpa toda, antes que deixe o meu filhote pior... por favor.

— Nosso, nosso filhote.

— Vai conversar com ele?

— Vou... — Segurou cuidadosamente a mão dela, entrelaçando os dedos novamente.

— Promete que não vai fazer ele chorar?

— ... Prometo.

— Finalmente! — Ela deixou algumas risadas escaparem.

— Está tudo bem aqui? — Dick os olhou da porta, curioso — Conseguiu?

— Sim! — Selina anunciou eufórica, enchendo o namorado de beijos pelo rosto.

— Ainda não acredito que vocês fazem um complô pelas minhas costas... — Apesar de tentar soar sério, Bruce não conseguia esconder o sorriso bobo.

— Às vezes é necessário, B — O rapaz sorriu — E meu apartamento está vazio mesmo, não tem problema nenhum se eles... — Quando notou o olhar nervoso de Selina, Dick parou de falar e pigarreou, olhando para um lado qualquer — Er...

— Seu apartamento...? — Bruce se sentou novamente. Estava sério, queria uma explicação sem rodeios dessa vez.

— ... É o plano caso você continue assim — Dick murmurou baixo, saindo novamente.

— Bruce, você não está nada bem — Selina o forçou a se deitar — Temos medo de que essa culpa toda possa fazer você piorar e...

— Onde o apartamento entra nisso? — ele a interrompeu.

— ... Talvez seja melhor Damian se afastar um pouco de você, pelo bem dos dois.

— Selina! — Bruce grunhiu como se tivesse recebido uma facada nas costas. Com esforço e se apoiando no que viu pela frente, dessa vez ele se levantou da maca e se afastou dela — Vocês querem tirar o meu filho de mim! — acusou.

— Queremos o melhor para vocês! — Ela se defendeu — Morcego, você não está conseguindo lidar com ele!

— Eu estou lidando perfeitamente com a situação!

— Você está se matando!

— Ele é meu filho! Meu! Ele não é nada seu! Você não tem o direito de levar ele! — Já estava na porta, pronto para sair e montar guarda no quarto de Damian para garantir que ele continuaria lá.

— Morcego... — Selina o chamou em um sussurro praticamente. Ela se aproximou lentamente – não tinha intenção de impedi-lo, mas mesmo assim ele ficou parado no mesmo lugar, imóvel — Vou fingir que não ouvi isso, ok? — Suspirou — Damian precisa de um lugar tranquilo e você de menos estresse. Dick e eu só vamos fazer algo se as coisas continuarem como estão...

— Por que o apartamento dele? Por que não continuam aqui e eu saio?

— Porque o apartamento dele está vazio, ninguém me reconheceria em Blüdhaven, principalmente com uma criança — Ela apoiou a cabeça no ombro do namorado — E você não sabe viver sem esse lugar...

— Selina...

— Eu estou a ponto de ficar louca aqui dentro, morcego — Ela o encarou deixando a tristeza e a ansiedade finalmente aparecerem — Eu preciso sair, fazer alguma coisa diferente, me sentir viva de novo... — O abraçou um pouco mais — Cuidar do nosso filhote me distrairia...

— Cuida dele aqui, comigo — Bruce pediu, a abraçando carinhosamente.

— ... Só se parar de fingir que está lidando bem com a situação.

— Eu estou lidando bem...

— Tão bem quanto eu...

Os dois se encararam e deixaram uma risada baixa e cumplice escapar. Ambos, como pais, estavam fazendo o melhor que conseguiam – por mais disfuncionais e autodestrutivos que estivessem se saindo.

Permaneceram abraçados por pouco menos de um minuto, em silêncio, até que o vigilante comentou algo que há dias vinha pensando:

— Eu não sabia que... — Buscou pelas palavras que poderia usar — que realmente gostava de cuidar do Damian. Eu achei que só se sentia obrigada pelo mal-entendido de ser “mãe” dele...

— Eu adoro ser a mãe dele, talvez não tanto quanto o Dick... — Soltou uma risada que logo conteve, afinal, o rapaz estava atrás da porta esperando a reconciliação dos dois, provavelmente ouvindo a conversa — ... Mas eu amo aquele pirralho ciumento.

— E quanto ele voltar ao normal? Como você acha que ele vai... reagir?

— Bem! — Sorriu — Ele tem medo de que eu roube a sua atenção ou que... — ela desviou o olhar — ... que nossos filhos roubem o lugar dele, então... — Pigarreou.

— ... Nossos filhos? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Então... — Já recuperada da timidez momentânea e pronta para mudar o rumo das conversas, Selina arqueou uma das sobrancelhas e colocou as mãos nos ombros dele, ronronando lentamente enquanto o trazia para perto de si: — Deveria estar na maca, Senhor Wayne... miau.

— Me acompanharia até lá, Senhorita Kyle?

— Claro! — Ela sorriu e o beijou antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.

E em meio ao beijo caloroso, os dois caminharam em direção a maca. O esforço poderia ser prejudicial para o vigilante noturno naquele estado, mas os dois não ligavam para este pequeno detalhe naquele momento: o único estado que os dois poderiam ser descritos era o de euforia.

Quando tiveram que se separar em busca de ar, ambos já estavam em cima da maca. Ele deitado, apreciando a beleza da gata e ela, cobiçosa, estava começando a se irritar pela dificuldade em abrir o uniforme do parceiro – se ela estivesse com as garras, aquela roupa já teria sido rasgada.

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Porém, antes que ela conseguisse tirar algo dele além do capuz, ambos foram interrompidos:

— Rápido, por aqui! — Dick pediu enquanto abria a porta daquele lugar, aflito, só notando o casal acalorado depois que já tinha entrado — O que vocês... deixa pra lá, não temos tempo!

— O que...? — Selina nem ao menos conseguiu terminar a pergunta antes de ser “gentilmente” expulsa da maca pelo namorado – que a essa altura já estava se levantando — Ei!

— Damian está se sentindo mal? Tim? O que houve!?

Bruce bombardeou Asa Noturna com perguntas, mas antes que o rapaz respondesse, Batgirl e Capuz vermelho cruzaram a porta – ele se apoiando nela como podia, mas estava quase sendo arrastado pela menina enquanto balbuciava murmúrios sem sentido.

— Rápido, coloca ele deitado! — Dick ordenou enquanto digitava comandos em um dos monitores daquele lugar.

— É fácil dar as ordens... — Barbara resmungou enquanto, com muito custo, tentava fazer Jason soltá-la — Preciso de ajuda aqui, ele agarrou o meu cabelo!

— Eu...! — Bruce nem ao menos terminou a frase, Selina o interrompeu e se meteu na frente dele.

— Eu ajudo! — Ela se aproximou da garota. Tentava entender o motivo de Jason se agarrar nela mesmo parecendo tão fraco, mas só fez perguntas quando o rapaz já estava deitado na maca – agora segurando uma das mãos de Barbara — ... Gás do riso?

— Gás do medo... — a ruiva a respondeu enquanto finalmente se permitia relaxar — A composição está muito alterada, os antídotos não funcionaram e... B? B, onde você está indo!? — Ela encarou o vigilante que, aproveitando da distração de todos, já tinha até mesmo colocado o capuz de Batman novamente — Você ir agora não vai resolver nada!

— Morcego! — Selina o repreendeu.

— Não infectariam só uma pessoa — Ele se aproximou de Jason com cuidado para que nenhum movimento brusco o assustasse, verificando que era preciso chamar Alfred para cuidar dele antes de sair — Eu preciso achar o Espantalho antes que...!

Antes que Batman conseguisse terminar, Jason conseguiu fazer o que as duas mulheres da sala não conseguiram: parar Batman, interromper as ações dele. Ele segurou a ponta da capa do Cavaleiro, balbuciando finalmente palavras que tinham nexo:

Bruce, fica... — disse em um murmúrio baixo, precisando respirar fundo algumas vezes antes de continuar o pedido: — Fica aqui... Eu... Eu tô com medo.

— Eu... — Batman encarou a porta, suspirou e deixou a justiça para depois — Eu estou aqui, filho... — disse baixo, segurando cuidadosamente as mãos de Jason e tentando o fazer soltar a capa.

— Bruce, não me deixa sozinho! — A voz já estava falhada, fazendo as palavras saírem arranhadas da garganta. Ele encarava o teto, ou melhor, ele encarava alguma alucinação enquanto se remexia na maca — Pai! Pai, eu não quero ficar sozinho de novo!

— Nunca vou deixar você sozinho, filho...

Apesar de toda a melancolia envolvendo aquele cenário, com Jason abatido pelos piores medos que tinha, todos encaravam a cena com ternura. Bruce até mesmo sorriu, um sorriso com olhar triste, porque ao menos dessa vez ele tinha chego a tempo de cuidar do rebelde.