Segunda-feira | 12 de Dezembro

Lena tinha um sorriso leve nos lábios e os olhos fechados, parecendo saborear discretamente o toque muito gentil de Marina.

Apesar da tensão durante o torneio, Mari, na verdade, não parecia ter problema algum com sangue ou ferimentos: pelo contrário, estava até lidando muito bem com a tarefa de limpar e trocar o curativo da sobrancelha de Helena.

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─ Ai ─ Marina suspirou então, a certo ponto ─ se eu continuar namorando uma lutadora vou ter que começar a criar maneiras de lidar com meu nervosismo.

Lena aproveitou a curta pausa, abriu os olhos e ergueu a cabeça para olhar para Mari, com um sorriso leve em seus lábios.

Namorando, é?

Só então Marina percebeu o que havia falado; e, então, soltou uma risada baixa e encolheu os ombros.

─ Bom…

Helena também riu baixo.

─ Eu gosto dessa ideia ─ concluiu, enfim, e voltou a fechar os olhos.

E Marina, ainda com um leve sorriso, se dedicou a terminar o curativo.

─ Nossa, mas você vai ficar muito style mesmo… risquinho na sobrancelha e tudo ─ Mari voltou a rir, pouco depois, logo que terminou de cobrir os três pequenos pontos com a fita micropore.

Lena, por sua vez, armou uma expressão ironicamente convencida no rosto, apesar dos olhos ainda fechados.

─ Tudo pela beleza, baby.

Marina também riu, enquanto juntava os algodões e curativos velhos e deixava tudo de lado. No instante seguinte, saiu do lugar estratégico entre as pernas de Helena e se sentou na cama da garota, ao lado dela.

─ Prontinho. Mais alguma coisa, senhora?

Lena, enfim, abriu os olhos, apenas para perceber que o rosto de Marina estava bem mais perto do que ela imaginava. Ela sorriu e, por alguns segundos, ficou em silêncio, como se tivesse perdido o fio da meada.

Segundos depois, ergueu a mão e correu os dedos por uma das tranças de Mari, que caía pelo seu rosto, logo antes de prendê-la atrás da orelha dela.

─ Cheguei a comentar que você tá linda demais?

Marina riu pelo nariz e corou levemente, balançando a cabeça.

─ Então… hoje é dia de pegar o boletim, né ─ ela comentou, então, para tentar fugir do breve constrangimento.

O sol do fim da manhã entrava pela janela do quarto, anunciando o dia quente de primavera, e iluminava o ambiente todo, assim como as blusas largas que haviam servido como pijamas para as duas. Lena soltou uma risada, que soou mais como um suspiro de alívio.

─ Nem acredito que essa merda toda acabou.

E ela nunca havia sido tão sincera. Ainda era meio espantoso o fato de que não precisaria mais acordar cedo, se enfiar naquele uniforme e andar até o colégio, ou ver a cara de Caio, Isabella, Rafael ou de qualquer um daqueles professores, ou sentar de novo na carteira do canto, ou ter o trabalho de pensar em justificativas para qualquer uma de suas escolhas, caso elas fossem evidenciadas numa gracinha mal-intencionada, ou, inclusive, se enfiar em um moletom na esperança de simplesmente mimetizar com as paredes da sala e desaparecer por alguns instantes.

Bom, na verdade, Helena ainda nem conseguia racionalizar tudo isso, pensar em cada pequeno aspecto do que aquela liberdade nova significava. No entanto, a tranquilidade que se espalhava pelo seu peito, da mesma forma que o sol aquecendo algo congelado, já era o suficiente.

E, àquela altura, o que viria depois ─ o SiSU, sua chance de obter pontuação suficiente para entrar no curso de Ciências Biológicas, o leve nervosismo de Marina em relação ao curso de História, a própria universidade ─ bom, era tudo assunto para depois. Naquele momento, a sensação era de que o pior já havia passado.

Helena, enfim, voltou a realidade e sorriu ao ver o rosto de Mari diante do seu: as bochechas arredondadas, o formato bonito do nariz, o piercing no septo, os olhos muito pretos, as tranças pretas e azuis emoldurando perfeitamente a figura toda.

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─ E tá chegando o aniversário de alguém também, né…

Marina sorriu com a lembrança.

─ Eu nem tava pensando nisso, pra ser sincera.

Lena riu baixo.

─ Bom, eu tava. Inclusive, já planejei seu presente.

─ Sério?! ─ Mari ergueu as sobrancelhas. ─ O que é?

Helena deu uma risada.

─ É surpresa.

Automaticamente, o rosto de Marina ganhou uma expressão que misturava curiosidade e um leve ar de irritação.

─ Assim não vale. Eu sou curiosa, Lena!

─ Exatamente ─ Helena riu outra vez, divertindo-se com as expressões da garota. ─ Por isso é divertido…

Mari, porém, revirou os olhos.

─ Paciência, gatinha ─ Lena retomou a palavra e roubou um beijo leve dela, apesar dos lábios fechados, numa expressão contrariada. ─ Agora vamos tomar café? Ainda preciso de ajuda, lembra? Só tenho um braço por enquanto…

Marina, enfim, deixou escapar um sorriso leve e se levantou.

─ Eu só vou porque tô com fome…

Helena acenou com a cabeça, ainda observando Mari e se divertindo com a situação.

Naquele pequeno momento, as coisas não podiam estar melhores.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.