Soren estava deitado no quarto com Arty e Lira, porém não conseguia dormir. Os seus pensamentos vagavam entre o massacre de Illuminis e a morte de seus familiares, a presença de Arkhim Streffar, assassino de seu pai, na Academia Greyhorn para magos e cavaleiros e para o livro secreto de Röst Jyderion, o Necromante.
“Por que vocês queriam que eu ficasse com esse livro?”, pensava ele, não pela primeira vez, nem pela última. “Röst… Você está morto, como dizem? Você costumava afirmar que ‘um necromante nunca morre de verdade’, mas sei que não é absoluto. Se você estiver vivo… Eu vou te encontrar.”
O sono veio em meio a suas teorias da conspiração. Antes que percebesse, seus olhos se fecharam e ele mergulhou em sonhos — ou pesadelos.
Primeiramente ele via seu irmão, Vyrion, lutando contra uma dezena de soldados. Em segundos, seu irmão transformou-se em Casymir — Soren nunca o viu, mas imaginava um homem alto e magro, com um sorriso cruel e olhos vermelhos como demônios, com uma coroa de ossos humanos na cabeça e um manto de peles de suas vítimas —, e atacou Soren com a espada de seu irmão.
O sonho mudou, e agora quem estava ao seu lado era Röst Jyderion. O Necromante possuía cabelos brancos, escorridos na frente dos olhos. Não possuía barba, e usava uma túnica negra com capuz, agora abaixado. Röst encarou Soren.

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— Esse é teu destino — afirmou ele, friamente.

— Não! Não serei como você!

— A sua morte… Ela virá de dentro.

Um raio negro saiu da mão do Necromante e atingiu Soren no peito. Ele sentiu uma dor como nenhuma outra na vida. Então, acordou sobressaltado.
Quando viu, Arty e Lira olhavam para ele, preocupados. O cabelo de Lira estava completamente bagunçado, enquanto o do elfo estava perfeito.

— Ei, você está bem? — perguntou a garota.

— Sim, sim. Apenas um pesadelo tolo — disse Soren, esperando que fosse verdade. Então, mudou de assunto. — Estão acordados há muito tempo?

— Eu não, mas o Arty sim, e ele disse que chegaram cartas da academia.

Nesse momento, Soren pulou da cama.

— E? O que diziam?

— A-aqui estão as de vocês — entregou Artariel.

Quando Soren e Lira abriram as cartas, um sorriso espalhou-se pelo rosto dos dois irmãos. Soren lia sua carta com uma animação que nem ele imaginava que teria.
“Prezado senhor Soren von Dartã, é com imenso prazer que estamos informando-lhe que o senhor fora bem sucedido no teste de admissão, e agora é um aluno oficial da Academia Greyhorn para Magos e Cavaleiros. Pedimos que se dirija à academia até o meio dia. Não há necessidade de carregar materiais como livros ou outros apetrechos, nem de selecionar um traje. Os materiais de estudo, bem como o uniforme dos alunos, serão distribuídos pela academia. Se algum aluno já possuir um canalizador, tem a permissão da Academia Greyhorn para levá-lo. Aguardamos sua vinda. Tulin Silleskrow.”
Nas cartas de Artariel e Lira, a maioria das palavras eram as mesmas.

— Que horas são? — perguntou Lira.

— Quase doze horas após a meia noite — respondeu Arty.

— Hã… E não deveríamos estar na academia?

Sobressaltados, os três pegaram suas coisas e correram para a academia. Viram que um pequeno grupo de pessoas fazia o mesmo. “Muito menos do que eu esperava”, pensou Soren.
Enfim estavam novamente diante dos grandes portões da academia. Soren achava aquele castelo formidável, e nem queria pensar nas defesas mágicas que ele deveria possuir.
Os portões abriram-se sozinhos, e a pequena multidão de alunos adentrou o castelo. Ainda se surpreendiam com o tamanho do espaço que precedia a academia. Lira concluiu que seria possível deixar um batalhão inteiro naquele lugar.
Todos os alunos sabiam o caminho, e o seguiram. Quando chegaram ao Grande Salão, esperaram pacientemente, enquanto muitos murmúrios e cochichos aconteciam.

— E onde estão os escudeiros? — Indagou Soren em voz alta.

— Já estão no pátio treinando — informou a garota de cabelos vermelhos que estava à sua frente no dia anterior. — Ah, perdão, sou Herys von Farandar.

— Herys? — repetiu Lira. — A filha de Lady Helena?

— Como sabem disso?

— Encontramos com sua mãe em uma taverna quando chegamos na cidade — disse Soren. — É um prazer, sou Soren von Dartã. Esta é minha irmã, Lira von Dartã e este é o Artariel. Ei, Arty, tire o capuz.

— Tem certeza? E-eu não sei… Tem muita gente aqui… — murmurou ele, temeroso.

— Relaxe. Pode tirar. Se alguém encher teu saco, duvido muito que possam me derrotar.

— Cuidado com o seu ego — avisou Lira.

Artariel retirou o capuz, revelando seus cabelos de exótica coloração azulada. Suas orelhas que revelavam sua origem élfica logo atraíram olhares estranhos. A maioria das pessoas apenas olhou com desprezo ou medo para o alto elfo, mas uma dupla de garotos aproximaram com um sorriso de canto.

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— O que um inumano faz aqui? — perguntou o menor deles. — Pensei que a lei proibisse qualquer tentativa de criaturas como você de ganharem poder.

— A magia é livre para todos — destacou Soren, irritado.

— Sabe — comentou o outro —, a maioria das pessoas diz que, ao ver um ser não humano entre nós, devemos livrar o reino dele imediatamente.

— Espero que não esteja pensando em começar uma briga aqui. — Quem falou isso foi Herys. Seus olhos, dourados como os da mãe, pareciam faiscar. — É proibido um duelo entre alunos sem uma permissão oficial de um professor.

— Ora, mas isso não conta para os malditos elfos, não é? Os orelhas-pontudas deveriam ficar no próprio reino e rezarem para que não sejam destruídos pelo bom rei Casymir. Além disso, quem garante que é proibido exercer a lei de extermínio de não-humanos no terreno da academia?

— Eu.

Quando todos olharam, lá estava uma mulher imponente, com uma túnica violeta e dourada. Seus cabelos castanhos eram presos em um coque e seus olhos não apenas pareciam faiscar — eles realmente faiscavam.
A mulher também segurava um cajado de um metro e oitenta com um cristal vermelho na ponta.

— Zerafinie Darkandew, a mestra de magia elemental e filha de um dos Quatro Cavaleiros Dracônicos — murmurou um aluno aleatório. — Dizem que ela foi uma das magas superiores convocadas pelo velho rei para eliminar a arquidragonesa Amarapinayr.

Todos do reino sabiam daquilo. Além de Helena, a Invocadora de Demônios, e Sir Roderik, Espada Negra, Zerafinie e outros magos e Cavaleiros Santos também foram convocados para eliminar a última remanescente da linhagem dos arquidragões. O Arquimago e o Cavaleiro de Platina também estavam lá.
Nem bem Zerafinie havia parado de falar, os dois alunos já estavam recuando. A mestra de magia olhou por um segundo para Artariel, e logo olhou para Soren e Herys, arregalando os olhos com espanto. “Isso não é possível”, pensou ela, chocada. “Isso tinha acabado…”
Aos poucos, os outros professores foram entrando. O jovem Luk, de longos cabelos louros; Wixxard, com sua barba cheia vermelha e Aelod, com seus cabelos negros, lisos e barba bem feita que lhe concediam uma postura respeitável.
Logo atrás deles, estava Tullin Silleskrow, o mago mais poderoso da atualidade. Ainda vestia seu manto branco e dourado, e seu cajado com uma gema dourada na ponta emanava uma leve luz sobrenatural. Os olhos azuis como o céu do velho observavam atentamente todos no salão. Quando olhou para Zerafinie, sorriu.
“Tulin, você já havia notado, não?!”, percebera a professora. Os olhos de Tulin diziam que sim.
O diretor e marquês então foi ao centro da poltrona que ficava na extremidade do salão principal. Após ele e os professores se sentarem, o idoso sorriu.

— Quero parabenizar a todos vocês, que concluíram o teste acertando corretamente mais da metade dos questionamentos — começou ele. — Espero que a estadia de vocês seja agradável, pois ficaremos juntos por um bom tempo… ou assim esperamos.
“Como devem saber, os uniformes, bem como os livros e pergaminhos necessários para que progridam corretamente. Claro, possuímos aqui uma das maiores bibliotecas do reino, então se desejarem poderão usá-la livremente.
“Quanto aos canalizadores, aquilo que nos permite utilizar feitiços de nível avançado, eles serão distribuídos pela academia. Se alguém já possuir um canalizador, pode informar-nos.
“Agora quero esclarecer algumas regras: primeiro, é importante lembrá-los que apenas alunos do quinto ano, bem como professores e funcionários, podem utilizar a Ala Especial da biblioteca. Segundo: duelos sem a permissão de um professor acarretaram em uma advertência, seguida de uma punição e, se ocorrer novamente, a expulsão de maneira permanente da academia.
“Terceiro: alunos pegos após as vinte e duas horas depois da meia noite serão suspensos e punidos. Quarto: usar magia fora das salas de aula e fora de um duelo é proibido, exceto se com a declaração por escrito de que um professor lhe deu permissão para tal.”

— São muitas regras — comentou Lira.

— Quinto: dentro da academia, não há distinção entre raça, classe social ou gênero. Vocês todos são alunos, independentemente se seu pai é um duque ou um fazendeiro. Espero que entendam isso o mais brevemente possível.

Alguns murmúrios ocorreram, mas logo uma intensa pressão foi subitamente sentida. Todos puderam perceber a aura azulada que emanava do diretor. “Incrível”, pensou Herys. “A Mana dele é tão intensa que posso vê-la a olho nu.”
A aura de Tulin então se dissipou. Ele levantou-se e tornou a falar.

— Agora, chegamos ao momento mais importante. Para que possamos designá-los para seus respectivos mestres, devemos descobrir que tipo de magia vocês possuem. Para isso, há um processo extremamente simples.

Luk tirou do manto um pentagrama que emitia uma luz branca. O professor andou até estar à frente de Tulin. Com um gesto de Tulin, um pedestal de pedra subiu até ficar um metro e vinte centímetros acima do chão.
Tulin explicou:

— Basta tocar na estrela, e o seu Mana será liberado. Para aqueles que não sabem, a magia pode adquirir quatro formas: a magia mental, a magia de invocação, a magia de proteção e a magia elemental.

E assim começou. Os alunos eram chamados pelo nome, e então tocavam no pentagrama. Dependendo do tipo de magia, a pedra emanava uma energia em tom diferente. Após isso, eram levados ao grupo de algum professor.

— Lira von Dartã, filha de Sir Roderik von Dartã, aproxime-se — anunciou Luk.

Lira aproximou-se com passos rápidos. Ao tocar no pentagrama, uma energia cinzenta foi liberada. O mestre Luk sorrira.

— Parece que você será minha aluna — afirmou ele, feliz. — Estou ansioso para trabalhar com você. Aguarde ao lado dos outros.

Lira assentiu e dirigiu-se para a companhia dos outros alunos de magia mental.
Conforme os alunos eram chamados, a bagunça que era o salão acabava diminuindo. Os professores levaram os alunos que já haviam sido chamados para suas respectivas salas.
Após dez minutos, os professores voltaram, sem nenhuma companhia. Após voltarem novamente a seus lugares, Wixxard, o careca de barba vermelha, assumiu o lugar do professor Luk de magia mental anunciando os alunos. Após mais três alunos, ele chamou:

— Artariel de Elderin.

Arty encontrou os olhos de Tulin, que sorriu com gentileza. “Obrigado por guardar meu nome”, agradeceu Artariel mentalmente, sem se perguntar como sequer aquele homem sabia quem ele realmente era. O elfo atravessou o salão lenta e timidamente, sob os olhares de todos. Quando chegou no pedestal, ergueu a mão e tocou, ainda hesitante, na gema branca em forma de pentagrama.
Uma aura violeta rodeou a pedra mágica, e logo o respeitável Aelod estendeu o braço para Artariel, apesar dos olhares hostis dos outros alunos.

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— Venha cá, Artariel, aprendiz da escola de invocação — chamou Aelod, com o rosto calmo, sem nenhuma distinção.

Corando, o pequeno elfo foi até o grupo do mestre Aelod. Artariel sabia que sua convivência com aqueles humanos seria difícil, mas estava determinado. Quando se tornasse um mago formado, encontraria sua irmã perdida, Selene.
Aos poucos, as pessoas diminuíam. Quando Soren olhou, restavam apenas ele e Herys no centro do salão. O resto dos alunos estavam todos juntos de um professor.
Diferente do que os dois esperavam, os professores levaram todos os alunos para suas classes, e os dois ficaram sozinhos com o Arquimago.

— L-Lorde Silleskrow — começou Herys, mas Tulin ergueu a mão, pedindo silêncio.

— Acalme-se, senhorita Herys von Farandar. O assunto de vocês é apenas um pouco mais complicado.

Os dois ficaram em silêncio, incomodados. A ruiva encarou Soren por um momento, mas quando o garoto olhou para ela, Herys desviou o olhar rapidamente.
Novamente, após cerca de dez minutos os professores reuniram-se novamente. Desta vez todos, incluindo Tulin, estavam de pé.

— Vocês sabem por que foram deixados por último? Por que esvaziamos a sala antes de realizarmos o teste?

— Sim — responderam os dois juntos, logo se entreolhando.

— Quer falar primeiro? — perguntou Herys.

— Você decide.

— Então pode falar.

— Certo — concordou Soren. — Fui deixado por último porque carrego comigo algo que eu não deveria conhecer.

— Enquanto comigo — disse Herys —, tenho algo que não deveria existir mais.

Tulin assentiu calmamente.

— E vocês preferem manter em segredo um do outro e de todos? Ou preferem mostrar isso abertamente?

— Bem, se ela está aqui comigo, deve ter algo tão ruim ou importante quanto eu — analisou Soren. Então abriu um sorriso caloroso. — Não preciso mais esconder. Não quero fazer alarde, mas se alguém descobrir eu não tenho problema.

— Muito bem. E quanto a você, Herys?

— Nem eu entendo o que tenho — admitiu a nobre. — Não acho que ninguém precise saber.

— Como desejar. Neste caso, Soren, ainda quer confirmar?

— Sim, se aprouver ao senhor.

Tulin e os quatro mestres da magia, bem como Herys, observaram atentamente enquanto Soren aproximava-se do pedestal. Quando o jovem estrangeiro finalmente respirou fundo e tocou no pentagrama, uma energia negra como carvão surgiu da fumaça. Herys foi a que ficou mais espantada, pois era a única que não suspeitava daquilo.
Por fim, Soren afastou-se.

— Também possuo um…

— Soren — interrompeu Tulin. — Isso você deve dizer exclusivamente para mim, em breve.

— Vossa Senhoria — murmurou Soren — sabe que magia das trevas é proibida, não sabe?

— A Academia Greyhorn aceita o que for decidido dentro do conselho dos mestres. Apenas… não deixe Arkhim Streffar saber disso. E também, espero que já saiba dos limites aos quais será submetido.

— Não se preocupe. Eu fiz essa escolha desde quando eu era uma criança. Não vou buscar nenhum feitiço que utilize o sofrimento de outras pessoas, apenas o meu próprio.

— Com isso — interveio Wixxard —, estará condenado a ser um mago abaixo da média, pois, dos quatro ramos da magia das trevas, pouco poder é oferecido sem machucar os outros.

— Digamos que eu já abandonei a ideia de ser o clássico lorde das trevas — comentou Soren, sorrindo divertido. — Farei o possível com o poder que foi concedido a mim. Mas eu também quero saber… eu poderei estudar esse assunto com a fonte de conhecimento que eu já tenho?

Ele se referia ao livro negro que pertencera ao Necromante.
Tulin ficou pensativo. Antes que desse o seu veredito, pediu para os professores opinarem.

— Bem — pigarreou Luk. — Acho que, se proibirmos ele de estudar, estaremos indo contra os princípios da academia. Isso será justificado se não permitirmos ele na academia, mas se aceitarmos um mago das trevas, devemos aceitar o estudo da magia das trevas. Pelo menos para ele, claro. Não quero todos os alunos procurando reviver os mortos.

— Reviver os mortos é proibido — interveio Soren, sem um pingo de emoção na voz.

— Foi apenas um comentário — murmurou Luk, sem graça.

— Eu concordo com o mestre Luk — anunciou Wixxard. — Não há por que aceitar este garoto se vamos privá-lo do conhecimento.

— Mas — acrescentou Zerafinie —, ele deverá ser vigiado, e só deverá estudar enquanto não houver ninguém para ver.

— Sim, senhora — concordou Soren, sorrindo.

— Ainda não considero isso uma boa ideia — opinou Aelod. — A magia sombria é uma fonte de corrupção que já transformou os mais puros magos em assassinos sanguinários.

— Senhor Aelod — disse Soren, sério —, eu não serei corrompido. Isso porque eu tenho pessoas que amo, e não irei decepcioná-las.

— … Veremos se manterá a palavra, mago das trevas. Eu espero sinceramente que mantenha. E selecione bem que tipo de magia vai estudar. Poderemos fazer vista grossa para a magia das sombras, e, até certo ponto, para a magia dos ossos e a magia de sangue também, mas…

— … a necromancia é uma das proibições divinas — completou Soren. — Eu sei. E, de toda forma, eu nem poderia aprender a necromancia agora, e nem pretendo. O cheiro de cadáveres prejudicaria meu charme — brincou o garoto.

Tulin ouvira em silêncio. Por fim, meneou a cabeça.

— Que assim seja. Soren von Dartã, aprendiz da escola das trevas, você está oficialmente aceito na Academia Greyhorn para Magos e Cavaleiros, contanto que mantenha em sigilo o que foi conversado aqui.

“Eu o farei.”, pensou ele. “A questão é: vocês irão?”
Soren então voltou-se para Herys.

— Você também tem que manter segredo — pediu ele, lançando uma piscadela para a garota. — Agora, quer que eu me retire?

— Um mago das trevas — disse Herys, rindo com ironia. — Eu ouvi sobre você, então é justo você ouvir o meu julgamento. Mas nem eu tenho certeza de nada. Mesmo assim, não deve ser tão proibido quanto magia sombria… Não é?

Soren sorriu gentilmente. Estava curioso, e tinha certeza de que ficaria se remoendo se dispensassem ele naquele momento sem falarem o porquê da ruiva ser deixada por último junto dele.
Tulin dirigiu-se a Herys:

— Mesmo nós não temos certeza do que você tem, mas esse anel prateado no seu dedo carrega um Mana que eu não sinto há muito tempo. Sem dúvidas é magia ancestral, que data dos Tempos Antigos. Já tentou retirá-lo?

— Já — admitiu Herys, olhando para o anel. — Quando tentei, após ficar uma hora sem ele no dedo, comecei a passar mal. Essa coisa parece estar ligada a mim de alguma forma.

— E onde a encontrou? — perguntou Zerafinie.

— E-em uma ruína próxima do castelo do senhor meu pai. Mesmo assim, quando procurei a mesma ruína no dia seguinte, ela havia sumido.

— E foi nessa ruína que encontrou esse anel?

— Sim.

— E havia algo de estranho na ruína? Ou no próprio anel?

— Não — informou Herys. — Apenas algumas inscrições que na época, cinco anos atrás, eu não consegui ler, e hoje não lembro o suficiente para saber.

— Eu posso… — começou Luk, mas Herys o interrompeu.

— Perdoe-me, mestre Luk, mas não quero que invada minha mente.

Luk assentiu, novamente sem graça.
Tulin ficou pensativo. Sabia que Zerafinie teorizava a mesma coisa que ele, mas não tinham certeza. Por ora, iriam apenas vigiar Herys.

— Faça o teste — sugeriu Wixxard, quebrando o silêncio.

E Herys assim o fez. Caminhou com orgulho para o pedestal, indo em direção a seu destino.
Quando tocou a pedra mágica, algo diferente ocorreu. Com Soren, uma energia sombria envolveu a pedra. Com Herys, a pedra explodiu.
Uma energia congelante foi liberada, revestindo de gelo toda a sala, mas sem afetar as pessoas. Um vento foi criado, como se um tornado invernal tivesse sido conjurado no salão.
Demorou, mas o vento cessou. Todos estavam surpresos com o ocorrido.

— Será possível? — sussurrou Zerafinie.

Tulin, passado o espanto, se recompôs e anunciou:

— Herys von Farandar, aprendiz da escola elemental, você está oficialmente aceita na Academia Greyhorn.

Houve então silêncio. Soren esperou alguém quebrá-lo, mas ninguém o fez. Desconfortável, ele começou:

— Err… e agora?

— Agora — respondeu Zerafinie — Herys virá comigo. Não espere nenhum tratamento especial pelo pequeno espetáculo que você deu. E, falando nisso — comentou ela, criando uma bola de fogo nas mãos. O calor foi tão intenso que todo o gelo começou a derreter.

— Que ótimo — resmungou Wixxard. — E quem vai limpar a água?

— Vamos, Herys — chamou Zerafinie, mudando de assunto e encaminhando-se para a saída.

— Até depois, Herys — despediu-se Soren, sorrindo como quase sempre.

— Até — disse Herys, hesitante.

Seu pai costumava dizer, dentro do castelo, que nobres só têm aliados e inimigos, nunca amigos. Também dizia que a prioridade era ser perfeito em tudo. “Mas não estamos em Farandar”, decidiu ela, determinada. “Pelo menos desta vez, serei quem eu quiser. Pai, aqui eu farei os amigos que eu quiser.”
Quando as duas magas elementares se retiraram, Soren voltou-se para os restantes.

— Eu… posso ir? — indagou, incerto.

— Sim — permitiu Tulin. — Lembre-se: sem ninguém saber. Nem mesmo sua irmã.

— Pode deixar. Digamos que, embora eu já imaginasse isso, não é algo que estou ansioso para contar a ela.

Luk observava Soren atentamente, deixando-o desconfortável. Por fim, o jovem nobre despediu-se e saiu andando. Quando não podiam mais ver seu rosto, Soren sorriu de canto. “Agora, é só permanecer na academia e virar um mago e, se possível, um nobre.”

*

“A magia das trevas é uma das magias mais antigas existentes, oriunda da própria deusa da noite Shai'nur. É também a magia dos terríveis demônios, cruéis criaturas que habitam originalmente o Plano das Sombras, Apokris.
“Mesmo assim, foi a última magia aprendida pelos seres humanos. O primeiro mago das trevas a se ter registros foi Kelluim Loernvel, o filho mais novo do Supremo Imperador Ifrit I Loernvel, primeiro governante de Valeran. Kelluim é tido como o primeiro humano a aprender a magia das trevas — embora alguns sábios afirmem que Thorus foi o primeiro mago das trevas, e que fora isso que o fez se tornar um deus —, e auxiliou Valadan Woodalind, o Primeiro Arquimago e criador da magia elemental, a iniciar uma rebelião. No fim, as lendas dizem que ele se arrependeu e ajudou o irmão contra o terrível elfo negro.
“A magia das trevas é dividida em quatro ramos distintos. A forma inicial dessa magia é a magia das sombras, que possui feitiços relacionados à criação e manipulação das sombras.
“A partir do quarto círculo, o mago das trevas aprende dois tipos de feitiços: a magia dos ossos e a magia de sangue. A magia dos ossos consiste em criar objetos com ossos, como espadas, armaduras e, em níveis mais elevados, muralhas inteiras. Já com a magia de sangue, é possível congelar ou ferver o sangue de um inimigo, ou criar barreiras que desintegram matéria física. Também é possível manipular o sangue dos mortos.”

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— Isso parece meio… sangrento — murmurou Soren para si mesmo.

“Porém, a maior arte da magia das trevas é a necromancia, uma magia que permite ao necromante reviver corpos mortos como seus lacaios e servos. Alguns necromantes fizeram grandes avanços na teoria da ponte que liga a vida e a morte.”
Soren permaneceu lendo e relendo a última frase, e na sua mente pensamentos proibidos e condenatórios lhe ocorriam. Ele mergulhou em devaneios por um tempo, até que finalmente balançou a cabeça, negando.

— Isso é errado. Eu já me decidi.

Mas ninguém poderia condená-lo por pensar naquilo. Mesmo que já tenha se decidido, ele ficava se lembrando de que sua mãe o achava excepcionalmente talentoso na magia. “E se fosse eu a desvendar isso? Vyrion. Helos. Pai… Mãe…”
Fechou o livro, repreendendo a si mesmo. Não seria aquilo que todos os povos acreditavam que os magos das trevas eram.
“Certo. Vou praticar um pouco.” O aprendiz tornou a abrir o livro de couro negro, agora descoberto pelos trapos.
O livro tinha uma capa de couro negro que Soren descobrira havia muito ser couro de demônio. No centro da capa, havia um símbolo estranho que representava a morte.
O livro era grosso, e talvez fosse o último exemplar no continente. Era grosso, e seu conteúdo era amplo e proibido. Além da história da magia negra, bem como a biografia de todos os seus maiores usuários, uma lista com a descrição de todos os feitiços da magia das trevas já inventados — incluindo as maldições, mas estas Soren sequer pensava em chegar perto —, e ainda uma descrição com ilustrações de todas as principais raças de demônios, mortos-vivos e etc.
Em resumo, era o livro perfeito para qualquer mago das trevas, e a posse dele poderia levar Soren para a prisão por tempo indefinidamente longo.
Soren abriu na página dos feitiços básicos da magia das trevas, chamados de “feitiços do segundo círculo”. Selecionou o primeiro e leu em voz alta, baixinho.

— Visão Noturna: Criado pelo mago das trevas Kelluim Loernvel, este feitiço permite ao usuário enxergar claramente em todo e qualquer tipo de escuridão, seja ela natural, mágica ou oriunda de outros planos de existência. É o feitiço inicial aprendido por todos os magos das trevas. Como alternativas, é sugerido o [Fogo Infernal] e a [Aura Sombria]. A frase mágica que representa o feitiço [Visão Noturna] é “Urdan Erda”, pronunciada na linguagem demoníaca e com o dedo indicador direito tocando a testa do usuário.

O jovem mago suspirou.

— Não parece complicado.

Ele então posicionou-se no centro da sala inabitada em que estava, desenhou o símbolo das trevas com um dos dedos indicadores enquanto com o outro tocava a própria testa. Então, pronunciou na linguagem demoníaca:

— [Urdan Erda].

Quando abriu novamente os olhos, percebera que tudo estava mais claro do que o normal, o que significava que o feitiço fora bem sucedido.

— Hehehe, geralmente há um prazo de uma semana para realizar um feitiço de segundo círculo. Talvez eu seja bom mesmo.

Mas a prática leva à perfeição. Muitos teriam voltado-se para os outros feitiços do segundo círculo, mas Soren decidiu treinar o máximo possível aquele feitiço até conseguir conjurá-lo sem sequer verbalizar. Obviamente, não conseguiu naquele dia, mas agora precisava pronunciar apenas “Urer” para ativá-lo, e não precisava desenhar o símbolo das trevas.
Soren sabia que os outros dois feitiços, um voltada para a defesa e o outro para o ataque, seriam muito piores de se aprender. Portanto, deixou para depois.
Percebendo o horário, imaginou que Lira e Arty — e também Herys — já deveriam ter terminado. Logo haveria a aula de história da magia, de feitiços básicos do primeiro círculo e outras aulas deste tipo.
Mas, enquanto o tempo dessas aulas não chegava, Soren escondeu o livro na mochila (isso após rodeá-lo de trapos) e seguiu em direção à biblioteca. Imaginava que talvez encontrasse alguém por lá.
Quando chegou na biblioteca, paralisou, impressionado com o local. Inúmeras prateleiras preenchiam toda a parede e alguns espaços no centro do local. A quantidade de livros que aquele lugar deveria possuir era assustadora — o que, para Soren, significava um sonho se tornando realidade.
Além dos livros, havia uma imensa esfera dourada representando Soleris, o Plano Luminoso; abaixo dele, formando um círculo, os outros planos eram posicionados. No centro de tudo, um plano interligado a todos os outros — Cymerida, o Conselho dos Deuses.
Abaixo de todos, oposto a Soleris, estava Apokris, o Plano das Sombras, lar dos demônios e onde a deusa primordial das trevas Shai'nur fora aprisionada. As lendas dizem que Apokris era uma bola de matéria como qualquer outra, mas quando a espada de Illumiony, deusa primordial da luz, perfurou Shai'nur, a deusa sombria sangrou, e seu sangue corrompeu todo aquele plano. E de suas lágrimas surgiram os rios de almas que preenchem o plano inferior.

— Talvez eu deva estudar mais sobre planos. — Isso era um assunto que muito interessava a Soren.

Deixando isso de lado, Soren prosseguiu. Percebera que muitos alunos estavam na biblioteca, estes das mais diversas idades. Soren imaginou que alunos do primeiro ao quinto ano utilizavam a biblioteca nas horas vagas.
Finalmente, Soren localizou Herys, sentada sozinha em uma mesa isolada no canto mais distante da biblioteca. Decidindo que a companhia da garota seria bem vinda, ele se dirigiu a ela.
Assim que Herys notou a aproximação de Soren, franziu o cenho. “É assim que amigos são formados? Eles simplesmente surgem sem aviso, sem pedido, e em segundos estão intrometidos em nossos assuntos?”, perguntou-se ela, e era exatamente isso.
Soren sentou-se de frente para Herys.

— E então, o que está lendo?

— Os Conceitos Primários da Magia Elemental. É sobre…

— … os conceitos primários da magia elemental? — sugeriu Soren, fazendo Herys sorrir.

— Certo, deve ser óbvio. De toda forma, este é o primeiro livro para magos elementares. Contém feitiços até o quinto círculo da magia.

Todas as magias possuem círculos. O primeiro círculo, a magia básica, é um tipo de feitiçaria comum a todos os magos. Após isso, surgem as magias especializadas, que vão do segundo círculo (visões noturnas e esferas que trazem luz, por exemplo) ao décimo círculo (tempestades mágicas, pesadelos capazes de afetar exércitos inteiros, dentre outros). Poucos magos do reino — menos de uma centena — dominam o quinto círculo ou superior, e não existe nem meia dúzia de usuários do décimo círculo.

— E você já pode aprender magia elemental? — perguntou Soren.

— Quer saber se já domino o primeiro círculo? Sim. No castelo de meu pai, minha única opção era aprender isso.

— Tsc. No meu caso, eu apenas achei que precisava me esforçar para não me tornar inútil.

— E… — a voz da garota reduziu-se a um sussurro. — como está progredindo?

— Bem — respondeu Soren, em voz igualmente baixa. — Já aprendi a conjuração semiperfeita de um feitiço do segundo círculo que me permite ver no escuro.

— Conjuração semiperfeita? Mas há quanto tempo está tentando?

— Não sei. Algumas horas.

“Mas o prazo para realizar uma conjuração semiperfeita é de mais de uma semana de treinos”, pensou Herys, espantada.

— Não fique tão surpresa — pediu Soren, notando o olhar da maga. — Sempre aprendi rápido, e isso não vai me impedir de ser um mago fraco.

— Você não parece muito desapontado com isso — comentou Herys.

— Está brincando? Ser um mago poderoso deve ser gratificante, mas não estou tão louco ao ponto de entregar minha moralidade para isso.

Um mago das trevas que prezava sua moralidade. Isso era, no mínimo, incomum (para não dizer quase impossível). Entretanto, aquele era o primeiro mago das trevas que Herys conhecia, e a imagem do garoto não era o que ela esperava deles. Na sua cabeça, magos das trevas tinham uma aparência cadavérica e maligna, e usavam uma túnica preta que emanava sombras, com um cajado em formato de caveira.
Já Soren, embora com sua pele um pouco pálida demais e olhos cinzentos que, por vezes, pareciam se perder em pensamentos, era completamente o oposto do esperado de um mago sombrio. Ele estava sempre com aquele sorriso caloroso no rosto que fazia Herys se perguntar como ele conseguia parecer tão satisfeito.

— Ah, a Lira e o Arty estão chegando. EI, AQUI!

— Faça silêncio na biblioteca — ralhou Herys, e Soren corou.

— Tem razão — concordou baixinho, coçando a nuca.

Lira, com seus cabelos castanhos em tom rosa brilhante, e Artariel com o cabelo azul extremamente bagunçado, sentaram-se junto aos dois.

— O que houve com vocês? — questionou Soren, segurando a risada.

— Isso aqui é uma ilusão — justificou-se Lira, desconfortável. — O mestre Luk fez isso para chamar a atenção das pessoas, mas saiu da sala antes que eu pedisse para ele fazer voltar ao normal.

— Incrível, Lira. Com esse cabelo brilhante você é o sonho de qualquer garoto.

— Calado, Soren — exigiu Lira, corando. — Já é ruim o suficiente ter todo mundo me olhando nos corredores.

— E você, Arty? — perguntou Soren, mudando de assunto. — Que bagunça é essa?

— O-o mestre Aelod abriu um portal dimensional no meio da sala, e você não pode imaginar a ventania que se seguiu.

— Até posso — murmurou Soren, lembrando-se de quando Herys tocou a gema.

— E — disse Lira, subitamente —, o que houve quando saímos? Arty disse que também saiu antes, e ficaram só vocês dois. O que houve.

— B-bem… — gaguejou Soren, pensando no que dizer.

— Eu despertei magia elemental — contou Herys.

— Que ótimo, só não vá começar a atrair meteoros para a academia — brincou Lira. — E quanto a você, Soren?

— E-eu…

— Eu acabei destruindo a pedra mágica — interferiu Herys, fingindo vergonha. — O-o Soren acabou sem saber seu tipo de magia. A-agora ele terá aulas especiais.

— Isso! — exclamou Soren, triunfante. — Estarei praticando todos os tipos de magia até que meu Mana desperte naturalmente, sem auxílio de uma gema mágica.

— Isso parece meio entendiante — comentou Lira. — Quer dizer, aprender magia já é um processo complicado, e piora se seu Mana não estiver ativo.

— É tudo culpa minha — lamentou Herys, falsamente.

— Não se preocupe — disse Soren, sorrindo. — Posso me virar. E, afinal, o que vocês aprenderam?

— Estou praticando um feitiço — disse Herys — para criar uma esfera de chamas que pode iluminar algumas áreas.

— Eu — informou Lira — estou tentando fazer sugestões na mente das pessoas, mas mesmo isso é complicado. Alguns dizem que a magia mental é uma das mais difíceis de se aprender, porque precisamos influenciar na mente de outros seres, e isso é muito complicado.

— E você, Arty?

— E-estou tentando conjurar um corvo. Eles servem de mensageiros para nós, magos. E, diferente dos corvos normais, eles não levam mensagens, mas reproduzem a própria voz do usuário.

— Entendi.

E eles começaram a conversar sobre outras coisas. Logo, o rugido de um leão foi ouvido.

— O que foi isso?! — exclamou Soren, sobressaltado.

— É o sinal — explicou Lira, cética. — Como você não reconheceu? Não ouviu da última vez?

— A-ah, é verdade.

Os quatro então se levantaram e se dirigiram para a aula de história da magia. No caminho, nos enormes corredores de Greyhorn, encontraram, com surpresa, um grupo de escudeiros.
À frente do grupo, trajando uma armadura de couro, segurando o capacete em uma mão e o escudo de madeira em outra, Killian Maklaw caminhava com dignidade. Seus cabelos loiros estavam colados na testa devido ao suor, e todos os escudeiros pareciam cansados.

— Sor Arkhim realmente não teve piedade — comentou um deles.

— Sim. Fomos em uma dúzia de uma vez e mal conseguimos tocá-lo. Os Cavaleiros Santos são realmente assustadores. Eu pensei que seria mais fácil.

— Tsc — resmungou Killian. — Os Cavaleiros Santos são os maiores guerreiros da humanidade. Se acha que conseguirá se tornar um com títulos ou com preguiça, não tem o necessário para fazer parte da Ordem. Perdedores não têm valor neste reino. Respeitados são os vencedores.

Com essas palavras, o escudeiro avançou à frente dos demais. O escudeiro que havia reclamado soltou um suspiro.

— Ele é meio exagerado, não é? Quer dizer, ele se esforça tanto para ser um grande guerreiro e acha que todos têm que fazer o mesmo.

— Se esforça para ser um grande guerreiro? — repetiu outro deles, sem acreditar. — Ah, não. Para o Kil, ser um grande guerreiro é tão natural quanto respirar. Vocês viram que ele foi o único que continuou de pé contra Sor Arkhim. Alguns possuem talento natural, outros se esforçam. No caso de Killian, ele faz as duas coisas.

Então, o escudeiro seguiu Killian, deixando os outros pensativos. Soren encarou o local onde antes estivera o Maklaw. Por fim, deu de ombros e continuou andando.
“Neste mundo, são raros aqueles que nunca perderam nada”, pensou Soren novamente, não pela primeira, nem pela última vez.