Hel estava chorando. Chorando como nunca chorara antes. As lágrimas desciam com tanta força e como não as enxugava elas não paravam o caminho por seu rosto.

Hel chorava porque era estranha. E esquisita. E diferente dos outros seres ao seu redor.

Ela nunca se casou, porque ninguém a queria. E igualmente por esse mesmo motivo ela não tinha filhos, para não passar a sua peculiaridade para as crianças tão inocentes.

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E a principal causa de seu afastamento das outras pessoas, podia ser vista no reflexo do espelho de seu quarto.

Sua aparência.

Seus cabelos eram brancos como os de sua mãe e seus olhos ocasionalmente brilhavam lascivos como os de seu pai. Ela tinham a postura de Loki, e o porte e força física de Angurboda.

Além de ter metade de seu corpo vivo e a outra metade morta, se decompondo, como um cadáver.

Assim que os argardianos a acharam, junto com seus irmãos em Jotumheim, Hel sabia que foi isso que pensaram. Ok, não foi no exato momento, mas com o tempo Hel percebeu isso.

Ela soube que foi julgada pelo seu exterior e que isso só aumentou quando conheceram sua personalidade - Hel não conversava com as pessoas, ela preferia ficar sozinha em seu quarto do que socializar com os outros seres, pelo menos os vivos -, assim como seus irmãos e todos que uma vez foram diferentes da normalidade pregada pelos deuses de Asgard.

Era meio óbvio que uma hora ou outra eles se cansariam. O próprio Odin jogou Jörmungandr, sua irmã, de cima de Asgard quando viu que ela crescera muito e que iria destruir tudo o que ele batalhou para conseguir. Com Fenrir, até que eles foram piedosos, ele conseguiu um amigo asgardiano, mas seu destino já estava traçado contra os deuses.

E Hel, bem. Como ela preferia muito mais os mortos do que os vivos, a colocaram para governar Niflheim.

Uma desculpa perfeita para a expulsarem de Asgard, o reino do ouro, onde todos se escondem em uma casca de perfeição inalcançável. Uma desculpa para nunca mais vê-la e não se assustarem com sua face horrenda.

No começo, Hel abraçou todos os sentimentos escondidos no olhar dos seres que a viam pela primeira vez, e tomou aquilo como verdade. Como se ela realmente fosse uma aberração da natureza e a culpada por isso. Porém, depois de muito pensar, a mais nova rainha do submundo decidiu que não. Ela não era o que diziam. Hel era muito mais que isso.

Hel enxugou as lágrimas e olhou nos fundo dos seus olhos, o vivo e o morto.

Hel era estranha, esquisita, anormal. E ela se amaria sendo assim.