– Você é aquela menina de ontem, não é?

– Sou eu sim.

– Eu tenho uma estranha sensação de que eu deveria me lembrar de você, eu não consegui dormir direito a noite, tentando me forçar a lembrar de alguma coisa, mas só consigo me lembrar dos meus pais, mas nada.

– Tudo bem, não precisa forçar nada, eu vou te ajudar. Eu prometi para mim mesmo ficar ao seu lado até você ficar totalmente recuperado, e eu não vou desistir tão fácil assim.

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– Obrigado... Qual o seu nome?

– Sophia.

– Obrigado Sophia, eu vou ficar te devendo uma.

– Eu que estou em divida com você.

– Por que? – faço menção de começar a falar.

– Acho que ainda é muito cedo para contar isso para ele, So.

– Quem é você? E Por que não posso saber?

– Eu sou a Maria, nós três somos melhores amigos desde nossos 5 anos. Sobre você não poder saber, isso são ordens médicas, o doutor acha que ainda é muito cedo para foçar sua memória, tem que acontecer aos poucos, para não te causar mais mal do que bem.

– Como a verdade pode me fazer mal?

– A verdade pode ser um pouco inacreditável. Vamos esperar o momento certo.

– Eu quero saber tudo, mas por enquanto vou confiar em vocês.

– Você sempre pode confiar em mim e na So.

Eu e a Ma sentamos nas poltronas ao lado da cama, o Murilo estava assistindo um programa sobre música na televisão, mesmo sem memoria ele continua o mesmo artista nato.

– Vocês podiam pelo menos falar algo, não ficarem, só me olhando.

– É que estamos tão feliz de te ver acordado.

– Eu fiquei sabendo que eu fiquei duas semanas em coma, deve ter sido muito difícil para meus pais... Para vocês também já que são minhas amigas, acho?

– Foi muito difícil mesmo, a Sophia vinha todo dia te ver. Eu não consegui vir todos os dias, porque estão acontecendo coisas na minha vida no momento. Mas eu fiquei pensando em você todos os momentos, Mu nosso protetor.

– É verdade que você vinha todos os dias me ver?

– Um pouco, mas não é nada demais. Eu só fiquei preocupada – não vou assumir que estou apaixonada por ele, quando ele ainda nem se lembra de mim. Eu preciso dele recuperado antes de pensar em algo tão fútil quanto um romance.

– Obrigado por ficar aqui comigo. Desculpe por ainda não me lembrar de vocês.

– Sem pressão, Mu. Mas eu preciso que você saia desse hospital logo, eu não consigo dar conta de ser vela sozinha.

– Como assim?

– A Maria e o Miguel, você provavelmente não sabe quem ele é. Mas ele é o menino mais mimado da cidade, e ele namora com a nossa amiga aqui. E ele agora vive indo na nossa sala agora. Todo intervalo ele aparece lá. É muito mais fácil suportar isso quando você está junto.

– Ele não parece ser a pessoa que você mais gosta do mundo, em Sophia.

– Muito pelo contrario. Eu aprendi a gostar dele, mas ainda assim ficar olhando ele e a Ma se beijando a cada minuto não é minha atividade preferida.

– Eu imagino mesmo... E você namora?

– Não, eu nunca namorei ninguém.

– E eu namoro com alguém?

– Ainda não, não é So?

– Para com isso Maria.

– Para com o que? Como assim eu ainda não namoro, eu estou apaixonado.

– Isso você vai ter que descobrir sozinho. Eu já contei demais, não acha Sophia?

– Com certeza.

– Me contem vai! Você não podem negar nada para alguém doente.

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– Virou um chantagista, Murilo? Não é porque você está doente que a gente precisa fazer todas suas vontades.

– Ela sempre foi tão estraga prazeres, Maria?

– Sempre, ela é a maior mandona do nosso grupo.

– Não duvido nem um pouco disso. Mas Maria você não me contou ainda. O que tem te mantido tão ocupada ultimamente?

– Eu não sei se eu devo contar algo sobre isso. Não quero forçar demais sua memoria.

– Vocês também não precisam me esconder tudo, só para me proteger. Qual é o sentido de eu estar acordado se não consigo me lembrar de vocês, e também não consigo nem ao menos escuta-las com seus problemas – ele está certo, como normalmente ele sempre está, não que eu costume admitir isso para ele.

– Acho que você pode falar, pelo menos o básico sobre os seus... Problemas pessoas com ele, isso não pode fazer mal, além disso, vai ser uma conversa só sobre você e sua família, ok?

– Acho que vocês podem estar certos, mas Mu se você começara a sentir qualquer coisa me interrompa, por favor.

– Combinado.

– Você não lembra, mas minha mãe desapareceu quando eu era pequena, eu fui criada pela minha tia Ana, e nunca soube nada sobre meu pai. Mais ou menos 2 semanas atrás depois de uma série de fatos que não vem ao caso, eu descobri que minha mãe não desapareceu, mas sim foi morta. E eu descobri meu pai, que eu nunca antes tinha conhecido.

– Como sua mãe morreu?

– Isso não importa, o que importa mesmo é que agora eu tenho o João, meu pai, ao meu lado. Ele tenta vir me ver pelo menos umas 2 vezes por semana, por isso alguns dias não pude vir te ver. Além disso, eu conheci uma família inteira, meu primo, que também é o meu namorado. Não precisa fazer essa cara Mu ele é adotado pelo meu tio, então não tem nada demais. E estou conhecendo cada dia mais minha avó a Roberta, eu continuo indo toda sexta a tarde na casa dela para... Enfim, amanhã então não vou conseguir vir te ver, já que vou junto com o mimado, quer dizer com o Miguel para a casa dele ver minha vó.

– Deve estar sendo difícil para você ter que superar a morte de sua mãe, e conhecer uma parte da sua família que você nem conhecia a existência.

– Não está sendo fácil mesmo, mas também não posso dizer que estou apenas sofrendo com essa situação. Mas eu preciso de vocês dois bem para podermos superar tudo juntos – a Maria nunca teve medo de esconder o quanto depende de mim e do Murilo, isso é uma das coisas que sempre admirei nela. Eu ainda sigo sendo fechada, mesmo sendo tão extrovertida na presença deles não costumo demostrar os meus verdadeiros medos, e sentimentos.

— E como está sendo conhecer o seu pai com... 15 anos?

— Isso mesmo, 15. Meu pai é diferente de mim, mas mesmo assim temos algumas coisas em comum, é até um pouco difícil de explicar para você. Para começar minha aparência é muito mais parecida com a do meu pai do que da minha mãe pelo que sei. Ele não gosta muito de vir até o centro de Tuiuti, mas ele tem se esforçado por minha causa. Ele gosta de viver livre, sem amarras na casa dele, que fica no meio do mato. Mas ele amava muito minha mãe, ele vive até hoje na casa que eles ficavam juntos no inicio de tudo, depois de formado ele comprou a casa para sempre ter uma relação com a minha mãe, mesmo depois de tudo... Mas enfim, ele tem se esforçado a vir até a cidade para me ver. Isso já diz muito sobre ele.

— Mas o que você sente perto dele? – essa é o tipo de pergunta muito Murilo, mesmo sem memoria ele sabe exatamente o que perguntar para nos fazer contar sobre nossos problemas, nossos sentimentos. Ele é uma pessoa naturalmente preocupada com os outros.

– Eu acho que eu sinto uma mistura de sentimentos. Eu fico triste pela morte da minha mãe, mas ao mesmo tempo estou feliz de conhecer meu pai, estou feliz de ter a Roberta como vó. Mas tento demonstrar para minha tia que ela nunca vai me perder para minha nova família, ela tenta disfarçar, mas percebo que cada vez que eu me refiro ao João como meu pai a expressão dela fica um pouco receosa, mas eu nunca vou sair de perto dela, afinal ela é minha mãe, ela me criou como filha, e é isso que de fato eu sou dela. Além disso, fico me sentindo culpada as vezes por não conseguir corresponder as expectativas do João que deseja que eu o chame de pai. Da Roberta que espera ansiosamente por ser minha avó, até mesmo o Marcel, deseja ser reconhecido por mim como meu vô. Nada disso é tão fácil assim, eu ainda não me sinto a vontade para ser filha, ou neta, eu sempre fui apenas a Maria, sobrinha da Ana, amiga de vocês e recentemente namorada do mimado. Eu não quero decepcionar ninguém, mas também não posso me forçar a ser algo que eu não sou.

— Sabe Maria? Eu não lembro dessas pessoas, eu posso não saber quem você é. Mas acho que ninguém espera que você seja nada além de você mesma, eu como seu amigo que esqueceu tudo também não espero nada de você. As coisas vão acontecer naturalmente, quando você menos perceber vai estar sendo filha, neta.

— Obrigada Mu. Você é o melhor amigo que eu poderia ter.

— E eu sou o que? Só uma colega?

— Ela é sempre tão ciumenta assim?

— Sempre. Mas você vai se acostumar, e vai até mesmo a aprender a gostar dela.

— Muito engraçadinha Maria.

— Pare de reclamar So, e vem aqui se juntar ao nosso abraço em grupo também.

Esse abraço é tudo que eu poderia querer em meio a toda essa bagunça, eles são meus amigos, os melhores. Eu sei que tudo vai dar certo no final.