Amor Perfeito XIV

O jogo virou


"Eu sei que eles dizem que algumas coisas são melhores quando não ditas."

Alice Narrando

Acordei na hora do almoço e quando fui descer vi Kevin conversando com minha mãe na sala. Não dava para ouvir o que ele dizia. Arthur me pediu que evitasse ficar sozinha e conversar muito com ele. Achei que se tratando de Kevin voltar ao seu antigo eu, seria necessário ligar para o meu namorado.

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— Oi. – fui até eles após a ligação.

— Olá cunhadinha. – revirei os olhos e nem respondi.

— Talvez você tenha razão Kevin. – minha mãe falou parecendo estar emotiva.

— Sobre o que? – cruzei os braços.

— Não é de bom tom entrar no meio da conversa das pessoas. – olhei para aquele ser.

— Meu irmão fez bem em te deixar. – fui para a cozinha pegar comida.

Menos de um minuto e o Arthur chegou. Ele encarou o irmão de forma furiosa.

— O que você está fazendo aqui? – o outro apenas virou o rosto.

— Kevin veio me mostrar o que eu não conseguia ver. Eu preciso ir até a academia falar com Vinicius. – ela disse e subiu com certeza para se trocar.

— O que você disse a ela? – perguntei espantada.

— Não com essas palavras, mas foi mais ou menos assim: Imbecil, você tá mandando pra longe alguém que muitas querem estar perto. Vai esperar perdê-lo pra se arrepender?

— Não pode ser só isso.

— É claro que eu endossei com a minha história e insisti no quanto sofri por perder o filho dela. Acho que mostrar o que sente as pessoas às vezes da certo. – ele respirou fundo. – Vou nessa. – Arthur não o deixou sair.

— Por que fez isso? Atitudes desse tipo não podem ser esperadas de você agora.

— Dessa vez foi por ele. Ele nem sabe ainda que os pais estão se separando de fato. E eu sei que ele tem problemas muito maiores para lidar, mas se ele chegar aqui e ver a família destituída esses problemas podem se agravar.

— Muito obrigada Kevin. – falei com o coração um pouco apertado por tê-lo julgado.

— Você fica me devendo um favor. – ele disse me olhando. – E você. – ele olhou para Arthur. – Sai do meu pé, me deixa em paz.

— Muitas vantagens para uma só ação. – Arthur falou e deu um sorriso irônico. – Sabia.

— Jogo desse jeito. – ele respondeu e saiu.

— Tenho que voltar para o trabalho. – nos beijamos. – Hoje é sexta, a noite todos vamos sair. Vai ser a primeira sexta de Rafael aqui, ele quer conhecer a cidade.

— Ah é, antes do abrigo ele só foi à cachoeira. Então tá bom, eu fiquei de repouso ontem e hoje cedo nem fui para a aula, acho que já posso sair tranquilamente.

— Eu te busco. – nos beijamos de novo.

Assim que Arthur saiu minha mãe saiu também, mas não demorou muito para ela voltar. Ela estava mal e chorava.

— Brigaram mais ainda? – perguntei a olhando.

— Cheguei lá e o vi conversando com uma gostosa... Poderia não ser nada, só trabalho. Mas conheço o seu pai, o jeito que ele a olhava e sorria. Em plena hora do almoço com a academia mais vazia? Só não entende quem não quer.

— Ele não pode fazer isso. Ele ainda é casado.

— Burocraticamente. De corpos estamos separados.

— É uma traição mãe. Mesmo que você esteja... Tão chata, isso não é justo com você. Ele tinha que esperar vocês se separarem de verdade.

— Sabe por que isso ainda não aconteceu?

— Porque é tudo muito recente.

— Também. Mas porque temos filhos e esses mesmos filhos que foram motivo de tantas brigas, nos faz recuar.

— Se ainda existir amor vocês vão se acertar.

— Você é tão fofa. – ela sorriu. – Chega de falarmos do seu pai. Esse acontecimento até foi bom, conversamos como há um tempinho não fazíamos. Sempre fomos tão amigas Alice.

— Sim mãe. Mas você tem que admitir que anda surtada. E muito chata.

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— É o seu irmão. – ela abaixou a cabeça. – Ele estava tão feliz no abrigo, nas últimas semanas eu o olhava sem saber de onde vinha tanto brilho e felicidade. Quando descobri que era Kevin eu não achei legal. Primeiro por ser um garoto e depois por ser o Kevin. Mas quando eu converso com ele hoje e vejo que mesmo quando sorri ele não irradia aquela felicidade... Me sinto culpada. E a culpa faz a gente agir irracionalmente.

— Essa felicidade não existir mais não é por sua culpa e sim por culpa do Caleb. Não se sinta assim. Poxa mãe. – a abracei.

— Só queria que o Murilo fosse feliz. – ela falou entre as lágrimas.

— Ele tá feliz. Não é nem de perto a mesma felicidade que ele demonstrava quando estava com Kevin, mas... É alguma coisa.

Fiquei mais tempo a confortando e talvez fosse mesmo isso que ela precisasse.

...

Já estávamos na choperia, a maioria estava sentada no banco de frente a mesa, mas alguém especifico pegava uma bebida no bar.

— Amor, vou ali falar uma coisa com Kevin. – avisei ao Arthur se não ele me tiraria de lá em menos de um segundo.

— Falar o que? – ele me olhou de forma séria.

— O que poderia ser? Murilo.

— Tá bom. – ele selou nossos lábios e soltou meu corpo.

— A entrada de menores é permitida, mas venda de bebidas não e eu espero que você não tente subornar o pobre coitado do... – o interrompi antes que eu perdesse a paciência.

— Não estou pra brincadeira. Preciso de você. – ele me olhou imediatamente.

— O que aconteceu?

— O meu pai possivelmente está traindo a minha mãe.

— Que? - ele franziu a testa como se desacreditasse.

— Depois que você a convenceu a ir atrás dele, ela o pegou conversando amistosamente com uma mulher que ela chamou de gostosa.

— Sua mãe tá paranoica. Vinicius é moralista demais para ficar com alguém antes de oficializar a separação.

— Liguei para ele antes de vim pra cá e ele não atendeu e Arthur disse que ele não está em casa. – nos olhamos.

— Você quer que eu descubra se ele está mesmo com alguém.

— Não. – respirei fundo. – Eu quero ver com os meus próprios olhos se ele está mesmo com alguém.

— E o que você sugere? – ele tomou um gole do seu drink.

— Posso confiar em você Kevin? – ele olhou pra frente.

— Responda você essa pergunta, está aqui me pedindo um favor.

— Você está instável. – suspirei.

— Nossa conversa acabou aqui? – seria impossível conseguir um sinal positivo de Kevin. Eu iria ter que arriscar.

— Quero que a gente siga o meu pai. – ele ficou me olhando.

— Por que não pede isso ao Arthur?

— Uma: Ele não tem tempo. Duas: Você acha mesmo que ele iria aceitar? E ele iria achar um absurdo e acabaríamos brigando.

— Você não acha que ele tem razão? Isso é meio errado.

— Por isso eu te procurei. – ele sorriu.

— Dessa forma você me coloca em uma situação complicada... Se meu irmão souber... – ele olhou Arthur de longe. – É lógico que eu aceito. – ele mudou seu tom de voz e sorriu.

— Como você consegue ser tão escroto?

— Ah... Acho que é natural. Não me esforço muito.

— Vamos hoje? – ele deu uma risadinha.

— Vocês me superestimam demais. Se ele não está em casa como vou adivinhar onde ele está? Não funciono assim. Eu não tenho super poderes.

— Vamos procurar. Simples.

— Você sugere que a gente invada cada motel da cidade?

— Não, seu idiota. Gustavo certamente sabe, eles são carne e unha. Você vai descobrir pelo menos alguma coisa. Não me olha assim, o Gu não tem nada contra você e esse poder você tem. Você tira qualquer informação das pessoas.

— Sabia que você está se mostrando muito articulada e esperta pra quem é tão certinha?

— É o meu pai, ele sempre foi um exemplo pra gente. Preciso tirar essa dúvida. E ontem eu vi o quanto isso tudo está massacrando a minha mãe. Ele não pode simplesmente fechar os olhos para a família e já entrar em um caso.

— Ok. Vou até Gustavo. Infelizmente vou ter que usar Murilo. Vou contar o quanto tudo poderia ter sido diferente e engatar no assunto de como a sua família foi se desfazendo... A pergunta “onde Vinicius anda que eu vim de lá e não o vi” vai fazê-lo dar qualquer desculpa que nos dê um norte.

— Alguém já te disse que você é diabólico?

— O seu irmão. – ele desviou o olhar.

— Eu lamento extremamente Kevin.

— Estou indo. Vamos ir depois que eu sair da casa do Gustavo, é bom inventar algo convincente ao seu namorado... E até a sua mãe, pois podemos demorar.

Assim que ele saiu eu esperei um pouco e disse a Arthur que queria embora, com o pretexto de que estava cansada e os anti-inflamatórios e remédios para dor me faziam querer ficar deitada. Ele insistiu para entrar comigo e me fazer companhia, mas eu disse que não. Para a minha mãe falei que passei lá para pegar escova de dentes e pijama e que iria dormir na casa de Soph. Podia até ser arriscado ser ela, por ter a Larissa no pacote, mas se eu falasse a Gih, com todo o jeito dela era capaz dela me entregar sem nenhuma necessidade.

— Ele está em Alela. – Kevin disse assim que entrei em seu carro. – Pra que você trouxe essa bolsa?

— Coisas que preciso para passar a noite fora. – ele pareceu não entender, mas ignorou. Eu a coloquei no banco de trás e o olhei.

— Menti pra todo mundo. – confessei me sentindo culpada. Respirei fundo. – Ele disse o que ele estava fazendo lá?

— Você é retardada? – ele me olhou feio. – Claro que não disse. Foi muito difícil até arrancar a verdade. Primeiro ele não sabia. Depois ele estava por aí. É óbvio que tem coisa. – nos olhamos. – Não sei o que o seu pai está aprontando, mas ele tá aprontando alguma coisa.

— Vou estar segura ao seu lado? – ele me olhou. – Posso confiar em você Kevin? Não sei o que eu vou ver e eu preciso que você tenha pelo menos um pouco de sensibilidade e... – ele parou o carro.

— Chame o Arthur então. – sua voz era impaciente. Isso não era nada bom.

— Não. – falei baixo.

— Então não faça a porra de um drama. – ele saiu mais rápido ainda. Eu só podia ser louca. Pedi ajuda para a pessoa mais instável e ameaçadora nesse momento. Mas se isso era mesmo verdade então por que eu me sentia tão segura ao lado dele?! Era Kevin que tinha que fazer isso comigo. Somente ele.

Murilo Narrando

Estava em um bar com Eliot, Phil, Lolô e Adam, esse que inclusive fez total sucesso. Ele dizia coisas engraçadas e contava casos, sempre com o seu jeitinho espalhafatoso.

— Arthur está me ligando. – falei pegando meu celular. – Vou atender lá fora.

“Eu tô muito puto.”— ele já foi falando demonstrando estar bem nervoso.

— O que aconteceu?

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“Sua irmã mentiu pra mim e tá com Kevin.”

— QUE?

“Não nesse sentindo. Pelo menos eu espero que não. Eles estão em algum lugar que eu não sei qual. Ela desligou na minha cara. Eu vou matar o Kevin quando eu encontra-lo.”

— Arthur tenta ter calma. Não fica nervoso assim.

“Não ficar nervoso? Você sabe o que ele pode estar fazendo agora? Por que eu não. Ele é capaz de qualquer coisa. Ele vai conseguir com que ela faça algo que eu ainda nem sei o que é.”

— Fica tranquilo. Ele não vai fazer nada. De qualquer forma vou ligar pra ele agora, tá?!

“Tá bom. A gente se fala.”

Respirei fundo e fiquei um tempo pensando o que os dois poderiam estar fazendo juntos. Não conseguia entender. Peguei o celular e tentei fazer uma chamada de voz. Tentei. Porque ele rejeitou. Tentei mais uma vez e para a minha total surpresa ele havia me bloqueado.

— Ei, você estava demorando, vim ver se estava tudo bem. – Eliot disse ao chegar perto de mim.

— Alice está com Kevin e Arthur está furioso e preocupado. – falei e ele ficou um pouco pensativo.

— Não entendo por que esse Kevin causa tanto temor assim.

— Você teria que conhecê-lo. – suspirei. – Bom, daí eu tentei ligar para o Kevin... – o olhei. – Parece que o jogo virou. Ele não quer falar comigo e por causa da minha insistência acabei sendo bloqueado.

— O que quer que eu diga? – ele perguntou depois de um tempo.

— Nada. Você veio ver se estava tudo bem e eu estou explicando.

— E está claramente demonstrando que não tá nada bem. – ele olhou em meus olhos. – Por que quis namorar comigo?

— Porque gosto de você.

— Olha o quanto você tá mexido por ele ter te bloqueado. – fiquei em silêncio. – Você quer que eu vá com você pra sua casa para provar alguma coisa a ele?

— Jamais Eliot. Não preciso disso.

— Então me diz que merda você tá fazendo.

— Sabia que a sua paciência não seria pra sempre.

— Eu acho que não entendeu. Sou seu namorado agora. Se isso é uma brincadeira pra você, pra mim não é. Entendo você ainda ama-lo, mas não vou permitir que me coloque pra baixo com cada reação em relação a ele. – cheguei mais perto dele e o abracei.

— Você é especial demais. Não vou fazer isso com você.

— Vamos voltar lá pra dentro. – ele entrelaçou nossas mãos e então seguimos. Queria não ter pensado tanto nessa atitude de Kevin durante o resto da noite. Só queria mesmo. Mas pelo menos Eliot não disse mais nada.

"Agora não há nenhuma chance, pra você e eu, nunca haverá. E isso não te faz triste?"