O Legado

Benjamin


—Bom dia Ben.- Cíntia disse sorrindo ao me cumprimentar assim que sai do elevador naquela manhã de terça feira.

—Bom dia Cíntia, é bom vê-la melhor. Como se senti? - questionei preocupado assim que me aproximei de sua mesa.

—Estou vivendo um dia de cada vez, e você tinha razão...O Douglas era um idiota. - ela disse magoada, mas no fundo sabia que ela ainda nutria algo por ele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Cíntia, se precisar de um tempo para colocar a cabeça no lugar é só me avisar que lhe dou uns dias de folga. - disse e ela agradeceu antes de sorrir maliciosa, o que me deixou confuso.

—Por acaso, está querendo me substituir pela sua farmacêutica assistente, doutor Thompson? - ela questionou curiosa e fiz careta ao ouvir o meu título.

Odiava ser chamado de doutor Thompson, era como se as pessoas estivessem se referindo ao meu pai e não a mim.

—Isso não é verdade, gosto de trabalhar com você, mas com a Mel...- disse sem saber como completar e ela sorriu animada.

—É diferente, percebo isso. Você está louco por ela, qualquer um pode ver isso.

—Estou completamente apaixonando pela Melissa e sei que ela senti algo por mim, mas a insegurança dela em relação a mim está dificultando tudo. - disse e ela sorriu como se tivesse acabado de ter uma ideia.

—Porque não a leva para conhecer a sede dos medicamentos gratuitos? Tenho certeza que algumas horas de carro sozinhos, escutando uma música romântica, colocando a conversa em dia, é capaz de clarear a mente e os sentimentos de qualquer um.- ela sugeriu enquanto colocava os documentos da vídeo conferencia em uma pasta.

—Não sei...Não quero que ela pense que estou pressionando-a a algo.

—Você não estará. Só estará dando um empurrãozinho nela. Além do mais Melissa é a sua farmacêutica assistente, e precisa conhecer todos os projetos do laboratório. - Cíntia disse antes de me entregar a pasta que havia arrumado. - Depois do da visita você pode leva-la para conhecer Bristol, todos falam que é uma cidade linda e romântica.

—Você tem razão...Ontem a Mel me disse que se candidatou a vaga de farmacêutica assistente, porque leu uma reportagem do meu pai falando sobre o projeto dos medicamentos, tenho certeza que ela vai adorar conhecer o local. Você é um gênio Cíntia, vou ligar para o RH e solicitar o seu aumento.

—Não preciso de um aumento Ben.

—Claro que precisa, você está acumulando muitas funções. Além de ser minha secretaria, está exercendo a função do meu cupido, por isso merece um aumento. -esclareci e ela sorriu surpresa por minha justificativa, afinal sabia que no momento ela iria precisar não só de apoio emocional mas do financeiro também, já que ela morava no apartamento de Douglas.

—Não vou recusar, afinal preciso alugar um lugar pra mim, minha sobrinha já começou a reivindicar o espaço da sua escolinha de bonecas. - ela explicou e foi impossível não sorrir. - Não era para você rir Ben, o assunto é sério.

—Estou rindo, mas com respeito.

—Me engana que gosto.

—Você pode ligar para a mãe da Mel, e pedir que lhe arrume uma mala de mão? E depois ligar para a Stella, para que ela faça o mesmo pra mim? - solicitei e ela concordou antes de seguir para a minha sala, onde deixei algumas coisas antes de seguir para a sala de reuniões do laboratório, onde realizaríamos a reunião com os outros farmacêuticos assistentes para discutirmos alguns pontos que me chamaram atenção em seus relatórios mensais, além de lhes apresentar Mel, como minha farmacêutica assistente, a qual também responderia por todos os laboratórios na minha ausência.

Estava sentado em meu lugar enquanto repassava os itens que seriam discutidos na reunião, mas toda a minha atenção foi desviada quando senti um cheiro de canela invadir a sala, sorri assim que desviei os olhos dos documentos para ver Mel entrando na sala.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Me desculpe se te assustei, mas bati e você não respondeu. - ela se justificou envergonhada por me interromper.

—Está tudo bem, só estava revisando uns pontos. Como se senti prestes a conhecer a nossa equipe? - questionei e percebi que ela estava diferente essa manhã.

Mel havia optado por usar uma blusa de seda branca e uma saia lápis hoje, foi impossível não reparar no quanto aquela roupa valorizou as suas curvas de forma sutil, já o seu longo cabelo castanho, o qual adorava, estava preso em um coque alto deixando em evidencia a sua franja lateral. Tinha que admitir que aquele penteado destacou o rosto de Melissa além de lhe conferir mais seriedade, mas preferia vê-la com os cabelos soltos.

Ela estava tão linda e atraente que tive que respirar fundo, tentando controlar o desejo que tinha de beijá-la. Aquela garota me faria cometer uma loucura, ou quem sabe me ajudaria a cometer uma...

—Estou apavorada. - Mel segredou suave me despertando dos meus pensamentos e todo aquele desejo insano passou imediatamente, ficando em seu lugar o desejo de protegê-la de tudo. Com cuidado e já devidamente controlado, me levantei da cadeira em que estava e fui em sua direção.

—Vai ficar tudo bem, a nossa equipe é maravilhosa e estão ansiosos para conhecê-la, tenho certeza que vocês se darão muito bem. - disse segurando as mãos de Mel enquanto olhava em seus olhos, assim que me ajoelhei ao seu lado.

—Espero que você tenha razão. -ela disse ainda insegura e beijei as suas mãos com carinho, tentando aclamá-la.

Podíamos nos conhecer pouco, mas já havia percebido que o simples fato de tocá-la, era capaz de acalmar o nervosismo e insegurança que Melissa possuía, além de me ajudar a acalmar a necessidade que tinha de estar perto dela e de tocá-la, satisfazendo assim o propósito do imprinting.

—Isso é tão estranho. - ela sussurrou confusa enquanto olhava para as nossas mãos entrelaçadas. - Como você sempre consegui me acalmar com um simples toque?

—Acho que isso é uma especialidade minha. - segredei suave enquanto olhava em seus olhos e me inclinava em sua direção, para alcançar o seu cabelo. - Se me permiti, prefiro o seu cabelo solto. Posso?

—Sim. - ela me autorizou e soltei seu cabelo com cuidado, penteando-o com os dedos sem perder o contato visual com seus olhos.

Melissa tinha os olhos mais lindos e cativantes que vi na vida, pareciam mel, do tipo mais raro e puro, que ficavam em destaque por causa da sua pele clara. Eles me faziam querer mergulhar neles e desvendar seus mistérios a cada momento em que os fitava, ficava cada vez mais tentado em seguir meus instintos, que imploravam desesperados para tê-la em meus braços. Mas havia lhe feito uma promessa, de que na empresa seriamos apenas bons colegas de trabalho, o que a cada dia estava se mostrando mais difícil de se cumprir.

A contra gosto me levantei de onde estava e me afastei dela, afinal qualquer pessoa poderia nos surpreender daquele jeito tão íntimo, e seriamos a fofoca do mês pelos corredores.

—Depois da reunião tenho que ir até a sede de distribuição dos medicamentos gratuitos, gostaria de ir comigo? - questionei e ela me olhou confusa, ainda sem entender o porquê do meu afastamento prematuro.

—Sempre foi o meu sonho conhecer a sede de distribuição...Tem certeza que posso ir até lá? Achei que não estivesse nas minhas funções. -ela questionou assim que conseguiu se concentrar no que estava falando.

—Claro que está, como minha farmacêutica assistente, visitar a sede de distribuições está nas suas funções. Você tem algum compromisso depois do expediente? Porque a sede fica fora de Londres e são necessárias três horas de viagem para chegarmos até lá.- expliquei torcendo para que ela não tivesse planejado nada depois do trabalho.

—Nem se eu tivesse, com certeza cancelaria. - ela disse sorrindo e fiquei feliz em poder realizar o desejo do meu imprinting.

—Tenho certeza que você irá adorar ver como aquele local funciona, quando o visitei pela primeira vez, me senti em um parque de diversões. -segredei sorrindo enquanto me lembrava desse dia.

—Só de vê-lo animado já estou eufórica. - ela segredou animada e sorri da sua empolgação.

A reunião havia sido tranquila, os farmacêuticos assistentes das outras filiais se entenderam muito bem com Mel, alguns bem demais para o meu gosto. Assim que a reunião terminou ela foi para a sua sala, pois queria terminar suas atividades antes de sairmos para visitar a sede da distribuição de medicamentos e concordei.

Em seguida o toque do meu celular pessoal, interrompeu meus pensamentos e sorri assim que a foto da minha prima apareceu na tela. Leticia era a filha mais velha do meu tio Seth, ela era a terceira no comando da matilha, responsável por tomar conta de tudo enquanto estávamos fora de La Push, o que me lembrava de que teria que viajar para a América do norte em breve, afinal não poderia deixar as minhas responsabilidades nas costas da minha prima por tanto tempo.

—Oi Leticia, como estão as coisas? - questionei assim que atendi a sua vídeo chamada.

—Estão bem, sem qualquer novidade como sempre. Diria até entediantes. - Leticia segredou frustrada pela tranquilidade da tribo enquanto caminhava pela floresta.

—Você sabe que pode vir nos visitar sempre, Leticia. A mamãe está com saudades de você. - disse olhando para a minha prima que sorriu com carinho ao lembrar da minha mãe.

As duas tinham uma conexão única, se tratavam praticamente como mãe e filha, tal tratamento não despertava o ciúme de sua mãe Molly, pois ela sabia que sua filha tinha sorte em ter alguém para guia-la e confortá-la durante sua vida de loba, algo que minha mãe não teve.

—Também estou com saudades da tia Leah. - ela disse saudosa antes de sorrir para mim. - Mas tem algo diferente em você.

—Não tem nada diferente em mim, deve ser impressão sua.

—Te conheço desde que nasceu Ben.- ela esclareceu e suspirei, pois odiava mentir para a minha prima, mas algo me proibia de contar a Leticia o que estava acontecendo comigo, o que me deixou confuso, afinal nunca escondi nada dela. -Tem certeza que não aconteceu nada?

—Tenho Leticia. Assim que organizar tudo na empresa, vou poder passar um mês por ai.- desconversei e ela pareceu acreditar em minhas palavras.

—Espera só até contar para a nossa avó, ela vai contar os dias até a sua visita. Dessa vez virão todos? - ela questionou curiosa, com certeza estava querendo fazer uma festa surpresa para nós.

—Não sei, vou conversar com eles, mas não prometo nada, pois eles estão no período de transição da administração da rede de hospitais.

—Tudo bem, tenho certeza que a vovó vai ficar feliz do mesmo jeito.

—E o Harry? - questionei me lembrando do meu primo, filho caçula do meu tio.

Harry e eu não éramos melhores amigos, para ele sempre seria o garotinho pequeno alérgico a canela, que morava em outro país, falava esquisito e que roubava todas as atenções quando vinha passar férias com os pais em La Push, e o incidente com o bolo de canela só nos afastou ainda mais. A única relação que tínhamos hoje, era de parentes que se respeitavam, mas que queriam ver o outro bem longe.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Cabeça dura como sempre, mas pelo menos parou de arrumar confusões depois que o papai teve uma longa conversa com ele. Mas segundo a vovó, ele só irá se acalmar quando tiver o seu imprinting.

—Duvido. -disse me lembrando do temperamento explosivo do meu primo e ela suspirou suave.

—Sabe, fico triste em saber que vocês nunca conseguiram se entender.

—Quem disse que não nos entendemos?

—Vocês são primos, deveriam ser amigos. - ela disse obvia e sorri da sua conclusão.

—Nem sempre isso acontece, o importante é que a nossas diferenças não atrapalham a nossa vida na matilha. - disse e ela suspirou resignada, sabia o quanto nossa birra de garotos mimados a deixava triste, mas não conseguia mudar isso.

—Tudo bem, não vou mais atrapalhá-lo, sei que deve estar cheio de coisas para fazer no laboratório e ainda tenho que ajudar a vovó na horta antes de fazer a minha patrulha do dia. -Leticia disse e concordei antes de nós despedimos.

E não pode deixar de ficar confuso, por não ter contado nada a minha prima sobre o meu imprinting, era a primeira vez que escondia algo dela e por incrível que pareça, não me sentia nenhum pouco culpado por isso.

Algo me dizia que Leticia não podia saber nada sobre o meu imprinting, e obedeci a esse instinto desconhecido.