Hera não sabia exatamente o quê sentia. Era uma mistura de cansaço, choque, maravilhamento e entendimento.

Seu marido era... complicado. Embora ele seja um pouco imaturo, talvez um pouco- Não! Não, não, não Hera. Ele tem culpa, não é mais um menino! Hera ainda tinha o (horrível) costume de ver seu irmãozinho e não um homem adulto em Zeus.

Seu casamento estava indo de mal a pior a muito tempo, e Hera sabia disso ou melhor reconhecia. E durante todos esses anos ela achou que, como não podia com o marido, descontaria toda a sua frustração... nelas. Que a maior parte da culpa estava nelas, elas com seus corpos perfeitos, com sua sedução que não viam mal em se deitar com alguém comprometido. Com alguém que deveria amar a sua esposa, só ter olhos para ela e que fosse... fiel.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Tudo isso era mentira. Pelo menos, a parte de que aquelas mulheres tinham a culpa. Especialmente por que elas não queriam, muito menos sonhavam com aquilo. Não deviam ser acusadas de nada.

E Hera as acusou em vez de entendê-las. Ela não ouviu, pior, Hera não cogitou ouvir o outro lado da história. Ela não se deu ao trabalho de julgar honestamente e com provas suficientes para uma acusação mais justa. E, oh, Hera destruiu vidas, Hera matou crianças que não tinham culpa de nada.

Hera acreditava que a maior parte disso era causada pela raiva. Raiva de Zeus, raiva daquelas mulheres e raiva dela. Raiva de seu marido porquê, poxa... ele casou com ela. Ele se comprometeu a ter uma união legítima perante todos os seres com ela, sua esposa, sua irmã. Zeus devia ter o mínimo de respeito com essa união, com Hera. Se ele queria fazer o que fazia, por que se casou? Por que não ficou livre para isso sem machucar ninguém?

Raiva das mulheres - Hera se recusa a chamá-las por aquele nome -, porque ela era mulher e tem o corpo que elas tem, pelo menos com os mesmos órgãos e membros. Então, por qual motivo, seu marido as olhava como nunca olhou para Hera. Por que justo Hera, não recebia os mesmos olhares que elas recebiam.

E a raiva delas, se mesclava com a raiva que Hera tinha de si mesma. Quase todos os dias de sua imortalidade, Hera se olhava no espelho e não via a rainha deslumbrante, a mulher com personalidade forte e única, a deusa que podia tudo e qualquer coisa. Hera via uma menina, confusa, triste e desamparada, sem saber o que fazer, o que sentir e como agir. Hera via a garota presa em estereótipos e palavras jogadas em cima dela. Hera via uma mulher que não era uma Mulher.

Por que mulheres são fortes mesmo com tudo o que mundo diz. Mulheres lutam, mulheres falam, mulheres fazem, mulheres são mulheres. E Hera não conseguia levantar depois de cada tombo, de cada palavra ofensiva e esperançosa que a diziam. Então, ela sentia raiva, ódio, ciúme, inveja e tentava transformar a vida das pessoas um pouco menos feliz. Um pouco como a sua vida a fazia se sentir.

Porém agora, Hera compreendia e seus olhos se abriram para tantas coisas. Sororidade passou a ser sua palavra preferida.

Finalmente ela reconhecia. Hera ia pedir desculpas.