Sangue

Capítulo 54 – Mesmo com tantos motivos...


Capítulo 54 – Mesmo com tantos motivos...

-Ir até Alvinópolis? – repetiu Rebeca – A ideia parece interessante! Podemos tirar fotos, documentar as coisas!

-Sim! – disse Flavius cortando um pedaço do bolo com um garfo.

Estavam comendo, os dois, em uma confeitaria próxima à casa de Pierre:

-Vou falar a ideia pra o Pierre! Não sei se ele pode faltar tanto tempo no trabalho, mas a gente arruma um jeito! Podemos ir num fim de semana e voltar na segunda de manhã.

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-Pode ser. – concordou sem muita animação enquanto brincava de enfiar o garfo no seu pedaço de bolo.

-O que você tem? Está meio avoado hoje...

-Nada. Um pouco entediado... Natasha saiu para resolver umas coisas do restaurante. Parece que ela pretende vende-lo, está tentando arrumar as coisas por telefone.

-Sério?

-Sim, ela quer se mudar para cá. Parece que ela e Michel vão se mudar para o apartamento do Fip.

-E você?

-Eu o que?

-O que resolveu? Vai se mudar para cá? Vai voltar para a Argentina.

-Eu não sei. As coisas não são tão simples! Por mais que eu sinta certa vontade de me mudar para cá, não posso simplesmente abandonar o Gabriel assim! Bem ou mal temos uma vida juntos, não tenho o direito de fazer uma escolha dessa sozinho. Além do mais, eu gosto da vida que levo lá. Sei que sinto saudade dos meus amigos e tudo! Mas voltar a viver aqui não vai fazer com que tudo volte a ser como antes.

-Nada voltará a ser como antes, querido. Nem aqui e nem lá na Argentina. Seja para onde for que você decidir voltar, tem de voltar sabendo que terá que construir um futuro novo.

-Você tem razão.

-A pergunta é: qual futuro você quer viver?

-Talvez nenhum dos dois...

-Olha a hora! – disse olhando para o relógio - Se não correr me atraso! Tenho uma reunião com meu editor hoje! Eles vão aceitar lançar meu novo livro!

-Você tem um novo livro?

-Na verdade não é bem novo. Está pronto desde o final do ano passado, mas só agora decidi enviá-lo. Bem, vejo você mais tarde! Beijos!

-Boa sorte lá na editora, tchau.

-Obrigada, tchau!

...

“Flavius saiu do quarto com o blazer preto que eu tinha lhe dado. Estava com o blazer, uma camiseta do Pink Floyd e uma calça jeans toda rasgada. O all star que ele tinha customizado com algumas tachinhas, mas nunca tinha usado em Alvinópolis e no cabelo um penteado ousado feito pela Natasha. Estava lindo! E tinha no olhar uma postura de rei, como quem está pronto para enfrentar uma guerra!

Natasha não estava muito diferente! Com um vestido preto muito bonito e um penteado de gala, ao lado de Artur, que não precisava de muita coisa para ficar atraente(que fique aqui registrado, nunca disse para Natasha isso direito, mas esse menino era um tesão completo! Nunca vi um homem tão bonito em toda minha vida!).Felipe estava emburrado, disse que não ia. Eu achei melhor, pretendíamos sair para comemorar depois e ele só ia atrapalhar!

-E então? – disse Natasha – Pronto para buscar seu grande prêmio?

Ah sim, essa era a noite de encerramento do festival. Por isso estávamos com roupas de gala. Depois da premiação ia rolar um coquetel e pretendíamos sair todos juntos, ao menos uma vez. Michel, como trabalhava no teatro, já estava lá:

-Estamos todos prontos?

-Parece que sim.. – disse Flavius.

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-Então vamos!

-Você não acha que deveria visitar seus parentes? – disse Felipe de repente. Ele estava de braços cruzados sentado no sofá vendo tv.

-Não, não acho. Tchau.

Sai na frente pra não me irritar mais. Já estava meio com vontade de atirar esse menino pela janela! Que mania peçonhenta de estragar a festa dos outros! Coisa de gente mal amada sabe? Vontade de socar o olho dele até saltar pra fora! Pra que falar em família numa hora dessas! Credo!

Entramos no carro e fomos até o teatro. Não aconteceu nada muito importante no caminho, mas eu tive um sentimento especial! Estar ali na capital com Flavius e Natasha era totalmente novo! Eu tinha crescido ali, conhecia cada rua desse pedaço da cidade, mas estar ali com esses dois fazia tudo parecer novo! Como se eu visse esse mundo através dos olhos deles! Era uma sensação incrível!

-Eu já contei quando meu pai me pegou indo escondido para a aula de dança nessa rua?

-Já. – disse Natasha – Umas quatro vezes.

Eu ri. Estava parecendo uma tia velha. Mas era divertido me lembrar de todas essas histórias, até mesmo as mais trágicas, e dividi-las com meus queridos. Flavius parecia mais confiante, a nossa conversa nos fez bem. Estava doido para vê-lo encarar meus amigos. Achei engraçado esse drama todo que foi feito, como se eu preferisse a companhia deles a ficar com o Flavius. Isso é um absurdo! Eles são amigos antigos, pessoas superficiais com quem eu convivia por causa da dança, jamais chegariam aos pés do que ele representa para mim! E ele não ter percebido isso sozinho me deixa um tanto intrigado... talvez até irritado!

Como ele pode ter uma auto estima tão baixa ao ponto de achar que estava sendo colocado em segundo plano? Eu jamais o colocaria em segundo plano! A diferença era que aquele momento era meu, era uma coisa de que eu precisava! Mas isso não tinha nada a ver com ele! Não era uma negação a ele, era uma exaltação a mim mesmo! E penso que, de certa forma, isso até faz bem para nossa relação, que cada um tenha uma parcela de vida própria.... sei lá.

Quando chegamos na porta do teatro parecia entrega do Oscar! Eu sempre achei engraçado ver meus amigos bailarinos bem vestidos. A gente se acostuma tanto a se ver só com roupa de treino que chega a ser difícil se reconhecer com essas roupas cotidianas. O clima geral era peçonhento, mas de uma peçonha muito bem disfarçada, comedida. Geral se devorando com os olhos (mas não no bom sentido, no sentido da inveja e despeito mesmo) e se imaginando ganhando os prêmios. Só que tudo isso era bem disfarçado com aquela pose de: Ai, eu não acho que eu mereço (mentira), mas a sua apresentação tem grandes chances! (mentira de novo!).

Como a minha paciência para esse tipo de situação e puxa saquismo forçado é zero, peguei na mão dos meninos e já os puxei direto para dentro do teatro:

-Não vai falar com seus amigos? – disse Flavius.

-Depois. Não gosto desse climinha bobo.

-Tá né...

Ele ficou meio chateado. Imaginei as coisinhas passando pela cabeça dele: Ele está com vergonha de mim. Mimimi, ele não quer que eu seja visto com ele, blábláblá ele tá com medo de alguém comentar alguma coisa que eu não posso saber.... Aff! As vezes essa infantilidade do Flavius me enche de raiva! Em outros tempos faria qualquer comentário cruel para piorar a situação, mas é engraçado como eu tenho perdido a vontade de fazer essas coisas... Natasha e Artur estavam curtindo o climinha de namorico. Eu achava muito engraçado ver a Natasha nessa posição, porque mesmo nos momentos mais românticos ela não perdia a pose de durona. Era estranho ver o modo como ela ficava sem graça quando ele a abraçava tentava beijá-la ou segurava sua mão. Fico imaginando se entre quatro paredes ela conseguia ficar mais carinhosa...

Flavius do nada pegou na minha mão e disse:

-Espero que você ganhe!

O olhar dele estava brilhando, eu senti que ele queria mostrar que não estava chateado. Sorri para ele e disse:

-Mas é claro que eu vou ganhar!

O engraçado foi que eu não ganhei. O prêmio da noite foi para o Manuel. Evidente que eu fiquei um tanto puto de ódio, mas sendo o Manuel o ganhador eu até nem me senti tão mal, afinal eu sou mesmo obrigado a reconhecer que ele era muito melhor que eu. Além disso ele nunca parou de dançar e eu fiquei um ano parado... isso ajuda muita coisa! O importante é que fui um dos indicados e isso já me deixou soberbo diante daqueles engomadinhos putos.

Quando tudo acabou fomos participar do coquetel. Flavius estava com um sorriso de orelha a orelha. Os meninos vinham falar comigo, diziam que eu merecia ter ganhado o prêmio, que o júri tinha sido injusto, mas eu sabia que era tudo mentira. Flavius agia como se eles fossem invisíveis, ficava conversando com o Michel, que de vez em quando escapava do trabalho e vinha trocar uma palavra conosco, ou com a Natasha e o Artur. O que a Natasha adorava, porque ela ficava muito sem graça de ficar de casal com o Artur e fazia de tudo para incluir o Flavius na conversa. Entre um amigo e outro eu tentava manter um dialogo com o meu namorado:

-E então? Gostando da festa?

-Na verdade estou ansioso para ir para uma festa de verdade! Eu nunca fui numa boate antes!

-Sério?

-Sério! Não tem isso em Alvinópolis!

Foi quando eu me toquei que Flavius era realmente um menino do interior! Mas eu não digo isso no sentido pejorativo! Eu digo no sentido real! Existia muita coisa que ele não conhecia! Muita coisa que para mim era tão natural quanto respirar! Ir a uma galeira de arte, ao teatro, cinema, boate! Céus! Eu falhei com ele! Devia tê-lo levado a todos esses lugares enquanto estávamos aqui! Talvez ele esperasse por isso! Talvez seja por isso que ele tenha ficado tão sentido comigo! Ele devia estar ansioso para conhecer essas coisas e queria que eu apresentasse tudo a ele! Dava para apalpar a felicidade que irradiava dos olhos deles nessa noite, na última noite, porque íamos sair juntos... sair para um lugar onde nunca tinha ido!

Céus, como eu pude ser tão tapado? Mas não me culpem, esse é o tipo de coisa que passamos sem perceber muito facilmente! Eu estava tão ansioso com todo esse festival que nem tive olhos para ver... mas tudo bem, o que está feito está feito! Eu ia fazer essa noite ser muito divertida para me redimir!

Manuel por fim se aproximou de nós, com o troféu nas mãos e um sorriso debochado no rosto:

-Mais um para sua coleção? – eu perguntei.

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-Acho que esse não vai caber na estante. Talvez eu tenha que comprar uma nova. Flavius! Que bom te ver aqui!

Eles se abraçaram com um nível de intimidade que me incomodou. Manuel olhava para o Flavius com um olhar encantado, abobado. Que mel é esse que esse menino tem? Por que todo mundo fica meio de quatro por ele? Na maioria das vezes perceber o olhar das pessoas para o Flavius me excita. Gosto de ver todo mundo o desejando e saber que ele é meu. Mas Manuel é um homem que eu sempre quis conquistar! Fiz tudo que podia para que ele me olhasse daquele jeito e agora o vejo dirigindo esse olhar para o Flavius! Esse interesse! Que sentimento confuso! Uma mistura infame de ódio, ressentimento, inveja, despeito e ciúmes!

É muito ingrato ver o homem com quem você trairia seu namorado dando em cima do seu namorado! É como, sei lá... não tem merda que se compare a isso! Rola um ciúme duplo. E o olhar do safado do Flavius bem que estava todo disposto a corresponder aos galanteios. Os dois conversavam como se fossem amigos de anos. Natasha tentava disfarçar o sorriso mas eu bem vi que aquela safada reparou. E, claro, ela se divertia com tudo, safada sem vergonha. Adora me ver no chão:

-Não tá na hora da gente ir embora? – eu disse.

-Não, temos que esperar o Michel. – disse a Natasha.

-Ele não pode encontrar a gente lá?

-Não, eu prometi que íamos todos juntos.

-E para onde vocês vão? – perguntou Manuel.

-Para uma boate. – respondeu Flavius – Qual é o nome dela, Fip?

-A gente não decidiu ainda.

-Ah, eu bem que estou afim de sair para dançar também! Se decidirem para onde vão me avisem? Você tem meu telefone Fip?

-Acho que não.

-Eu tenho. – disse o Flavius.

-Então me manda uma mensagem, talvez eu apareça por lá.

-Ok. Parabéns pelo prêmio.

-Obrigado. Parabéns pela roupa, você está muito bonito hoje. Esse blazer caiu muito bem em você.

-Obrigado.

Manuel saiu devagar, Flavius me olhou com um olhar triunfante:

-Viu? Alguns dos seus amigos gostam de mim.

-Manuel não é exatamente meu amigo. E para o seu governo ele é galanteador assim com todo mundo!

-Que seja. Pelo menos ele foi simpático.

-Sem necessidade.

-Vish, tá com ciúmes é?

-É porque o Chico sempre foi meio apaixonado por esse cara. – disse a Natasha – E agora ele tá com ciúme porque o cara tá te dando bola.

-Ele está me dando bola?

-Que isso Flavinho? Só não percebe quem não quer.

-Natasha, ninguém te chamou na conversa, vai beijar na boca do seu bofe ai e deixa a gente em paz. – eu disse meio brincando meio falando sério.

-Você acha que ele está dando em cima de mim? – ele disse.

-Que diferença faz? Você pretende ficar com ele?

-Seria bom pra você entender como eu me senti quando você pegou o Michel. Mas não, ele não faz meu tipo.

Aquele comentário desceu que nem uma faca pela minha barriga. Pra que desenterrar uma coisa dessas agora? O que aconteceu entre eu e o Michel foi super rápido e besta! E nós nem éramos namorados naquele tempo! É uma situação completamente diferente! Totalmente impossível de comparar! Fiquei tão possuído de raiva que nem conseguia falar. Ele continuou:

-Mas não precisa ficar com ciúmes! Eu não vou ficar com ele. Claro que é bom saber que tem alguém interessado na gente. Ninguém nunca se interessou por mim antes de você. Eu meio que não sei lidar com isso.

-Ninguém nunca se interessou por você? Larga de se fazer de coitadinho Flavius! Aposto que muita gente já deve ter se apaixonado por você! Você que não deve ter percebido! Ah nem! Você e essa mania de se fazer de coitadinho! Que merda!

Sai de perto consciente do meu exagero. Eu não tinha ficado com raiva do comentário do Flavius, mas de toda a situação, mas aproveitei o gancho para explodir. Caminhei um pouco pelo salão, pelo visto ia demorar até que Michel pudesse sair. Eu não tinha mais clima para continuar ali. Flaviu estava vindo atrás de mim, eu não queria ele perto, mas não seria bom manda-lo ir embora:

-Ei! Pare com isso! – ele disse – Não vamos estragar nossa noite!

-Eu não estou estragando nada! É só que... deixa pra lá.

-Fala!

-Não! É bobagem!

-Depois você reclama que eu me faço de coitadinho! Mas tudo que acontece você fica ai desse jeito! Todo emburrado! Sair dando tapa pra todo lado também é um jeito de se fazer de coitado!

-Ah, Flavius, vai à merda!

-Vai à merda o caralho! Eu sou seu namorado! Não sou desses sem vergonha que você está acostumado a pegar por aí não! Pode parar de falar comigo desse jeito!

Aquilo me irritou profundamente! Mas eu não podia demonstrar minha irritação. Sempre briguei tanto com o Flavius para que ele aprendesse a se defender, a se impor... era minha obrigação aceitar esse tipo de comentário calado. Cacete, eu meio que criei um monstro!

-Desculpe! – disse sem querer dizer.

-Já sei. Por que a gente não aproveita que essa merda toda vai demorar e dá uma escapadinha desse povo? – ele disse com aquela cara de segundas intenções.

-Escapadinha? O que você sugere?

-Sei lá, o carro tá lá fora. O Michel esta ocupado, a Natasha tá com o namoradinho.... por que a gente não some por algumas horas?

Puxei ele pela cintura e o abracei forte:

-Então vamos antes que alguém perceba...”

...

As malas estavam amontoadas em um canto da sala. Michel, Natasha e Artur dormiam apertados num colchão na sala. Fip estava no quarto de hospedes. Eram cinco da manhã. Flavius observava ao céu e aos prédios da grande cidade. Quantas possibilidades interessantes havia ali! A simples sensação de caminhar pela cidade sem chamar a atenção dos transeuntes já o inspirava a viver! Em Alvinópolis as pessoas o encaravam como se fosse contagioso, fétido! Aqui podia experimentar a delicada sensação da invisibilidade.

Talvez em um lugar desse ele pudesse curar sua dor, sentir-se vivo! Quem sabe seu grande problema tenha sido a sua cidade? O padrão comportamental das pessoas de lá! São eles quem não estão prontos para aceita-lo! Talvez não haja nada de errado com seu comportamento! Pensar em acreditar nessa possibilidade o inspirava! “Talvez eu devesse me mudar para cá um dia!”. Felipe abriu a porta da sacada com cuidado para não acordar os meninos que dormiam na sala:

-Ainda acordado?

-É o que parece.

O menino se sentou ao lado de Flavius e ficou olhando fixamente seu rosto:

-Então, você e o Francis, como ficaram?

-Estamos bem.

-Bem? Por quanto tempo?

-Não me importa. O importante é que estamos bem agora.

-Flavius, Flavius! Você sabe no que está se metendo, não sabe?

-O que eu sei é que passei toda a minha vida sozinho. Que vivi todos os meus dias esperando pelo dia em que pudesse me relacionar com alguém, e agora que tenho essa oportunidade vou fazer de tudo para que dê certo!

-Flavius, o Francis não vai mudar! Não adianta você seguir com isso esperando que ele se torne uma pessoa melhor porque isso não vai acontecer!

-Eu não espero que ele mude! Eu só espero que... sei lá... a gente vá aprendendo a lidar com essas dificuldades.

-Então você não pensou no que eu te disse?

-Em me mudar para cá?

-Sim.

-Escuta Felipe. Você é um garoto bacana, é charmoso, bonito. Eu gosto muito de você. Você sabe disso! Mas o que aconteceu entre a gente foi um lapso! Foi um... sei lá! Eu estava chateado com o Fip, queria fazer algo para magoar ele! Não teve um significado mais profundo que isso! Eu não pretendo abandonar o Fip para vir viver aqui com você!

-Mas você não está entendendo! Eu quero é ajudar você! - segurou a mão do rapaz – Não estou pedindo pra ter algo entre a gente. Sei lá, eu não nego que seria bom, mas não é isso que eu quero! Eu quero o melhor pra você! Quero que você estude num bom colégio, que tenha chance de fazer uma faculdade! Você é tão inteligente!

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-Olha. – tirou sua mão – Nós somos amigos. Eu gosto muito de você! Fico muito grato pela preocupação. Mas eu não preciso de toda essa ajuda que você pensa! Eu estou bem, estou caminhando bem. E eu gosto do Fip, não pretendo deixa-lo!

-Flavius... o Francis não é homem pra você!

-E quem é? Você?

Felipe arregalou os olhos e deu um pequeno salto para trás, Flavius percebendo que havia cruzado alguma linha, tentou retroceder:

-Desculpe. Eu estou um pouco nervoso com tudo isso. É melhor eu ir deitar. Desculpe.

Saiu.

...

-E então? – ele disse me olhando com aquela cara de cachorro sem dono – É isso? Vamos nos despedir por aqui?

-Ai gato! Não faz assim! Você sabia que eu só ia passar uns dias!

-Eu sei! Mas é que tem sido tão bom ficar perto de você! Não queria me separar!

Ele me deu um abraço, parecia uma criança pedindo colo para a mãe:

-Por que você não se muda para cá? – ele disse – O que te prende lá?

-Ai Artur, a gente já falou sobre isso! Eu não posso vir pra cá sem um emprego! E não quero morar de favor na sua casa!

-Mas você mora de favor com o Chico, por que não pode morar comigo?

-É diferente! O Chico é meu amigo! Quando a gente briga a gente se xinga, grita um com o outro e depois tá tudo ok. Com namorado as coisas funcionam diferente! Se a gente brigar eu fico sem chão! Não quero isso pra mim!

-Então por que não vem morar com o Michel? Vocês alugam um apartamento maior!

-Pra isso eu preciso de um emprego.

-Se eu arrumar um emprego pra você, você se muda?

-Ai, ai, Artur. Vamos ver, tá bom? Se a gente arrumar alguma coisa a gente vê!

-Tá bom. Mas e quando vamos nos ver de novo?

-No próximo mês eu venho passar uma semana. Já combinei com o Michel, vou ficar na casa dele.

-Promete?

-Prometo.

Ele deu aquele sorriso bobo e me beijou. O Chico deu umas três buzinadas no carro pra me apressar:

-Agora eu tenho que ir, o Chico tá me esperando.

-Eu vou ficar te esperando aqui!

-Sei. Com o tanto de mulher bonita que tem nessa cidade!

-Nenhuma chega aos seus pés.

-Tchau.

Eu nunca gostei dessas promessas de homem, elas soam tão mentirosas quanto discurso político. Falar que gosta de mim, que vai sentir saudade eu até entendo, mas vir pra cima de mim com esse papinho de que vai ficar me esperando na castidade... ah eu não engulo não! Tentei fazer ele não perceber que o comentário tinha me incomodado. Eu não duvido que naquele momento ele realmente estivesse acreditando que seria capaz de me esperar. Então achei melhor não contrariar muito. Nos abraçamos e eu fui me despedir do Michel:

-Vou te ver de novo mês que vêm, né? - ele disse.

-Pode contar com isso!

-Então se cuida, até lá!

Ele me deu um abraço gostoso e depois eu entrei no carro:

-Porra, perdemos vinte minutos só com a sua despedida! – resmungou o Chico.

-Caralho hein? Será que vamos nos atrasar para todos os compromissos importantes que temos em Alvinópolis?

-Vai tomar no cu Natasha! A gente combinou que ia sair logo cedo.

-Vai tomar no cu você! Eu tava me despedindo do meu bofe! Pra você é fácil o seu tá aqui no carro!

Flavius soltou uma risada sacana. Daquelas que a gente solta quando vê o namorado se fudendo. O Chico deu uma risadinha e acelerou o carro, partimos de volta para o meio do nada onde decidimos morar por qualquer acidente do acaso.