Eu sou a rainha de Sabá.

Foi difícil, no começo, me adaptar ao ato de governar, pois não havia sido criada para de fato governar um reino. Aprendi, sim, tudo o que precisava para isso, mas não era o pensamento de todos que reinaria, pelo menos não sozinha. Precisaria de um casamento, com um homem claro. Além de que, se me coroassem, eu não teria voz em nada. Minha única preocupação seria para com os "deveres de uma rainha", que eram conseguir ficar grávida, basicamente.

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Nada disso aconteceu. Subi ao trono sem uma aliança no dedo. E administrei tudo muito bem, segundo a maioria dos meus súditos.

Por vezes, era difícil uma conversa verdadeira com os meus vizinhos governantes. Isso porquê, quando ouviam falar de mim - uma soberana governando sem marido ao seu lado e fazendo um reino ser próspero e rico -, eles ( os outros monarcas) não acreditavam. Pensavam que era uma brincadeira de seus conselheiros. E quando vinham, a conversa era recheada de comentários que nada tinham a ver com o assunto principal do encontro. Como uma mulher poderia fazer isso, exercer esse cargo tão bem, sem que precisasse ter uma aliança no dedo? Como era possível? E o dia inteiro essas perguntas vinham até mim e tinha que respirar fundo para não causar um briga ou até uma guerra. Qual é o problema em aceitar que sou uma rainha e que governo um reino inteiro com sabedoria e precisão? Mulheres são bem inteligentes, okay?

Era... sufocante.

Então, qual não é a minha surpresa quando recebo uma carta enviada pelo rei de Israel me convidando para um encontro entre monarcas e talvez um acordo.

Claro, não estou endeusando o monarca de Israel, mas foi uma surpresa realmente. Sei que ele deve ter a mesma, senão uma parte, da mentalidade dos mesmos reis que me fizeram e fazem as mesmas perguntas toda vez que vou ter com eles. Mas, acredite, isso já é uma conquista em meio a tanta discriminação e machismo com mulheres no poder.

Esse foi o pensamento que tive assim que recebi o convite para um banquete com o rei de Israel. Mas se teria mais um aliado, recusar eu não iria. E já havia ouvido que sabedoria era o que não faltava àquele rei, então aceitei e a viagem até Israel foi feita.

Eu devia ter imaginado...

Salomão não era tão diferente assim dos outros, ele me enganou para passar a noite comigo. Quando disse ao rei que não estava ali para tratar de assuntos pessoais e que não toleraria nenhuma ""piada"" sobre meu cargo e minha capacidade para governar, ele pareceu aceitar de bom grado. Até que me disse que não faria nenhuma implicância que sugeriria algo a mais se, e somente se, eu não pegasse nada do seu reino.

No mesmo instante me senti ofendida. Eu era uma rainha, tinha tudo que quisesse, não precisaria roubar nada de ninguém. Porém, a comida que ele me serviu estava muito condimentada e, com sede, peguei um jarro de água na cabeceira da cama. No mesmo instante, Salomão apareceu e disse que eu descompri a promessa e que foi ainda mais ruim, porque a água é o maior objeto de maior valor. Esperteza não falta nesse rei, não é?

Bom, eu não tinha muita escolha. Se eu dissesse não a melhor coisa que poderia acontecer era ser despachada do reino. A pior, a morte...

E agora, depois de voltar de Israel, eu tenho um filho, que precisarei criar sozinha. Porém irei cria-lo para que seja diferente do seu pai, do seu avô, e todos os homens que existem no meu e no seu tempo. Ensinarei a construir um reino, com pelo menos o mínimo de respeito e igualdade perante todos os gêneros.

Ele viverá em um mundo diferente. Um mundo igual e justo, como o que eu queria ter visto. Nem que seja depois da minha morte, para esse mundo acomtecer.