♦ Louisa Northrop

"A Lua está tão bela hoje...

A menina manteve os olhos pregados no ponto redondo e completamente brilhante que preenchia apenas um pequeno espaço da imensidão escura que era o céu. Tratava-se de uma luz tão clara e, cogitara após um segundo, viva, que iluminava perfeitamente os imensos jardins encantadores que circundavam sua casa.

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A brisa, que chacoalhava uma árvore até as persianas de sua janela, juntamente com os distantes sons de grilos, faziam parecer que uma belíssima melodia estava sendo apresentada para quem quisesse ouvir — o que tornava tudo ainda mais fascinante.

Este pequeno, porém, importante momento, fora o suficiente para prender de vez a atenção de Louisa Northrop.

O vento que soprava leve do lado de fora não tardara muito a preencher o espaçoso e elegante quarto pertencente a única filha do conhecido casal Northrop¹, atingindo seus lindos cabelos tão claros que às vezes beirava ao branco, e fazendo com que seus belíssimos olhos de um azul extremamente brilhante e cristalino, que lembravam duas safiras, instigassem seu corpo a se esticar um pouco, a fim de que pudesse ver melhor o lado de fora.

Depois de todo o nervoso que passara naquela semana, pela primeira vez conseguiu abrir um mínimo sorriso observando tudo aquilo; contudo, parcialmente carregado de tristeza ante a provável saudade que sentiria de presenciar algum evento que lhe causasse tanta familiaridade como aquele.

Já estava sentindo falta, na verdade.

Acordou de seus pensamentos repentinamente quando a porta do quarto se abriu, revelando uma mulher loira belíssima, que sorriu bondosamente quando os olhos caíram imediatamente sobre sua figura.

— Mamãe... — ficou um pouco surpresa, pois achava que ela apareceria só mais tarde. Na mesma hora levantou-se, assumindo posição de cordialidade com sua entrada, ficando levemente confusa quando a mais velha riu e balançou a cabeça em divertimento.

— Oh, querida, deixe disso. — ela adentrou o espaço, se aproximando. — Não é preciso tanta formalidade, bom, pelo menos não no presente momento. — seus olhos caíram sobre a grande mala aberta que ocupava boa parte do espaço da cama. — Vejo que já terminou de guardar tudo... — juntou as mãos, comentando agradada.

— Sim... — Louisa desviou parcialmente o rosto, buscando não pensar muito no significado de ter de fazer as malas, mesmo sabendo muito bem o que lhe esperava.

Continuou olhando a janela por alguns segundos, notando que agora já não escutava mais o som dos grilos... A mãe, absorvendo rapidamente os pontos do baixo clima que rondava o espaço, isso após olhar da mala para o rosto da filha, suspirou tranquilizadora.

— Olhe, querida... — Louisa virou o rosto para ela. — Sei que está sendo difícil para você. É uma experiência nova e, de certa forma, intimidante... — falou. — Mas você vai gostar. Todos gostam.

Sentindo-se cansada, respirou fundo antes de sentar-se de volta na beirada da cama, ocupando-se em organizar alguns vestidos com amassados invisíveis a fim de não ter de encarar a mãe.

— Eu... — fechou os olhos amargurada ao senti-la mais perto. — Sei disso, mamãe. É que... — apertou um vestido creme no canto da mala, agora sim o amassando de verdade. — Eu só queria não ter de ir embora agora. — repetiu novamente o que sempre dizia a ela.

Sua mãe, olhando-lhe compadecida, sentou-se na outra ponta da cama, fazendo com que fosse impossível não a encarar nos olhos.

— Veja bem, querida. — ela puxou o ar, abrindo um sorriso. — Não precisa se preocupar, é normal sentir saudades. Isso acontece com muitas crianças, é completamente comum. O processo de adaptação é algo que faz parte de qualquer período da vida, não é preciso se transtornar. — balançou a cabeça.

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Louisa assentiu como sempre fazia depois de um discurso motivador da mãe, mas isso não queria dizer que toda aquela insegurança havia passado.

Era verdade que o fato de ter que ficar longe dos pais estava sendo um problema muito grande, mas ainda existiam outras coisas lhe incomodando — coisas essas que sua mãe sabia muito bem.

Isso se confirmou ao sentir sua mão ser coberta pela dela, fazendo-lhe mirar em seu amoroso e tranquilizador olhar outra vez.

— Olhe, eu sei que está sentindo medo de não conseguir se enquadrar... — ela começou gentilmente. — Isso aconteceu comigo. Mas... — Louisa inclinou a cabeça para que conseguisse ouvir perfeitamente o que ela diria. — Isso logo passará quando verem sua verdadeira essência. O nome em si não diz nada, mas as ações que o bruxo toma, elas sim, são importantes. Elas quem rotulam realmente se ele é uma boa ou má pessoa.

Louisa encarava fixamente aquela mulher que amava tanto e que sempre dizia a coisa certa. Sentia os pensamentos começarem a se suavizar aos poucos, pois sabia que ela tinha razão.

Seu sobrenome não mostrava sua verdadeira essência, e sim, suas ações.

Desceu os olhos de volta a mala aberta. O fato de a família Northrop ser mal-vista, assim como muitas outras, não mudaria tão cedo. Foram séculos de membro atrás de membro mostrando ao mundo seu caráter soturno e maligno — caráter esse que Louisa e seus pais decidiram não herdar.

Mas isso não significava que não seriam olhados da mesma forma com que seus outros familiares eram vistos. Mesmo com o fato de muitas famílias serem acusadas, assim como a sua, não era verídico que nenhuma delas praticasse e mexesse realmente com Magia das Trevas.

Sua mãe, parecendo ficar aliviada ao ver que certamente a menina estava absorvendo e pensando em tudo o que dissera, levantou e se encaminhou até a janela, a fechando por conta de o ar ter ficado mais frio.

— Não tenha vergonha e nem raiva de seu sobrenome, Louisa, e sim orgulho. — trancou o fecho. — Pois será você quem irá colocá-lo em estado de dignidade aos olhos dos outros; e o mais importante: — encaminhou-se agora ao armário do outro lado do quarto, o abrindo e checando as coisas ali dentro. — Aos seus olhos também.

Concordou pensativamente. Ela estava certa como sempre...

— Ah, e mais: — virou-se novamente para a mulher, que se ocupava em analisar seus casacos chiques pendurados nos cabides. — Lembre-se que em Hogwarts haverá rostos que você conhece. — comunicou. — Você sabe, os filhos dos nossos amigos, como... Bem, os jovens Black e Lestrange... — ela olhou-lhe de canto, com certeza querendo checar sua provável reação com aquela última parte.

A menina fez uma ligeira careta antes de voltar a atenção a sua pequena ampulheta dourada, colocando-a entre o caldeirão de poções e uma pilha de livros no canto inferior da mala. Graças ao feitiço expansivo que seu pai havia colocado mais cedo, era possível ser colocado tudo o que precisava.

A mulher, parecendo achar graça de sua reação, fechou o armário e andou novamente até a região da cama, dessa vez carregando um casaco branco (que certamente decidira que seria melhor ser levado), encarando-lhe significativamente.

— Pelo jeito devo ter te lembrado de algo que preferiria esquecer, não? — ajeitou-o dentro da mala, voltando os olhos aos seus. — Entendo perfeitamente bem que a última vez em que viu esses dois, não foi... Exatamente agradável. — Louisa não conseguiu evitar de concordar plenamente com aquilo. — Mas não pode esquecer-se de que haverá a chance de você ser escalada para a casa deles na Seleção de Horgwarts. Por isso acho melhor você já se acostumar com essa hipótese que pode muito bem ocorrer. — declarou.

Uma névoa de preocupação sondou os olhos de Louisa. Respirou fundo. — Eu sei disso. — falou com voz derrotada. — Sabe, mamãe... — levantou os olhos a ela. — Penso que talvez, se não tivéssemos tanto contato com essas famílias, não nos olhariam da mesma forma que olham para eles... — desistiu de continuar ante o balançar de cabeça complacente dela.

— Querida, você sabe que mantemos uma amizade de anos com eles. — Louisa suspirou em completa lástima, fazendo-a complementar: — Eles nunca fizeram mal a nenhum de nós, além de todos mantermos respeito mútuo com eles... — ela olhou para o alto. — Bom, na medida do possível.

“Além disso, você sabe muito bem que, perante a situação passada, eles é quem deviam se preocupar em ficar próximos a nós”. — ela acrescentou, com evidente melancolia nos olhos.

Louisa, ciente da gravidade do assunto mencionado, revolveu mudar o foco da conversa rapidamente.

— Espero não cair na casa deles... — murmurou.

— Eu não acharia uma ideia tão ruim assim. — Louisa olhou abismada para a mãe, esperando não captar algum sinal de sinceridade naquela frase. — Oras, é verdade. — ela confirmou simplesmente, lhe fazendo balançar a cabeça desacreditada. — Bom, eu apenas penso assim porque acho que seria mais fácil para você estar entre pessoas que já conhece...

— Para mim seria ainda pior, mamãe... — tentou deixar claro como a ideia lhe causava uma espécie de vacilação em relação á Hogwarts. — Sabe que não me dou bem com nenhum deles...

— Mesmo assim continua os conhecendo. — ela respondeu sincera. — Isso aos meus olhos já é um bom sinal. — deu de ombros.

Decidiu encarar outro ponto do quarto que não fosse onde ela estava. Sua mãe poderia ser muito compreensiva, mas Louisa sabia que ela não conseguiria compreender a dificuldade que possuía em se acostumar com uma ideia daquelas.

Surpreendeu-se quando a mulher pegou firmemente em suas mãos, os olhos expressando agora pleno sentimento de confiança.

— Vai dar tudo certo, meu bem. — ela massageou o peito de suas mãos carinhosamente com os polegares. — Você vai gostar de lá, isso é verídico.

Ela falava com tanta certeza, que Louisa de repente sentiu uma estranha sensação de confiança substituir o sentimento de frustração que lhe assolava por dentro. Viu-se pensando que talvez conseguisse passar por tudo aquilo, e que, afinal de contas, não seria tão impossível assim.

Ainda um pouco confusa com aquela mudança súbita de emoções, acenou pela primeira vez com estranha firmeza. — Sim, eu... — conseguiu sorrir um pouco. — Acredito em você.

Seus membros pareceram relaxar cem por cento com o sorriso caloroso que a mulher esboçou.

— Oh, que ótimo querida... — a mãe balançou suas mãos, orgulhosa. — Você vai ver, será ótimo! — inclinou-se, depositando um beijo sobre sua testa. — Bom, acho melhor nos recolhermos agora, amanhã será um dia cheio. — ela levantou-se e, após um aceno com a varinha, todos os bolsos da mala se fecharam em um segundo, a fazendo flutuar em seguida ao lado da cama da menina.

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— Sim, vou dormir agora. — Louisa entrou debaixo das cobertas, já se espremendo nos fofos travesseiros. A mulher lhe checou uma última vez, satisfeita, e virou-se em direção à porta.

— Boa noite. — lhe olhou mais uma vez e saiu, fechando a porta devagar.

Louisa permaneceu encarando o ponto por onde ela desaparecera, esperando para ver se ela fora mesmo embora. Após mais alguns segundos, se desenrolou das cobertas e, calçando as pantufas, dirigiu-se até a janela.

Desejava ver a Lua uma última vez, pois sabia que na noite seguinte não á veria da janela de seu quarto, e sim, de outro lugar... Respirou fundo, buscando fazer adentrar em seu interior o mesmo otimismo que as palavras de sua mãe lhe causaram, concordando consigo mesma.

"Sim... Vai dar tudo certo", conseguiu sorrir minimamente, o alívio de ter se recomposto lhe invadindo por inteira. Sua mãe estava certa; amanhã seria um longo dia...